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Sobre um abismo entre o erro e a maldade, saúde pública e uma nova rotina noturna.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Pois é, ganhei uma vaga no cursinho pré-vestibular e as aulas começaram no dia 13 de março. Na primeira vez em que tentei cursar e desisti, estava cheio de raiva, querendo ser notado pelos amigos que se afastaram. Dessa vez, mesmo estando desmotivado mesmo após ter ganhado a vaga, pelo menos não estou me espelhando em ninguém.
Embora eu saiba que ter ganhado essa vaga é uma grande oportunidade, que muitos queriam estar no meu lugar, eu não consigo me empolgar. Pretendo estudar o quanto conseguir, quero não desperdiçar esse tempo, mas continuo e acho que sempre continuarei com aquela sensação de que o mundo e todas as coisas não estão fazendo sentido nenhum, continuo com a sensação de que estou simplesmente seguindo um padrão de vida pré-estabelecido. Eu já disse que trocaria dinheiro, sucesso, carreira, diploma, por uma vida tranqüila, sem maiores problemas e na qual eu fosse feliz com o que tenho.
Pelo menos o ambiente do cursinho é bacana. Não garanto que vá bem nas provas e nem que serei um aluno exemplar, mas na melhor das hipóteses vou passar por uma experiência diferente nesse ano, caso não perca minha vaga devido a notas baixas, sim, pois se durante o cursinho você não for bem nas provas, corre o risco de perder sua vaga. Um dos motivos pelos quais desisti da primeira vez foi esse, pois toda essa pressão estava me deixando mais depressivo do que era meu comum.
As aulas são de segunda à sexta, das sete às onze da noite. Por enquanto, como continuo desempregado essa rotina não tem me cansado tanto, mas sei que quando começar a trabalhar novamente as cousas vão ficar mais cansativas. Por enquanto as piores matérias ainda não começaram, que para mim são Física e principalmente Matemática, até agora está tudo muito light, apresentações, explicações, anotações, mas sei que ainda terei dores de cabeça grandes no decorrer do ano. Já tenho uma redação pra escrever pra próxima quinta, dissertando sobre se a tecnologia é benéfica ou maléfica para a humanidade humana. Não tenho a mais vaga idéia do que escrever.


Queria ser rico, mas não fico todo o tempo maldizendo o meu padrão de vida. Acho que nascer pobre e ir conseguindo as coisas devagar ao longo da vida, faz com que você dê muito mais valor a tudo o que consegue. Não passo necessidades, tenho onde dormir, tenho roupas, um dia a dia normal e comum, mas é nas horas de necessidade, quando preciso ir a um médico por exemplo, quando mais me sinto realmente “pobre”.
Infelizmente sou um dos milhões de brasileiros que dependem dos serviços da nossa maravilhosa saúde pública. Não tenho condições de pagar um convênio e muito menos médico particular. Sou obrigado a seguir todo aquele ritual: ir ao posto de saúde, acordar cinco horas da manhã, pegar senha numa fila gigante para poder marcar uma consulta pra daqui dois, dois meses e meio, chegar no dia da consulta e ainda correr o risco de não ser atendido, que foi o que me aconteceu duas vezes seguidas, no mês passado e agora no começo de março.
Tinha oftalmologista marcado para o final do mês passado e ao chegar pra minha consulta recebi a notícia de que a doutora tinha ido a um curso, palestra ou algo assim, perdi um dia de trabalho e tive que dar meia volta, remarcaram então a consulta para o dia 13 de março. Voltei ao posto de saúde no dia 13 e depois de esperar lá por quase 50 minutos, recebo a notícia de que não serei atendido novamente, pois esqueceram de marcar meu nome na agenda da doutora. A consulta então foi remarcada pela segunda vez, para o próximo dia 19 de março, menos mal.
Eu preciso muito dessa consulta o mais breve possível por dois motivos: primeiro, tenho que conseguir um laudo de deficiência mais recente. Esse laudo vai me ajudar em vários sentidos, pois com ele poderei procurar empregos que disponibilizem vagas para deficientes e também poderei dar entrada no meu pedido de passe de ônibus especial, uma carteirinha que me permite andar de graça, já que o cursinho não oferece vale-transporte mesmo para os alunos mais necessitados e eu não tenho condições de pagar dois ônibus todos os dias, pelo menos até conseguir um novo emprego.
Além do laudo, também preciso pedir um encaminhamento pra uma instituição que encaminha deficientes físicos para o mercado de trabalho. Quanto mais rápido essa consulta sair, mais rápido poderei correr atrás de algumas coisas.


