4

Sobre frangos com cerveja, revelações sanitárias, frágil existência e enchentes.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010


Eu tô cansado de dizer isso aqui, mas eu realmente odeio, odeio natal e ano novo. Primeiro porque é da minha natureza odiar tudo o que todo mundo gosta, futebol, carnaval, Roberto Carlos. Realmente me irrita muito ver todo mundo idolatrando coisas e pessoas dessa forma, como se fosse imprescindível viver sem isso. Segundo porque depois que eu cresci essas datas se tornaram completamente sem sentido pra mim. Esses lances de se comemorar natal em família, fazer churrasco, ceia, nunca soube o que é isso, acho esses "rituais" tão sem razão de ser, tão hipócritas. Me lembro das propagandas que costumam dizer "Natal, tempo de paz, luz e união, tempo de perdoar ao próximo e fazer o bem". Oras bolas, só no natal? É tão absurdamente hipócrita isso, evocar essa data como uma forma de fazer com que as pessoas dêem o seu melhor, sendo que o correto é que façam isso sempre, a cada minuto de suas vidas.
Meus últimos natais tem sido uma droga, não muito diferentes de qualquer outro dia do ano, mas por se tratar de uma data onde todo mundo se reúne, faz festinha, confraterniza, minha solidão que já é incômoda aumenta em dobro. Pior que o que me incomoda não é na verdade o fato de eu não ter nada disso, mas sim o fato de todos terem enquanto eu tô aqui na fossa. Esse ano pelo visto promete. Como sempre vou passar em casa na frente do PC ou vendo algum programa ridículo de TV, comprar talvez um frango assado da padaria da esquina e umas duas cervejas e criar mais um pouco de barriga. Muito provavel que eu seja o único usuário online no Pornotube. Não. Não quero que ninguém me convide para festinhas ou para passar o ano novo na casa de não sei quem, a menos que a pessoa possa me dar a atenção exclusiva que eu mereço. Cansei de ser sempre coadjuvante na vida dos outros.



Tive uma revelação esses dias enquanto cagava. Sabem qual é uma das grandes causas da infelicidade humana? Buscar a felicidade. As pessoas não conseguem perder essa mania besta que elas tem de querer buscar uma coisa que sim, pode ser encontrada, mas não mantida. Todo mundo fica fazendo planos, traçando metas, objetivos, pensando "um dia eu chego lá". Lá onde, na felicidade plena? Me mostre uma única pessoa que já conseguiu essa poreza na vida e eu juro por Deus que paro de desejar a morte dos meus desafetos.
Depois de muito dar cabeçadas eu percebi que não se pode ser feliz o tempo todo, por mais que se tente, por mais que lutemos contra, acontecem coisas em nossas vidas de tempos em tempos que nos derrubam. Algumas vezes conseguimos nos reerguer rapidamente, outras demoramos certo tempo, isso vai da magnitude do problema e principalmente da forma como lidamos com ele.
As pessoas estão sempre infelizes porque acham que depois que conseguirem o que querem, alcançarem seu objetivo, seja entrar na faculdade, comprar um carro, achar a sua futura esposa e companheira para todos os momentos, vão conseguir manter aquilo pra sempre ou no mínimo que nada daquilo vai sofrer mudança alguma. Contudo a vida é feita de altos e baixos e as coisas acontecem independente de nossa vontade. Todo mundo já está careca de saber que a felicidade é feita de pequenos e esporádicos momentos, mas mesmo assim parecem não aceitar isso. Se algo ruim lhes acontece elas logo pensam: "Então isso quer dizer que eu ainda não encontrei a verdadeira felicidade". Não encontrou e nem vai encontrar nunca, porque a felicidade não tem adjetivos, não é falsa ou verdadeira, a felicidade é só felicidade, um estado de espírito, um sintoma, uma dor de cabeça, uma menstruação.

