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Sobre incerteza, medo, anseios verdadeiros e buscas

domingo, 17 de janeiro de 2010




Estou com medo. Na verdade estou em pânico. Mais um ano começou, eu já vou para os meus 34 anos, dizem alguns que eu já estou ficando até com alguns fios de cabelos brancos e eu ainda assim continuo completamente indeciso quanto a o que eu vim fazer nesse planeta.







Me sinto simplesmente posto e esquecido aqui, sabe-se lá por quem. Eu desde criança nunca tive sonhos, objetivos, ambições, eu simplesmente fui vivendo cada dia. Nunca me pasou pela cabeça crescer e me tornar um grande isso ou um famoso aquilo. Casar, ter filhos. Na verdade nunca me passou pela cabeça que algúm dia eu teria que crescer.


Hoje eu vejo crianças desde cedo já decidindo o que querem ser na vida. Algumas por imposição dos pais, outras mais espertas, já tomando essa decisão por si e lutando por ela.




Vejo meus conhecidos (não consigo mais chamá-los de amigos) fazendo planos, arrumando suas namoradas, prestando concursos, passando no vestibular, querendo ser tradutores, programadores, seja lá o que for. E quanto a mim, eu simplesmente não almejo nada. Não tenho vontade de ser nada.


Eu não sei o que é. É simplesmente como se nada me satisfazesse. Fico martelando na cabeça: "O que é que eu quero pra minha vida? O que eu quero pra minha vida? Quais são os meus sonhos?".
Nenhum. Eu simplesmente não espero nada, não tenho sonho algúm. Fico pensando no que me satisfaria, no que me deixaria realmente feliz e realizado e nada me vem a mente.


Eu sempre desenhei otimamente bem desde criança, modéstia a parte, realmente muito bem. Todo mundo que via e vê os meus desenhos, acaba vindo sempre com a mesma conversa:




"Puxa, você é um artista nato! Precisa fazer uma faculdade, precisa prestar Design! Precisa usar esse seu talento maravilhoso! É incrível! É fantástico! Você já deveria estar ganhando muito dinheiro com isso."

Essas palavras na verdade não me incentivam. Nem um pouco mesmo. Na verdade me torturam, me fazem sentir uma culpa imensa, como se eu tivesse a obrigação de ser feliz. Como se, por padrão, eu devesse ser o que os meus genes me mandam ser. Com certeza devem ser genes da minha mãe. Eu não conheci o meu pai. Minha mãe disse que ele era um vagabundo, que não conseguiu ser nada na vida e pelo que ela ficou sabendo, morreu como mendigo. Fico me perguntando quanto dele está em mim.


Será que existe algúm "gene vagabundo" em mim? Já parei e pensei nisso mais de uma vez. Mas eu creio que não. No meu ponto de vista, vagabundo é quem não quer fazer nada e ficar de papo pro ar o tempo todo, deitado numa rede, se abanando e tomando suco com um guarda-chuvinha e uma rodela de laranja. Talvez pessoas como o Rodolpho, que me julgou tão facilmente e outros, achem isso de mim, mas eu sei que não sou um vagabundo, sei o quanto luto, minha mãe e minha tia sabem o quanto luto, não só por mim, mas por nós três.

Eu quero fazer alguma coisa, eu quero alguma coisa, só não sei o que?
O que me faria feliz? o que me deixaria realizado? Eu sinto como se nada que o mundo ou a sociedade tenham a me oferecer preencherão esse vazio em mim. Eu não me sinto completo, não consigo me sentir inteiro, mesmo que eu realizasse muitas coisas. De onde vem esse vazio, essa insatisfação?
As vezes sinto que o que eu quero é mais interno, mais íntimo, não um ter, não um ser, mas um sentir.
Achei por muito tempo que o que me fazia falta eram amigos. Não, não sinto falta de amigos, sinto falta de amores.


Amores.
Mulheres?
Não.
Amores... pessoas.

"_O que você está procurando em mim eu jamais vou poder lhe dar."

Foi o Ricardo quem me disse isso há muito tempo.
Mas será que ele realmente entendeu a fundo o tipo de amor que eu estava buscando nele? O tipo de amor que eu busquei e por Deus, ainda busco em todos até hoje?
Não. Ninguém entende. As pessoas definem as coisas de maneira muito binária. Amor e amizade são duas coisas completamente diferentes pra elas. Ou é um ou outro. Nunca os dois juntos. E elas enxergam o amor como uma coisa indivisível. O que sempre resta quando a mais de um coração envolvido são sobras de amor, sobras de amizade.


Quem vive de sobras são cães.


Estou com medo. Na verdade em pânico. Cheguei aos 34 sem ter idéia do meu papel no mundo. Mais trinta anos hão de passar rápido. Chegar aos 64 sem saber a que veio é aterrador. É desperdiçar uma vida.



"Mais que amor, dinheiro e fama, dai-me a verdade. Sentei-me a uma mesa onde a comida era fina, os vinhos abundantes e o serviço impecável, mas onde faltavam sinceridade e verdade, e com fome me fui embora do inóspito recinto. 
A hospitalidade era fria como os sorvetes. Pensei que nem havia necessidade de gelo para conservá-los. Gabaram-me a idade do vinho e a fama da safra, mas eu pensava num vinho muito mais velho, mais novo e mais puro, de uma safra mais gloriosa, que eles não tinham e nem sequer podiam comprar.
O estilo, a casa com o terreno em volta e o "entretenimento" não representam nada para mim. Visitei o rei, mas ele deixou-me à espera no vestíbulo, comportando-se como um homem incapaz de hospitalidade. Na minha vizinhança havia um homem que morava no oco de uma árvore e cujas maneiras eram régias. Teria feito bem melhor visitando-o a ele."


                                                                         Henry David Thoreau.
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2 Divagações

  1. Acredito que o papel de cada um no mundo é sua própria existência,é o que somos e o que fazemos.

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  2. pow cara as respostas estão na sua postagem acima que fala da credulidade,ame o que vc é,o que vc faz,por mais insiguinificante que possa ser,e vc encontra seu caminho,vc ta preocupado com o que quer ser? vc já é cara!!!! Só num se deu conta disso,leio suas postagens e fico maravilhado com essa sua visão realista e sincera da vida,isso é um dom maravihoso,o nosso mundo precisa disso,as pessoas estão alienadas,perdidas,precisam de alguem que lhes mostre a verdade,que diga pra elas que isso tudo ta errado,como fez Renato Russo,Cazuza,Jhon Lenom,Bob Marley e muitos outros anonimos que não eram artistas,e nem apareceram na tv,mas mesmo no anonimato fizeram seu papel,penso nos heróis da ditadura,que morreram,foram torturados e que nem chegou ao nosso conhecimento,mas que enfrentaram tudo isso para diser as pessoas verdades como essas que vc diz no seu blog
    parcero não abaixe a cabeça,não se diminua cara,por que vc ta perdido? vc posta aqui no seu blog as resposta que vc mesmo procura
    ame o que vc é e o que vc faz não importa o que,mas faça o melhor
    vc ta procurando o que vc ja encontro a muito tempo.
    um grande abraço parcero
    desculp qualquer coisa ai
    mas pense nisso

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