5

Sobre gatos, sonhos bons, expectativas frustradas e ilhas.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Engraçado e curioso como às vezes o nosso psicológico reflete no físico e vice versa.
Semana passada caí gripado e peguei uma inflamação nas duas pálpebras por causa do sumiço da minha gatinha siamesa, Mel Lisboa. Ela sumiu por um dia e meio, pensamos primeiro que ela tivesse sido atropelada, mas depois que procuramos e não achamos o corpinho dela pelas ruas chegamos à concluão de que alguém a tinha levado embora. Como eu disse, um dia e meio depois ela apareceu esbaforida sabe-se lá de onde, mas foi o suficiente pra me dar dor de ouvido, garganta e uma inflamação que deixou minhas duas pálpebras além de doloridas, inchadas e vermelhas feito um olho de sapo. Pelo menos consegui chorar tudo o que não estava conseguindo nos últimos meses. Por mim a humanidade pode morrer, não ligo nem se o bebê do vizinho morrer atropelado, mas não a minha gatinha. Ela vale mais do que muito humano. Bom, qualquer animal vale mais do que qualquer ser humano, em minha opinião.

Ainda nessa linha de raciocínio sobre essa permuta físico/psicológica, também sempre me surpreendo em ver como o nosso corpo reage em determinadas situações.
Quando pegamos um vírus, uma gripe ou algo semelhante, mais cedo ou mais tarde, mesmo nos medicando acabamos tendo febre. Trememos, suamos, esquentamos, gelamos. Tudo isso nada mais é do que o nosso corpo tentando combater o vírus intruso, nos esquentando de dentro pra fora na tentativa de matar o inimigo microscópico. O calor, o suor, logo depois o frio, tudo isso é o corpo atacando o vírus. Nosso amontoado de carne e ossos se torna o campo de batalha de seres que usam as armas que têm para se defender.
E embora as vezes esqueçamos, o nosso cérebro, que de tão fantástico nos parece mais uma coisa etérea, mágica do que um simples órgão, também tem seus mecanismos de defesa contra ataques. As vezes determinadas reações que temos, decisões que tomamos, nada mais são do que o cérebro agindo para nos defender de certos perigos, seja nos dando coragem pra conseguirmos passar por algo, seja nos dando medo para que não nos arrisquemos.

Depois que todos os meus amigos me viraram as costas, porque foi isso o que houve e não o contrário, não importa o que eles afirmem, tenho aos poucos me tornado uma pessoa mais fria, mais indiferente aos outros e ao contrário do que costumam dizer, o tempo não está curando ferida alguma. Quanto mais tempo as pessoas estão longe de mim, mais revoltado e cheio de ódio eu fico.
Contudo seria mentira e hipocrisia minha dizer que estou lidando bem com o abandono e a solidão. Eu nunca soube lidar com isso desde pequeno, não é agora que vou conseguir. Acho que certas coisas são mesmo da nossa personalidade e jamais mudam.
Desde o final do colégio técnico em 2008, quando as pessoas desistiram de mim porque tinham coisas melhores com o que se preocupar, não há uma noite ou um cochilo durante o dia em que eu não tenha sonhos ou pesadelos referentes a tudo o que houve.
No começo sonhava muito com brigas, discussões, tinha sonhos onde revivia os "piores momentos", como a viagem pro Ibirapuera ou voltar pra casa a pé sozinho a noite pela Avenida depois do cinema. Cheguei a sonhar com assassinato. Sonhei que saía no braço com as pessoas e arrebentava a cabeça delas com um pedaço de tijolo ou o que me estivesse a mão, chegava a acordar com os nervos duros e o punho fechado no meio da madrugada, tendo que me sentar no colchão até me acalmar e dormir de novo.
Mas assim como a febre é uma reação que o corpo tem para combater o vírus, creio que o cérebro também trabalha para impedir certas coisas, no caso, impedir que enlouqueçamos.




Essa noite sonhei com  os meus antigos amigos do colégio técnico. Não que estávamos brigando ou que saíamos no braço, nem que eu estava matando algum deles como as vezes sonho. Sonhei que estávamos no intervalo, o colégio era diferente, mais cheio de verde, cheio de flores, os professores eram outros, era de dia e o céu estava bonito, bem azul com nuvens claras. Estávamos sentados na mesa da cantina que também estava diferente. Todos os alunos estavam lá escutando um professor falar sobre não me lembro o que, mas eu estava sentado em uma das mesas com o Rodolpho e o Ricardo.
O Rodolpho estava bonito, como na época em que ele tinha cabelos compridos, volumosos e cacheados. Não sei porque estávamos todos bem arrumados, não de social, mas com roupas legais. O Rodolpho de jeans, tênis, camisa e um casaco por cima, encostado no pilar de mãos nos bolsos. Sei lá sobre o que conversávamos, mas sorríamos uns pros outros e isso me fez sentir uma paz muito grande. O Ricardo... há... como sempre, acho que esse esteriótipo dele ficou gravado na minha cabeça, simpático, mas calado, com aquele jeito dele de quem só fala depois de pensar no que vai dizer. Jeans, o velho tênis verde desgastado com as listrinhas, uniforme azul, jaqueta cinza e o boné azul... roxo, sei lá. Depois nos levantamos, o Ricardo tomou o rumo dele e eu acompanhei o Rodolpho no banheiro, que só pra variar também era outro e tava bonito pra caramba, me debrucei na pia pra lavar o meu rosto e acordei logo em seguida.
Eu me lembro que acordei muito bem, acordei estranhamente relaxado, como se seja lá o que tivermos conversado no sonho tivesse sido legal, bom, me senti parte de algo de novo.