Posso estar felicíssimo hoje porque ganhei na loteria, achando que esse é o melhor dia da minha vida. Ou porque consegui comprar meu carro ou minha casa, mas aí, no dia seguinte minha namorada sai na rua num dia de chuva e é arrastada pela enxurrada, morrendo afogada. Onde é que está toda aquela felicidade de ontem?
Cidade de Bauru - Avenida destruída.
Acho que um dos motivos de eu estar filosofando sobre isso hoje é que estou um pouco abalado. Geralmente ligo pouco pra tragédias, pessoas morrendo aqui e ali, mas estou numa fase muito sensível e essa semana aqui na cidade de Bauru caiu uma grande tempestade, uma como há tempos não se via, com raios, trovões e relâmpagos. O estrago foi bem grande, uma das principais avenidas da cidade foi inundada e ficou bastante destruída, é de assustar, nunca vi isso, não aqui na minha cidade. Ruas destruídas, carros submersos, prejuízos de milhões de reais... E uma morte.
Com certeza em outros lugares, em outras tragédias já morreram dezenas, centenas de pessoas, o estranho é que eu nunca estou nem aí pra isso. Mas foi estranho dessa vez, realmente fiquei mexido com o que houve. Não sei, talvez pelo rapaz ser ainda tão jovem, bonito, com todo um futuro pela frente, talvez por no final das contas perceber que a vida é tão frágil e que como diziam nossos avós "pra morrer basta estar vivo". Uma morte tão besta, tão sem sentido, tão sem significado. Num dia você está lá, namorando, cheio de sonhos, indo trabalhar, estudar, no outro dia você escorrega durante uma tempestade, cai numa enxurrada e é arrastado até morrer afogado, sem chance de salvação.
Fiquei pensando, "Mas o que diabos foi isso?", ele não pegou nenhuma doença grave, não se suicidou, não morreu de velhice, não, ele simplesmente caiu na enxurrada e foi arrastado. E... onde ficam os sonhos dele? Seus planos, suas esperanças? Onde diabos está Deus nisso tudo?
Acontecimentos banais como esse são o tipo de coisa que me fazem seriamente contestar a existência de um Deus. Ah, claro, sempre vão existir aqueles que chegam com suas frases mastigadas, tipo "estava na hora dele", "Deus não interfere em nada", "a culpa é nossa, não de Deus" ou a pior de todas, "foi Deus quem quis assim".
Sinceramente tenho pena de pessoas assim, que parecem ter medo de admitir a possibilidade de estarmos simplesmente jogados aqui, sozinhos sem ninguém que nos proteja. No fundo talvez elas até cogitem, mas tem medo de admitir um pensamento tão aterrador.


Todavia com certas coisas que acontecem fica difícil não pensar nessa possibilidade, quando você lê uma notícia como essa nos jornais, depois olha pra você, pra casca frágil e de interior imperfeito que é você e percebe o quão pode perder tudo de forma tão fácil, tão besta.
Nos apegamos a tantas coisas, tantas pessoas, batemos no peito para afirmar nossas convicções, nos matamos em busca da felicidade duradoura e para que? para tentarmos atravessar a rua num dia de tempestade, sermos arrastados pela enxurrada e morrermos de forma horrenda? Afogado preso nas rodas de um carro?
Os mais ignorantes e pseudo-religiosos já vieram me dizer que não se pode culpar a Deus pelas coisas que acontecem, ele não provoca nada. Ora, não sejam idiotas! Não sou tão imaturo e leigo a ponto de culpar Deus plas coisas que acontecem. Não o culpo e não duvido dele pelas coisas que ele faz, mas sim pelas coisas que ele deixa de fazer. Coisas simples, como estender sua mão benevolente sobre minha mãe e fazer com que o benefício que ela tanto espera, seja aprovado. Ela já disse que se não conseguir, vai cometer outra loucura, sofrimento para mim e para minha tia. Talvez o moço tenha escolhido tentar atravessar a enxurrada, talvez não, mas não custava ao todo poderoso Deus estender-lhe sua mão no momento em que ele tentava desesperadamente se agarrar em alguma coisa para não ser arrastado pela força das águas.
Assim como cansei de esperar das pessoas também cansei de esperar de Deus, se é que ele realmente está lá seja onde for, para que esperemos alguma coisa dele. Afinal, vai saber se o moço que morreu não ia a igreja, não pagava seu dízimo todos os dias, não fazia alguma caridade. Estamos sozinhos aqui e por nossa conta. E quanto mais cedo percebermos isso, menos sofreremos até a hora final.






