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Ainda na esperança talvez de que valha o risco.

sexta-feira, 28 de julho de 2017



Há alguns anos eu estava ouvindo um podcast no qual os participantes debatiam sobre as mudanças pelas quais passamos ao longo dos anos, sobre como nossas experiências nos afetam com o tempo, pra melhor ou pior. Foi quando, em certa altura do programa um deles, um rapaz bem casado, com um bom circulo de amizades estabelecido, disse algo com o qual eu me identifiquei bastante. Disse que hoje, depois de adulto havia perdido a paciência com muitas coisas que tinha quando era mais jovem, como por exemplo fazer novos amigos, conhecer pessoas, se relacionar. Que pra ele, isso se tornou um processo cansativo, algumas vezes até enfadonho, dependendo da receptividade da outra pessoa.

Desde criança sempre tive muita dificuldade em me relacionar. Apesar de ter amigos, fazê-los era complicado, sempre fui muito tímido, inseguro, covarde e em consequência disso, bastante seletivo. Não me aproximo de qualquer um e não deixo qualquer um se aproximar de mim. Nas vezes em que permiti isso acontecer me dei muito mal, pois acima de tudo busco amigos e amores que compreendam minhas necessidades e carências e que as respeitem.
Buscando aceitação, muitas vezes tornei-me um livro aberto e alguns, ao vislumbrarem minhas fraquezas se aproveitaram disso. De minha parte, ao invés de aprender logo com meus erros e mudar, insistia em tentar de novo e de novo, acreditando que se me esforçasse ao extremo, muitas vezes me anulando em prol da outra pessoa, ela compreenderia o quanto necessitava dela. Mas tudo o que conseguia mostrando minha fragilidade ao outro era ser motivo de pena, piada e muitas vezes alvo de humilhações.

Não sei dizer ao certo se hoje mudei por ter aprendido a lição ou se apenas me retraí por medo de continuar me decepcionando, machucando, mas raras são as pessoas com as quais me sinto plenamente a vontade. Recentemente, durante um jantar oriental com um amigo, amigo esse que por acaso se encaixou muito rapidamente no meu grupo de pessoas amadas, eu externei isso. Embora quem me conheça já tenha me dito que admira como parece fácil pra mim demonstrar meus sentimentos, conversar sobre minha vida, meus medos, meus amores e desamores, acredite, não o é. Quer dizer, mesmo que eu consiga colocar em palavras as coisas que sinto de forma clara, não significa que durante o processo eu não esteja com medo, pois seja como for estou correndo um risco. No momento em que decido fazê-lo, estou optando por sair de dentro do meu casulo protetor e mostrar ao outro que, dependendo do que ele fizer, posso ser facilmente ferido.

A forma como encaro minhas amizades, minhas verdadeiras amizades parece simples, mas é importante que elas compreendam que se digo que elas são importantes pra mim, se tento fazer algo por elas, se me disponho a estar com elas e a abrir meu coração pra elas, mesmo temeroso de que elas se assustem com a escuridão que eu carrego, é porque as tenho na mais alta estima, mesmo que as vezes não pareça tanto, que não consiga demonstrar ou que opte por não fazer isso, com medo de assustá-las. Afinal, compreendo que nos dias de hoje, quando a maioria das pessoas ergue um muro em torno de si por proteção, por medo de se machucar, topar com alguém disposto a expor-se assusta um pouco.






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