Mendigar é uma questão de opção
quarta-feira, 18 de novembro de 2009Mas o assunto do post de hoje em debate é pura e simplesmente a minha opinião sobre o chamado mendigo ou "mindíngo" como alguns analfabetos insistem em dizer. Desde que comçamos a entender as dificuldades das pessoas no mundo, somos educados e instruídos pelo que alguns chamam de "moral e bons costumes" a ter muita piedade de pedintes, mendigos e seus derivados, afinal, são uns pobres coitados que não tem onde cairem mortos e precisam muito de nossa ajuda. Eu concordo com isso em partes.
Realmente acredito que algumas pessoas tem mais sorte do que outras. Algumas nascem ricas, outras nascem pobres, alguns tem vida fácil, outros não. Ninguém é mendigo por exemplo, porque gosta de ser mendigo, porque é divertido. Contudo as vezes não consigo deixar de analizar muitas coisas. Ah, esse sou eu. Vivo analizando muitas coisas.
Aqui perto de casa tem um cara chamado Túlio. Ele tá bem acabado. Bébe que nem um porco, mal consegue falar, as vezes neche o saco pedindo comida no portão as 9:00h da manhã, mas tem um detalhe no cara que faz todo mundo simpatizar com ele, tratá-lo bem, com respeito e a dignidade que ele merece: Ele pede sim, de casa em casa as vezes (na maioria das vezes mais na minha ¬¬'), mas o fato é que o cara corre atrás do dele.
Ele é pinguço, é pedinte? Sim. Mas tá todo o dia empurrando seu carrinho (modo de dizer, porque o treco é enorme) cheio de papelão e coisas para reciclar. As vezes eu acho que aquele carrinho é uma extensão do corpo dele, pois não há um dia em que ele não esteja correndo atrás de papelão e recicláveis pra vender e ajudar a irmã, com quem mora. Tá certo, a maioria da vizinhança tem pena do cara, afinal ele é um bebum muito gente fina, não tem um dia em que ele não solte um sonoro "bom dia", pra todo mundo que encontra na rua. É um daqueles caras que tá fodido e muito mal pago, mas na sua ignorãncia consegue ver o mundo de uma maneira simples. Pode ser e muito provavelmente vai ser, que ele fique na merda até a morte, mas pelo menos ele vai morrer empurrando o carrinho de recicláveis dele.
Agora, as vezes ando nas feiras livres, no centro da cidade e sempre encontro aquelas peças raras, tipo, que se elas não moverem um dedo você nem saberia que estão ali. Deitados nas calçadas, sentados sem esperança, fedidos, cagados. Eles não fazem nada. Apenas ficam ali, parados feito estátuas com a mão estendida em súplica: "Me ajuda! Tem cinqüenta centavos? Tem uma moedinha senhor? É pro leite da menina!" Eles merecem ser ajudados? Oras, SIM! Seria desumano dizer que não. Mas as vezes eu fico olhando a cena, aquela pessoa sem atitude, sem vontade de viver, tão acomodada na sua situação vegetativa e penso: "Mas o que é que essa pessoa está fazendo por ela mesma? Um mínimo que seja?"
O albergue da cidade dá um prato de comida, dá um banho, dá um canto mais seguro pra dormir do que as sarjetas oferecem. Sim, um lugar desses não é a salvação da lavoura e nem vai mudar a vida dessas pessoas, mas, puxa vida, será que bem lá no fundo, bem lá no fundo mesmo elas não anseiam mais por uma gota de dignidade que seja? Se a pessoa não tem condições de trabalhar para seu sustento, se é deficiente ou mesmo de muita idade, ainda assim ela pode buscar apoio em algum lugar, tentar resgatar o mínimo de dignidade que talvez lhe reste. Agora, se a pessoa, homem ou mulher é mais jovem (e o Túlio já não é mais jovem no caso), porque se sujeitar a humilhação de pedir, de suplicar? existem quintais para serem capinados, chãos para serem varridos e banheiros para serem lavados. Contudo ainda assim a pessoa acomoda-se em sentar humilde na calçada, estender a mão e repetir de dois em dois minutos pros transeuntes: "Tem cinqüenta centavos?"
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