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Sobre apatia, obrigatoriedade, reconhecimento, reciprocidade e gratidão.

segunda-feira, 5 de abril de 2010



Apatia. É exatamente isso que estou sentindo atualmente. Apatia. Vontade, ou melhor, sem vontade de fazer o que quer que seja. Estou apático, sem motivação, sem nada que me faça querer levantar todos os dias. Aliás, só o faço por mera obrigação, porque sou obrigado a ir trabalhar todos os dias para pegar o meu salário
mínimo no final do mês, pois obrigatóriamente tenho contas a pagar e não cago dinheiro.
Obrigatoriedade. É exatamente isso que estou sentindo atualmente. Nada do que tenho feito faço por prazer. Acordar, trabalhar, me alimentar, interagir com outras pessoas. Estou vivendo porque já que estou aqui, sou obrigado a fazer alguma coisa para não ficar parado, para não deixar a apatia que me domina, me dominar. Nem mesmo novos desafios me motivam. Nada do que eu estou fazendo vem me satisfazendo.
Se eu gostaria de vencer na vida? Sim. Se eu sei que para isso é preciso lutar? Sim. Todavia eu simplesmente perdi com o passar dos anos a vontade de lutar, a vontade de viver. É como se nada valesse a pena. Como se nada do que a vida tem a me oferecer fosse o que eu realmente quero.
O que eu realmente quero? Dinheiro? Sucesso? Tudo isso é muito bom, mas não tráz felicidade. Parece uma frase clichê, mas tenho comprovado que os ditados mais clichês é que são os mais verdadeiros. Há dias durante o mês em que tenho graças a Deus, um dinheiro bom sobrando para me distrair. Ir a um barzinho, a um cinema, um shopping ou um show. Mas e dai? Qual é a graça disso tudo se você não pode compartilhar esses momentos com alguém especial? E alguém especial pra mim pode ser qualquer um. Do que adianta ir ao cinema, por melhor que seja o filme, se vou mudo, saio calado, com o estômago cheio de um balde de pipoca jumbo e um refrigerante. É relativo, pra alguns isso já basta, pra alguns isso já distrái, é um bom passeio. Mas no meu caso as coisas só são válidas se são compartilhadas. Seja uma conversa, um cinema ou uma cerveja.
Reconhecimento? Todo mundo quer, mesmo que digam que não. Reconhecimento, reciprocidade. Seja do seu chefe, pelo seu desempenho no trabalho, seja dos pais, seja do namorado ou namorada, pelo "amor" que você demonstra. Reconhecimento é relativo. Eu não sei na verdade o que eu quero pra mim. Não tenho sonho nenhum. Apesar de desenhar bem, nunca sonhei e ainda não sonho em ser um grande quadrinhista, um designer famoso ou um publicitário de sucesso, apesar de dizerem que sou criativo. Tudo isso para mim é tão supérfluo. Me imagino na faculdade de design, me imagino formado, com um bom emprego, mas nada disso me motiva, nada disso me deixa feliz ou com vontade de lutar por algo. Tudo bem, penso eu, sou designer, sou reconhecido no meio, ganho razoavelmente bem para uma vida confortável. E daí? Vou continuar acordando todos os dias simplesmente pela obrigação de acordar, porque tenho prazos a cumprir, trabalhos para entregar, preciso manter o meu padrão de vida, pra um dia poder morrer velho e sozinho, deitado na minha cama no meu quarto confortável, vendo minha Tv de plasma de 42 polegadas que comprei com o suor do meu trabalho.

Eu já havia me apercebido disso antes, faz tempo, mas nesse último final de semana realmente comprovei que sou uma pessoa completa e absolutamente sozinha. Não tenho ninguém, absolutamente ninguém com quem possa realmente contar. Me dei conta do quão sozinho eu estou e isso foi aterrador, terrivelmente assustador. Minha mãe e minha tia estão velhas, a saúde delas já não é mais como era antes. Minha mãe fez aniversário no último dia 28 de março, 68 anos. Eu nem me lembrava mais quantos anos ela tinha. Quando ela disse no mês passado, realmente me chocou. Sessenta e oito anos, meu Deus! Pela primeira vez me dei conta de que posso perdê-la a qualquer momento, bom, na verdade qualquer um pode morrer a qualquer momento, é como dizia meu avô: "Pra se morrer, basta estar vivo", mas mesmo assim. Minha única família de verdade são minha tia e ela. Quando as duas se forem eu vou estar sozinho, realmente sozinho.
As pessoas me dizem "procure não pensar nisso agora". Mas como não pensar em algo que é fato? Não é um talvez ou um quem sabe, mas algo que cedo ou tarde vai acabar acontecendo independente de qualquer coisa. Já cheguei em casa cansado do trabalho e encontrei a minha mãe semi-morta, dopada no chão do quarto durante uma de suas tentativas de suicídio. Não foi uma sensação agradável e nem suportável. Por mais que tenhamos hoje desavenças, ela sempre foi minha companhia durante a vida toda.

