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Traumas pequenos de gente pequena

segunda-feira, 26 de outubro de 2009


O que é trauma?

A palavra trauma é oriunda do grego (tráuma), a qual significa ferida. Atualmente, utilizamos quase todas suas derivações, por exemplo, traumatismo e traumatizante. Entretanto, segundo Luís Mir, hoje há uma consolidação do uso da palavra “trauma” para aspectos psíquicos e “traumatismo” para os físicos.
O trauma psíquico pode ser percebido quando um indivíduo, após algum choque emocional violento, passa a modificar sua personalidade, sensibilizando-a em relação a emoções da mesma natureza e podendo desencadear problemas psíquicos.


Referências:

1. American College of Surgeons Committee on Trauma. Advanced Trauma Life Support, Chicago, 2002, Author.

2. Freire, C. S. Evandro. Trauma a doença dos séculos, edição: 2004, SP, Atheneu Rio, 2004.

3. National Association of Emergency Medical Technicians em colaboração com o Colégio Americano de Cirurgiões. Atendimento pré-hospitalar ao traumatizado: básico e avançado, 5ª ed, RJ, Elsevier, 2004.

4. Mir, Luís. Guerra civil: estado e trauma, São Paulo: Geração Editorial, 2004.


(Por Paulo Pepulim)







Eu só sei que fiquei lá quase por 15 minutos, deixando os dois puxarem meus cabelos, sentados em suas carteiras ao meu lado, rirem e me darem soquinhos. Tudo o que eu fiz foi baixar a cabeça, cobrir o rosto e começar a chorar.
Chorei baixinho até que finalmente algumas outras crianças das carteiras do lado decidiram se manifestar e chamar a “tia”, avisando-a do que os dois estavam fazendo comigo. Eles foram repreendidos e pararam. Mas pra mim não bastava que eles parassem. Isso é uma coisa que carrego comigo até hoje. Nunca dei importância para o como, mas sim para o porque. O que leva alguém a querer maltratar outra pessoa simplesmente por maltratar? Talvez esse seja um dos motivos pelos quais hoje, não consiga enxergar inocência em crianças. Nenhuma delas. Algumas são burras e lerdas, mas não inocentes.
Na hora do intervalo, isolado, fui me sentar em um balanço. O dito cujo está lá até hoje, no mesmo lugar. Cada vez que passo na frente do parquinho me vejo sentadinho nele. 
Fiquei sentado lá, quieto, balançando pra frente e pra trás, arrastando as sandalinhas na areia quando a tia veio com meus dois agressores cabisbaixos e envergonhados e forçou-os a me pedirem uma desculpa que ela com certeza os fez previamente decorar, mediante alguma ameaça boba, dessas que se faz a crianças de cinco anos de idade. O ser humano aprende a falsidade e a hipocrisia desde cedo mesmo, hoje eu vejo.
Desculpei por desculpar. Assim como com certeza para os dois o pedido de desculpas não vinha deles, meu perdão não veio de mim, mas sim de um conceito de moral social que já naquela época eu achei que deveria ter. O ser humano aprende a mascarar o que sente desde cedo mesmo. Hoje eu vejo. O que eu contava também é que, com a chegada da minha mãe no final da aula aqueles dois iam ver só. Iriam se borrar todos de medo quando a tia contasse pra ela o que eles me fizeram. Notem que eu disse “a tia contasse pra ela”, porque eu era covarde demais pra abrir a minha boca por algo que não fosse comer ou respirar.
O dia terminou e minha mãe chegou. Fiquei esperançoso, contando os minutos para vê-la lançar para meus dois agressores aquele olhar de raiva, que tantas vezes ela me lançou. Entretanto o que aconteceu foi pra mim como um tiro no peito. A tia foi me entregar a ela e contou o que houve. Contou com aquele tom de “não se preocupe, não foi nada de grave”. Meus dois agressores olhavam a uma distância segura, temerosos da reação da minha mãe ao saber o que me fizeram. Mas pra minha surpresa ela apenas sorriu pra tia, pras crianças ao redor que me defendiam e disse:


“Ah, tudo bem! Acredito que não foi nada mesmo. Eles não fizeram por mal. Não foi nada demais não, viu filho? Não precisa ficar assim!”


Pois é. Incrível como às vezes faz falta as pessoas terem o dom de verem dentro de você. Gostaria que todos pudessem ter me visto por dentro naquele dia, principalmente a senhora minha mãe. Ela saberia que o que voltou pra casa naquele dia foi um garoto diferente do que ela deixou lá de manhã.


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4 Divagações

  1. Muitas pessoas não sabem o que realmente é ter um trauma e usam indevidamente este termo, como eu ;).

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  2. Meu pai sempre disse para mim e meu irmão que se apanhássemos na rua apanharíamos dobrado em casa. Nunca contei pra ele as vezes que apanhei na rua. A pessoa de quem mais apanhei fisicamente foi meu pai e o agradeço por isso (não sou masoquista) pois fortaleceu muito o meu espírito. Agora o meu maior carrasco, que deixou marcas muito mais profundas na minha alma do que as cintadas do meu pai que saravam, fui eu mesmo. Ninguêm alem de mim me maltatrou com as piores palavras, humilhando e me rebaixando. Sempre fui eu mesmo que me repreendi ás vezes em que deixei que os outros tirassem uma com a minha cara ou me humilhassem. Hoje em dia cuido para não deixar que ninguem mais abuse da minha pessoa. Seja quem for eu vou lutar contra e bater de frente. Nunca mais vou baixar a cabeça.

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  3. Eu tenho muitos traumas de infância,http://euseiquepossovencer.blogspot.com/2009/03/minha-historia-resumida-em-palavras.html,eu ainda sofro influência deles,a alteração de humor que tenho é por causa de traumas passados.Eu sou maior que eles...

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  4. A única coisa que me lembro do meu primeiro dia do pré é que chorei sem parar a manhã inteira por não querer ficar lá.

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