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Sobre juntar caquinhos, satisfações irrelevantes, horas extras no trabalho e mensagens inesperadas

domingo, 5 de junho de 2022

Uma nova semana começando, a semana de trabalho anterior encerrada e no geral o saldo foi positivo. Muita sobrecarga de trabalho, salário baixo, mas no frigir dos ovos estou empregado e podendo pagar minhas contas e comprar minhas coisas, mesmo que aos poucos e em trezentas prestações. Muita gente, principalmente com o advento da pandemia não tem essa sorte.

Nos últimos anos, mais especificamente desde o final de 2019, tenho tentado viver minha vida de uma forma mais branda e contida, sem envolver demais outras pessoas no meu convívio e nos meus planos. Não é que eu esteja me isolando socialmente, longe disso, é só que venho repensando muitos pontos do meu comportamento, fazendo um grande esforço para aprender com os meus erros, corrigir minhas falhas de caráter, me valorizar e acima de tudo me amar mais. Grande parte desse desejo de mudança, de melhoria, se deve a algo que aconteceu no final de 2019, envolvendo duas pessoas as quais eu considerava parte do meu grupo de melhores amigos, irmãos até.

Depois de passar alguns dias hospedado na casa de ambos, na cidade de Juiz de Fora, o que considero ter sido uma das melhores viagens de minha vida até o momento em termos de divertimento, voltei pra Bauru onde moro e, durante um bate-papo virtual fiz uma brincadeira dizendo alguma coisa idiota sobre ter feito uma mandinga para segurar um garoto pelo qual eu era apaixonado, um amigo nosso em comum. Quem me conhece de verdade sabe que eu adoro falar idiotices e baboseiras. O caso é que quando falei isso, um deles me levou a sério e ficou indignado, inclusive me acusando de ser o causador de muitos dos problemas do garoto, tendo feito eu o tal “feitiço”. E mesmo eu tentando explicar que havia feito uma piada, que apenas estava brincando, ele não quis ouvir, abandonou a conversa e se recusou a falar comigo ou me responder.

Fiquei bastante chocado, pois imaginava que assim como outros amigos meus, os dois me conhecessem bem o bastante para perceberem que eu estava brincando quando disse aquilo, mas não.
Depois disso insisti durante vários dias, tentando conversar com ambos e lhes explicar que estavam enganados sobre mim, mas sem sucesso. Enquanto um deles, o mais importante para mim, simplesmente se recusava a falar comigo, mesmo com nossa amizade de mais de dez anos, quem respondia minhas mensagens era o, na época, namorado dele, um garoto que apresentei para meu amigo meses antes e que, depois de enganar os pais, se mudou para Juiz de Fora para viverem juntos.

Como disse, de minha parte insisti bastante para resolver tudo, inclusive admitindo várias das minhas falhas de caráter para ambos e pedindo para que, apesar disso, tentassem entender que não sou uma má pessoa. Olhando pra trás hoje, sinto até um pouco de vergonha, pois me humilhei até bastante no processo, mas sou da opinião de que tudo pelo que passamos, de bom ou de ruim é um aprendizado, como sempre digo.
Bem, o tempo passou, ambos optaram por romper relações comigo e eu decidi fazer o mesmo. E falando assim parece que foi algo fácil, mas não. Como disse, conhecia esse meu amigo há mais de 10 anos e havia criado com ele laços muito intensos. Descobrir depois de todo esse tempo o que ele realmente pensava sobre mim, me machucou bastante. Contudo eu senti que era o melhor a ser feito, pois em momento algum eles me consideraram inocente de suas acusações. Coisas assim acontecem, pessoas entram e saem de nossas vidas, às vezes de um jeito bom, noutras de forma bem dolorosa. É um saco, mas acaba que temos que seguir em frente e tentar juntar os caquinhos cada vez que algo assim acontece.

Na última quarta-feira, no dia 1º de junho de 2022, tive de ficar até bem tarde no trabalho para fotografar um evento. Perto da hora de pegar a câmera e sair, eis que ouço um alerta de mensagem no meu celular, vou ver o que é e quase caio da cadeira. Entro no meu Instagram e vejo uma mensagem privada do garoto, o rapazinho que fugiu de casa para ficar com meu amigo. Me espantei, claro! Depois de tanto tempo, desde o início de 2020 sem qualquer desejo de contato, de repente lá estava uma mensagem dele. Detalhe que, não do meu “grande amigo”, aquele com quase dez anos de amizade, mas do garoto e oficial “porta-voz”. Confesso que minha primeira reação foi ignorar imediatamente a mensagem, apagar sem nem ler, afinal, o que é que eu tinha a ganhar com isso? Fosse qual fosse o assunto, mudaria algo do que houve? Mas idiota e curioso como sou, decidi ler e, dependendo de qual fosse o teor da mensagem, aí sim ignoraria.