São nos finais de semana como esse último que passou, onde eu percebo o quanto sou vazio e as coisas ao meu redor não tem significado nenhum. Eu não tenho família, não tenho amigos, não tenho um amor. Ninguém que se importe com a minha existência. Se eu moresse, sei lá, tivesse um infarto ou fosse atropelado, a notícia se espalharia? Quem é que ficaria sabendo? Quantos iriam no meu velório sem ser apenas por formalidade, mera educação? As vezes vejo reportagens na Tv sobre o velório de fulano ou beltrano, mocinha atropelada, rapazinho da periferia baleado, sempre tem o repórter falando a mesma coisa: "Parentes e amigos do falecido compareceram ao velório e estão inconformados com o que houve". Sempre o depoimento emocionado de algum amigo ou amiga: "Pow, ele era tudo de bom! Sem ele nada vai ser a mesma coisa. Eu não me conformo com isso!".
Eu fico imaginando fora a "família", quantas pessoas compareceriam ao meu velório. Acho que algumas pessoas só iriam saber que eu morri, uns meses depois, quando encontrassem um conhecido na rua e ficassem sabendo: "Ow, tá sabendo do Eduardo? Ele morreu". E a outra pessoa diria : "Nossa! Que coisa. Não me diga. Coitado. Bom deixa eu ir cara, tenho que buscar a minha mulher no supermercado".

Aí tem um punhado de gente que talvez leia isso aqui e diga "Putz, que dramalhão! Você está como sempre exagerando Eduardo. Eu sou seu amigo, eu gosto de você, eu me importo com você, tô sempre lemabrando de você e blá blá blá blá..."
Fico me indagando o que tem de tão difícil em entender as minhas verdadeiras necessidades. As pessoas me dão tudo, xícaras, gravadores de DVD, caixas de chocolates, me pagam coisas caras, menos o que eu realmente quero: Elas. As pessoas tentam compensar a falta que fazem ao outro, com coisas, mas são apenas coisas, coisascoisas e nada mais. Eu não quero nada disso. Não quero dinheiro, não quero presentes, não quero ser lembrado, não lembrado dessa forma pelo menos.
Se as pessoas que passaram pela minha vida e que hoje me julgam e desprezam soubessem o quanto foi importante e delicioso pra mim trabalhar junto com elas no arquivo dos correios, dormir numa espuma velha dentro da secretaria de uma escola, dividir uma pizza do habib's com gosto de molho de tomate enlatado, tomar uma cerveja juntos na lanchonete. Meu Deus, como eu amei isso, saboreei cada segundo. Se hoje estou magoado com elas é unicamente porque foram na verdade elas e não eu, que não souberam dar valor a isso. Uma vez no MSN eu cheguei a dizer a um deles e, acho que ele nem se lembra mais disso, "obrigado por ter nascido", e ele me respondeu "nossa!", porque soou exagerado. Mas sabem da maior? Eu realmente quis dizer aquilo naquele momento. "Obrigado por ter nascido e fazer parte da minha vida".
No entanto da parte dele as únicas palavras que ficaram gravadas em minha cabeça foram: "Eu não me sinto em dívida de nenhum tipo com você. Também não me sinto responsável por absolutamente nada que possa ter lhe feito".
Reconhecimento. Reconhecimento como eu já disse acima é relativo. Dizem que se você é amigo de verdade, faz as coisas sem esperar nada em troca, ajuda sem esperar um obrigado, ama sem esperar ser amado. Mas sem reciprocidade nada funciona como deve funcionar. Certa vez antes de esquecer que eu existo o Paulo Thyago me disse que a amizade, o amor é como uma gangorra



É um brinquedo que é preciso duas pessoas pra se brincar. cada um tem que fazer um esforço para que o outro possa subir e assim sucessivamente para continuar a brincadeira. Se eu desço e fico parado sentado, deixo o outro lá em cima sem a possibilidade de descer para que ele possa então me impulsionar para cima. E se o outro sai do brinquedo, qual é a graça de se ficar pulando, subindo e descendo sozinho feito um sapo, sem ninguém na outra ponta? Assim como em uma gangorra, amor e amizade sem reciprocidade não vão muito longe. As pessoas vivem saindo da minha gangorra, e sempre com uma bonita frase de efeito, seja "Eu não me sinto em dívida de nenhum tipo com você. Também não me sinto responsável por absolutamente nada que possa ter lhe feito" ou "Nossas conversas não estão mais em sintonia".

