Sobre coisas ruins que podem piorar, rebocos cadentes e depressão
segunda-feira, 8 de março de 2010
Em casa somos em 3 pessoas, eu, minha mãe e minha tia. Moramos os 3 juntos desde que eu me entendo por gente. Minha tia é uma segunda mãe, ajudou a me criar da melhor maneira possível, já que nunca tive pai. Sempre ajudou a minha mãe como pode, fosse fazendo os serviços da casa ou trabalhando como manicure para ajudar nas despesas.
Sem um marido pra ajudar, minha mãe sempre deu seu sangue e suor pra sustentar nós 3. Não era sempre que a minha tia conseguia trabalho, mas bom, só o fato dela ajudar a cuidar de mim e da casa, já compensava. Quando a minha mãe perdeu o emprego de telefonista e decidiu se tornar costureira, minha tia a ajudou na costura como pode, mesmo assim não parou de trabalhar como manicure.
As vezes, por amor os pais cometem erros graves conosco. Eu comecei a trabalhar bem tarde. Minha mãe sempre me mimou, procurou fazer tudo por mim e me poupar dos problemas, dificuldades e dores do mundo, o que é impossível. Mesmo sem dinheiro, era procurou nunca deixar que me faltasse nada, roupas, comida, brinquedos. Alguns pais acham que agindo assim, além de estarem ajudando muito aos filhos ainda vão mantê-los para sempre ao seu lado. Ledo engano.
Por causa da falta de maturidade e experiência profissional, só fui arrumar o meu primeiro emprego com carteira assinada há 7 anos atrás, antes disso trabalhei curtíssimos períodos de tempo em lugares que nada tinham a ver comigo, como uma fábrica de alarmes e uma outra de jóias. Salários baixíssimos (sou dá época em que um salário mínimo valia R$ 70,00, acreditem), ambientes de trabalho péssimos e chefes grosseiros. Já cheguei até a ser obrigado a carpir quintal e lavar o banheiro da fabriqueta.
Consegui meu emprego nos Correios graças a um primo de segundo grau que, sabendo do projeto social da empresa para contratar deficientes, sugeriu à chefe dele que me contratasse. Quando eu falo que trabalho nos Correios, todo mundo acha que sou concursado, mas não, sou terceirizado por uma entidade de deficientes visuais. Tenho trabalhado nos Correios desde então.
Minha mãe sempre teve depressão. Pra muitos que nunca tiveram ou não entendem, é uma "doença de gente rica", "doença de fresco" ou "coisa de quem não tem o que fazer". Se alguém falar isso pra minha mãe eu juro que eu mato, nem que vá preso. Ela sempre sofreu muito com isso. Teve uma infância complicada, adolescência conturbada, depois se tornou mãe solteira e tudo o mais.
Com o passar dos anos sua depressão piorou bastante. Durante muitos anos ela prometeu se matar, mas talvez por esperança, talvez por covardia, nunca o tinha feito. Mas os anos vão passando, a idade vai pesando e as dificuldades vão aumentando. Costurar deixou de ser uma coisa que dá dinheiro, a freguesia fiel foi sumindo e a saúde dela também. A única coisa que foi aumentando foi a sua depressão, sua angústia e seu cansaço. Com meu emprego, graças a Deus nunca chegamos a passar fome ou andar pelados, mas sem costura pra fazer e só com os bicos de manicure da minha tia, meu salário não dava nem pro começo. Água, luz, gás, IPTU, supermercado, remédios. Foi nesse período que a minha depressão, a qual eu também tenho, agravou-se.
No auge de sua depressão minha mãe tentou o suicídio com remédios. Não conseguiu, mas depois de um tempo tentou de novo e de novo, quatro tentativas no total. Não conseguiu morrer, mas piorou ainda mais sua saúde. Ficou internada em um hospital psiquiátrico durante um mês e voltou bastante debilitada. Hoje, já está se recuperando, fazendo tratamento psiquiátrico e tomando seus remédios regularmente. Mesmo assim jamais voltou e nem voltará a ser a pessoa que já foi. Cabe hoje a eu e minha tia, que trabalha cuidando de uma idosa, sustentarmos a casa. Minha mãe faz pequenos consertinhos em roupas e tem duas ou três freguesas de costura. Nenhuma das duas recebe benefícios ou aposentadoria. Por sorte, meu salário hoje passa dos R$ 500,00, então ainda com dificuldades, conseguimos nos manter.
