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Sobre sungas, inveja, virgindade mal perdida e aprender com os erros.

terça-feira, 17 de novembro de 2009



Finalmente depois de muitos anos criei coragem e me matriculei na natação. Não sei nadar ainda, mas sempre adorei a água, sempre me senti livre dentro dela. Durante toda a minha vida me recomendaram natação e eu digo, vontade nunca me faltou. Como eu já disse, não tinha coragem, por conta da minha total ausência de auto-estima. Só de me imaginar apenas de sunga, o que para mim é a mesma coisa que estar praticamente nú, em uma piscina, exibindo meu corpo magro e pálido, já me dava dor de barriga. Preferia passar o resto da vida travado e sedentário do que arriscar fazer natação.


A inveja não é de todo ruim na verdade. Como todas as coisas ela tem o seu lado bom se você souber enxergá-lo e usá-lo a seu favor. Ao invéz de deixar a inveja consumir você, usar esse sentimento para se impulsionar e tomar algumas atitudes que precisam ser tomadas. Assim como decidi perder a virgindade porque descobri que o Ricardo já não era mais virgem a um bom tempo e isso eu não podia admitir (não o fato dele não ser mais virgem, mas o fato de eu o ser), decidi tomar coragem e entrar pra natação depois que descobri que o Rodrigo entrou, pelo menos foi a notícia que chegou aos meus ouvidos. Se eles podem eu também posso, não sou pior que nenhum dos dois.

A inveja, se não controlada consome você. Eu sou prova viva disso, venho me consumindo aos poucos nos últimos anos, comparando-me com Fulando, com Ciclano ou Beltrano e indo dormir a cada noite desejando acordar sendo um deles na manhã seguinte. Entrei no curso técnico por inveja do Paulo, perdi a virginade (só pra constar, estraguei o momento me apressando assim) por inveja do Ricardo e decidi entrar na natação por inveja do Rodrigo. E pra que? O que é que eu ganhei com isso e principalmente, o que é que eu os fiz perder com isso? Sim, porque como eu já disse, a parte legal da inveja não é você ter, mas sim o outro não ter.

Eu sou da opinião de que, quando você não consegue superar uma coisa, você tem que achar meios de transformá-la. As pessoas leigas e limitadas acham tudo muito fácil, para elas é tudo preto no branco. Se você está nervoso se acalme, se está triste, alegre-se, se sente raiva ou inveja, simplesmente pare de sentir. E as coisas não funcionam assim. Mudar não é impossível, mas também não é um processo instantâneo. Venho percebendo que pelo menos por hora, por mais que eu tente não sentí-la, a inveja vem em mim instantâneamente e naturalmente, quase como a fome, a sede. Quando eu percebo, já estou invejando. Acho que me acostumei tanto a desejar ter a vida do outro, a querer ser o outro, que isso se tornou parte da minha personalidade.

Certa vez eu ouvi de um psiquiatra na TV que manias, costumes são fáceis de mudar, mas a personalidade não. Como eu disse, não é impossível, mas exige da pessoa um esforço bem maior. A personalidade é algo bem mais arraigado (isso está até me ajudando no processo lento de perdoar as pessoas). O profissional disse que mudar a personalidade pode levar anos, isso com ajuda profissional e muita auto-análise. Bom, pelo menos eu estou no caminho né? Meu sobrenome é auto-análise. Então comecei a pensar: "Se pelo menos por hora não posso erradicar essa inveja de mim, por que não transformá-la em algo produtivo?"

Fazer o colégio técnico não foi de todo o mal. Descobri muitas coisas, me descobri. Descobri que odeio programação, que gosto de web design, descobri que não se deve apegar tanto a uma pessoa só. Descobri o pior de mim, mas também vi que algumas pessoas conseguem enxergar o melhor em mim, mesmo que eu não consiga, ou seja, eu entrei no colégio motivado pela inveja, mas lá dentro descobri que se eu quiser, posso moldar as coisas a meu favor.

