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Sobre morrer cochilando, chances inesperadas e pedaços de carne pré-programados.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

No sábado à noite eu saí com alguns amigos pra uma noite de distração e boa comida e enquanto saboreava deliciosas porções de camarão e tilápia, regadas a uma inigualável batida de pêssego com champanhe, conversava com eles sobre o meu mais novo dilema, já que sou um poço de dilemas, o qual também compartilharei com vocês.
Já devo ter escrito sobre isso aqui, mas o caso é que há alguns anos atrás eu consegui ingressar em um
cursinho pré-vestibular gratuito através de um rigoroso processo de seleção realizado em várias etapas: prova, análise do histórico escolar, comprovação de baixa renda e mais um monte de outros documentos os quais tive de me esforçar pra correr atrás.
Não quis entrar no cursinho para estudar e passar no vestibular. Na época eu havia acabado de fazer o colégio técnico e estava com uma depressão terrível, foi bem na época das tentativas de suicídio de minha mãe e também quando a maior parte dos meus amigos se afastou de mim, parte por minha culpa, parte por serem uns filhos de umas cadelas leprosas no cio mesmo. Mas o fato é que, me sentindo inferior a todos eles, eu quis tentar fazer um cursinho por vários motivos: me sentir igual ou superior a eles, mostrar a eles que não precisava de sua companhia e poderia me virar muito bem, seguir minha vida normalmente sem eles por perto e também vi no cursinho a oportunidade de fazer uma turma de novos amigos. Estudar e passar no vestibular eram apenas detalhes irrelevantes para mim, desde que eu fizesse novos amigos e os antigos me notassem, estaria tudo bem.
Passei em todas as etapas de seleção e comecei a fazer o cursinho. Da minha turma antiga do colégio técnico, três caras começaram a fazer as aulas junto comigo, mas eu, que já não tinha muitos interesses em comum com eles, fiquei mais deslocado e solitário ainda quando percebi que eles não me dariam a atenção que eu esperava que eles me dessem.
Depois de uns três ou quatro meses já no cursinho, eu estava me sentindo péssimo. Pegando o ônibus lotado todos os dias pra ir do outro lado da cidade, passar horas sentando em uma carteira não entendendo quase nada do que era explicado nas aulas (sim, sou burro) e depois voltando exausto pra casa, depois das onze da noite novamente num ônibus lotado e cheio de jovens hiperativos e mais felizes do que eu. 
Certa noite eu estava lá, no meio da aula, prestes a explodir, gritar, de saco cheio de tudo aquilo, com ódio da minha vida, de todas as pessoas ao meu redor que pareciam tão calmas e normais, com ódio de como todas as coisas estavam e estava passando muito mal, falta de ar, dor de cabeça, tontura, tudo devido logicamente ao meu estado psicológico perturbado. Minha vontade era levantar no meio da aula, no meio da explicação do professor e ir embora sem dar satisfação alguma. Então decidi: ao final da aula, guardei os materiais quieto, segurando o choro e fui pegar o ônibus pra casa, decidido a não voltar mais. Pra quê? Afinal não estava entendendo absolutamente nada da matéria, não conseguia me concentrar nos estudos, pois odeio estudar por mais que saiba o quanto é importante e necessário e também para os outros eu parecia invisível. Acho que se eu tivesse morrido na carteira naquela última noite, todos pensariam que eu estava apenas cochilando.


