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Sobre avanço e retrocesso, fotos rasgadas e quem sabe, retomar velhas funções.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ontem se completou uma semana desde que recebi a notícia da minha demissão. Não estou nada bem, embora eu confesso, achava que ia me sentir bem pior, deitado no sofá, chorando e maldizendo a vida. Mas fazer isso adiantaria do que, me digam? Me permito algumas crises de auto-piedade e extrema falta de amor próprio, mas hoje, não todo o dia e toda a hora.
Quando digo que não vou me entregar, não vou deitar no sofá e chorar, não confundam as coisas, não pensem que não estou morrendo de vontade de fazer isso. Quando digo que não estou nada bem, é justamente pelo fato de estar fazendo um esforço sobre humano para manter as aparências, para me manter em pé, fingindo que estou conseguindo levar as coisas numa boa. Tenho 400 reais me sobrando no banco e agora, no início de fevereiro só tenho 300 e pouco para receber. Aí você pode até dizer: “Oras, muita gente passa o mês com muito menos que isso. Dê-se por satisfeito!”. Bem, isso e verdade e eu me daria por satisfeito se, como eu vivo repetindo cansativamente aqui, não tivesse que manter todas as despesas da casa, então o próximo mês é algo que realmente está me preocupando. O lado bom é que fevereiro só tem 28 dias.

Em verdade não estou plenamente sem perspectiva de arrumar um novo emprego, quer dizer, novo entre aspas, pois fiquei sabendo da possibilidade de voltar a trabalhar nos Correios através daquele projeto de inclusão de deficientes, como fazia antes, por 8 anos. Segunda passada fui até lá me informar sobre essa possibilidade e também rever velhos amigos e descobri que eles estão pagando razoavelmente bem para se trabalhar apenas 6 horas por dia, ao que parece são 700 e pouco de salário e mais 250 e pouco de vale alimentação. É menos do que eu ganhei nesse último ano de 2011, mas o caso é que eu dei sorte. Sem um curso superior, tão cedo não vou conseguir outro emprego que me pague acima de 1000 reais, como vinha acontecendo até então. Fui registrado como web designer apesar de não ter experiência anterior nenhuma e mesmo hoje, depois de ter feito o curso básico de 6 meses no SENAI, ainda não me sinto apto a exercer essa função. Sei que tenho muito talento, mas ainda me falta técnica e mais conhecimento. Aliás, eu sinceramente não sei o que acontece comigo, pois eu nunca me sinto apto ou competente para nada, não importa o que eu faça sempre me sinto um merda, um zero a esquerda.
Quando eu escrevi acima “novo entre aspas”, quis dizer que embora exista uma boa chance de eu voltar a trabalhar nos Correios, algo me incomoda muito nessa possibilidade. É o fato de eu sentir que, fazendo isso não estarei progredindo, não estarei indo pra frente em minha vida, subindo um degrau, mas sim retrocedendo, sendo um fracassado que, por falta de outra opção melhor, foi obrigado a voltar ao antigo emprego para não passar necessidades. Embora eu faça força para não me comparar com outras pessoas, amigos e desafetos, infelizmente não consigo. Fico observando a vida deles e os vendo progredir, cada dia subindo mais um degrau, cada dia fazendo algo inovador e diferente, enquanto eu, tudo o que consigo e andar em círculos e descer ao invés de subir.
Passei 8 anos da minha vida nos Correios e o que ganhei com isso? Conhecimento sim, bons amigos sim, algum reconhecimento pelo meu trabalho sim, mas não usei esse tempo para progredir, para crescer, não pude investir em mim, pois a maior parte do meu dinheiro sempre foi aqui pra casa, compras, contas, dívidas. Se por acaso eu voltar a trabalhar nos Correios em 2012, preciso dessa vez mostrar que aprendi com os meus erros do passado e mesmo ganhando pouco, dar um jeito de investir em mim, no meu futuro, mesmo odiando estudar, prestar concursos públicos, vestibular, preciso criar esse diferencial que me faltou durante os oito anos que trabalhei lá.
Bom, por hora nada é certo. Ainda tenho um mês de aviso prévio para cumprir, de fevereiro à março, depois saio, recebo o que me é de direito e caso não arrume outro emprego logo, tenho 4 meses de seguro desemprego para receber, o que me desculpe quem discorda, não vai me ajudar muito.


