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Sobre brinquedos antiestresse, lentes multifocais, inoculações dolorosas e TV aberta

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Começo o texto dizendo que tive de buscar no Google a forma correta de se escrever antiestresse. É uma palavra a qual percebo agora, raramente precisei usar, embora seja uma pessoa naturalmente estressada. Irônico.

Fico feliz em anunciar que finalmente, no último dia 27 de agosto, um dia depois do meu aniversário de 45 anos, fui inoculado com a segunda dose da vacina Astrazeneca. Nunca fui grande fã de agulhas perfurando minha carne, mas diante dessa tragédia que se abateu sobre todo o planeta Terra recebi a picadura de bom grado. Do jeito que o país tá andando pra trás graças ao maligno Presidente Jair Bolsonaro e seus acéfalos asseclas, fiquei receoso de que, quando chegasse o dia para minha segunda dose não houvessem mais vacinas disponíveis, mas ao que parece, assim como nosso ex-presidente Collor eu nasci com o saco roxo e dei sorte. Não que até hoje eu tenha entendido o que raios tem a ver ter sorte com nascer com as bolsas escrotais roxas.

Assim como aconteceu quando recebi a primeira dose, tive alguns efeitos colaterais no dia seguinte, mas nada comparado ao que muitos amigos e conhecidos meus relataram, tipo febre alta e a sensação de terem sido pisoteados por uma manada de aliás prenhas. Tava com esperança de pelo menos desenvolver incríveis poderes reptilianos e sair pelas ruas a noite, combatendo o crime e me anunciando como o Crocodilo das Trevas ou outro nome maneiro de super-herói, mas não, só tive uma leve dor de cabeça mesmo, a qual curei rapidinho com 30 gotas de Dipirona e uma puta dor no braço, já que a enfermeira, apesar de simpática tava com a mão pesada no dia, chegou a me tirar sangue com a agulhada. Dei até um gritinho na hora.

Muito feliz também pelo fato de ter conseguido me adaptar às minhas novas lentes multifocais em apenas poucas horas. Uso óculos desde os meus três anos, geralmente me adapto muito facilmente quando o oftalmologista altera meu grau, mas o caso é que sempre usei lentes com um único grau definido. Todavia o tempo passa, a idade vai avançando e é natural que nosso corpo e nossos sentidos não sejam mais como quando éramos jovens. E pra quem já tem problemas de visão eu garanto que a tendência não é melhorar. Letrinhas pequenas, tipo de bula de remédio ou rótulos de shampoo se tornaram um problema pra mim nos últimos anos. Eu, que me considero nerd e amo histórias em quadrinhos, diminuí minha frequência de leitura por me cansar muito facilmente ao me esforçar pra ver as letras nos balõezinhos de fala.
Sempre ouvi falar dessas tais lentes multifoicais e do quanto é difícil para algumas pessoas conseguirem se adaptar ao seu uso constante. Muitos alegam que enxergam as coisas de forma distorcida ou embaçada, então, piadinhas ridículas à parte, não era algo que eu me imaginava usando ou via com bons olhos.

Busquei a opinião de dois oftalmologistas diferentes nos últimos três anos e ambos, depois de um exame minucioso em meus globos oculares me recomendaram o uso de multifocais. Com medo de não conseguir me adaptar, tropeçar na rua, bater a cabeça, ter um traumatismo craniano e morrer, evitei o quanto pude, mas como disse o meu oftalmo durante a última consulta, depois que passamos de uma certa idade certos problemas de saúde são inevitáveis e temos que aceitá-los e tentar corrigí-los da forma que for possível. E nesse meu caso em particular era fazendo lentes multifocais, as quais não sei se vocês tem ciência, não são nada baratas. E a menos que você tenha dinheiro sobrando pra jogar fora ou usar no lugar de papel higiênico, gastar quase R$ 1.000,00 numa coisa a qual você não tem certeza se vai conseguir se adaptar ou não é bem estressante e amedrontador. Por sorte o meu saco roxo, acompanhado de uma boa dose de otimismo (essa foi a parte mais difícil) funcionaram e hoje, quase um mês depois de estar com óculos novos, é como se eu tivesse sido expelido do útero de minha mãe com eles.