Mesmo assim como eu disse no início do texto, tem dias muito, muito difícies de levar nos quais desejamos duas coisas: ou ficar na cama ou no meu caso, nem acordar, morrer e ir direto pra onde Deus achar que eu mereça ir.
Moramos de favor em uma casa já bem velha. Cheia de infiltrações, rachaduras e goteiras. Três cômodos, quarto, sala e cozinha, com um pequeno banheiro de 1,5 x 1,5 metros do lado de fora da casa. Durmo no chão da sala porque não cabemos os 3 no quarto. Vivendo bem ou mal, não somos vagabundos, nenhum de nós 3. Eu trabalho seis horas por dia, menos do que alguns ou algumas, mas mesmo assim procuro ajudar nas despesas da casa da forma que posso. Minha tia também e mimnha mãe, mesmo debilitada também.
Voltei da natação semana passada louco para tomar um banho morno, o tempo anda frio de manhã. Cheguei e fui ligar o chuveiro, que não deu sinal de vida de água morna. Não só não esquentava como tava dando choque. Eu odeio isso. Além de todas as dificuldades que já enfrentamos, chegar cansado em casa e não poder tomar um banho quente me deixa doente. Fui dar uns tapinhas de leve na ducha pra ver se a resistência ligava e um pedaço gigante do reboco do teto, simplesmente se soltou e caiu na minha cabeça, me dando um banho, mas não o que eu queria, um banho de poeira e terra.
Sabem quando tá faltando uma gotinha, só uma gotinha pro copo transbordar e aí acontece? Pois é, foi o que aconteceu.
Puta que o pariu sabem? A gente trabalha duro, se mata pra tentar se manter da melhor forma possível. Eu não só tenho que levar a minha vida, como também a da minha mãe e da minha tia. To sempre fazendo o máximo que eu posso. mesmo assim parece que Deus não vê nada do que você tá passando! Dá uma revolta tão grande.
Em 2008 no meio do último ano do colégio técnico, minha mãe tentou o suicídio pela última vez. Fiquei arrasado, um caco, tava super cansado psicológicamente e o pior, foi bem no meio da semana de provas do colégio. Por conta do acontecimento, fui super mal nas provas, bombei na maioria, tava de um jeito que queria morrer. Depois da prova, saí para o pátio arrasado, porque tinha entregado a prova em branco. Fui desabafar com o Rodrigo, um ex amigo meu. Muita gente tinha ido mal na prova por vários motivos, tava todo mundo reclamando, mas sabem o que ele teve a coragem de me dizer?
"Você vai mal nas provas sempre, porque você não se concentra. E não se concentra porque nunca leva nada a sério. está sempre pensando apenas em sair e se divertir o tempo todo."
Incrível né? Adoro essas pessoas que tem bola de cristal e resumem a sua vida em uma frase.
Outro dia também, veio uma pessoa aqui no blog e escreveu, não com as palavras exatas, mas insinuou que eu não consigo as coisas que eu quero porque não me esforço o suficiente pra isso, enquanto ela se mata de trabalhar e por isso está indo pra frente. Opa, bola de cristal detected!
Já cheguei até a ouvir absurdos do tipo: "Na sua idade Napoleão já era general". Tá, isso vindo de alguém que na época trabalhava de pedreiro!
Fico me perguntando nessas horas onde está Deus que parece que não vê as coisas. Minha mãe fica indo naquela bosta daquela Igreja Universal do Reino de Deus a semana toda, orando, pedindo com fervor. Pra que? A casa continua caindo nas nossas cabeças, as contas continuam atrasadas e nós continuamos batalhando como podemos para nos manter.
