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Sobre um início de ano diferente, até que enfim.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019




Comecei o ano de 2019 com uma novidade, uma maravilhosa novidade, particularmente para mim: Depois de 42 anos de vida tive a oportunidade de ver a praia e o mar pela primeira vez.
Sempre me senti um idiota inferior por nunca ter conseguido fazer isso antes e confesso que meu lado pessimista sempre falou mais alto, eu acreditava que fosse morrer sem conseguir conhecer a praia. Desde pequeno sempre via na TV, nos filmes e novelas, telejornais as pessoas passando suas férias no litoral, se bronzeando tomando banho de mar e sonhava em um dia poder fazer isso também, mas era um sonho distante, pois sou de família pobre e o pouco que ganho uso para mim e para ajudar nas despesas da casa, nunca me sobrou dinheiro para fazer uma viagem significativa. Vez ou outra viajo com meus amigos para cidades da região do Estado de São Paulo e amo muito, tanto o passeio quanto as companhias, principalmente as companhias, pois sempre me sinto muito solitário na maior parte do tempo, mas até hoje nunca pude fazer uma viagem internacional e até o final de 2018, como já disse, nunca tinha visto o mar e acreditava que jamais veria.

Contudo tenho uma prima que se mudou com a família para a cidade litorânea de Peruíbe, próxima à Santos e já faz um bom tempo que ela vinha me convidando para passar uns dias com eles. Sempre protelei pois, como disse, é complicado para mim conseguir economizar. Além do mais, mesmo agora, beirando os 43 anos ainda sou inseguro quando se trata de coisas as quais nunca fiz. Comprar passagens, fazer as malas e ir para o litoral era uma delas, mas minha prima insistiu muito e apesar do medo da viagem, era algo que eu também queria, uma oportunidade que me arrependeria se perdesse. Ainda me restava uma semana de férias e queria aproveitar ao máximo. Depois de muita indecisão, roer as unhas, ter dor de barriga e quase desistir, decidi aceitar o convite e aproveitar minha última semana de férias criando lembranças marcantes. Minha prima veio para Bauru, onde moro e daqui fomos para Peruíbe. Confesso que mal consegui dormir ou comer na noite anterior, tamanho meu nervosismo em encarar essa inédita aventura, mas fiz as malas, besuntei-me de protetor solar e fomos.

Costumo dizer que, nas raras vezes quando viajo, acabo curtindo não apenas o destino, mas também o trajeto. Gosto de ir na janela e ficar observando o horizonte e os campos. Nessa viajem para Peruíbe eu desci a serra, então pude contemplar as montanhas e florestas, as rodovias passando uma sobre a outra. Para mim, que pouco viajo é algo realmente mágico.
Quando passo por cidades as quais nunca vi, uma sensação estranha me toma, um misto de novidade e familiaridade.

A Rodoviária de Santos me assustou um pouco. Não é gigantesca, mas a diversidade de pessoas que vi por lá me intimidou. Além do mais, da plataforma de embarque você consegue avistar o morro, tão imponente, um paredão gigantesco de rocha e verde, repleto de casas umas sobre as outras. É de tirar o fôlego. Olhando tudo ao redor até me peguei cantando mentalmente a música de abertura da novela Senhora do Destino, pra mim essas novidades tão comuns para tantos, são extremamente surreais.
Não posso afirmar com certeza, mas creio que numa rodoviária como a de Santos devam circular pessoas do Brasil todo e isso me encantou demais, me senti num filme.


Chegando em Peruíbe, descemos do ônibus e fomos direto para a casa das minhas primas, a alguns quarteirões de distância, descansamos boa parte do dia e depois descemos até a tão esperada praia. A casa dela fica a uns 8 quarteirões do mar e por um tempo você não consegue avistá-lo, mas conforme vai chegando perto começa a ouvir o som das ondas. Então, quando finalmente cheguei perto e pude ver tudo com clareza, confesso, me faltou ar. Toda aquela imensidão de água sumindo no horizonte, meu Deus!
Eu não gosto de pagar mico com nada, mas acredito que aos olhos dos outros eu devo ter parecido uma criança pequena abrindo um presente muito desejado. Entrei no mar meio sem jeito, me desequilibrando, afinal nunca tinha sentido as ondas batendo em mim daquela forma, eu ria sozinho, parecendo um bobo, abrindo os braços para deixar a água me acertar. Em vários momentos me peguei rindo alto.


Sei que a água do mar é salgada, pois ouvi isso durante toda a minha vida, mas nunca pensei que fosse tanto. Quando levei a primeira onda no rosto tomei um susto, não apenas porque quase fui derrubado, mas também pela quantidade de sal que engoli. Minha pressão deve ter ido as alturas.
Eu acreditava que, por se tratar de uma cidade litorânea pequena, talvez a praia fosse sem graça, como essas prainhas de cidades do interior do estado, na beira dos rios, mas não, quando vi a magnitude da cena, as montanhas e ilhas no horizonte tive de conter as lágrimas, o que foi bem difícil, já que água salgada no olho dói, dói muito, mas a experiência compensa tudo.
Esse começo de 2019 ficará marcado na história da minha vida como o ano em que vi o mar pela primeira vez, que expus meu corpo sem vergonha alguma e que me senti de fato livre. Uma experiência a qual, não sei quando, não sei como, pretendo com certeza repetir.










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