2

Insônia

sexta-feira, 13 de novembro de 2009


Embora já passe das onze e meia e eu saiba que tenho que acordar cedo amanhã para trabalhar, o sono não vem. Estão tão desperto como se tivesse acabado de correr cinco quarteirões. Minha respiração pesada e o incômodo aperto no peito só indicam o que eu já sei. Afinal esses sentimentos e eu somos velhos companheiros conhecidos. Coloco um CD no rádio, sento no colchão no chão da sala, minha cama e começo a escrever. Sei lá. Quando a gente não pode gritar, tem de trazer a coisa pra fora de algum jeito. No CD tá tocando Paul Simon e Andy Garfunkel. "Old Friends" é o nome da música. Em seguida vem "Jesus, alegria dos homens", que sincera e vergonhosamente admito até hoje não saber se é de Bach ou de Bethoven. Eu olho no relógio. Quase meia noite. Muita coisa pra fazer amanhã. Muita coisa pra fazer todo o dia. Documentos a organizar, encomendas para mandar, desaforos para ouvir... pessoas para tentar entender. Inclusive eu mesmo. Muita coisa pra fazer e tão pouco tempo pra pensar no que se faz. 


Estou confuso! Um vazio grande! Me diga alguma coisa que eu já não saiba, que eu já não sinta. A Enya começa a tocar no CD e eu mergulho fundo mais uma vez nas minhas recordações e nos meus sonhos futuros. Coisas que foram... coisas que são... e algumas coisas que ainda serão. Não aceito muito do que já se foi e tenho receio de coisas que não sei se serão. Eu reflito sobre o meu vazio e o vazio de outras pessoas. O mundo é um lugar de gente perdida. Todos procuram por todos e todos tem medo de todos. São como cegos tateando na multidão a procura de ajuda, se esbarrando uns nos outros desordenadamente, desesperados por apoio. Mas a mão que um estende não encontra a do outro, porque o outro, tão perdido quando o um, também tateia perdido no escuro, sem enxergar o que está ao redor. Eu estou com medo. As pessoas não sabem lidar com a sua própria dor. Por mais que você a vivencie, nunca aprende a lidar com ela completamente. Procuram o socorro no próximo mas não vem que o próximo está tão confuso e perdido quanto ele. 00:10. Saco! O sono não vem. O nariz queima quando eu respiro fundo. Bom sinal. Mau sinal. O tema de amor de Star Wars começa a tocar no CD. Eu passo a língua nos lábios e os sinto molhados e salgados. Nem notei que ela tinha descido pelo meu rosto pra dizer a verdade. Merda! Por que o coração e a razão nunca entram num acordo? 

Achava exagero quando ouvia algo assim. mas o sentimento é intenso, quase palpável. Por que eu me prendo a coisas, sentimentos e pessoas que eu sei que não vão e não querem ficar presas a mim? Eu penso nisso e o peito aperta de novo. Medo. medo de perder o que não quer ser meu. Deus! Tira isso de mim! Forjei meus próprios grilhões e correntes. Mas o grilhão só está em mim. A outra ponta da corrente se perde numa névoa de expectativas frustradas. Eu já parti essa corrente uma vez. Jurei não forjar outra mas assim eu fiz. Aprender com os erros não é um dos meus predicados. Esqueço como é penoso se libertar. O quanto é difícil serrar a corrente sem se ferir no processo. É ridículo. Quase doentio! Queria poder falar, mas não posso. Algumas coisas são complexas demais para se dividir. Isso é uma coisa que eu vou ter que carregar sozinho até ter coragem suficiente pra deixar no meio da estrada. "Stop Crying your hearth out". Nunca gostei do grupo. O Oasis é arrogante, mas a música presta. Eu olho a hora na parede e os porta retratos na estante. Preciso tirar a poeira. 

Mãe, tia, tio, prima... amigos. O que os olhos não vêem o coração não sente. Baléla! Bobagem. Dói mais conforme os dias passam. Uma miscelânia de sensações e recordações. Algumas mais fortes do que outras. Eu penso nisso mais profundamente e um pânico estranho me toma. Pânico de deixar pra traz o que eu nunca alcancei na verdade. E você sabe que tentei. As pessoas tem pontos de vista diferentes sobre a mesma coisa. Olho o porta trecos na estante e vejo. É legal o modo como a coisa não perde a cintilância. Um amargo passa pela garganta e cai no estômago. Mas não quero falar disso. Além de não valer a pena, aperta mais o peito. Alguns jovens infartam bem cedo. Eu não sou uma pessoa boa, eu não sou uma pessoa justa nem direita. E não quero ser. Eu guardo mais ódio e mágoa no meu coração do que as pessoas podem imaginar ou  suportar. Eu agradeço pelo que você diz, mas você está pintando um quadro que não sou eu. E isso não é modéstia. Eu me conheço melhor do que ninguém. Barulho na cozinha. O maldito rato deve estar embaixo da pia. Está na cozinha faz dias. 00:20. O CD acabou e querendo ou não o sol vai nascer de novo. Mais do mesmo. Mais chefe, mais professores e mais das mesmas incertezas e dúvidas excruciantes. 
 
Adicionar aos Favoritos BlogBlogs

2 Divagações

  1. Quanto sentimento no seu texto Eduardo. Você sente e se expressa muito profundamente. Mas isso eu já sabia.

    ResponderExcluir
  2. Quando estou com insônia sinto e faço isso " Minha respiração pesada e o incômodo aperto no peito só indicam o que eu já sei. Afinal esses sentimentos e eu somos velhos companheiros conhecidos. Coloco um CD no rádio, sento no colchão no chão da sala, minha cama e começo a escrever. Sei lá. Quando a gente não pode gritar, tem de trazer a coisa pra fora de algum jeito".
    Foi apartir disso que o diário é o que é hj...
    Caro amigo Eduardo qd vc se sentir em meio a escuridão lembre-se de olhar para lua (P.S Minha luz favorita hehehee),pois ao olhar para ela pense que sempre há alguém que se importa com vc,e tem a mim sua amiga de net que está sempre disposta a te aconselhar,agora quanto ao ódio isso faz mal,qd eu tô assim eu desconto em alguma coisa não em pessoas,tipo eu caio dentro do sorvete :S,eu já pedi um saco de boxe de presente mais ngm quer me dar...
    òdio demais dá taquicardia e estresse demais faz cair o cabelo,experiência própria!!!!

    ResponderExcluir

Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!