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Sobre novas goteiras, soltar os cachorros, falta de senso e vencer pelo cansaço

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Eu gosto de chuva, principalmente com o calor que vem fazendo nos últimos meses. Eu durmo melhor, fico mais calmo, de vez em quando, até arrisco sair sem guarda-chuva, só pra tomar uns pingos na cabeça. É como dizia o Raul Seixas: "A chuva, voltando pra terra traz coisas do ar". Só que do jeito que as coisas estão eu
já estou ficando estressado. Um dia, dois dias de chuva tudo bem, mas já não estou suportando mais toda essa água. As roupas não secam no varal, tudo parece úmido e o pior, goteiras. Deus, como eu odeio as goteiras aqui de casa. Se lembram daquele episódio do Chaves onde a casa da dona Florinda é cheia do goteiras e eles tem que pegar um monte de baldes? Pois é, aqui na minha sala e na cozinha é mais ou menos por aí mesmo. É aquele esquema de arrastar todos os móveis do lugar, cobrir o que for possível cobrir e esconder o que der. Odeio isso, ainda mais porque minha cama é no chão da sala mesmo. E como quando chove muito forte a sala vira um chuveiro, eu tenho que me espremer entre a TV e o Rack do pc. Detalhe: Só porque eu comprei um pc novinho, uma nova goteira resolveu aparecer bem em cima dele. Lá vou eu com mais um eletrodoméstico pra cobrir. Perdi a conta de quantos pares de meia coloco na roupa suja por semana, afinal, é sair e voltar encharcado, mesmo com o guarda-chuva em punho, aliás, tive que comprar um novo, pois o que eu comprei, mesmo sendo importado acabou desmontando na primeira chuva forte. Pelo menos o chinês de quem eu comprei na banca, disse que era importado. O que tem me feito não pirar com isso é ver o noticiário exibido no interior do meu aparelho televisor mostrando as inundações, destruição e morte causadas pela chuva em outros lugares. Pelo menos aqui são só goteiras, embora muito inconvenientes, mas estamos vivos e não perdemos nada.

Comecei o ano muito deprimido e continuo assim. Só quem passa por isso pra saber o quanto o desânimo é enorme. Se eu pudesse eu nem me levantava da cama, ficava deitado direto, só levantando pra comer e ir ao banheiro. É um vazio tão grande, uma desesperança tão imensa que não dá vontade de fazer nada, nem de puxar o ar pra dentro dos pulmões. Com certeza vocês devem considerar isso exagero, mas o fato é que quando voce está muito deprimido, parece que até respirar te deixa cansado. A medida em que o meu dinheiro no banco vai chegando no fim, vou ficando mais e mais tenso. Ainda tem o suficiente pelo menos até mais um mês, um mês e meio, mas depois disso a coisa vai feder.
Tenho mandado currículos pra alguns lugares e no jornal de domingo saem sempre de três à quatro páginas de empregos, mas apesar disso a grande maioria é pra vendedor, doméstica e outras coisas nada a ver. Esses dias fiquei até com ódio de um e-mail que recebi de uma antiga conhecida minha, eu contei a ela que estou desempregado e ela resumiu isso num simples: "Nossa, mas como é que você está desempregado? De domingo saem um monte de anúncios no jornal". Nossa, é uma daquelas ocasiões em que você tem vontade de ir lá onde a pessoa está e quebrar o pescoço dela com as mãos. Fico perplexo como as vezes as pessoas conseguem resumir as coisas dessa forma. Acho que vou recomendar pra ela também largar o emprego que ela está e pegar de açougueira, cuidadora de idosos, balconista ou serviços gerais. Tudo bem, tem sempre aquele povo que diz: "Quem quer realmente trabalhar, trabalha de qualquer coisa", mas já notaram que geralmente quem diz isso está empregado e na maioria das vezes, satisfeito com o emprego?

