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Sobre ligações inconvenientes, cerejas indigestas e velhas sensações.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Existem momentos nos quais eu não dou muita bola para a vida pouco confortável que eu e minha família temos. Como já disse aqui, levamos uma vida bem humilde, morando de favor em uma casa de apenas três cômodos pequenos e de difícil limpeza, já que o quintal é puro mato e terra. Mesmo assim, com o passar dos anos aprendi a não ligar muito para
isso e até mesmo a agradecer pelo pouco que tenho, pois não importam quais sejam suas dificuldades na vida, sempre vai haver alguém com uma vida mais penosa que a sua. Porém em alguns dias dependendo do meu humor e do meu cansaço físico e mental eu realmente fico como diz um grande amigo meu, “louco do cu”. Já disse aqui também que durmo no chão da sala. O quarto é pequeno demais e eu preferi deixar minha mãe e tia dormindo lá num beliche e por conforto e privacidade decidi passar a dormir na sala. O grande problema de se dormir em um cômodo de certa forma “comunitário” da casa é que algumas coisas de uso geral da família ficam lá, como por exemplo, nosso único telefone. Eu praticamente não uso o telefone, dá pra contar nos dedos as ligações que já fiz nele desde que o comprei há mais de cinco anos atrás. Eu só decidi comprar uma linha por causa da internet, pois uso banda larga e não me interessei em colocar conexão à rádio. Minha mãe, contudo, sempre foi fã da comodidade que a vida moderna nos proporciona, pois ela nunca teve nada dessas coisas, na época dela e nas condições que viveu, até mesmo o banheiro não passava de uma fossa sanitária básica, então hoje em dia ela preza muito o conforto e a praticidade, aliás, esse é um dos motivos de sua depressão, pois ela preza muitas coisas que não temos condições de ter. Devido a isso ela é daquele tipo de pessoa que faz uma ligação para o 130 querendo saber a hora certa, só pra ter o prazer de usar o telefone. Na terça-feira passada, mais ou menos por volta das 07h30min eu ainda estava deitado no colchão, já acordado, mas cochilando, pois nas segundas, terças e quartas entro no trabalho às 09h30min por causa do meu curso, entro mais tarde e saio mais tarde, indo direto pro SENAI. Bem, o caso é que lá estava eu cochilando gostoso, sentindo o macio do travesseiro e curtindo minha ereção matinal (a maioria dos garotos acordam assim, meninas) quando toca o telefone. Minha mãe correu atender e quem estava do outro lado da linha é uma de minhas muitas tias irrelevantes, e digo “irrelevantes” porque temos raros contatos e não me fazem falta nenhuma. Ela ligou apenas para perguntar para minha mãe se o meu primo havia estado lá há algumas noites atrás e contar seu melodrama mexicano mais recente. Lógico que eu fiquei bem emputecido, já que a conversa estava sendo ali do meu lado e eu só queria poder cochilar mais alguns bons minutos até as 08h00min.