Eu sempre fui assim, muito sonhador. Eu me lembro que quando fiquei sabendo que passei no CTI me senti como Harry Potter sendo chamado para Hogwarts. Imaginei as salas de aula como as dependências do castelo, nossos professores e as nossas aulas como se fossem as do livro. Me lembro que pensei "Vai ser muito, muito bacana". Até mesmo a floresta vizinha do colégio (porque a UNESP é no meio do mato), imaginei como sendo a floresta proibída.
O meu erro no caso sempre foi sonhar demais, idealizar demais tanto as coisas ao meu redor quanto as pessoas. Todas as vezes em que me encontro em uma situação bacana, um novo lugar, com novos amigos, sempre tenho aquela ilusão infantil de que "essa é a situação que vai mudar a minha vida para sempre". Quando faço um novo amigo, como foi o caso do Agner, depois o Paulo Thiago, depois o Adriano e por último o Ricardo, sempre me encho de esperança e já vou logo pensando "Puxa vida, finalmente encontrei o irmão que nunca tive e sempre quis!". Eu sempre fiquei tão feliz, tão empolgado, tão cheio de planos em todas essas ocasiões, fiquei tão cheio de amor por mim e pelo outro que isso sempre me cegou e impediu de ver o quanto esse meu sentimento sempre foi unilateral.
É como comer um doce por gula, sem parar pra pensar na dor de barriga que pode vir depois. Eu sempre mergulhei no sentimento sem pensar se realmente valia a pena o estar fazendo.

Quando o Paulo Thiago me convidou para a formatura dele em 2005 acho, pra mim foi como um sonho. Pensava nesse dia todas as noites, desde a roupa que iria usar até sobre o que ficaríamos fazendo a noite toda da festa. Bebendo, rindo, contando piadas, comemorando até o amanhecer... partilhando felicidade. Nos meses que antecederam sua formatura eu ficava passando e repassando essa noite na minha mente, cada detalhe, cada conversa. Eu e meu "irmão" juntos, comemorando felizes.
Eis que chegou a noite da formatura, coloquei a minha melhor roupa, me enchi com a alegria acumulada durante todo o ano e fui, ansioso por ver meu amigo em seu terno, tendo o seu momento, que na minha cabeça seria o "nosso momento", afinal ele era meu melhor amigo.
Cheguei antes dele na festa. Um tempo depois ele entrou junto com outro monte de formandos, rindo, cumprimentando. Abri caminho e fui até ele. Eu tinha que vê-lo, tinha que mostrar pra ele que eu fui como havia prometido, como ele queria.
Ele me viu, sorriu, virou-se e continuou seu caminho. Não o vi pelo resto da noite. Não nos trombamos, não conversamos, não rimos nem dividimos nada. Acho que mesmo que eu tivesse me jogado do segundo piso ele não perceberia que eu estive lá.
A noite não era minha, não era "nossa", era dele e das pessoas com as quais ele tinha convivido nos últimos 3 anos. Mesmo assim ele sabia o quando era importante pra mim, mesmo assim, nem sequer perguntou no dia seguinte por que é que eu fui embora depois de 40 minutos... quase chorando.
Não foi diferente com o Agner ou o Ricardo. Pra alguém que é sozinho, quando você passa tempo demais ao lado de uma pessoa ela acaba se tornando especial pra você, mais do que outras. Fizemos dupla durante dois anos, sentando juntos, bebendo juntos. Quando ele caiu doente e não melhorava nunca, dois dias, quatro dias, uma semana e meia quase de cama, cheguei realmente a perder o sono por ele, imaginando quando é que ele iria melhorar logo pra poder voltar ao colégio.
De certa forma o Rodrigo está certo em afirmar que eu tenho o hábito de ver sempre apenas o meu lado. Eu sempre tenho a mania de achar que, se está bom pra mim está bom pro outro também, que se ele me basta, devo ser o bastante pra outra pessoa também. pensamento egoísta esse. Ninguém se completa, nem mesmo família ou namorados. Só você pode se bastar. Passamos tanto tempo procurando algo que nos complete que não percebemos que já somos completos. Deus não cria nada pela metade. Eu só preciso me convencer das coisas que digo.

