5

Sobre divagações funestas, camarotes VIP e pontos relevantes da vida.

domingo, 17 de abril de 2011

Ultimamente tenho visto e sentido muitas coisas de forma diferente. Tudo o que acontece ao meu redor é o que sempre aconteceu, coisas rotineiras, comuns e normais, mas como eu já disse numa postagem anterior, não são as coisas que acontecem com você que lhe moldam, mas sim a forma como você lida com elas.
Na semana passada o filho

de uma de nossas vizinhas e amiga faleceu. Desde adolescente ele era homossexual assumido e com o passar dos anos tornou-se garoto de programa e travesti. Eu não o conhecia direito, trocamos pouquíssimas palavras ao longo dos anos, mas apesar de todos os problemas nos quais se metia, era uma boa pessoa. Não muito esperto, por isso acabou como acabou, mas não uma má pessoa. Não vou dizer que fiquei triste por ele, estaria sendo hipócrita, como disse eu mal o conhecia, mas me compadeci pela morte do rapaz tão jovem.
Acontecimentos repentinos como esse me fazem refletir muito sobre vida e morte, principalmente a minha própria. Não tenho medo de morrer, pois aceitei o fato óbvio, de que ela é uma coisa inevitável. Não importa como você viva, o que você faça, a intensidade com que você acha que ame alguém ou que esse alguém te ame, um dia vamos todos morrer, nosso corpo vai parar de funcionar, será levado a um necrotério, depois a um funeral, depois ao enterro para por último apodrecer dia após dia embaixo da terra, sendo devorado por vermes até não sobrar mais nada. Sei que é uma visão pouco poética da morte, mas ela não é pessimista ou agourenta, apenas realista. Por mais que você queira negar enquanto estiver vivo, depois que você morrer serão exatamente essas coisas que acontecerão com seu corpo. O que acontece com sua alma é outro departamento e vai da crença de cada um.

Não tenho medo de morrer, tenho medo é de não viver e já estou fazendo isso há 35 anos. A morte repentina de alguém que conhecemos sempre nos faz refletir (isso se você tiver um mínimo de sensibilidade) sobre o que estamos fazendo da nossa vida, as escolhas que temos tomado ao longo dela e onde é que elas vão nos levar no final. Vivi como eu queria? Fiz tudo o que queria? Fui o tipo de pessoa que desejei ser? Um dos lados bons da morte (sim, ela tem lados bons) é nos fazer olhar com mais atenção pra vida.
Querendo ou não você vai ter que morrer, isso não é uma opção, te resta então decidir como você vai levar as coisas até lá. E quando eu falo de aproveitar sua vida, de se satisfazer, não é apenas a nível mais banal, conhecer lugares, festejar, ir ao camarote vip da SWU com a namorada, fazer caridade, não. Eu acho que se deve realmente refletir sobre o tipo de pessoa que você é e em como isso tem afetado a sua vida e a vida das pessoas ao seu redor. Em minha opinião, viver uma vida que valha a pena não consiste em apenas ser feliz e fazer feliz as pessoas que você ama, mas também buscar compreensão de algumas coisas. Compreender o total sentido da vida é impossível e pretensioso demais, mas pelo menos chegar ao fim dela sabendo que você conseguiu entender alguns pontos relevantes já está de bom tamanho.
Eu não vou a velórios ou enterros, odeio isso. Não porque me deixam triste ou deprimido, mas sim porque acho uma perda de tempo prestar meus sentimentos a restos mortais enfeitados dentro de um caixão para fazê-los parecer menos mortos. Quem ocupava aquela carcaça já não está mais ali.