Historinha básica: De acordo com essa minha tia, meu primo de 22 anos conheceu pela internet (mais especificamente pelo celular) uma mulher seis anos mais velha e acabaram se apaixonando depois de trocarem alguns SMS’s. De acordo com ele, lógico, um amor arrebatador e eterno. O detalhe legal é que a tal mulher é lá do Pará, aparentemente é casada ou divorciada, não sei ao certo e ainda de acordo com ele, vai vir de mala e cuia aqui pra morar com o garoto. Só pra detalhar mais o conto de fadas, esse meu primo é uma dessas pessoas brilhantes, desistiu de estudar, não parece ter interesse em continuar, adora dar valor às cousas fúteis da vida e o pior é que por mais que seja aconselhado, não resolve mudar. Todavia a cereja do bolo nessa história é o fato de que apesar de não ter muito onde cair morto, o meu “maduro” priminho colocou na cabeça que quer alugar uma casinha pra viver sua linda história de amor. Como ele fará isso, não tenho idéia. E também sabe-se que algumas cerejas de bolo tem cabinho e o cabinho dessa é o fato que está fazendo essa minha tia quase enfartar novamente: O menino, como já era de se esperar não está conseguindo alugar casa nenhuma e como todo o bom jovem retardado de hoje em dia que está sempre “achando” que ama, voltou-se para os meus tios e pede que eles deixem a fulaninha morar com eles. Lindo isso. Não preciso lhes dizer e é mais do que óbvio que estou torcendo contra com todas as minhas forças. Quero mesmo que dê tudo errado, que ele se ferre, que sofra e que com isso consiga enxergar o quanto ainda precisa aprender na vida para só depois poder dizer que realmente ama alguém. O fato de eu ter os meus defeitos não me impede em nada de apontar os defeitos alheios e um dos piores defeitos que eu acho que uma pessoa pode ter é burrice, ainda mais quando essa burrice vem de uma pobreza de espírito extrema, ainda mais quando a pessoa sendo burra, se julga sábia. Ah sim, só pra constar antes que alguém diga algo (não que eu me importe), não me julgo sábio. Me julgo sim melhor que algumas pessoas em alguns sentidos, mas estou longe de ser sábio ou o dono da verdade. Lido com meus dois lados, o humilde e o arrogante com uma facilidade que me orgulha. Não entendo como essa juventude de hoje não consegue enxergar a própria insignificância mental em se tratando de amor. Alianças de compromissos, juras de amor, anos de namoro e mais um monte de frescurinhas ridículas pra depois descobrirem o que já é óbvio pra quem tem o pé mais no chão: que é tudo um grande fogo de palha, algo físico, carência e ilusão de quem “acha” que já deixou a adolescência. Eu até tento não generalizar, mas nos últimos tempos é só o que tenho visto, pseudo-histórias de amor que sempre acabam tão repentinamente como começaram. Valeria a pena como experiência de vida se pelo menos os envolvidos aprendessem com os erros, mas por mais que a vida lhes mostre algumas coisas, alguns estão sempre insistindo em cometer as mesmas cagadas de sempre. 


Na maior parte das minhas noites tenho dormido bem, mas existem dias em que chego em casa com a cabeça tão cheia de coisas mal resolvidas e cicatrizes abertas que ter um sono tranquilo só mesmo com uma boa xícara de chá de Anís e um diclofenaco potássico goéla abaixo. Combinação perfeita, enquanto o meu chazinho tira a dor da alma o diclofenaco tira a dor dos músculos, que já não são muitos e nem bem trabalhados. Todo esse calor e essa correria fazem com que eu me sinta um farrapo chegando em casa as onze da noite. E trabalhando sentado o dia todo, estudando sentado e ainda usando o PC em casa, não há coluna que agüente o tranco. 
Chegou setembro e eu já considero o ano de 2011 praticamente encerrado. Eu não sei por que, mas enquanto estamos em agosto eu sinto aquele clima de meio de ano e tudo o mais, mas basta chegar setembro que eu já fico melancólico. Quando você pisca já é natal e quando pisca de novo já chegou o ano novo e no meu caso em particular, entra ano sai ano eu continuo com a mesma velha sensação de sempre, que nada de novo aconteceu em minha vida, que nenhuma mudança realmente significativa ocorreu, mesmo sabendo que elas ocorreram sim. Comecei num novo emprego, conheci uma pessoa maravilhosa que mudou meu ponto de vista sobre muitas coisas, comecei a fazer um curso que gosto, todavia ainda assim fico com aquela sensação de que ainda falta algo, de assuntos a serem resolvidos, assuntos esses que sei também, jamais irão se resolver. Ainda não fiz planos para o final do ano, aliás, não tenho feito planos a longo prazo pra mais nada, e entendam "longo prazo" como uns 30 dias por exemplo. No máximo planejo o que vou fazer no final de semana e olha lá, mesmo assim ainda me frustro às vezes quando algo não funciona como eu esperava. Até agora pretendo passar meu natal e ano novo sossegado no meu canto, sem ser obrigado a fazer um social na casa de parentes ou amigos. Até agora ninguém se manifestou sobre isso, afinal estamos ainda no começo de setembro, mas como eu disse, já considero praticamente final de ano, mas não sei se mesmo que eu seja convidado pra algo, aceitarei. Desde pequeno o natal e o reveillon sempre me deprimiram, pois é feito todo aquele rito de passagem e o caralho à quatro mas eu não vejo assim, vejo apenas como mais trezentos e sessenta e cinco dias que se passaram e não vão voltar nunca mais. Pretendo terminar de arrumar meus dentes, pretendo perder a barriga de cerveja escrota que ganhei, pretendo fazer mais atividades físicas, mas nenhuma dessas coisas são planos ou promessas, apenas idéias. Descobri que o problema de se traçar muitos objetivos é que em alguns casos falamos muito sobre eles mas não corremos atrás de nenhum.