Na semana passada fui até à lanchonete do Campus buscar um copo de cappuccino pra minha chefe e enquanto esperava a atendente preparar a dulcíssima beberagem me sentei um pouco e fiquei assistindo a TV do local. Acho que não demorou uns três minutos pra moça finalizar o meu pedido, mas foi tempo o suficiente para que eu me lembrasse do porque já não assisto aos canais de TV aberta há vários anos, com exceção de alguns telejornais e documentários. Tava passando um desses pogramas evangélicos, sei lá de qual pastor e o cara tava berrando feito um louco, falando mais sobre o demônio e suas artimanhas do que sobre Deus e suas Graças, pra variar, afinal uma das formas de controlar pessoas psicologicamente fracas é incutir medo nelas, todos sabemos. Cercado por uma multidão, o cara tava entrevistando uma das fiéis que chorava compulsivamente alegando que o Diabo fez de tudo para que ela não conseguisse chegar ao culto naquele dia, parece que ela escorregou no banheiro, levou um tombo ou coisa parecida, mas munida de toda sua fé, com seu cosmo elevado ao máximo, tal qual um Cavaleiro do Zodíaco, ela se levantou e foi. UAU!

Na mesma lanchonete, uns dias antes, fui buscar um empadão de frango só pra abrir o apetite pra hora do almoço e fiquei novamente assistindo a TV enquanto esperava ser atendido. A bola da vez era um desses programas matinais de fofocas sobre celebridades. Muito empolgado, como se aquele fosse o maior programa da TV brasileira, o cara começou a anunciar para o próximo bloco uma notícia quente, uma bomba, foi o termo que usou: A famosa e vulgar (esse segundo adjetivo é de opinião particular minha) cantora Anitta está passando por graves problemas financeiros e está no vermelho, fodida, endividada. E agora? Seria verdade? Seria mentira? O que está acontecendo? Conseguirá a cantora sair dessa pindaíba? Vamos descobrir no próximo bloco, não saia da frente da TV!
Ouvindo isso, não sei o que me deixou mais revoltado, o cara anunciando a matéria com um tom de gravidade e importância, como se fosse o atentado de 11 de setembro às torres gêmeas ou se é o fato de saber que naquele momento, milhões de pessoas estavam mijando nas calças de curiosiade para saber mais, acreditando de fato que talvez o seu querido ídolo esteja na pior, o que com certeza não é verdade por dois motivos que são: 1 - ela é rica pra caralho e 2 - apesar de vulgar, não se pode negar que ela administra muito bem os próprios negócios. Burra ela não é.
Já faz um bom tempo que, todas as vezes que vou ao centro da cidade tenho visto na porta dessas lojas de bugigangas importadas um negocinho colorido, bonitinho até, nas cores do arco-iris e bastante chamativo, em vários formatos e tamanhos. Lembro que meu primeiro pensamento foi "puxa, que bonitinhas forminhas de gelo. Devem fazer bolinhas bonitinhas na bebida". Pensei isso depois de passar por uma loja e ver pela primeira vez, mas aí, uns cinco passos depois percebi que era uma espécie de infestação. Pra qualquer lugar que eu olhasse as entradas das lojas e os camelôs tavam cheios desse negócio. Me perguntei o que caralhos tinha de tão especial nessas forminhas de gelo pra, pelo visto, terem virado a sensação do momento da noite pro dia.

Depois de percorrer uns sete quarteirões e perceber que, seja lá o que fosse esse trequinho, estava em todos os lugares, comecei a pensar que se tratava de um produto LGBTQIA+, que a parada da diversidade tivesse começado mais cedo e bem no meio de uma pandemia. Curiosamente não me interessei em nenhum momento por chegar perto, pegar um e ver o que era. Se não fossem forminhas de gelo gay seriam o que? Waffles de plástico? Pandeiros? Enfeites de parede? Qual era o lance de tantas bolinhas e porque tão colorido? E o mais interessante é que o negócio tava vendendo que nem água.

Só recentemente, consumido pela curiosidade decidi pesquisar sobre isso e descobri que se trata de um brinquedo antiestresse, macio, bonitinho, no qual você fica apertando as bolinhas pra relaxar, mais ou menos como aqueles plásticos-bolha no qual alguns produtos vem embalados. Esses plásticos são realmente viciantes, mas quanto ao trequinho não sei, não testei ainda e sinceramente não tenho interesse, já que com o preço do negócio eu compro um pacote de arroz. Além disso, brinquedo por brinquedo antiestresse, eu tenho o meu, que nasceu comigo. Saudade de usá-lo.

2 Divagações

  1. A tv aberta é deprimente mesmo. Nos faz lembrar do funcionamento bizarro deste mundo. Tempos atrás só estava assistindo telejornais para saber quando começariam a aplicar vacinas pro povo da minha idade. Fiquei sabendo, tomei, nunca mais vi tv aberta.

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    1. É um dos motivos do porque, apesar de ficar com uma conta a mais no lobeto cambário, não cancelo a Netflix. Tirando a Inter Rede é a minha única forma de fugir da realidade cruel mostrada pela terrível TV aberta.

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