Minha depressão continua nas alturas. Emprestei umas apostilas de cursinho para estudar em casa, tenho dado uma lida e tentado fazer alguns exercícios. Poderia me inscrever no cursinho pré vestibular novamente mas infelizmente estou a cada dia que passa ficando mais anti-social. Não gosto de ver pessoas, não gosto de estar com elas e nem de conversar. Não tenho nada pra conversar, não tenho nada de novo ou interessante pra dizer. Apenas casa, trabalho, trabalho, casa e masturbações esporádicas e sem nenhuma vontade. Ir na lanchonete está me cansando. Observar as pessoas, ser obrigado a interagir com elas pra mim está sendo um esforço.
Sinto que se morrer não vou fazer falta pra ninguém além da minha mãe e a minha tia, as únicas duas pessoas que me amam de verdade. Não me entendem, mas me amam e isso já me basta. Tenho me sentido invisível, irrelevante. As vezes ando na rua e me sinto meio etéreo, como se fosse uma fumaça e as pessoas pudessem me atravessar. Eu não ligo pra elas, elas não ligam pra mim.
Fico pensando como estarão os outros, felizes em suas faculdades, seus carros e suas namoradas e namorados, seus assuntos. Nessas horas fica claro o quanto sou invisível e irrelevante, o quanto sou facilmente descartável. Talvez o mais certo mesmo seja eu me recolher a insignificância que os outros me deram. Parar de querer coisas com pessoas que sei que não querem mais nada comigo, caso contrário já teriam se manifestado de uma forma ou de outra. As vezes elas o fazem, mas só pra reafirmarem o quanto sou irrelevante pra elas. O quanto fui.




Depois de 6 temporadas finalmente comecei a seguir LOST. Nunca tinha assistido e confesso que estava perdendo coisa boa. Um amigo me emprestou seus DVD's. Muito, muito bacana mesmo. Quem precisava passar umas seis temporadas praqueles cantos sou eu.

 
Adicionar aos Favoritos BlogBlogs

Bookmark and Share

5 Divagações

  1. Que bom que sua gatinha voltou. Isso de nosso psicológico influir em nosso físico, é mesmo impressionante. Sempre que estou muito triste tenho febre, não sei o porquê.
    Quanto à depressão, entendo a dor que você sente. Só um depressivo pode entender outro. Também tenho estado em seu ápice. Não posso te dizer "não fique assim", pois sei que é facil falar. Mas se ajuda, você tem alguém aqui pra desabafar sempre que quiser, é só me chamar lá no orkut e dizer: tutú, aparece!
    Beijos mil.

    ResponderExcluir
  2. Oi, Du! Obrigada por me seguir. Retomei o blog agora e por enquanto você é o único a me ler! Haha! É bom saber que tem alguém que lê as besteiras que a gente escreve.
    Olha, que bom que você encontrou sua gatinha. Agora cuide de sua saúde pra que as coisas não piorem. Sabe, sou como você. Sempre acho que determinada situação vai mudar tudo na minha vida e de repente nada muda e eu acabo me frustrando. Precisamos ser menos sonhadores e mais pé no chão, né? Sei que não é fácil, mas a gente tem que se poupar um pouco.
    Uma coisa: irrelevante você não é. Por mais que às vezes nos sintamos assim, pode ter certeza que a gente faz a diferença na vida de alguém, mesmo que essa pessoa nunca tenha nos dito nada. Hoje mesmo, eu vi que você havia comentado no meu post e me senti muito feliz de alguém ter tomado tempo pra ler o que escrevi e ainda ter comentado. Parece que não, mas me fez bem. A gente nunca é irrelevante. Todos temos nosso papel a ser cumprido. Pense nisso!
    Beijos

    ResponderExcluir
  3. Tb, gosto muito dos bichanos, principalmente dos gatos, já tive 14..kkk... mas hoje que sou mãe, prefiro 10 mil vezes mais as crianças. O gato só deseja mimos e não devolve, só espera. A criança não. Mas, vou insistir so dessa vez sem querer lhe chatear, talvez vc nem se importe. Depressão é algo muito sério, mas isso vc já sabe, mas sabe tb que há tratamento. Qdo estamos depressivos ficamos tão pessimistas que nem acreditamos ou temos vontade de fazer o tratamento, mas faça.Sei que é fácil falar, como sei... mas não espere nada dos outros, espere de vc. (Sem pretensão de dar conselhos, que não gosto)Mas gostaria de ler que vc se tratou, que está bem e mais feliz. Abraços.

    ResponderExcluir
  4. Ah... tb gosto de Lost. Mas não queria ficar naquela ilha não.. aqui até tem uma cidade, que está em costrução, cidade onde só "podem" morar pessoas de classe média-alta de BSB, e é apelidada de Ilha de Lost, pois o trânsito é tão caótico por lá que as pessoas dizem que quem entra não consegue sair, como em Lost. kkk... Beijinhos. Mary.

    ResponderExcluir
  5. Pois é, tem fases em que nos sentimos o último dos últimos, mas não é bem assim. Se estamos aqui é porque somos importantes e temos algum papel, mesmo que pareça secundário ou de coadjuvante , para desempenhar.
    Também já me senti assim, no fundo do poço e ainda vivo uma situação muito difícil. Estou tentando mudar o rumo de minha vida. é difícil mas precisamos sempre acreditar que é possível e que não importa os outros, Importante somos nós. devemos amar a nós mesmos e quando estamos bem conosco o resto virá sozinho.
    Grande abraço
    angel

    ResponderExcluir

Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!