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Adapte-se

terça-feira, 7 de abril de 2020


Durante seu discurso em 1963, o professor Leon C. Megginson da Louisiana State University proferiu a seguinte frase: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas sim o que melhor se adapta às mudanças”. Nesse discurso ele apresentou sua interpretação da ideia central de "A Origem das Espécies" de Charles Darwin. 

Há quem diga que, por natureza o ser humano é altamente adaptável. Já eu acredito que ele é apenas adaptável ao que lhe convém, quando o ambiente ou a situação não alteram o seu modo de vida, sua rotina de forma radical. O homem está tão acostumado a moldar o meio em que vive, fazer com que o ambiente se adapte a ele, que quando acontece o contrário, simplesmente não sabemos como lidar. É de nossa natureza querer controlar, não sermos controlados. 

Somos tão apegados ao controle, a rotina, sabemos que na verdade não podemos controlar as coisas ao nosso redor, mas nos é fundamental sentir que temos controle ao menos sobre nossas próprias vidas, as decisões que tomamos. Afinal temos esse direito, não é mesmo? Somos seres “racionais” (embora pra mim esse isso seja questionável) e temos o livre arbítrio, acredite você que ele tenha sido nos dado por Deus ou não. Então, nos vermos presos em situações nas quais somos obrigados a obedecer, a abrir mão, a esperar, situações que esfregam em nossa cara o quanto nossa noção de controle é frágil, com certeza é frustrante. Frustrante, irritante e amedrontador. 

O medo gera reações adversas em todos os seres vivos. Das duas, uma: diante do perigo ou você foge ou você ataca, seja um marimbondo ou um ser humano. Vendo as coisas por esse ângulo, conseguimos perceber o quanto essa pandemia, essa “coisa” tão irreal que para muitos só podia acontecer em livros ou filmes está nos afetando. É algo tão surreal que nossa mente, numa função defensiva acaba se negando a aceitar muitos de seus aspectos. O que nos leva a perceber que muitas dessas pessoas que são contra a quarentena, que se negam a acreditar na gravidade da situação, que dizem que a imprensa está exagerando e fazendo um drama com tudo isso não são burras, talvez elas apenas estejam com mais medo que você. E essa é a forma delas de lidar com isso. Claro que, sim, algumas pessoas são burras mesmo, não há como negar e o nosso presidente está aí para nos provar isso. 

Temos o time de quem acredita que isso é “apenas uma gripezinha”, que a maioria está exagerando, está enganada, que não há motivo para pânico e tem a galera (na qual eu me incluo), que apesar de saber que cedo ou tarde isso vai terminar, porque tudo o que começa um dia termina, sabe que o buraco é bem mais embaixo e que estamos vivenciando um acontecimento que está mudando as coisas, nos obrigando a abdicar, obedecer, nos adaptar. E isso para muitos acaba sendo um problema.

Como todo mundo, estou de saco cheio dessa quarentena, estou com medo, temendo pela minha vida, da minha família, dos meus amigos, temendo pelo meu emprego, enfim, por muitas coisas. Como todos, sinto que não tenho mais controle sobre o mínimo que eu achava que tinha, torcendo pra que tudo isso acabe o quanto antes e que eu possa retomar a minha vida normal, minha rotina. Como todo mundo, estou tenso, irritado, indo dormir noite após noite desejando que na manhã seguinte tenhamos alguma boa e esperançosa notícia. Mas o caso é que, temos que ter consciência de que isso pode demorar mais do que desejamos, não na semana que vem, não no mês que vem, talvez nem no seguinte, então o que podemos fazer é o que a natureza nos está obrigando: nos adaptar a essa nova realidade que ela nos impôs. Somos inteligentes e cientificamente avançados em relação ao que já fomos (outra coisa relativa, do meu ponto de vista), mas em termos de força a natureza ganha e tentar brigar de cabo de guerra com ela só vai machucar sua mão.

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