Embora desde criança eu tenha sido condicionado pela minha mãe a ver as cousas dessa forma, nem tudo na vida é nublado, tempestuoso e negativo. Nesse mês já recebi a visita de dois amigos aqui em casa, que como sempre não param de me surpreender com suas atitudes para comigo, mesmo eu sendo a pessoa complicada e difícil de lidar que sou. Minha amiga Liene, com a qual fiz o colegial muitos anos atrás veio me visitar com o noivo. Ela está grávida, já no sétimo mês. Terminei o colegial em 1994 e desde então ficamos anos e anos sem contato, óbvio que, como sou absurdamente carente eu fiquei morrendo de ódio dela, já que é de meu costume sempre acabar amando a meus amigos mais do que a eu mesmo. Então, quando ela foi cuidar da vida dela e não deu mais sinal de vida, não respondeu mais as minhas cartas (naquele tempo ainda não tinha internet, acreditem crianças) eu realmente fiquei magoado, achando que ela havia me esquecido para sempre. Contudo, assim como o açucar, a invenção do MSN e do Orkut promove a união e há uns dois anos nos encontramos novamente e voltamos gradativamente a nos falar. Gradativamente devido a mim, já que aproveitei e soltei os cachorros em cima dela, dizendo o quanto me senti desprezado por ela nesses anos todos. E apesar de tê-la feito chorar com isso, como ela mesma me contou depois, hoje em dia não me arrependo mais em ser franco com as pessoas seja para o bem ou para o mal. Gosto que o outro saiba realmente o que eu senti ou sinto, tenha isso um resultado positivo ou negativo. Desde que adotei essa postura perdi "amigos" às pencas, pois as pessoas por natureza gostam de ouvir o que querem ouvir e não o que você tem a dizer sobre elas, mas em compensação serviu também como um filtro, um funil violento. Hoje, tenho pouquíssimos amigos, não preciso das duas mãos para contá-los, mas em compensação são os que ficaram, os que parecem realmente se importar comigo independente da pessoa imperfeita que eu seja, e isso é raro, ainda mais hoje em dia. É o caso dessa amiga minha que apareceu novamente, dizendo que nunca se esqueceu de mim e que me ama como a um irmão. Meu Deus, é tão bom ouvir isso de alguém, um "te amo" é realmente bom. Eu não quero muito dos outros, só isso está bom, e todas as vezes que nos falamos ela sempre termina com um "eu te amo". Tem como resistir a isso? O noivo dela é a simpatia em pessoa e foi com a minha cara (o que é muito importante) e a criança que está no ventre dela ao que parece, simpatizou comigo também. Gostar de você, achar você legal, boa gente, qualquer um pode achar, agora, dizer que te ama é coisa difícil. É como uma frase que ouvi outro dia na novela das sete: "Adorar todo mundo diz que me adora, isso é fácil. Mas quem é que me ama?".
O meu amigo Adriano também apareceu, trouxe o tênis que eu "imbecilmente", num momento de falta de senso, pedi no blog. Amei o presente de ano novo, mas dizer que não leu o post do blog eu não engulo nem com um copo d'água. Acredito em coincidências na vida, mas minha ingenuidade tem limites. Todavia como eu disse, amei o presente e acima de tudo o ato do rapaz. Eu estou numa fase complicada da minha vida e apesar de estar sofrendo com isso, não consigo deixar de lado a sensação de que preciso disso, preciso passar por isso pra perceber algumas coisas. Há alguns anos atrás eu tive um forte desentendimento com um outro amigo meu, ficamos mais de um ano sem nos falar, eu realmente cheguei a pensar que estivesse tudo acabado, que jamais voltaríamos a nos entender ou mesmo nos dar bem. O caso é que o tempo passou, as coisas foram mudando, ambos amadurecemos, eu admiti meus erros, ele admitiu os dele e hoje nossa amizade é melhor e mais madura do que antes, então apesar de eu achar irritantemente clichê, esse negócio de deixar o tempo se encarregar das coisas as vezes funciona bem.