Por isso percebo que não posso realmente contar com absolutamente ninguém. Passei feriado de sexta, sábado e domingo analisando as minhas opções e vi que não tinha nenhuma. Acordei no sábado as 10 da manhã, tomei meu café, liguei o Pc na esperança de que sei lá, houvesse alguém que quizesse conversar um pouco, mas o MSN como sempre estava vazio. Pensei em sair um pouco pra caminhar, mas, pra que? Pra onde? Pra fazer o que? Andar feito um tonto a esmo pela cidade, sem um centavo nem para comprar uma bala? Então fui ficando na internet, no MSN. Fiquei sentado naquele computador direto das 10 da manhã até as 18:30 da tarde. Fazendo o que? Nada. Apenas esperando que aparecesse alguém, não pra conversar, mas pra dizer "Sinto tua falta. Quer sair um pouco?" Mas, ninguém apareceu. Nem na sexta, sábado ou no domingo. Pensei em ir nadar, mas pra que? fazer dez idas e voltas na piscina, feito um robô, voltar pra casa, colocar um DVD repetido e fingir que estou distraindo? Não. Isso não é nem de longe o que eu quero.
As pessoas sempre puderam contar comigo pra tudo. Fosse para ajudar a fazer uma limpeza na casa, já que o cara morava sozinho, fosse para dar aulas de desenho sem cobrar nada, apenas por amizade, pra fazer banner de projeto de final de curso enquanto namoravam (mesmo eu estando super mal por causa da minha mãe), pra assumir a culpa por um erro no serviço. Contudo, nas horas que eu peço uma coisa simples como companhia, aí eu sou egoísta, sou exigente demais, carente demais, aí eu sou falso, sou ruim. Estranho como as pessoas só conseguem enxergar as coisas ruins que você faz, mesmo quando você faz coisas legais. O Rodrigo disse certa vez que eu sou um egoísta que só vê o meu lado. Bom, apesar da mágoa atual, sabe os momentos os quais eu mais guardo na memória referente a essas pessoas? Quando em ocasião da saída do Paulo Thiago do serviço, quando estávamos sozinhos no arquivo, era o último dia dele, 17:30 da tarde. Eu havia comprado uma camiseta do Linkin Park, a banda preferida dele e escondido numa das gavetas do arquivo o dia todo. Quando o relógio bateu 17:30, nos olhamos meio chateados e nos despedimos. Nos abraçamos com lágrimas nos olhos, eu disse a ele o quanto a amizade dele significava pra mim e lhe desejei tudo de bom. Lhe entreguei o presente e ele me disse sorrindo: "Ah, não se preocupe comigo. Don't bother. I'll be fine. Lembra? Shakira? Pois é. Então?" Deus. Vou lembrar disso pelo resto da minha vida.
Quando o Adriano foi em casa, me levou na padaria pra comprar refrigerante e quando voltamos havia uma festa surpresa preparada pra mim, com bolo, doces, tudo. Me lembro até do filme que assistimos, O CUBO.
O Ricardo. Eu não teria passado no CTI, não teria conseguido as poucas boas notas que consegui se não fosse por ele. Eu sempre odiei programação, foi sempre ele quem se matou pra fazer tudo, era sempre ele quem quebrava a cabeça. Tudo o que eu fazia era pegar trechos de códigos, copiar e colar. Se não fosse pela ajuda dele eu não teria terminado o CTI. Ele pensa que eu não reconheço isso e que não sou grato. Gratidão e mágoa são duas coisas completamente diferentes. O fato de eu estar magoado não significa que eu não seja grato.
Me lembro uma vez, dias depois do meu aniversário, estávamos eu e Rodrigo na casa do Ricardo jogando video-game. Minutos antes de irmos embora ele veio pra mim com uma sacola azul de plástico e disse: "Ah, eu já tava até esquecendo. Isso aqui é pra você!" Fiquei bem confuso na hora, na verdade acho que fiquei confuso até mesmo dias depois disso, mas entrei em exctasy qundo olhei na sacola e achei um gravador de DVD que a turma havia me dado fazendo uma vaquinha. A xícara do Hoppy Hary também. Embora hoje tudo isso para mim sejam apenas objetos sem valor, não significa que não seja grato por isso ou que não levarei esses momentos comigo pelo resto da minha vida.