Na pressa angustiante em perder minha virgindade para me sentir igual ao Ricardo, tive uma experiência péssima e estraguei um momento que, talvez se eu tivesse esperado mais, poderia ter sido bom e inesquecível. Descobri com isso que esse tipo de coisa tem mesmo a sua hora certa pra acontecer. Quando? Acho que muda pra cada um. Já com a natação foi um pouco diferente. Como eu disse, há anos que eu pretendia fazer, antes mesmo de conhecer o Rodrigo e desejar que ele morra. É lamentável que o motivo que me levou a criar coragem e tomar a atitude de começar tenha sido o ódio que eu passei a sentir por ele, mas assim como depois que estava dentro do colégio, assim como depois que fui ao puteiro, quando me vi embaixo d'água, de sunga, boiando e dando minhas primeiras braçadas rumo a uma melhor qualidade de vida, assim como o Obama eu disse "Sim! Eu pódo!"

Talvez as pessoas que estejam lendo isso me julguem um falso, como já vivem me julgando, um fraco, um coitado, mas eu não sei. Mesmo tropeçando tanto quanto eu venho tropeçando, mesmo perdendo tanto, não consigo deixar de sentir que estou aprendendo alguma coisa com isso tudo, mesmo que a passos de lesma (se bem que lesmas não dão passos, se arrastam). Talvez um dia eu consiga transformar todo esse féu dentro de mim em algo positivo e construtivo, não só pra mim quanto pros outros. Até lá, vou aceitando as chapoletadas que a vida me dá e tentando tirar esse ódio e essa inveja de dentro de mim, os quais por enquanto não querem sair.

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2 Divagações

  1. Eduardo, você fez bem em entrar na natação. Assim, você não passa pelo mesmo problema que eu passei, de ter que aprender a nadar na hora pra não morrer.

    Mudando um pouco de assunto, você continua filosofando, mesmo que a comunidade no Orkut (no antigo, ainda não tenho conta no novo) esteja parada... E eu gosto de ler suas filosofias, mesmo que muito delas seja pessoal.

    (Comentário rápido: ainda sou virgem, mas não sinto inveja de quem não o é... Eu sinto inveja de quem tem empregos melhores que o meu, de quem tem mais acesso a tecnologia do que eu, essas coisas... Na maioria dos casos, no entanto, é muito difícil de eu sentir inveja. Tudo que você precisa pensar é "Um dia eu também serei assim/terei isso", que a sensação de inveja some quase completamente. Comigo funciona.)

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  2. Eduardo, você já pensou se essas ideias que
    sua inveja te faz ter se tornassem reais?

    Digo, se todos seus desafetos se dessem mal,o que aconteceria?
    No começo você se sentiria vitorioso, porque provavelmente você sentiria que eles estão igualados ou então piores que você.
    Mas...e depois de algum tempo, com todo mundo no mesmo barco furado?
    Depois que você já estivesse acostumado com a situação e que ela não te causasse nenhum sentimento a não ser de tédio por já ser tão conhecida?
    O que viria depois?
    Ou isso iria te acalmar tanto a ponto de mudar o jeito como você se sente eternamente?


    Eu vejo inveja meio como medo. São sentimentos que não há como escapar mas que, ao invés, de deixar eles nos dominar, o mais saudável (pra nós, principalmente) seria dominá-los e os usando para, como você bem disse, se impulsionar e tomar algumas atitudes que precisam ser tomadas.

    Fato é que assumir que sente inveja é algo feio, monstruoso e que provoca mal. Tá, mas e daí? O fato de saber disso não vai fazer com que esse sentimento cesse, não?
    É como querer acabar com um sentimento ruim simplesmente fingindo que ele não existe...Não vai adiantar.
    Eu não entendo muito bem pessoas que esbravejam
    que não suporta inveja ou pessoas invejosas como se elas fossem deuses e que a inveja não fosse algo que elas sentem.
    Pra mim, soa meio como hipocrisia porque inveja é algo inerente à humanos (mesmo que você seja evoluido a ponto de já conseguir transformar inveja em admiração, um dia você também sentiu inveja).

    Bom,você acabou não falando muito da experiência da natação em si, mas parece que gostou, não?
    Parabéns por ter tido a coragem de ir!!
    Não desista da natação, você disse que sempre gostou de àgua, que é um ambiente que te faz bem. Então não afaste isso. É uma das coisas que você tem uma verdadeira ligação e não um do tipo ''não sinto nada por essa situação e só estou nela porque os outros entraram antes'', entende?

    E sim, também acho que você está aprendendo com tudo isso, o que é um caminho bom. Não se perca dele.

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