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Sobre guloseimas assassinas, não ter papas na língua e ser prisioneiro de sua própria vida.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Todos que conhecem a minha situação familiar dizem que sou motivo de orgulho, pois mesmo com todas as dificuldades, mãe e tia idosas e sem nenhuma renda, todas as contas e despesas da casa para pagar, eu continuo seguindo em frente, fraquejando vez ou outra, mas sem esmorecer. Contudo existem certas horas nas quais me pergunto do que está valendo todo esse meu esforço para manter as coisas como estão. Todo mundo me diz que serei recompensado um dia por tudo o que venho fazendo hoje, por abdicar de mim em nome de minha casa e família. Deixar de ter vida própria, privacidade, não ter planos para o futuro além de continuar cuidando das duas até o dia de suas mortes. Às vezes sinto que estou estagnado, parado no mesmo lugar há anos e que nunca vou mudar minha vida, nunca vou poder realmente viver plenamente, como vejo algumas pessoas ao meu redor fazerem.
Quando esses pensamentos me vêm à mente eu procuro afastá-los, pois no momento e não sei ainda por quanto tempo, não poderei mudar essa situação, então ficar pensando nela só vai fazer meus dias ficarem mais difíceis de encarar, mas existem horas nas quais eu não consigo afastar o desânimo e a sensação avassaladora de derrotismo, pensando que existe uma grande possibilidade de eu ter vindo ao mundo apenas para passar minha vida empacado no mesmo lugar, pagando pelos erros passados de minha mãe e minha tia, que nunca se preocuparam com o próprio futuro deixando esse legado para mim. Vejo as pessoas ao meu redor progredindo, realizando seus sonhos, viajando, planejando suas vidas, enquanto tudo o que eu faço todos os meses é reunir um bolo de contas pra pagar, fazer supermercado e pagar minhas despesas pessoais com o que me sobra. Com as duas totalmente sem renda nenhuma, até mesmo o pãozinho francês me sobra pra comprar, já que nem pra isso elas têm. Eu sei lá, já não sei mais. Por mais que eu tente me convencer de que além de minha obrigação, ainda estou fazendo algo de bom, sinto ao mesmo tempo em que só estou rodando em círculos e que quando chegar ao final da minha vida vou perceber que não vivi nada do que queria ter vivido. Me sinto um prisioneiro.


Nos últimos tempos parei novamente de me preocupar com meu peso. Minha auto-estima é assim, vai e vem sem dar oi ou tchau. Tem períodos nos quais eu me cuido melhor, me alimento de cousas saudáveis, cuido da pele, do cabelo, estou sempre preocupado com a aparência, mas às vezes bate aquele desânimo, aquela sensação como disse no bloco acima, onde nada do que você vem fazendo parece ter real sentido ou valer à pena.
Quando estou nesses períodos ruins logo penso: "Pra que me cuidar, pra que perder peso, pra que parecer mais bonito? Qual a finalidade disso tudo afinal?" Por mais que digam que você precisa se sentir bem consigo mesmo e não para os outros, a maioria das pessoas o faz pelos outros, o faz porque precisam estar "apresentáveis" sabe se lá para o que possa vir. Lógico que eu não ando por aí mulambento, sem tomar banho, descabelado, sem perfume, não tenho esse nível de desânimo como muitos tem, mas às vezes acho que estou perdendo meu tempo em me cuidar. Pra que? Pra quem? Voltei a comer um monte de porcarias nada saudáveis, com a ajudinha do meu querido chefe é lógico, que recheia a geladeira do serviço com refrigerante, batata-palha, bolacha recheada, pipoca de micro-ondas e mais dezenas de porcarias. Durante um tempo eu até tentei resistir a tudo isso, mas com todo o nervoso, estresse, insatisfação com um monte de cousas do meu cotidiano, quando percebo já estou mastigando alguma dessas guloseimas assassinas da saúde. Minha circunferência abdominal já está pra lá de larga e cainhar longas distâncias já não está mais tão fácil pra mim como no começo do ano, todavia de forma bizarra, minha vontade de emagrecer é diretamente proporcional à minha fome. Fome não, vontade de comer.


