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Sobre a Janela de Johari, defeitos que definem você e conceitos Darwinistas sobre a sobrevivência do mais forte.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Quanto mais as coisas mudam mais elas continuam as mesmas, é o que eu digo e também o que eu sinto de forma muito intensa. Acho que para mim, uma das características humanas mais difíceis de aceitar é o fato de que sim, ao longo de sua vida você consegue mudar muito do seu padrão comportamental, rever seus conceitos, expandir sua mente, mudar em vários aspectos, mas que também existem certas coisas que fazem parte de você eternamente, coisas que por mais que você tente mudar, não vai conseguir porque de alguma forma elas definem o tipo de pessoa que você é, a frase que vai estar entalhada no seu epitáfio.
Eu já passei por tantas situações, tantas pessoas passaram pelo meu caminho ao longo desses 36 anos, algumas me marcaram muito, de outras eu nem me lembro mais, tem algumas que eu não consigo esquecer por mais que eu saiba que precise, pois me deixaram feridas tão fundas que até hoje não consigo fazer cicatrizar, as sinto ardendo todas as noites quando encosto a cabeça no meu travesseiro, no escuro e no silêncio. Também não consigo esquecer as que me fizeram bem, anjos que passaram pela minha vida e dos quais tantas vezes fui obrigado a abrir mão, porque a vida assim exigiu. A vida é bela sim, mas não é justa, ela cobra muito de nós e em troca nem sempre dá o que esperamos dela, mas é assim que ela funciona e não aceitar isso só faz sofrer mais. Tá bom, aceitar isso também não faz diferença nenhuma, você sofre do mesmo jeito.
Achei que conforme fosse envelhecendo eu conseguiria mudar o que quisesse em mim, ser uma metamorfose ambulante capaz de me adaptar a cada nova situação, a cada novo desafio e a cada nova pessoa que cruzasse meu caminho. A lei que rege o mundo é a adaptação, o conceito Darwinista de sobrevivência do mais forte. Pessoas como eu que conjecturam demais, que analisam demais tudo, que se sentem deslocadas no mundo acho que são as que mais sofrem, as que mais têm dificuldade de viver no mundo como ele exige que você viva nele, pois adaptação é sobrevivência e se você não consegue se adaptar a como as coisas são, você até sobrevive, mas correndo um risco grande de extinção, muitas vezes até desejando isso. Os anos estão passando e por mais que eu aprenda coisas, passe por situações, tenha alegrias e decepções, algumas coisas não mudam na minha cabeça. Antigamente eu tinha a sensação de que isso acontecia porque no fundo eu estava esperando alguma coisa, insistindo em errar, dando murro em ponta de faca como dizem, mas não, eu sinto que não é isso, não é uma simples teimosia, uma imaturidade qualquer, não é querer insistir no erro mesmo sabendo que isso não vai me levar a lugar nenhum, o que acontece é que essa é a minha essência primitiva. Acredito que a lição que a vida vem tentando me ensinar desde que eu comecei a me perguntar sobre tudo, sobre mim, sobre o que o mundo espera de mim e eu de eu mesmo é que eu vou ser obrigado a me aceitar do jeito que eu sou, com minhas qualidades e principalmente com os meus defeitos, aqueles que eu não consigo mudar, que fazem parte de quem eu sou e aprender a conviver com eles de forma que não me machuquem e não machuque a ninguém e só depois disso, buscar, sendo quem eu sou, me aceitando de forma plena e sem culpas, me adaptar ao mundo. Creio que não vou conseguir achar meu lugar no mundo, me adaptar a tudo que me cerca, se antes não me adaptar a mim mesmo.