Adicionar aos Favoritos BlogBlogs

Bookmark and Share

4 Divagações

  1. Oi, Eduardo!
    Nesta época de festas de fim de ano, a maioria das pessoas se deixa levar pelo consumismo e esquece do verdadeiro sentido do Natal que deveria, como disseste, existir o ano todo.
    Na minha opinião, essas enxurradas, maremotos, terremotos, deslizamentos e coisas do tipo são consequências da forma como nós tratamos irresponsavelmente o nosso planeta. É a Terra reagindo aos nossos atos cheios de ignorância.
    O Natal poderá ser bom/ruim independente de onde e de com quem vamos estar, pois tudo vai depender da nossa alegria/tristeza interior. O lugar e as companhias são só um detalhe ou complemento.
    Posso estar sozinha, em paz e feliz. E posso estar numa grande comemoração cheia de pessoas, de comilanças e de fogos de artifício, mas odiando o mundo.
    Enfim, o ser humano é complicado demaisssssss.
    Beijinhos, Eduardo querido!

    ResponderExcluir
  2. Oi, Eduardo!

    Sou a Mika lá da comunidade e estou sempre lendo o teu blog.

    Tuas postagens são simplesmente geniais, você escreve tão naturalmente que fica impossível não ler até o fim. Não faz voltas para dizer o que pensa, simplesmente sai. Estou passando só pra rasgar um pouco de seda a você, pois poucas pessoas tem o dom de escrever com naturalidade suficiente para prender o leitor. Eu adoro o teu blog!

    ResponderExcluir
  3. Pensamentos profundos os seus.
    O comentário sobre Deus principalmente foi bastante forte.
    Eu tenho uma concepção diferente a respeito de Dele. Sabe, eu acredito que Ele nos criou e ponto. E trnho convicção de sua existência porque eu olho para as coisas e sei que alguém, em algum momento, por alguma razão as fez. Ele nos fez.
    Agora quanto as coisas que acontecem aqui nesse mundo, porque Ele teria que fazer algo? Porque Ele teria que salvar o rapaz?
    Nós realmente passamos por coisas horríveis, altos e baixos e as coisas muitas vezes se tornam sem sentido, mas quem disse que Deus tem que dar um jeito nas coisas ruins que nos acontecem?
    Afinal se ocorreu uma enchente foi pq tinha mto lixo na rua, entupiu tudo e esse rapaz teve o azar de passar por lá naquela hora em que inundou, poderia ser eu ou você, ou qualquer outra pessoa... mas o fato de essa situação ter se criado não provém de Deus. Provém da irresponsabilidade das pessoas que não tomam medidas para que enchentes desse nível não ocorram, e talvez o rapaz tenha sido imprudente, nós humanos somos bestas, e por mais cômico ou dramático que seja, morremos assim, de formas ridículas.
    Então, na minha concepção Deus fez muito em ter nos dado esse mundo e ter nos feito. O resto depende de nós mesmos. E tudo que acontece a nossa volta não é causado por Ele, e sim por nós.
    E pra quê Ele existe afinal?
    Ele é a razão de estarmos aqui, e eu acredito que Ele ri dessa hipocrisia toda de Natal e Ano Novo, que eu também considero como você, sem sentido.
    Ao menos as pessoas param pra refletir um pouco no que estão transformando o mundo - ou fingem que param um pouco-, pra quem sabe fazer dele um lugar no qual as pessoas não morrem arrastadas por uma enchente.
    E apesar de tudo eu sinto o toque de Deus quando coisas boas acontecem, pq apesar de Ele não ter nada a ver com a nossa hipocrisia, volta e meia Ele dá uns sopros nas nossas mentes mostrando que coisas boas devem ser praticadas e devemos ajudar uns aos outros.

    Beijo!

    ResponderExcluir
  4. Oi Eduardo!
    Eu ando trabalhando muito, e por isso quase nem venho mais aqui no blog. Mais hoje, e agora tirei estes momentos para te ler aqui e deixar o meu simples comentário, e te agradecer ao carinho de sempre. E queria dizer q vc não ficará sozinho o resto da vida, ok. Eu q nem achava q merecia ter um namorado, consegui! E quanto a felicidade, eu concordo com vc. E festas do fim de ano é so comemoração de marketing. E nada melhor q todo mundo q trabalha estão recebendo seu décimo terceiro. rs

    Espero q vc consiga umm outro emprego logo, e uma NAMORADA tb. E comece o novo ano de cabeça erguida, e não mais SOZINHO, ok. Boa sorte e se cuida.

    Bjos

    ResponderExcluir

Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!