Apesar de detestar feriados devido à falta de coisa interessante pra se fazer neles, estou ansioso pelos dois próximos, pois como já diria o seu Madruga: "Não existe trabalho ruim. Ruim é ter que trabalhar". Se eu pudesse ganhar meu salário só pra ficar em casa batendo uma, passeando no shopping ou viajando o mundo seria ótimo, mas já que não posso, feriados são muito bem vindos. Tenho curtido muito o meu trabalho, mas o fato do meu chefe simplesmente não saber o que ele quer de mim na empresa anda me deixando bastante estressado. Eu acho que se ele quer me dar autonomia para desenhar o site deveria ser mais aberto às minhas idéias, que modéstia a parte não são poucas e nem ruins, mas o caso é que ele tem um padrão de qualidade próprio e isso dificulta muito as coisas. Ele gosta do que eu faço, mas ao mesmo tempo as coisas nunca estão exatamente como ele gostaria que estivessem. Mas enfim...
Tenho refletido muito nos últimos dias sobre algo que uma pessoa muito importante pra mim me disse. Eu herdei de minha mãe um defeito muito grande e grave no meu ponto de vista: a franqueza excessiva. Nem sempre fui assim, mas hoje eu costumo falar o que penso, expressar minhas opiniões a respeito de um tema ou de outra pessoa sem papas na língua. Por timidez, sempre preferi me omitir a respeito de tudo, ficar em cima do muro com o intuito de não queimar meu filme com as outras pessoas, agradá-las para conseguir algo em troca, mas hoje decidi não mais fazer isso. O problema comigo é que sou 8 ou 80, não consigo achar um ponto médio pras minhas atitudes e venho percebendo o quanto isso magoa as pessoas.
O caso é que sim, existem pessoas as quais quero magoar propositalmente com meu jeito de ser, quero parecer grosso, rude, antipático, anti-social, quero incomodá-las nem que seja apenas um pouquinho, mas acontece que acabei acostumando tanto com esse comportamento defensivo, a sempre estar com quatro pedras na mão pra tudo e todos, que acabo generalizando isso e muitas vezes machuco pessoas até mesmo com a intenção de ajudá-las sendo franco. Admitindo isso, não estou afirmando que vou mudar e ser uma flor de candura, mas sim que realmente preciso me controlar melhor e conseguir guardar o meu veneno só pra quem eu ache que realmente o mereça. E tenho cá comigo uma listinha com alguns nomes.
É isso meus lindos. Só por hoje.


Eduardo Montanari Sobre o Autor:
Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática e trabalha como designer e web designer. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


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  1. Há muito não entro na blogosfera, mas passar por aqui é sempre bom e instigante.Sempre soube que as palavras são facas de dois gumes e os pensamentos também são. Se damos mta vazão a eles, acabamos sendo nocauteados, atirando no próprio pé, cuspindo para cima.Um copo pela metade pode ser visto como um copo quase cheio ou quase vazio, a diferença está no olhar e não nos olhos de quem vê.Se nos deixamos envenenar, somos os primeiros e talvez os únicos a sofrer. Vencer os outros, dar a última palavra, sair vitorioso é infinitamente mais fácil que vencer-se a si mesmo. Este sim! Desafio maior, nunca vi. Zerar o olhar, esvaziar-se de sentimentos daninhos, respirar fundo e recomeçar. Te falo com a experiência de quem já caiu tanto que criou uma técnica de dublê de cinema.Já renasci várias vezes em minha própria vida e quanto mais renasço, mais fortaleço, mais me cuido, mais valorizo minhas vitórias.Parabéns por cuidar de sua mãe e tia. Não faz muito tempo que aprendi a ter cuidado com outras pessoas e acredite,sinto-me extremamente feliz por ter dado as costas à outra opção que também tinha, a de não fazer

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