No caso do Adriano está sendo algo mais ou menos parecido, eu optei por nos afastarmos. Faz parte da minha natureza, quando eu não consigo lidar com uma coisa eu me afasto dela, desisto permamentemente ou até eu aprender a lidar com aquilo. Como ele mesmo disse para a minha prima, estamos num período das nossas vidas onde nossos assuntos não estão mais em sintonia. Apesar de eu já saber que não temos controle nenhum sobre a vida de ninguém a não ser a nossa, eu sempre fico bastante perdido quando as pessoas que eu amo tomam um rumo na vida fora do que eu tinha planejado ou que não me inclua 101% nele. Coisas como arrumar uma namorada ou se casar. Onde é que eu entro nisso? Então quando coisas desse tipo acontecem, eu realmente prefiro sair de cena, não pelo outro, mas por mim. Ficar perto dói mais do que o afastamento na verdade.
Eu tenho pra mim que tudo tem um lado tanto negativo quanto positivo. Por pior que seja algo que lhe aconteça, no final das contas você sempre tira algúm proveito disso. Isso não significa que você não vá sofrer, se magoar ou magoar as outras pessoas, você perde, você ganha, mas no final a coisa sempre está diferente.
Eu não tenho mais raiva do meu amigo Adriano, nem ódio, nem quero que ele morra. O tempo se encarrega de transformar alguns sentimentos, outros não. Algumas mágoas passam mais depressa, outras não, algumas nunca passam. Gozado o senhor tempo.
Tenho pensado sobre o que ele disse: "Nossos assuntos não estão mais em sintonia", e tenho me perguntado se isso tem um lado tão ruim assim. As vezes as coisas quando ficam muito tempo paradas num mesmo nível não vão pra frente, ficam estagnadas e acabam apodrecendo. As vezes quando você olha uma coisa de perto demais, fica tão focado naquele zoom que não consegue enxergar o todo, então talvez se afastar um pouco o ajude a ver como algumas coisas realmente são. Talvez essa "fase ruim" que estou passando, se é que posso chamar assim, seja necessária tanto pra mim quanto pros outros, acima de tudo para mim. Eu costumo comentar com o Agner hoje que depois que ficamos um bom tempo afastados e voltamos, estávamos ambos diferentes, percebemos coisas um do outro que antes não conseguiámos ver. Hoje, nossa relação de amizade, não digo que está num nível superior, mas está diferente. Eu o entendo, ele me entende e isso nos basta. Eu não preciso dele aqui sempre comigo, eu não preciso controlá-lo, o mesmo vale para a minha amiga Liene. Como eu sinto que eles querem realmente me ver feliz, que isso não é apenas uma força de expressão ou um desejo vazio, eu aos poucos, devagar, estou abrindo o meu coração para receber a felicidade deles também. Na virada de ano, o Agner me ligou de madrugada, eu já estava dormindo. Ele me desejou um feliz ano novo e me disse que para ele, sou um irmão.
Tem gente que acha que não precisa de palavras, que apenas o sentimento fala por si. Que a outra pessoa sabe o quanto você gosta dela, então não precisa dizer, afinal, quem ama sabe. Mas não, se as pessoas soubessem como as vezes ouvir as palavras da boca da pessoa faz falta. Não importa que a pessoa te ame, as vezes você quer ouvir isso, pois faz bem, alimenta a alma, revigora.

Eu tenho dificuldade pra perdoar as pessoas, uma dificuldade absurda, ainda mais quando elas demonstram não fazer questão do meu perdão. É como eu disse, as vezes as palavras precisam ser ditas. Muita gente quer perdoar, muita gente espera ser perdoada, mas nenhuma das partes estende a mão pra isso, então, quando aparece alguém, ainda mais hoje em dia, que ao invés de insistir em se afastar de você faz o contrário, insiste em ser seu amigo apesar de tudo, acho que é um sinal. Se afastar de alguém é fácil, dar um gelo, parar de conversar, mas insistir em gostar da pessoa, insistir em ter amizade com ela mesmo com todos os defeitos que ela tem é coisa muito rara.
No fundo acho que o segredo pra amolecer verdadeiramente o meu coração está aí, é as pessoas demonstrarem verdadeiramente que gostam de mim, é as pessoas me procurarem mesmo quando eu não quero ser procurado. Com certeza se mesmo você tendo seus defeitos a pessoa ainda insiste em você é porque ela acha que ainda vale a pena investir. E isso não pode ser ignorado.
Eu odeio admitir, mas algumas pessoas estão realmente quase me vencendo pelo cansaço, pela insistência. Pode ser que não surta efeito a curto prazo, mas ninguém conseguiu nada sem tentar antes.









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3 Divagações

  1. Ouvir um eu te amo ou um elogio é muito bom, pois somos naturalmente assim, feitos para precisar uns dos outros. Mas vc fala o que quer dos outros, até coisas que eles, naturalmente, não gostam de ouvir por ser sincero, então, certamente vai ouvir sinceridades dos outros a seu respeito tb. Por isso, nem sempre ouvirá um eu te amo, pois precisa sinceramente amar e dizer isso para os outros. Beijinhos.

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  2. As pessoas não sabem ser positivas e só sabem atirar pedras, cobrar e exigir. Para isso uso dois remédios: foda-se ligado e a pergunta, em resposta a suas exigências infundadas: e você? Quer dinheiro pra gastar? Nem peça pra mim, aqui só recebimentos. Isso é muito bom. Mas que tem hora que dá vontade mandar uma bala na cabeça, isso dá.

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  3. Interessante o que você falou. Às vezes eu deixo de falar o que sinto porque tenho medo. E acho que esse é o meu maior problema.
    Eu também concordo que é preciso falar o que sente. Mas atualmente tem uma pessoa que diz que me ama mas seus atos não correspondem, e eu fico sem entender o que é mais verdadeiro, seus atos ou suas palavras.

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