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Sobre rancores de um passado distante, sacolas ao vento e motivações externas.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017




Noutro dia estava conversando com um amigo durante meu horário de almoço, contando a ele sobre como algumas pessoas me magoaram num passado distante e que hoje, as considero meus desafetos. Contei cada um dos acontecimentos em detalhes, na esperança de que ao perceber o quanto essas pessoas foram injustas comigo e feriram meus sentimentos, ele se compadecesse e me desse razão, desenvolvendo também por esses meus algozes, os quais ele sequer conhece ou virá a conhecer, antipatia e raiva.

Quando terminei ele me perguntou a quanto tempo todas essas coisas aconteceram e eu lhe disse que, se não me engano, tudo isso já tem 10 anos mais ou menos. Ele ficou bastante surpreso e disse: “Caramba! Dez anos! E depois de todo esse tempo você ainda se lembra disso? Eu mal me lembro do último cara que namorei e você fica guardando tudo isso ainda depois de todo esse tempo?”.


Não se enganem comigo, de minha parte sei bem o quanto remoer o passado e guardar rancor pode fazer mal. Com a intenção de chamar a atenção de uma pessoa que hoje já nem se lembra mais que eu existo, tomei uma decisão há alguns anos que me afetou demais, permanentemente. E mesmo sabendo disso ela seguiu com sua vida (como deve ser, na verdade). O único prejudicado fui eu.


Conversamos também sobre o futuro e sobre como ando desmotivado e sem perspectiva, vendo várias pessoas que conheço progredirem na vida, conseguindo bons empregos, se mudando, tendo relacionamentos, enquanto que eu me sinto como uma sacola de plástico ao vento. Esse amigo mesmo com o qual conversei conseguiu mudar radicalmente sua vida em pouco tempo. Até ontem mal podia ir ao cinema com os amigos sem a permissão dos pais, mesmo já tendo 18 anos, agora está se preparando para ir morar em Minas Gerais com outro amigo meu, com quem começou um relacionamento virtual que está prestes a se tornar real. Não nego a inveja, é um dos meus sentimentos mais constantes.


Tudo o que fiz por mim até hoje nunca fiz de fato por mim, sempre fui movido por querer me sentir igual ao outro. Se eu gostasse de vermelho e a outra pessoa de azul, eu escolhia o azul para me sentir igual e mais próximo a ela, se ela tinha algum interesse em especial, procurava ter o mesmo interesse para que assim ela gostasse mais de mim, abrindo mão de minha própria personalidade na esperança de ser querido, reconhecido e estar no mesmo patamar da outra pessoa. Desde que me sentisse no mesmo nível do outro, não me importava abrir mão de quem eu era. O problema é que eu nunca soube quem de fato eu sou. Até hoje ainda não sei. Nas redes sociais por exemplo, faço todo esse papel do gay assumido, que saiu do armário com orgulho e que não tem vergonha de ser quem é, mas a verdade é que mesmo depois de tantas coisas pelas quais já passei, pessoas que conheci, ainda tenho vergonha de ser como sou e de fazer o que tenho vontade de fazer. Evito relacionamentos, novas amizades, tanto por medo de me ferir quanto por receio de como serei julgado pelas pessoas. Até hoje, aos 41 anos, um dos meus maiores temores é a forma como as pessoas me enxergam. 


Há algumas semanas finalmente recebi meu diploma da universidade oficializando minha graduação em Design, apesar de já ter terminado o curso no final de 2015. Estou muito contente e ter conseguido essa graduação foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida, mas não nego que quis um curso superior mais por influência e pressão dos outros do que pela minha própria vontade e necessidade. Não me arrependo de forma alguma dessa decisão, pois vem me ajudando muito e é uma área da qual gosto bastante, mas as vezes me pego pensando se teria de fato decidido prestar um vestibular se ninguém tivesse me estimulado a isso. Atualmente meu novo dilema é se curso ou não uma Pós-Graduação. Tenho visto que vários conhecidos meus estão fazendo isso, alguns já estão até formados, enquanto eu continuo enrolando. Mais uma vez sinto que a motivação não vem de mim, mas do fato de ficar me comparando com outras pessoas e me sentir inferior a elas, não importa o quanto me esforce ou conquiste. No final sei que independente das minhas motivações o favorecido serei eu, mas não consigo deixar de sentir que todas as minhas decisões de vida são baseadas nas decisões de vida de outras pessoas. 


A verdade é que até hoje ainda estou esperando que elas me notem, que sintam orgulho de mim pelas coisas que faço, pelas minhas realizações, mesmo as mais pífias, para que assim eu me sinta bem comigo mesmo, sinta que sou tão bom quanto elas e que posso fazer as mesmas coisas que elas fazem. Mas isso não tem me feito bem, só me faz sentir preso a pessoas que não estão mais de forma alguma presas a mim.




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