Uma das coisas que mais me deixa magoado é quando tento ajudar as pessoas com atos ou palavras e sou mal interpretado. Admito que não sou um anjo de candura e muitas vezes, na tentativa de aconselhar o outro eu acabo sendo grosseiro demais. Deve ser uma dessas características que a gente herda dos pais e não consegue perder, mas o caso é que errando ou não, minhas intenções são as melhores, principalmente quando realmente me importo com a pessoa, pois admito também que sou gentil e caridoso com muitos, meramente porque manda a educação, porque é isso que a sociedade espera de você para considerá-lo dentro dos padrões aceitáveis, mas o fato é que não sou um monstro desalmado e falso, amo de verdade algumas pessoas, amo muito, muito mesmo e se pudesse, faria o que estivesse ao meu alcance para ve-las felizes, mesmo que isso me prejudicasse.
Até uns anos atrás, quando eu tentava ajudar as pessoas eu esperava algo em troca, esperava um retorno, um obrigado, esperava que fizessem por mim o mesmo que eu faço por elas. Hoje, já mais conformado e também com o coração um pouco mais duro, o mínimo que espero delas é que reconheçam que o que eu faço, o que eu digo é para tentar ajudá-las. Eu sou da opinião de que para ajudar uma pessoa, nem sempre passar a mão na cabeça, concordar com ela, fazer o que ela quer, vai ajudá-la. Posso estar muito errado, talvez se eu fosse mais o que as pessoas esperam de mim isso as deixasse mais felizes, mas não consigo ser assim, sou autêntico e hoje, se for preciso apontar os pontos negativos da pessoa para ajudá-la, eu faço isso. Como disse, posso estar indo por um caminho muito errado.
Mas como eu disse, errado ou não, minha intenções são as melhores. Sei que de boas intenções o inferno está cheio, mas pelo menos estou tentando ajudar a pessoa. Pior é quando você busca ajuda e ninguém sequer lembra que você existe.
Essa semana ouvi (ou no caso da internet, li) de duas pessoas que amo muito, que eu estou sempre com uma crítica na ponta da língua. Essa afirmação me doeu bastante, pois desde que as conheci, tudo o que tenho feito é tentar ajudá-las a superar seus problemas, suas dificuldades e crises de depressão.
Não é que eu não concorde com elas, pois como disse, eu tenho consciência de que muitas vezes acabo sendo rude, dando uma bronca ao invés de acalentar. Não tiro o direito delas de reclamarem de mim, mas também espero delas que apesar de o que eu digo muitas vezes soar grosseiro, que tudo o que estou fazendo é tentando ajudar, tentando mostrar pra elas que o mundo não é esse lugar tão monstruoso e escuro como muitas vezes elas enxergam. Não sou um exemplo de superação e auto-estima, mas já passei por algumas coisas ruins e hoje me considero com bagagem pra dizer algumas coisas. Mas o caso é que situações como essa me cansam, situações nas quais sou mal interpretado, acusado de julgar, de atirar pedras, de criticar. O problema das pessoas é que se você não as ajuda, não as apoia, elas reclamam que você não liga pra elas, mas em contrapartida, se você tenta ajudá-las ou lhes dizer coisas as quais não eram o tipo de coisa que elas esperavam ouvir, então você é taxado de vilão. Existe um abismo grande entre você cometer erros e cometer maldades, e o que tem me magoado é que as pessoas parecem sempre me ver desse segundo modo.


Eduardo Montanari Sobre o Autor:
Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática e trabalha como designer e web designer. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


3 Divagações

  1. Du...tem um livro chamado uma outra globalização ...ou mesmo um documentário...

    http://www.youtube.com/watch?v=GntDtPUdnvc

    Esse documentário fala do papel das mudanças tecnológicas e do mundo em geral, geraram um mundo perverso e ao mesmo tempo um mundo com a capacidade de se tornar um mundo melhor..pode te ajudar a escrever a redação, é de um dos geógrafos mais conceituados e respeitados do mundo Milton Santos, de qualquer forma valea pena assisti é muito bom...^^

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    1. Eu, Eduardo, estou muito agradecido a ti, meu dulcíssimo amigo.

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  2. Puxa vida, toda vez que alguém passa apuros na nossa saúde pública me dá uma revolta que você não imagina.

    Apesar (Se serve de consolo), eu pago um dos melhores convênios que existem e não consigo marcar uma merda de exame para minha filha. Na verdade a saúde num geral está falida.

    Achei que você já estivesse trabalhando, espero que consiga logo seu emprego.

    Quanto você fala que a vida é pré-estabelecida, você não deixa de ter razão. Eu escrevi um texto sobre Nietzsche, (Na verdade será uma série de ensaios que vou fazer), gostaria muito que você lesse, fala muito sobre o que você escreve aqui. (Acho que posso ter essa liberdade com você, não?)

    Um grande abraço.

    Ah, eu também trocaria minha vida por uma mais tranquila!

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