E essas injustiças, por que ele não vê? Sou criticado, julgado, acusado de ser falso quando tudo o que eu queria era um ombro amigo pra poder desabafar. EU ESTOU TÃO CANSADO DE TUDO! Ninguém vê o meu lado e se vê, faz um pouco caso do caralho. Depois eu fico agressivo, fico revoltado e pronto, sou o vilão, sou o malvado. O Rodolpho podia choramingar pelos cantos do colégio porque detestava programação, tinha ido péssimo nas provas e queria largar o CTI. Eu nunca falei que ele fazia drama, muito pelo contrário, sempre o apoiei e o incentivei a ficar até o final. Agora, se eu estou me sentindo solitário, se eu estou magoado com as pessoas, pronto, sou um canalha dramático. O Rodrigo pode praticamente me chamar de vagabundo na minha cara e eu tenho que engolir e ficar quieto, a outra pode dizer que eu não trabalho o suficiente e ainda ter o apoio moral do namorado dela nisso. Aí quando eu achava que tinha a última pessoa com quem realmente podia contar um pouco, vem ele e me diz que nossos assuntos não estão mais em sintonia. ÓTIMO! PERFEITO! E no meio disso tudo não me dão o direito nem de me magoar, nem de me revoltar.
Eu espero do fundo mais profundo do meu coração e da minha alma que cada uma dessas pessoas pague pelos erros que estão cometendo comigo, pelas injustiças, assim como eu hoje estou pagando pelas injustiças que cometi contra elas. Sim, pois eu sou humilde para admitir meus erros.
Pessoas que acham que ajudam você, que acham que te entendem quando na verdade tudo o que elas realmente acham é que são melhores do que você.
No meio desse turbilhão de coisas pelas quais eu passei e ainda venho passando, tudo o que eu queria eram pessoas que soubessem me dar mais do que amizade, mas carinho! Não apenas deixar que eu subisse na casa delas pra emprestar um CD ou não, não apenas me apoiarem quando eu fosse mal nas provas, não jogar na sua cara que não tem mais nada pra conversar com você e depois chamar pra sair, muito provavelmente porque a namorada deve ter tido outro compromisso.
Posso estar sendo injusto em todas essas minhas acusações, assim como digo que não sabem da minha vida, também não sei da vida dos outros, mas hora, mesmo sem saberem da minha vida se metem a me julgar, nada mais justo do que eu fazer o mesmo.
6 Divagações
Eduardo,
ResponderExcluirPalavras são tão vazias de significado em situações como esta. Espero que tenha força para superar isso, que possa estar junto de sua mãe que precisa muito de você. É cinico e deselegante dizer para alguém em situações conflituosas e desesperadoras que 'existe gente que talvez esteja em patamar pior do que você'.
Esqueça o passado, ou melhor, os fatores que o fizeram chegar a certas situações em sua vida. Esqueça quem te fez mal, esqueça. Não vale a pena. Se você canalizar energias gastas com o que não vale a pena para almejar o que deseja, ~vai ser muito mais complicado chegar lá.
Eu tenho uma profissão onde se você não tomar cuidado, enlouquece. Tenho uma aluna na escola onde leciono que está em estado teminal - ela é soropositivo, está quase cega, ´orfã. Sua avó disse que talvez a garota não exista no segundo semestre. Entendeu o drama? Não é sentimentalismo, mas se lá não pensarmos de modo otimista, não no sentido alienado, ficaríamos loucos..E o magistério é uma área com inúmeros casos de invalidez por problemas psiquiátricos.
Oriente sua mãe a procurar ajuda, diga a ela que não é só igreja que pode ajudar, é importante, mas não é tudo. Ela precisa de você mais do que tudo, e isso é mais importante, mais do que tratamentos medicamentosos. O apoio de quem nos é querido é fundamental. Esqueça o que ela fez, se ela errou, se deixou de fazer algo. Eu tenho autoridade para falar sobre isso. Minha relação com minha mãe não foi saudavel boa parte de minha vida. Ainda temos atritos, mas o tempo se encarregou de sarar tudo. A sua mente não é um HD, mas dá para contemporizar as mancadas que a gente deu, os erros, aquilo que fizeram de ruim para a gente.
Eu torço por você, e que em breve você e sua mãe possam estar bem.