Eduardo Montanari Sobre o Autor:
Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática e trabalha como designer e web designer. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


6 Divagações

  1. Dudu,
    e os pais desse garoto? Fazer merda na adolescência e achar que pode tudo é até admissível, mas dizer que vai sair de casa ou ir morar com alguém, mesmo antes de se sustentar? Se um filho meu falar isso pra mim, acho que tenho crise de riso!!!! Principalmente se disser que a Zinha vai morar na minha casa!!! KKKKKKKKKKKKKKK
    É por essas e outras que eu digo que o problema do mundo hj é a falta de pais que façam o papel de pais!

    Também odeio natal e ano novo. As famílias se encontram hipocritamente e trocam presentes mais hipocritamente ainda. Tosco.
    Só passei a achar mais legal depois que meu "pimpolho" nasceu mas, ainda assim, não morro de vontade de ir à ceia....

    BJO!!!

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  2. Eu acho que a maior riqueza é a de espirito, o mais, são só detalhes, casa pequena, casa grande, muito ou pouco dinheiro, carro importado ou fusquinha, não significam nada se somos pobres de espírito, eu acho que todos os bens e riquezas que uma pessoa possa conquistar, são só um complemento, pq o mais importante é o que somos. Se bem, que no mundo materialista em que vivemos ninguém ta nem ai pra isso, querem conquistar e possuir, doa a quem doer, custe o que custar.

    Cara essa história do seu primo é quase uma tragédia grega, que loucura, que insanidade, e o pior é que, com essa proliferação dessas redes sociais e salas de bate papo, isso ta virando algo comum. Um dia desses fiquei sabendo do caso de um cara la da Suécia se eu não me engano, que se apaixonou por uma menina aqui do Brasil, que conheceu numa dessas redes sociais, o cara apaixonado, saiu do país dele numa jornada louca, e ao chegar aqui no Brasil atrás de sua amada ele descobre que a menina só tinha doze anos. Cara quando eu soube dessa história eu me acabei de rir, coisa de doido.

    Cara sinceramente, eu to me lixando pro tempo, já faz algum tempo que parei de me preocupar com ele, se não eu enlouqueço, vô tocando meus projetos e vendo no que dá.