"Desculpe estar enviando mensagem assim do nada, mas é que aconteceu algo e como você faz parte dessa história, achei que você deveria saber", ele começou digitando.
Ao mesmo tempo em que vê-lo entrando em contato comigo me irritou ao extremo, a forma como ele começou a mensagem me deixou bastante curioso. Como assim "aconteceu algo"? Alguém ficou doente, alguém faleceu? E também "você faz parte dessa história". Caramba! Será que do nada eles estariam me acusando de mais alguma coisa, me culpando por algo que eu nem fazia ideia? Pra depois de mais de dois anos e meio, assim do nada ele decidir entrar em contato comigo, só se for por um grande motivo. E embora ele tenha despertado minha curiosidade natural, não me dei ao trabalho de perguntar o que houve. O deixei prosseguir:

"Estou entrando em contato apenas para avisar que eu e o Raphael não temos mais a 'configuração' de casal. Ainda moramos juntos, mas não somos mais um casal".
Imediatamente após ler a frase toda me veio uma sensação de "Ué, mas por que caralhos ele tá...?". E ele continuou, se justificando mais uma vez com o que já havia dito de início: "Como você fez parte dessa nossa história, achei que você deveria saber".
Achei "configuração" engraçado. Confesso que deu vontade de rir.

Fiquei por alguns segundos digerindo a informação e ainda levemente mexido pelo fato dele ter se manifestado do nada, após esse tempo todo. Pensei em responder, é claro, da forma mais grossa e estúpida possível, xingá-lo até, afinal de contas, meu Deus, o que o fez pensar, por que passou pela cabeça dele que, depois da forma como eles me trataram, desprezaram minha amizade e simplesmente optaram por não me dar chance de defesa, me interessaria minimamente que fosse, saber o que eles estão fazendo ou deixando de fazer da vida deles? Contudo me segurei o máximo que pude, pois ficou imediatamente muito claro pra mim, que o que ambos queriam era ver qual seria minha reação diante dessa notícia. Mais do que isso, queriam confirmar as opiniões que eles tem sobre mim, de que sou uma péssima pessoa, que passa a vida desejando o mal de outros.

Já não me lembro bem quais foram minhas palavras mas, tentando manter a calma, disse a ele que não entendia o porque dele querer me dar essa notícia, que a vida de ambos, suas decisões não eram de minha conta, nunca foram e que de minha parte eles podem fazer o que quiserem. Pensei em terminar por aí, encerrar a conversa, pois já estava bastante incomodado. Estava em horário de trabalho, focado no que eu tinha que fazer e ele conseguiu me deixar bastante desconcertado ao entrar em contato, Todavia, dos muitos defeitos que ainda tenho, um dos piores e dos que mais me prejudica é, me irritar tanto com algo que não consigo ficar calado. Então, já pretendendo encerrar a conversa logo, apenas complementei com algo que já havia dito anos atrás. Talvez ambos acreditem, talvez não, sinceramente já não é mais relevante pra mim. O pouco de energia e boa vontade que tinha para com os dois, gastei na época tentando convencê-los de que estavam errados me julgando mal daquela forma. Hoje, pouco me importa se sentem algum tipo de remorso, se reconhecem que foram injustos comigo ou não. Decidi não mais perder tempo com algo irreparável.

Disse ao garoto que, mesmo eles não acreditando, amei o meu amigo Raphael mais do que ele mesmo pudesse imaginar. Nem sempre demonstrei isso, mas sempre o amei muito e fui muito grato por tudo o que ele já fez por mim. E que depois que os dois se tornaram um casal, estava aprendendo a amar o Danilo quase que da mesma forma, ainda mais depois deles terem me recebido tão bem em sua casa e me proporcionado tantas alegrias. Mas que agora, depois do ocorrido, depois de eu ter chegado a ficar um tempo doente, física e mentalmente pelo que houve, sinceramente o melhor a fazer é eles não me incomodarem mais, seguirem com suas vidas da forma que acharem melhor e me deixar seguir com a minha.

Horas depois, ainda abatido, contei para um amigo o que houve e ele me disse que eu não devia ter dito ao garoto que ele "estragou o meu dia", ao entrar em contato comigo, pois fazer isso é dar para a outra pessoa poder, deixar ela saber que tem o poder de incomodar você, de deixá-lo triste, você revela ao outro que tem uma fraqueza e como ele pode machucá-lo, caso queira. Concordei claro, mas como disse, sou bastante verborrágico e geralmente, quando quero dizer algo, digo logo, pois gosto com sinceridade que as pessoas saibam como me sinto.
Enfim, espero que depois disso o assunto se encerre, que eles, como eu recomendei, sigam suas vidas da forma que quiserem, juntos ou separados. As pessoas costumam dizer que certos relacionamentos quando terminam ou quando algo de ruim acontece entre duas ou mais pessoas, é como um vaso que se quebra em vários pedaços. Você pode até colar os caquinhos, deixá-lo inteiro novamente, mas ele jamais será como antes, terá para sempre as marcas do que houve.





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