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Sobre nossos demônios interiores, férias surtadas de natal e comportamentos infrutíferos

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Decidi começar o ano de 2022 de forma mais contida em relação a tentar manter tanto contato com as pessoas, sejam elas familiares, amigos ou só conhecidos, pelo fato de perceber que venho há muito tempo gastando energia demais com isso sem ter a reciprocidade esperada.
Quem me conhece sabe que, devido à minha carência e solidão gosto muito de conversar, interagir, compartilhar minha vida com aqueles os quais confio e tenho apreço e, agindo dessa forma, acabo ingenuamente esperando que o outro faça o mesmo, que ao perceber o quanto eu deposito minha confiança e meu amor nele, acabe se sentindo confortável para retribuir na mesma moeda.

Na ânsia por diálogo estou sempre tendo a iniciativa de puxar conversa, enviando mensagens de bom dia, boa tarde, boa noite, às vezes tentando conversar sobre um determinado assunto o qual sei que é do interesse da outra pessoa, querendo propor um dia para sairmos juntos, nos encontrarmos, mas na maior parte do tempo isso se mostra pouco eficaz. O papo não se estende muito e acaba sendo quase um monólogo protagonizado por mim, com a outra pessoa somente dando respostas rápidas às minhas perguntas ou às vezes demorando dias para dar um retorno quase que monossilábico. E se dou sinais de saudade, propondo um encontro ou um passeio, a única resposta que tenho na maioria das vezes é aquele clichê: "Pois é, vamos marcar sim, precisamos sair sim, vamos nos ver sim, assim que der", mas na prática nada é de fato combinado entre as partes, por mais que eu ofereça opções.

Optei por iniciar o ano com essa postura, não apenas por me sentir idiota, insistindo em um comportamento infrutífero, mas também porque tenho certeza de que a outra pessoa se cansa de minha insistência em querer conversar e acaba me dando respostas apenas por mera gentileza ou pena, pois caso fosse interesse real dela em manter um diálogo mais longo, me contar sobre sua vida mais detalhadamente ou marcar um passeio, o faria. Contudo, se for colocar esses dois pesos na balança, diria que estou tentando mudar meu modo de agir mais pela minha própria saúde mental e bem-estar do que pela outra pessoa. Como disse, já há um bom tempo venho me sentindo idiota em insistir em querer estar e interagir com pessoas que não desejam o mesmo para comigo. Então, mesmo correndo o risco de ser mal interpretado, sinto que estou agindo de forma correta, me valorizando.

Não é como se de agora em diante eu fosse me fechar totalmente, não puxar mais assunto com ninguém, nem tentar fazer convites pra passeios, claro que não. De vez em quando, nos meus piores dias de fato tenho vontade de sumir, ignorar todo mundo e até mesmo ser grosso com quem vier me procurar, mas tenho plena consciência de que agir assim além de extremismo é de uma infantilidade sem tamanho, afinal é injusto culpar o outro pela sua carência e solidão, por qualquer tipo de vazio que você sinta, é difícil, mas você precisa se bastar. E por "se bastar", não digo se isolar do mundo, do convívio social, evitar novas amizades ou achar que não precisa de ninguém, não precisa de amigos, mas procurar se esforçar o quanto puder para não se tornar dependente do outro ao ponto de sua felicidade depender unicamente de que alguém sempre esteja ao seu lado, isso seja num romance ou numa amizade.

Com frequência tenho ouvido de um amigo meu que ele já não espera mais nada de ninguém, no sentido de retorno, gratidão ou reciprocidade, pois assim ele não se decepciona (espero sinceramente que isso não se aplique a mim). É uma regra bem básica de fato: se você não espera nada e receber nada, você já tá no lucro e não se frustra. E embora eu concorde com ele em 101%, pra mim, é claro, é bem mais difícil, embora mesmo que não pareça eu esteja me esforçando pra seguir por esse caminho.

No mês passado, dezembro de 2021, durante os 30 dias nos quais gozei de minhas merecidíssimas férias, consegui surtar bastante por conta do isolamento e da solidão. Como disse na postagem anterior a esta, eu me esqueço de que quem entrou de férias fui eu e não os outros, que o tempo livre que cada um tem é diferente, que embora nos finais de semana eu tenha tempo livre e sofra por companhia, os outros estão n'outra sintonia, com suas próprias rotinas e, mesmo que também tenham tempo livre, não são obrigados a usá-lo comigo, só porque eu gostaria de usar o meu com eles. Vendo por um ponto de vista vitimista parece injusto e triste, mas acaba que é a realidade e lutar contra isso só traz frustração e revolta. Mas a parte complexa é, o que fazer quando tentar aceitar a realidade também te causa o mesmo?

No final tudo se resume a uma luta interna. Na revolta, na frustração achamos que estamos lutando com os outros, que eles tem a obrigação de corresponder às nossas expectativas e que nos devem algo, que estamos travando uma disputa de cabo de guerra e que se você continuar insistindo em puxar a corda, cedo ou tarde vai trazer o outro pra junto de você, mas a verdade é que estamos travando uma disputa solitária com nossos próprios demônios interiores, não é o outro que está na outra ponta da corda na disputa, mas sim um reflexo sombrio seu, distorcido em si mesmo e que enxerga as coisas distorcidas também.

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