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Sobre desafios sem motivação, dias nublados e quentes e hidrômetros novos.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011


A primeira semana de 2011 passou e conforme eu previ, absolutamente tudo continua na mesma, minha casa, minha vida, minha mãe, as contas a pagar e a vontade de não acordar no dia seguinte.
No dia 31 de dezembro fiquei ouvindo meus vizinhos baderneiros bêbados estourando seus rojões, cantando no videokê e fiquei imaginando o quanto o ser humano é ridículo e dá importância para coisas tão sem valor. Comeu-se, bebeu-se, viajou-se, e daí? A vida continua na mesma, tudo voltou a sua velha rotina, os dias continuam nublados, mas com um calor insuportável, as pessoas continuam as mesmas, todos os meses chegam no meu portão as contas de água, luz e telefone pra pagar.
Não tenho vontade de nada, não desejo nada, não espero mais nada, por mim se o mundo acabar amanhã está ótimo, se eu sofrer um acidente e morrer está ótimo. Não tenho ninguém que queira verdadeiramente me apoiar ou entender os meus problemas, estou sozinho e vazio. As mensagens de apoio moral das pessoas só me deixam mais e mais irritado, pois sei que na verdade estão apenas fazendo o seu papel de bons samaritanos. Mostrar que se importa é fácil, qualquer um é capaz, eu sou capaz de mostrar que me importo com um cachorro vira-lata da esquina, mas se importar realmente são outros 500.
Não sou do tipo que faço planos ou metas para o ano, acho isso ridículo. "Esse ano pretendo emagrecer tantos kilos, pretendo casar, pretendo arrumar um alguém". Como eu disse antes, não é preciso esperar especificamente o dia 31 de dezembro de cada ano para se tomar resoluções, nada impede que você faça o que quer fazer durante todos os outros meses, qualquer data. E se eu não fiz tal coisa durante o ano todo, não é na virada do ano que vai ser diferente. Será que as pessoas não conseguem enxergar que é só mais uma data estúpida?


Bom, pra não dizer que não tomei nenhuma decisão quanto a esse ano, tomei uma sim. Durante todo o ano passado tentei tirar minha carta de motorista, esse foi o "grande desafio 2010" do qual tanto falei aqui, fiz tanto segredinho, ah, que piada. Pra que? Eu tenho uma mania tão besta de "enfeitar" as coisas mais do que o necessário. Durante esse tempo eu não quis falar sobre o assunto porque sei muito bem o que muitas pessoas iriam dizer se soubessem: "Olha só, ele que tinha tanta inveja da carta dos outros, agora está tirando a dele". Conheço bem as peças que me cercam, ou melhor, que já me cercaram, reclamam se você fala mal deles, mas com certeza falam bastante de você pelas costas. Um antigo conhecido meu, Rodrigo, já me confirmou isso.
Como tudo o que eu faço na vida, comecei a tirar a carta sem um pingo de vontade de tirar e sem um real motivo. Simplesmente porque não queria aceitar o fato de que todos os meus conhecidos já estavam dirigindo por aí enquanto eu era obrigado a pegar ônibus. A simples idéia de estar atravessando um semáforo e topar com um deles atrás do volante de um carro me fazia passar mal. Como sempre o problema não era eu não ter, mas sim os outros terem, não importa se eles lutaram por isso ou não, o fato deles terem e eu não já é o suficiente pra estragar o meu dia. A inveja só ajuda quando você a usa como um mecanismo motivador, quando você deixa ela apenas te consumir, ela é como um câncer que vai se espalhando.
Fiz aulas por um ano, vinte, vinte e cinco, trinta, trinta e oito. Pelo menos descobri que não é tão difícil dirigir um carro quanto parece. Eu sempre achei que não iria nem conseguir tirar o carro do lugar, de tanto medo, mas depois que a minha instrutora me fez andar praticamente pela cidade toda, vi que nem tudo é o que parece. Fiz as aulas, mas sempre com aquela pergunta formigando na minha cabeça: "Por que diabos eu estou realmente fazendo isso afinal? O que eu espero disso tudo?". Tudo o que você faz, se não tem um foco, um objetivo, um sentido real é pura perda de tempo.
Quanto mais aulas eu fazia mais eu sentia que não tinha sentido nenhum naquilo. Qual a minha real motivação? Eu mal consigo manter as contas da casa em dia, no mês passado veio até aviso de corte por atraso. Pra que uma carta de habilitação? Pra fazer um carro de caixas de papelão, com rodas de caixa de pizza e sair pela rua igual aos Flintstones, empurrando o carro com os pés?