Desisti do curso porque como sempre, quis fazê-lo pelos motivos errados, não para o meu benefício pessoal, mas para chamar a atenção dos outros para mim. Quando vi que ninguém estava percebendo que eu existia ou dando valor ao que eu estava fazendo, decidi abandonar tudo.
No ano passado durante minhas férias, antes de receber a notícia da minha demissão, tinha o plano de fazer um cursinho pré-vestibular particular próximo de casa, mesmo sendo pago. Juntaria o dinheiro e pagaria tudo, pagaria pelo comodismo de fazer um cursinho que fica a quinze minutos de distância a pé de casa. Todavia agora voltando das férias, fui demitido e meus planos foram por água abaixo, além do que, descobri que mesmo que não tivesse sido demitido, um cursinho particular é um absurdo de caro, acima de quatrocentos reais, é rir pra não chorar.
Agora apresento-lhes meu dilema de hoje: Na semana passada, navegando pelas interwebs da vida, decidi entrar no site do cursinho gratuito e descobri que as inscrições para concorrer a uma vaga nesse ano ainda estão abertas, mas por pouquíssimo tempo, acho que só por mais uma semana. Ou seja, surgiu então novamente a oportunidade de eu me inscrever, tentar passar novamente por todo aquele processo seletivo, comprovar renda, fazer prova, correr atrás de documentos e passar esse ano de 2012 fazendo um cursinho pré-vestibular gratuito e muito bem conceituado.
Acredito que o primeiro pensamento de alguns que estiverem lendo isso seja: ”_Corra, vá logo seu imbecil! Não perca essa chance, aproveite! Já devia ter ido fazer a inscrição!”. Mas o caso é que estou com medo, inseguro e pouquíssimo confiante. Não é quanto a passar ou não pelo processo seletivo, passei na primeira vez e acho que consigo passar novamente, mas o fato é que não sei se tenho estrutura psicológica para essa rotina, que sei é tão comum para alguns. O colega blogueiro Paulo Henrique, do blog Bagulho do Paulista, sei que vive uma rotina semelhante todos os dias. Mas o caso é que algo nisso tudo me incomoda muito, algo nessa rotina me deixa com vontade de chorar e quase em depressão só de pensar em enfrentá-la. Eu não diria que é preguiça (muitos dirão, eu sei), mas é mais uma completa e total falta de motivação, eu sempre tive e continuo tendo aquela sensação de que minha existência e tudo o que eu faço aqui não tem significado nenhum. Me sinto uma casca seca e vazia.
Apesar de nesse ano de 2012 não estar me espelhando em ninguém, não estar querendo competir com ninguém ou chamar a atenção de ninguém, por mais que busque motivação para lutar, não consigo achar, por mais que saiba que a longo prazo isso poderia me trazer imensos benefícios, tudo parece insuficiente pra mim, não consigo me sentir satisfeito. Algo continua faltando pra preencher um vazio sem tamanho dentro de mim e eu não consigo descobrir o que é, por mais que tente.
Agora estou nesse dilema maldito. Tenho pouco tempo para me decidir se vou fazer a inscrição, tentar novamente o cursinho esse ano, sair de manhã pra trabalhar, ir direto pros estudos, voltar todos os dias pra casa pra lá da meia-noite pra ter que acordar cedo no dia seguinte e fazer toda essa rotina novamente. Só de pensar nisso me dá um vazio indescritível. Me sinto como um pedaço de carne pré-programado, fazendo coisas repetitivas e cansativas, que por mais que saiba eu, serão úteis pra mim, ainda assim me causam uma depressão e um desânimo terríveis.
Pra terminar, quero agradecer muito a outra colega blogueira, a Jaqueline Plácido, dona do blog Vírgula Persona. Soube pelo queridíssimo amigo Levi Ventura, dos blogs Só Pedaços e Um Oscar por mês que ela mandou um e-mail para varias pessoas elogiando muito meu blog e o recomendando.  Muito obrigado mesmo pelo carinho e por gostar tanto das baboseiras que escrevo aqui nesse meu cantinho. É isso humanos. É só por hoje.




Eduardo Montanari Sobre o Autor:
Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática e trabalha como designer e web designer. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


1 Divagações

  1. ola edu.sumi daki,mas sempre que da,passo.......mas sempre viajo nos seus textos,sobre o quanto vc conta suas historias reais.gosto disso,em muitas veses me vejo em voçe,serio.

    abraços

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