Adaptar-se a si mesmo e depois ao outro me remete a um conceito que me foi explicado pelo amigo Raphael, chamado Janela de Johari, que explica a comunicação interpessoal. Ela classifica a relação entre duas pessoas em quatro partes: Área livre, que é aquela área que eu conheço de mim e permito também que a outra pessoa conheça. Área cega, uma área invisível para mim, eu não consigo enxergá-la em mim, mas que outras pessoas conseguem, porque elas estão de fora, estão me vendo por outro ângulo. A Área secreta é uma parte de mim a qual só eu conheço mas que não permito que o outro conheça. Por fim, a Área inconsciente, que é onde nem eu e nem os outros conseguem chegar.
De acordo com esse conceito, todos nós possuímos um pouco dessas quatro partes, em menor ou maior grau. Algumas pessoas são mais livres e permitem ao outro que as conheçam, algumas não querem ser conhecidas por ninguém. Existe aquela pessoa que se conhece muito bem, sabe o que quer e o que sente, mas não abre um espaço para que os outros a conheçam. E por fim, tem aqueles que sequer conhecem a si mesmos. Não li sobre o assunto na verdade e dei aqui uma descrição superficial, mas enquanto ele me falava sobre isso fui ficando muito instigado a conhecer mais. Uma das coisas que aprendi com o passar dos anos é que às vezes para se conhecer melhor você precisa antes conhecer outras coisas primeiro. Uma premissa que eu quero voltar a adotar.
Acho que desse apanhado de características me identifico mais com duas. Acredito que depois de todo esse tempo de blog, quem realmente me acompanha, quem não me segue apenas para fazer volume, como 90% dos meus seguidores, deve ter percebido que sou uma pessoa que se expõe demais, que gosto de deixar que as pessoas me conheçam como sou. Também gosto muito de conhecer as pessoas, conhecer de verdade, não seu nome completo, onde você estuda, onde trabalha, mas sim o que você ama, qual a primeira coisa na qual pensa quando se levanta todas as manhãs e a última quando se deita na sua cama pra dormir, o que você gosta de fazer pra se sentir feliz e o que faz nos momentos de tristeza, quero saber se o amor pra você é uma simples coisa física, algo de momento ou está nas pequenas coisas. Eu quero conhecer de você não o que todo mundo conhece, quero ter a honra de saber mais.
O meu maior problema é, e pelo que constato o de muitos também, esperar que a pessoa veja em mim o que eu quero mostrar. Eu me exponho, escancaro os meus sentimentos, emoções, fraquezas, esperando que o outro se identifique em mim e corresponda da mesma forma. Para conhecer melhor a outra pessoa essa é a “artimanha” que eu uso, “eu te mostro o meu e você me mostra o seu”. O problema é que para mim isso é simples, natural, expor o que eu sinto hoje se tornou mais fácil, só que eu esqueço que não o é para todo mundo, algumas pessoas tem uma dificuldade muito grande em se abrir, em desabafar, em dizerem a verdade sobre o que realmente estão sentindo no momento. Isso causa uma estranheza para mim, mas também para a outra parte, que acredito enxergar em uma pessoa como eu alguém invasivo demais. Talvez eu seja, não sei, eu não me considero assim. Vejo mais como uma troca, mas essa é uma brincadeira onde brincam dois e é preciso brincar do jeito certo, é preciso que ambos estejam a vontade e geralmente por mais que eu tente, não consigo fazer isso acontecer.


Eduardo Montanari Sobre o Autor:
Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática e trabalha como designer e web designer. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


5 Divagações

  1. Olá, Eduardo!
    Seria bom, em parte, se viéssemos com descrição de perfil, assim como na internet.
    Abçs!
    Rike.

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  2. Nossa, que interessante esse assunto...
    É difícil pras pessoas se abrirem, porque elas as vezes não se abrem nem pra si mesmas, muitas não procuram se conhecer por desinteresse, outras por medo do que podem encontrar. Ma o auto conhecimento é fundamental. Se queremos modificar qualquer coisa em nós, a chave é essa, não tem outro caminho.

    Acredito que vc matou a charada: aceitação. Tem coisas que não podem ser mudadas e uma delas é o que as outras pessoas são. Então você as aceita assim ou não convive com elas. A ideia de que podemos mudar os outros, coisa que mulher gosta muito, é ilusão. As pessoas mudam se quiserem mudar. O outro é só um incentivo. Isso é o que estraga a maioria das relações.
    A partir do momento que você se aceitar como é, chegará mais perto da felicidade. Depois que resolvi me enxergar de verdade, de admitir meus erros e defeitos pra mim mesma e me perdoar por eles, olha, ficou muito mais fácil.
    Abçs.

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  3. Eu admiro seu jeito espontâneo de escrever, de se expor, mas confesso que apesar de não me intrigar, nem penso que seja invasivo, não consigo ser assim tão explícita. Mas também sou um tanto. Me policio nos meus posts para não ficar falando de mim, pois não gosto que os conhecidos, muitos pessoais, que lá visitam, conheçam meus segredos, digamos assim. Mas às vezes vale o desabafo. Escrever é muito bom. Abraços.

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  4. Oi denovo!
    Gostei desta tua postagem. Tá aí algo q eu tento e gosto, ou gostaria de ver uma certa retribuição daqueles q comigo convivem, ou seja na vida real, ou virtual. Mais sempre levo uma ré em quase tudo. Acho bem interessante como vc se expõe, e com clareza sua vida e até seus problemas e sentimentos. Tentei e tento fazer o mesmo, só q parece q algo dentro de mim me proibe disso. Acho q ao vivo eu dou conta melhor de me expôr q na escrita. Não sei como vc é na vida real, mais adoraria um dia te conhecer, e ai vc veria como na vida real eu tenho uma imensa facilidade pra falar dos meus problemas, meus sentimentos, frustações e etc e tals. Sou uma chata até. Rs, acho q até vc se enjoaria de mim rapidinho.

    Beijos e espero voltar em breve ao seu cantinho. Se cuide!

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    Respostas
    1. Eu dificilmente me enjoo de pessoas interessantes e que valham a pena, mocinha. Adoraria conhecer-te.

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