Fiz trinta e tantas aulas, fiz o exame, reprovei, fiz o exame parte 2, reprovei pela segunda vez, fiz um terceiro exame, reprovei ao cubo. Não tenho mais vergonha de dizer isso, um dos motivos pelos quais não ia dizer nada a ninguém sobre a carta era esse, trinta e tantas aulas, três reprovas, muito chá de camomila e travesseiros molhados a noite. Mas sei lá, eu estou tão cansado de tudo, tão sem perspectiva, tão sem expectativa de qualquer coisa que de repente tudo isso pra mim se tornou tão irrelevante quanto às vidas das pessoas que eu odeio. Eu estou com a cabeça tão confusa, tão cheia de coisas pra resolver. Estou desempregado, meu dinheiro logo vai acabar, agora a minha ortodontista inventou que eu preciso arrancar os quatro dentes do ciso e preencher os dentes com resina para poder agilizar minha cirurgia. Obviamente que nada disso sai de graça e muito menos sai barato. É o que eu disse outro dia: parece que quanto menos dinheiro você tem, mais aparecem coisas que te obrigam a gastar. Nosso hidrômetro novo deve estar vazando, já há dois meses que tem chegado quase setenta reais de água pra pagar, sendo que antes não passava de vinte. Estou tão perdido que eu não sei nem por onde começar, não sei o que fazer, não sei a quem recorrer. Deus? Ora essa, eu realmente estou deixando de acreditar em Deus e vendo quanto tempo perdi acreditando. Com tudo o que está acontecendo, onde está o todo poderoso que não ajuda. Faz um ano que minha mãe está tentando receber o benefício dela e não dá certo, minha tia foi mandada embora do emprego, eu perdi o meu também. Será que Deus não está vendo isso? Foda-se se tem pessoas piores do que eu. Sempre vão existir pessoas piores do que eu, mas também pessoas piores do que as piores do que eu (nossa). Só de pensar nessa maldita carta de motorista, só de pensar no exame e na maldita hora em que eu decidi tirá-la eu já tenho vontade de me jogar do viaduto. Estou de um jeito que só de sair na rua e ver os carros passando eu já tenho vontade de chorar ou de me jogar na frente de um deles. Só de ouvir a palavra habilitação já me dá dor de estômago. Aliás, só de simplesmente escrever sobre isso eu já estou com vontade de chorar. É como aquelas pessoas que tem medo de agulha e não podem nem sequer ver uma seringa vazia.
Cheguei a conclusão de que uma das coisas que não quero mais pensar, não quero mais me preocupar esse ano é com essa maldita carta de motorista, com exames, com taxas de reprova. Eu não tenho carro, não terei tão cedo, talvez nunca tenha. Tirar a carta foi uma das piores decisões que tomei na minha vida. Sim, pelo menos aprendi a "quase" dirigir um carro e fiz algo diferente, mas não tem sentido levar a frente uma coisa que não tem a menor razão de ser. No momento minhas prioridades são outras, nada que ter uma carta de motorista na carteira vá ajudar.
Deus, que vontade de morrer hoje!







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5 Divagações

  1. Eu tenho uma história parecida com a tua, no que diz respeito a tirar carta. A única diferença é que eu não comecei achando que seria péssimo e taí o erro. Achei que ia finalmente descobrir algo em que sou boa. Conclusão: reprovei 3x também e comprei a carta (o que sinceramente não valeu de nada pra minha autoestima/vida. E eu não dirijo) e me sinto com mais um motivo pra me sentir inferior diante de amigos e outras pessoas.

    Tenho estado bastante desanimada também. E eu não sei o que te dizer porque sei que nessas horas é besteira dizer textos de auto-ajuda. Não funcionam. Dizem que quando a gente está assim, nessa apatia generalizada, tem que começar a fazer as coisas se forçando. Mesmo sem motivo ou mesmo que tenha tentado antes e falhado. Eu não sei. Mas me parece a única alternativa pra uma mudança melhor aparecer.

    Segure as pontas por aí. Até mais.

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  2. Cara, desencana da carteira de motorista por enquanto que eles só liberam recebendo caixinha e não adianta. É uma loteria aquilo lá, é podre. Sp é podre, enfim. Eu sei o que passei e não vale a pena lembrar. Promessas de ano novo nunca faço. Chega de cavar a própria depressão, literalmente. Espero que você consiga ter força pra tocar a vida em frente, apesar da minha ter acabado há tempos.

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  3. Sei bem como é isso,também estava como vc no ano passado,sem vontade de nada,sem expectativa,até que fui obrigada a me mudar,a apartir dai,as coisas foram se ajeitando,ainda tenho dias que não quero levantar da cama,mas sou obrigada....As pessoas costumam dizer que isso são fases,mas sei lá se acredito nisso.Força aí.

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  4. Oi, Eduardo! vi seu post na comunidade sobre depressão, que apenas acompanho, e resolvi vir aqui comentar porque seu problema se parece com o meu.
    Na verdade acho que a minha depressão começou por conta das reprovações para tirar carta. Fiz o teste algumas vezes, em períodos diferentes, mas acabei desistindo porque não aprendi a perder. Do fundo do coração, acho que você não deve se entregar, acho que assim que tiver condições financeiras deve tentar novamente, antes que isso se torne um problema maior para você, como se tornou para mim. Hoje olho o passado e vejo que talvez tivesse sido melhor ter enfrentado porque até hoje o fato de não ter carteira é um dos fantasmas da minha vida.Mesmo que você diga que não tem motivos para tirar a carteira, possivelmente eles irão surgir algum dia. Digo isso pois sei como perco algumas oportunidades e como minha vida é mais limitada por conta disso.
    É sempre difícil para quem está com depressão, mas tenta se reanimar e voltar à luta. Vamos tentar levar a vida com mais leveza para acabar com esse espírito derrotista que você mencionou no tópico!Quando estou desse jeito ouça a música "O Vencedor" dos Los Hermanos para me inspirar. Faça o mesmo :) Melhoras!!
    Um abraço,

    Menina Anônima

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  5. Eu vou tirar minha carta pela segunda vez, em fevereiro, só faltam as aulas práticas.Demorei 5 anos para decidir fazer de novo, sem vontade tb, foi uma das piores experências que tive. Mas preciso e espero conseguir dirigir. Tb tenho um medo estranho e inexplicável, não, dirigir não é difícil, o problema é no dia da prova, dá branco, mas vou tentar de novo, caso não dê, vou desisitr, e pronto! Não tenho que ser igual a todo mundo. E nem tenho vergonha de admitir que não consigo. Abraços.

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