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  3. É realmente não podemos reclamar pelas nossas condições, ficar indignado de vez enquanto tudo bem, pois somos filhos de deus, e não temos sangue de barata!
    Pelo menos não deve ter goteira nos três cômodos neh, Edú, pois ontem com aquele diluvio descobri uma goteira.
    Ela estava bem em cima do meu tênis, e quando fui calçar o mesmo senti o gelo da agua parecia que tinha metido o pé em alguma possa da agua , pode uma coisa dessas?
    Quanto ao telefone localizado bem próximo ao teu confortável travesseiro, uma solução, compre para sua mãe aqueles telefone sem fio, onde ela poderá atender na cozinha ou mesmo no banheiro, como costumo falar com os amigos quando estou “obrando”!
    Assim tú vais poder gozar os momentos na cama com toda a sua “ereção matinal!”
    Sobre a linda historia de amor, vivida pelo teu estimado e querido priminho!
    Sabe sempre me achei responsável e sério quando o assunto é amor, mas tal comportamento me torna muito infeliz.
    E percebo que pessoas que não temem cometer erros, e muitas vezes aos meus olhos irresponsáveis, conseguem ser mais felizes, do que eu com toda a minha responsabilidade.
    Se a vida é feito de momentos, acho que não vivo plenamente na minha seriedade e “responsabilidade”.
    Um professor de inglês me falou; NA VIDA , O MAIS IMPORTANTE É NOS DIVERTIR, VIEMOS AO MUNDO PARA NOS DIVERTIR! O RESTO É RESTO UM DETALHE.
    Então EDU, não se dê o direito de desejar que as coisas não corram bem para ele, DEIXA O GAROTO SER FELIZ, SE A VIDA É FEITO DE MOMENTOS, PROCURE O SEUS MOMENTOS, E DESEJA A ELE BONS MOMENTOS NA VIDA.
    A propósito quem de nós nunca fomos irresponsáveis , ou tomamos atitudes nesta vida pelas quais nos arrependemos até nos dias de hoje?
    Ou até pior continuamos a cometer os mesmos erros do passado , sabendo que elas nos faz muito mal?
    Então não deseje que as coisas para ele não dê certo, pois este sentimento nocivo recairá sobre você como, uma poderosa maldição!
    Rsrsrsrsrsrsrsrsrsrs tô rindo mais sério!
    As vezes quando estou lendo o seu blog, me dá uma impressão, que o autor da mesma é um senhor, cheio de reumatismo e principalmente com todas as doenças que acabam com “nitis”!
    Cara você só tem 35 anos, ou menos não me lembro, muito bem!
    Se já se sente um Matuzalém , sendo jovem imagine quando estiver com 40 e 50 anos! Rsrsrsrsrs
    Vai estar senil das idéias, e ninguém vai te suportar, valorize você mesmo e procure despertar e goze desta maturidade juvenil, coisa boa ter 35 anos!
    Para não chegar numa certa idade lá na frente e dizer; “ Se eu tivesse os meus trinta anos com a cabeça que tenho hoje!”
    Sobre finais de anos e inicio, também não fico com tantas expectativas ou fico fazendo planos, pois não tem lógica, ficar fazendo novos planos e objetivos se nem consegui realizar os meus antigos.
    Pior, acho que este ano não vou ter nenhum lugar para ir, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!
    Abraços meu querido e estimado amigo, tenha um bom fim de semana!

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  4. Uma solução básica para os problemas telefôncios seria uma boa extensão. Ou então uma linha acoplada a um imaginário sistema de detecção de sonhos. Se você estiver sonhando com a Gisele Bundchen o detector travaria a ligação e não deixaria funcionar o telefone. Agora se estivesse sonhando com a Monique Evans em dias de fúria, então a campainha tocaria em sua mais alta tonalidade e daí você seria salvo.

    Quanto aos relacionamentos mulherísticos alheios, estou me abstendo de comentá-los, pois já tive experiências similares (não nesse patamar dito no texto), mas viver situações onde o amor era unilateral. E o esquisito é que a gente não percebe isso.

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  5. Seu primo é de coragem... como alugar uma casa sem um emprego, e ainda convidar uma pessoa que na verdade mal conhece para morar com ele, já que, pelo que você disse no post, responsabilidade não passa muito por sua vida... e ela??? aceitar?
    Vendo uma coisa dessas percebo que idade não conta nada... poxa a mulher já tem 28 anos... era para ser mais madura pelo menos e já que quer viver uma aventura de amor ao menos bancar isso...
    Concordo com seu comentário... hoje em dia está tão fácil amar! Ama-se fácil, desama-se mais fácil ainda... o amor em si se tornou banal...
    É, que venha o fim de ano e toda essa baboseira de natal e etc... isso me cansa!

    http://lapsosdeumamentebipolar.blogspot.com/2011/09/saudade.html

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  6. Gostei do rabinho da cereja... Abraços

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