Du, permita-me chamá-lo assim. Li seu desabafo e senti o quanto precisa de um ombro amigo, de alguém que lhe escute. Lendo seu texto pude reviver muitas partes de minha vida. Fiquei órfã de mãe aos 9 anos mas desde os 5 que convivi com a doença dela. Ela sofreu vários derrames cerebrais e foi perdendo a mobilidade dos membros e até a capacidade de comunicação. Desta forma não tenho lembrança nem mesmo de sua voz. Só tenho em minha mente a sua imagem, sempre magra e doente, com dificuldade para caminhar. Depois de sua morte passei automaticamente da infãncia para a vida adulta pois tive de assumir a casa. e, naquele tempo nada de máquina de lavar... Era no tanque mesmo... Bem... não vou me alongar. Só contei para compartilhar com você um pouco daquilo tudo que senti. Também pedi muito em minhas orações que deus me levasse para junto dela. Hoje, estou vivendo um período complicado de separação. Tudo isto dói. Viver é uma experiência quase sempre difícil. Crescer dói e se sentimos tanta dor, acredite estamos crescendo diante dos olhos de Deus. Claro que como seres humanos almejamos a felicidade, mas descobri que somos nós que a construímos. ela está dentro de nós. Cabe a nós esta tarefa e ela não depende de dinheiro, depende de como olhamos para as coisas que nos cercam. Eu procuro ver em cada pessoa o bem e tenho me esforçado para ter sempre um sorriso nos lábios, mesmo que o coração esteja em pedaços. Assim, como num espelho, recebo sorrisos de volta.
ResponderExcluirUm abraço afetuoso de quem tem idade para ser sua mãe. aliás, sou a mãe do Carlos, do blog Mundiota.
Angel
Ai, amigo! Até fiquei arrepiada! Sua vida é bem parecida com a minha, podíamos até sentar e ficar horas conversando.. minha mãe tb tem depressão, por causa dos percalços da vida... orinha lhe conto. Minha vida hoje é muito boa. Vivo bem. Mas, já passamos por dificuldades imensas por causa de doenças na família, acredito que é a pior coisa da vida. Minha família ainda sofre bastante com a doença de minha mãe, mas procuro ficar bem, tem dias que choro e noutros estou feliz por viver, por ter o meu filho, minha família numa situação financeira estável e posso até ajudar a minha mãe financeiramente, pois o resto já não posso mudar. Mas fique bem, pois é preciso. Abraços.
ResponderExcluirEduardo a barra é pesada para ti! Eu adoraria poder te confortar, dizer palavras para diminuir tua tristeza. Vejo que apesar de tudo, tens o amor da tua mãe e tia. Sei que isso parece pouco, com tantas coisas acontecendo ao teu redor, mas é algo precioso. Vejo que és um bom filho, agradecido e preocupado e que tua mãe deu tudo de si para te educar. Essa relação, esse amor, vai te dar força para enfrentar esses momentos difícies. Pode ter certeza disso!! "Ninguém disse que a vida é fácil, mas nem por isso devemos pensar que não não vale a pena."
ResponderExcluirBeijo
Sonia, muito obrigado pelas palavras carinhosas.
ResponderExcluirEu posso reclamar muito da vida, mas não desisto de lutar. Muitas pessoas que se diziam minhas amigas e achavam que conheciam a minha vida acham que reclamo mas não luto. Elas não estão vendo o meu dia-a-dia para saber disso.
oi amigo
ResponderExcluircomo disse Renato Russo na musica MAIS UMA VEZ:
Tem gente que está
Do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar...
Tem gente enganando a gente
Veja nossa vida como está
Mas eu sei que um dia
A gente aprende
Se você quiser alguém
Em quem confiar
Confie em si mesmo...
Quem acredita
Sempre alcança...
estamos só amigo e isso é um fato
principalmente quando estamos passando por problemas
acho que nessas horas a unica coisa que nos resta
é nos agarramos ao pouco de esperança que ainda temos
pois não esta tudo perdido,é dificil em momentos como este acreditar nisso eu sei,mas acho que é a unica forma de não enlouquecermos de vez,infelizmente hoje em dia agente só pode esperar despreso das pessoas,pois ninguem quer ouvir,entender,niguem quer ser amigo de verdade a não ser que isso lhes traga algum beneficio
Tudo que nos resta é acreditar
olhe pro que ainda lhe sobrou de bom
seu trabalho,anatação que vc gosta,sua inteligencia
sua saúde,força,juventude
acho que isso é um sinal que nem tudo esta perdido
sei que é dificil mas não deixe de acreditar amigo
e quanto a Deus tenho certeza que ele não esta dormindo diante de tudo isso,ele só deve ter meios de agir que nós não entendemos eu prefiro acreditar nisso.
postei o selo la amigo
e froça amigo não desiste não
Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!