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Sobre mudanças e readaptações, um misto de carência e egoísmo e um novo ponto de vista sobre coisas antes desimportantes.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Há quem diga que eu preciso viver mais, exatamente com essas palavras. Bem, eu acho que preciso viver bem mais do que vivo também, me abrir mais, principalmente no que diz respeito à relações humanas, uma arte, na qual não tenho talento algum. Eu achava que hoje, depois de tantos anos, beirando meus 40, já não tinha mais medo das coisas que tinha quando era adolescente, mas vejo que pouca coisa ou quase nada mudou em alguns pontos de minha vida, continuo com medo do novo, do desconhecido, continuo covarde e inseguro, principalmente quando se trata de outros seres humanos como eu, sim, pois até onde sei, sou também um ser humano, apesar de alguns ou às vezes até mesmo eu duvidar.
Todas as vezes que vou conhecer alguém ou alguém tem interesse em me conhecer, faço disso uma novela mexicana e sempre estrago tudo, em 90% das vezes. Coloco tantos empecilhos no caminho, arrumo tantas desculpas para fugir, que a outra pessoa acaba se irritando, cansando e desistindo, geralmente para sempre. Na minha cabeça, tento me convencer e à outra pessoa, de que sou cauteloso assim pelo bem dela, quando na verdade só estou tentando me preservar, não me machucar, digo que não quero que ela se decepcione comigo, não quero ofendê-la ou magoá-la, quando, mais cedo ou mais tarde ela perceber como eu me vejo, como me sinto: um zero à esquerda, um nada, inseguro, covarde e sem jeito. Faço longos discursos tentando convencer a outra pessoa de que existem no mundo, gente muito mais interessante do que eu, que eu na verdade não valho a pena, o que é bizarro e totalmente controverso, já que o que eu mais quero é não passar o resto da minha vida sozinho. Não falo de um namorado, de um grande amor ou coisa parecida, mas anseio por ter pessoas ao meu lado que enxerguem em mim o valor que eu mesmo não consigo enxergar e que estejam disponíveis para mim, no momento em que eu precisar delas. Um misto de carência e egoísmo, uma fórmula que geralmente não dá certo. Não me julgo digno de nada. 


Em alguns momentos o meu medo é tanto, que eu tento me convencer de que talvez eu esteja melhor sozinho, isolado, sem ninguém. Relações humanas são complicadas, já é difícil lidar consigo mesmo e seus próprios problemas, quem dirá então os do outro. Faço um esforço para acreditar que estarei mais tranquilo se cuidar apenas de mim mesmo, sem ser obrigado a agradar à ninguém, sem ser obrigado à corresponder expectativas que coloquem sobre mim. Vez ou outra me sinto bem pensando dessa forma, me sinto livre, um filho único, de mãe solteira, passei a maior parte da minha juventude sem amigos com os quais pudesse realmente contar. Interagi, conheci pessoas, mas sempre me senti às margens do mundo, o "rapaz da bolha", sei lá. Embora tenha passado a vida criando expectativas sobre as pessoas, esperando demais delas e, no final, me decepcionando, claro, sempre fiz as coisas à meu modo, vi o mundo do meu jeito, meticuloso, analítico, cauteloso. Abrir o seu mundo para outra pessoa significa modificá-lo e readaptar-se à ele, e muitas vezes sinto que esse é um esforço o qual eu não estou mais disposto. Não cobro mais que as pessoas se adaptem ao meu jeito de ver o mundo, mas também não faço mais questão de me adaptar à elas. É cansativo e em quase 100% dos casos, frustrante no final.
Não tenho vivido de fato, mas apenas sobrevivido nos últimos anos, principalmente nos últimos meses. Acordo todos os dias, faço meu café, tomo meu banho, quando não decidem racionar a água do meu vilarejo, saio pra trabalhar o dia todo em frente a um computador e depois vou estudar. Não tenho planos para o futuro, não sei o que vou fazer de minha vida daqui um ano e meio, quando, se tudo der certo, estarei me formando na universidade. Não tenho sonhos, nem a longo, nem a curto prazo, apenas vontades, não sei se podem ser considerados a mesma coisa, sonhos e vontades. 


Gostaria de ter sonhos sim, mas quando você chega aos 38, morando com sua mãe bipolar e idosa, uma tia, duas gatas, ganhando pouco, morando de favor, entre outras barras que, só quem realmente me conhece sabe, fica complicado sonhar com algo a mais do que um salário um pouco mais alto para poder fazer uma compra maior no supermercado, no começo do mês. Existe um ditado antigo que diz: "não tenho tudo o que amo, mas amo tudo o que tenho", e embora eu não ache a minha vida um mar de rosas, sim, é verdade, gostaria de ter mais, mas gosto do que já tenho, ainda mais agora, ainda mais nos últimos meses, quando passei a dar um valor maior à certas coisas que considerava pequenas ou desimportantes. Já pensei em morrer, hoje só quero viver, apesar de não estar levando muito jeito pra isso, tenho medo, e todas as vezes que penso nisso me lembro de um conselho famoso do Wolverine: "Não se deve ter medo de morrer, guria, mas de não se viver", só que as coisas complicam quando você se pega com medo das duas coisas, é algo que te paralisa, mas não apenas isso, também te cansa, pois você vive em uma luta interna constante e não é preciso ser formado em psicologia para se compreender que o que acontece dentro da sua mente se reflete no seu físico. Não compreendo as pessoas que não entendem o "cansaço" do outro, é tão simples, se você parar pra refletir um pouco sobre isso.
Estou perdendo a prática em finalizar meus textos de forma coerente. Antigamente planejava o que iria escrever, durante dias, hoje, mal consigo organizar meus pensamentos num texto claro. Sinal de que devo ir encerrando por aqui.


EDUARDO MONTANARI
Virginiano, bauruense, estudante de Design, ilustrador e web designer. Amante de cinema, quadrinhos, boa música e outras nerdices. Sonhando com o namorado ideal.



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