Inevitavelmente também penso no dia da minha morte. Sua vida não é definida pela hora de sua morte, mas o contrário sim. Nos meus dias de maior isolamento e solidão eu me pego imaginando se a minha passagem pelo mundo vai deixar algo realmente significativo no coração das pessoas. Vou fazer falta pra alguém? As pessoas que irão ao meu velório irão apenas olhar os meus restos num caixão e dizer como pareço bonito deitado ali, sereno, como se estivesse apenas dormindo em paz ou irão realmente porque sentiram a minha perda do fundo do coração? Quantas pessoas irão? Quem ficará sabendo? E dos que souberem, quantos chorarão e quantos não darão à mínima?
Fico imaginando a reação de algumas pessoas aos acontecido. Alguns chorarão, outros apenas lamentarão, outros dirão somente “antes ele do que eu”, como eu mesmo digo de vez em quando, na ocasião da morte de algum fulano qualquer. Pra quantos amigos e conhecidos eu sou apenas mais um fulano qualquer e não me dou conta disso?
Sou da opinião que tanto a existência humana quanto a morte são supervalorizadas. Lógico que existe o sentimento de perda, óbvio que existe o amor entre algumas pessoas, mas no fundo sempre sabemos que temos como obrigação o desapego, o “deixar ir”. Por mais que todos lamentem uma morte, por mais que se vá a velórios, enterros, por mais homenagens que se preste a quem partiu, no final a vida precisa continuar como sempre continuou. Restos enterrados a sete palmos, as pessoas se despedem umas das outras, vão pra suas casas, algumas choram por uns dias, outras já vão pro shopping logo depois do enterro e assim o tempo vai passando e a rotina continua, a vida de quem fica continua como deve continuar e o resto é resto, apodrecendo numa caixa de madeira.

Sobre o Autor:
Eduardo Montanari Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design, além de pseudo-web-designer. É formado técnico em informática e sabe estourar pipoca sem deixar muitos piruás sobrando. Semi-nerd assumido (se é que isso existe), gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


5 Divagações

  1. Visão/reflexão interessante, inteligente e realista sobre o assunto.

    Obrigado pelo comentário lá no post, eu me inspirei em um outro post seu, ia colocar o link no final do post mas fiquei meio cabreiro já que não tinha falado com você antes.

    ResponderExcluir
  2. Nada mais do que a verdade, nua e crua. É muito legal a forma que você vê as coisas, pq ela é realista. As vezes é bom lermos sobre coisas poéticas, mas a realidade é muito melhor, sem expectativas, como dizia um poeta: vamos aproveitar a vida porque um belo dia se morre.

    ResponderExcluir
  3. "Não tenho medo de morrer, tenho medo é de não viver"
    Pois é. Antes de morrer eu quero realizar meus objetivos. Mas se isso não acontecer, eu não terei como lamentar :P
    Antes eu morria de medo de morrer, que meus parentes morressem. Mas hoje eu não penso assim, hoje eu penso que, o mais importante a se preocupar, é viver intensamente, envelhecer e ter mais conhecimentos.

    ResponderExcluir
  4. Olá Edu!
    Visão bem realística da morte, e das consequências da mesma, em relação aos q irão, ou deixarão de sentir a sua perda. Sabe, eu prefiro nem opinar muito sobre, mais tento da melhor forma deixar um rastro por onde for, e com quem convivo no dia a dia. Não sei se morrerei hoje, amanhã, ou daqui a alguns anos, mais é isso aí. Só não entendo pq NINGUÉM entende a perda de um ente querido para a morte, sendo q TODOS NÓS um dia iremos ter o mesmo destino. Deveriamos ser desapegados, como somos a algum objeto, ou coisa do tipo q nem chegamos a conquistar, apesar de desejar muito, e as condições financeiras por exemplo não condiz. Como comprar uma Ferrari por exemplo, e etc. Isso fica só no sonho, pq a realide é nua e crua para a parte menos favorecida financeiramente falando.