Em meio a todo esse caos empregatício, algo interessante e até posso dizer bom me aconteceu. Quem vai gostar dessa notícia (ou não) é minha prima Alessandra, que já havia me pedido isso há muito tempo.
Na terça-feira de manhã, enquanto procurava meu atestado de deficiência em meio às papeladas das minhas gavetas, que por sinal refletem a minha vida em termos de organização, encontrei algumas fotos tiradas no final de 2008, na ocasião da minha formatura do Colégio Técnico. Na época, iludido pela idéia babaca de “amigos para sempre”, fraternidade, companheirismo e cumplicidade, posei para as fotos junto com um, na época, amigo meu. Obvio que posar pra essas fotos com ele foi o ápice do meu dia, pois já que o considerava o meu melhor amigo, achei o máximo eternizar aquele momento, tendo dele uma lembrança eterna, mesmo certa vez ele me dizendo que não dá importância para fotos e que não as guarda, pois fotos são apenas fotos e nada mais. Talvez até ele negue isso hoje, todavia posso dar às coisas uma proporção maior do que elas realmente tem, mas não invento cousas, eu ouço o que ouço. 
O caso é que mesmo depois de termos deixado de nos falar, continuei guardando as fotos reveladas em minha gaveta, esperando que um dia... Esperando sei lá o que, que talvez se algum dia as coisas voltassem aos eixos, ter tirado aquelas fotos ao lado dele valeria a pena. Mas também não foi só por isso, guardei as fotos porque eu me recusava a deixar o passado para trás, recusava-me a seguir adiante, o deixando ele seguir o caminho que escolheu e seguindo o meu, como é o correto fazer. Achava que guardando as fotos, de alguma forma isso manteria ele sempre comigo, mesmo que na realidade eu saiba que ele durante os últimos anos, com certeza não perdeu dois minutos do tempo dele refletindo sobre mim ou sobre o quanto eu o admirava. Erro meu, é típico das pessoas carentes sempre valorizar quem não as valoriza.
Bom, tá, vamos aos finalmentes, pois eu sempre enrolo demais pra dizer as coisas que quero dizer, dou voltas e voltas com o intuito de exercitar minha gramática. Há tempos minha prima Alessandra vem me pedindo: “_Rasgue essas fotos, livre-se delas! Pra que guardá-las se isso não vai adiantar de nada?”, mas eu, insistindo em esperar que algum dia quem sabe as coisas se resolvessem, que voltassem a ser como antes, me recusava a destruir as fotos, a deixar isso passar.
Talvez seja por ter amadurecido um pouco mais nos últimos anos, aceitar algumas coisas, talvez simplesmente por conta do estresse que venho passando desde que fui demitido, assim que vi as fotos enquanto fuçava na papelada, imediatamente e sem pensar duas vezes, comecei a rasgá-las em vários pedacinhos pequenininhos. Podem até pensar que fiz com raiva, que rasguei as fotos simplesmente por não poder assassinar a pessoa, pois isso é considerado infelizmente um crime, não deveria ser, em minha opinião, mas não, não fiz isso por raiva, mas simplesmente porque após olhar as fotos por alguns poucos segundos, vi que elas nada mais significavam pra mim. Até em porta retratos eu as tinha colocado, até na minha mesa de trabalho nos Correios elas já estiveram e agora já não passavam de fotos guardadas no fundo de uma gaveta empoeirada.
Não vou ousar dizer que deixei o passado completamente para traz, talvez nunca consiga, mas pra quem sequer cogitava a possibilidade de me livrar de certas cousas, tenho aos poucos conseguido fazer o que preciso fazer.
É isso amiguinhos.


Eduardo Montanari Sobre o Autor:
Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática e trabalha como designer e web designer. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


4 Divagações

  1. Eu acredito que nada acontece por acaso. Creio eu que certas mudanças que ocorrem dentro de nossa rotina é justamente para nos manter vivos e renovar o que a vida nos oferece.
    Se algo acontece, tinha que acontecer, se não acontece, aquela não era a hora.

    Lendo esse post agora, eu percebi (não sei se é engano meu), que você está melhor espiritualmente. Acredito que seu barco vai andar a favor da maré agora e que você vai longe.

    Espero que consiga este "novo" emprego, torcendo por você!
    Abração!

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  2. Ola Edu, te entendo cara, realmente citações como esta realmente nos abalam, principalmente se somos arrimo de família, mas posso dizer que vc esta se saindo bem.

    Não vejo a sua volta ao antigo emprego como uma regressão, principalmente se o seu pensamento é voltar e procurar fazer diferente, do que fez antes, isso pra mim se chama progresso meu caro, maturidade e raciocínio diante de uma situação adversa, se vc estivesse em um campo de batalha, isso se chamaria estrategia de guerra.

    Você cresceu Edu, ainda lembro dos primeiros post que li aqui, vc esta no caminho certo, e tem as respostas pra reverter tudo isso, é só continuar a diante.

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    1. Estou tentando ver por esse ângulo também Marcos. Está difícil, mas estou tentando.

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  3. Hoje mesmo um colega de trabalho, excelente profissional, foi demitido sem justa causa. Era a ultima pessoa que eu suspeitaria ser demitido, e infelizmente aconteceu... Mas tem o porém do "sair do comodismo" Eduardo. Essa mudança, vai lhe permitir ter mais espaço livre na mente pra pensar melhor no que você quer pra você e o que fazer pra traçar o seu caminho.

    Ter se livrado dessas fotos, foi uma das melhores coisas que você já fez para o seu próprio bem. Digo isso por experiência própria.

    Ahh! E tenho uma dica que a principio parece ser tosca e ineficiente, mas eu te garanto que funciona. Mude a sua rotina o máximo que puder. Mude de lado da calçada que você sempre anda, experimente outras cores, cumprimente estranhos como se os conhecesse, se apresente de outra forma.... mude tudo o que lhe for conveniente cara, mas tente fazer isso. Pra mim foi ótimo.

    Se cuida

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