No entanto eles não enxergam isso. Pra eles, tudo o que sou é um frustrado digno de pena. Acho que se perguntarem hoje pra eles se eu era um cara legal, dirão: "O Eduardo? Aquele falso? Nããão! Ele nunca gostou de ninguém".
Muito pelo contrário. Meu erro sempre foi amar mais do que sou amado pelas pessoas.

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4 Divagações

  1. Resumindo : Você passou o feriadão se sentindo deprê como eu. E essa sensação piora quando você é obrigado à estar - ou trabalhar - em um ambiente festivo e não consegue entender o motivo de tanta alegria nos outros.

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  2. Olá! Sabe Eduardo, não sei muito bem o que lhe dizer além do que já disse. É esperar para o vida completar esse ciclo e lhe abrir outro. Coisas boas tb acontecem em nossas vidas, creia. Eu mesma tenho um problema grande para resolver agora, pense numa coisa bem frustrante, mas sei que vou resolver de algum modo, existem várias formas de resolver, mas ambos me trarão dissabor, mas preciso andar, não só pelo meu filho, mas pela minha vida, pois preciso me ammar para receber amor. Mas a vida é assim, cada dia é novo. A roda da fortuna, uma carta do tarô que significa a ciranda da vida. è a represntação do que percebo agora em sua vida. Percebi, pelo que vc escreve que algo lhe afastou dos amigos, além da vida atribulada que lhe foi ofertada até então, mas não viva assim. Fico triste cada vez que leio que vc não está percebendo nenhuma luz. Torço para que vc fique em paz e reconquiste muitos amigos. Abraços.

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  3. Querido amigo, não se deixe abater com depressão. Apatia sentimos as vezes, tristeza idem. Supere. Podemos sempre superar. O tédio muitas vezes toma conta da gente, de qq um. Algumas vezes nos deparamos com realidades que nos chocam, como relatou: Pra se morrer, basta estar vivo. Até eu digo isso. Mera verdade.



    " ciência poderá ter encontrado a cura para a maioria dos males, mas não achou ainda remédio para o pior de todos: a apatia dos seres humanos. (Helen Keller - escritora e ativista social americana)"

    Beijos

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  4. AMIGO EDUARDO, PEÇO SUA ATENÇÃO COM CARINHO, NÃO SEI NADA DA VIDA, MAS O POUCO QUE SEI COMPARTILHO CONVOSCO, TENHO 39 ANOS E ESTE SENTIMENTO ME ROUBA ALGUNS DIAS, É PRECISO SER MUITO FORTE E VIVER UM DIA DE CADA VEZ, POIS, EU CAÍ NO MUNDO DO VÍCIO DO ÁLCOOL POR CAUSA DESTES SENTIMENTOS E HOJE APÓS DOIS ANOS DE RECUPERAÇÃO SEI O QUANTO FUI FELIZ EM SAIR DESTE LAMAÇAL. HÁ SEMPRE ALGUÉM DISPOSTO A DAR A VIDA POR NÓS, NÓS APENAS NÃO SABEMOS. SOMOS MAIS ADMIRADOS DO QUE PENSAMOS AO PONTO DE SER INVEJADO POR ALGUNS. UMA CADEIA DE DNA SER FOR LIDA UMA LETRA POR SEGUNDO, LEVARÍAMOS 31 ANOS PARA LERMOS TODA. POR UMA ASSOMBROSA MARCA NUMÉRICA DESSA VEJO O ACASO COM CHANCES ZERO DE EXISTIR. TUDO TEM UM PROPÓSITO E UMA HORA DETERMINADA PARA ACONTECER, NOSSO ESPÍRITO CLAMA POR MATURIDADE E EVOLUÇÃO. SOU MEMBRO HOJE DO AA E DE UMA IGREJA EVANGÉLICA, MAS NÃO QUER DIZER QUE SOU COMPLETAMENTE FELIZ POR ISSO E NEM QUE CONCORDO COM TUDO QUE ME DIZEM, CONTINUO A OUVIR AS MÚSICAS QUE GOSTAVA POIS, NÃO SÃO IMORAIS E CONTRIBUO DE ACORDO COM O QUE POSSO. COMEMORO OS MOMENTOS FELIZES COM OS FILHOS, ESPOSA E AMIGOS SEMPRE. NÃO SEI SE AJUDEI OU CONFUNDI MAIS AINDA SE QUISER CONVERSAR UM POUCO MAIS MANDE UM E-MAIL PARA edvalter@hotmail.com.

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