    ResponderExcluir
  5. Sabe edu, tem algo mais terrivel, do que
    a morte fisica!
    Estou falando da morte enquanto vivo, tem gente que já morreu, e não se deu conta deste fato.
    Elas acreditam que o fato de estarem respirando ,significa que ainda estão vivas.
    Ledo engano, estas pessoas, se tornam
    uns verdadeiros zumbis, nosferatus da vida moderna!
    Dizem que a vida, após a morte é uma extensão,
    da vida que levamos aqui.
    Pois tudo se encontra dentro da agente.
    O que reforça os meus pensamentos, de que
    devemos melhorar as nossas condições, enquanto estivermos manifestando a vida.
    Quando digo condições, obviamente que não
    estou falando das condições financeiras.
    É logico, que ela faz parte do nosso processo
    evolutivo, mas ela é uma condição externa,
    das nossas condições internas.
    Ou seja, se estivermos avançando em nossa evolução espiritual, a nossa condição financeira e material melhorará .
    Tenha a certeza deste fato.
    Tem gente que acha, que depois da morte,a nossa vida vai melhorar, mas se a vida é uma extensão daquilo que temos no presente.
    Com toda a certeza, a vida atual será replicada
    após a nossa partida.
    Devemos tentar ao menos buscar sermos felizes,
    enquanto estivermos aqui.
    Devemos fazer de tudo para sermos felizes,
    pois esta felicidade, carregaremos por toda
    a eternidade, e será a base das nossas vidas,
    após a morte.
    Eu acredito muito nesta teoria, pois qual outro
    sentido para vivermos uma vida tão atribulada?
    Se não buscar o nosso próprio fortalecimento espiritual, através do aprendizado continuo!
    pense! meu amigo!
    Concordo com vc , e tambem não vou a enterros
    e velorios de amigos, pois não acredito neste
    corpo fisico, e penso que devemos fazer algo
    quando a pessoa está viva, e não "prestar" homenagens
    como muitos falam depois de morto.
    POis aquilo lá, é apenas um bagaço, apodrecerá
    debaixo da terra, como todo objeto inanimado!
    E sobre o fato, de que nunca saberemos de tudo na
    vida, tambem compartilho com os teus mesmos
    pensamentos.
    Mas o que é relevante, é que pelo menos
    enquanto vivos, buscamos o saber, buscamos
    as respostas, isto já faz a diferença na vida
    de qualquer mortal que seja!
    Ainda que não encontremos as respostas, o que
    valerá a pena, é o caminho percorrido para saber as respostas.
    Sabe Edu, acho mesmo que não importa,quem vai ao seu velorio e enterro.
    Acho que as pessoas tem que fazer a sua parte, enquanto estivermos vivos.
    Depois como vc mesmo falou ,seremos apenas
    um objeto inanimado ,apodrecendo debaixo
    de sete palmos do chão.
    Existem aqueles que avaliam a qualidade de vida de determinadas pessoas pela estatisticas, de quantas pessoas compareceram em seu enterro.
    Mas acho tudo isto, uma idiotice tamanha.
    Acho mesmo que voce , alias todos nós, temos
    que fazer o melhor por nós mesmos.
    E o melhor, é procurar viver as nossas vidas
    da melhor forma possivel, procurar melhorar todos os nosssos aspectos negativos em tudo.
    Ninguem pode nos dar o melhor para nós, e sabe porque, ninguem sabe o que é melhor para gente, a não ser nós mesmos.
    Mas as vezes, e muitas vezes, nem nós mesmos,
    sabemos o que queremos das nossas vidas, neh
    rsrsrsrsrsrsrsrsrrsr
    Edu espero poder ter transmitido, muitas
    energias positivas, nestas palavras,neste
    comentário e neste domingo de páscoa para voce.
    Saiba que teus textos me levam a refletir,
    sobre muitas coisas da vida, e com toda a certeza, ela me ajuda a compor o meu espaço virtual; "para tudo na vida há uma solução!"
    POis todos fazemos parte de um único universo magico e sensivel!
    Para isto basta cada um de nós termos um pouco de boa vontade e muita imaginação!
    Forte abraço de urso panda,Te adoro e admiro, cara!
    NAMASTÊ!

    ResponderExcluir

Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!