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Sobre promiscuidade, trinta longos dias pilotando um notebook e festas de formatura noite adentro.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Comecei a cumprir o aviso prévio na empresa e logo no primeiro dia já tive uma surpresinha: Meu chefe atencioso se esqueceu de que eu ainda tenho um mês de aviso e enquanto 
eu estava cumprindo minha última semana de férias, simplesmente me desalojou. Desmontou minha mesa, formatou meu PC e pegou pra uso próprio. O que me enfureceu não foi o pouco caso da parte dele, pois ele não fez isso por maldade (pelo menos eu acredito que não), mas por burrice mesmo, já que ele é totalmente fora da realidade. Ele alegou que simplesmente se esqueceu que eu ainda tinha o aviso prévio pra cumrprir, isso porque foi ele mesmo quem me avisou sobre isso.
Terei agora que passar os próximos vinte e poucos dias sentado na recepção junto com a nova secretária, sem ar condicionado, numa mesinha de um por um metro, navengando por uma internet lenta num notebook quase sem nenhum programa instalado e mais pobre de memória do que um velho esclerosado. Seriam trinta longos dias, caso eu não tivesse optado por trabalhar apenas seis horas por dia, já que esse é um direito de quem está cumprindo aviso prévio, você pode optar por trabalhar oito horas por dia e sair sete dias antes do prazo ou rabalhar apenas seis horas por dia e cumprir trinta dias. Optei pela segunda alternativa.
Li recentemente uma reportagem falando sobre o quanto o trabalhador que está cumprindo aviso prévio fica desmotivado, pois já sabe que não é mais útil a empresa. Pois é, estou sentindo isso na pele, pois ter que acordar cedo todos os dias, sabendo que minha presença na empresa agora é meio irrelevante (se é que já foi relevante alguma hora), desanima bastante. Minha única motivação atual é receber o que me é de direito e partir pra outra. Cada dia que passa, a certeza de que vou voltar a trabalhar nos Correios é maior. Não fechei nada ainda, mas após o dia treze de fevereiro vou lá me informar sobre uma possível contratação.
A idéia de voltar para os Correios já não me parece mais tão ruim assim, pois quando cogitei a possibilidade, como disse na postagem passada, senti como se fosse um retrocesso na minha vida, mas não, no momento essa é a saída que eu tenho e tenho de dar graças por pelo menos ter essa possível opção, sendo que tem muita gente na fila do desemprego sem a menor perspectiva de conseguir algo. Mesmo o salário sendo pouco, é melhor do que uma conta bancária zerada.


Recentemente, pra ser mais exato numa sexta-feira dia três de fevereiro, fui participar da festa de formatura de uma prima minha que cursou serviço social. A festa foi numa chácara chiquérrima e badalada aqui nos arredores da cidade, muito conhecida pelas baladas que promove.
Evento de alto nível, com traje social obrigatório, manobrista opcional no estacionamento, seguranças e um buffet impecável. Minha taça de cerveja não ficou mais de dois minutos vazia desde a hora em que me sentei na mesa até o momento de ir embora. Muita comida, bebida aos montes, como já disse, algazarra, música, a festa dos sonhos se não fosse por um único problema: ela só serviu pra confirmar ainda mais que eu não me encaixo no que as pessoas chamam de "sociedade normal".
A festa foi divertida sim, com certeza, mas não pra mim, pra mim posso dizer que foi uma "agradável distração", um passeio num lugar diferente e acima de tudo, uma oportunidade de boca livre sem igual. Amo comer bem e de graça. Talvez se eu desde cedo tivesse o costume de freqüentar esse tipo de ambiente, não me sentiria tão deslocado, mas o fato é que sendo como sou, me sentindo como sempre me sinto, participar desse tipo de coisa me faz sentir mais excluído do mundo do que nunca, um ser em preto e branco em um mundo colorido, ou o reverso. Sei que é cruel dizer isso, mas fui unicamente por dois motivos: conhecer o local e comer bastante. Música, pessoas, assunto? Não, nada disso em verdade me interessava. Pra começar, odeio me vestir socialmente, não me sinto eu mesmo. Se pudesse eu teria ido de bermuda e avaianas, as legítimas. Segundo, que a cada dia que passa, determinados assuntos me interessam menos, a vida das pessoas me interessa menos, graças aos céus. Me lembro tempos atrás, quando era tão obscecado por observar e viver a vida dos outros que chegava a passar mal de ansiedade, como na vez em que saí de casa após as onze da noite pra ir ao centro da cidade espionar escondido perto de um ponto de ônibus intermunicipal, a chegada de um grupo de amigos que foi comer pastel na cidade vizinha. Não que eles não tenham me covidado pra ir junto, mas na minha neurose, apesar de ter recusado o convite, saber como foi o passeio era um caso de vida ou morte. Até tempos atrás, fazia parte da minha lista de psicoses, querer ter controle sobre a vida dos outros, eles querendo ou não. G-zus me curou? Não, foi uma boa dose de bom senso, semancol e acima de tudo sofrimento


Já me conformei (ou quase) em ser um nerd lerdo bundão de 36 anos que nas horas livres passa o tempo tirando a poeira de suas action figures e jogando games no PC forever alone.  Vida social em 50%, já que cosidero trabalhar e interagir no trabalho como vida social. Vida sexual em 0%, embora durante o ano passado tenha tomado algumas importantes decisões quanto a isso. Nenhuma que tenha me proporcionado uma boa transa, vale ressaltar, mas pelo menos não estou numa sangria desatada como antigamente, quando ficava transtornado por não ter a oportunidade de mostrar ao mundo o quanto posso ser promíscuo se quiser. A propósito, eu posso ser bem promíscuo sequiser, e gosto dessa idéia.
Promiscuidades à parte, estava conversando com meu amigo/irmão Raphael sobre o quanto as pessoas podem mudar, aprender com os erros e acertos, decidirem tomar atitudes diferentes na vida, mas em sua essência continuam as mesmas até a morte. Eu mesmo, mudei muito de uns anos pra cá, estou longe de ser a pessoa que gostaria de ser e talvez nunca consiga, mas mudei bastante em relação a o que eu era anos atrás. Contudo Raphael está certo, nossa essência, quem somos, jamais vai mudar, eu acredito que as vezes apenas conseguimos nos enganar muito bem, o suficiente para convercer os outros também, mas no fundo, quando olhamos pra tráz nas constantes auto-análises que costumamos fazer (se você não tem esse costume, recomendo que desenvolva-o) percebemos que em alguns sentidos, ou melhor, em alguns aspectos de nossa vida, não mudamos por mais que lutemos. E eu acredito que são esses aspectos os quais não conseguimos mudar mesmo as vezes dando murro em ponta de faca, que definem quem realmente somos.
Quando mais novo eu dizia que jamais deixaria de gostar de quadrinhos, desenhos animados, video games, isso lá com meus quatorze, quinze anos. Hoje, já beirando os trinta e seis, apesar de saber que a vida precisa ser na maior parte do tempo levada a sério, olho para trás e fico feliz em perceber que o que eu disse continua valendo. Acho que é essa parte da minha personalidade, da personalidade de muitos, que nos impede de enlouquecer ou entregar os pontos nesse mundo tão cansativo e massacrante, é saber quais Cavaleiros do Zodíaco são os mais poderosos, decorar o nome de cada Pokémon e vibrar durante as lutas entre eles, fazer cosplay do Naruto uma vez por ano e torrar embaixo de um sol de 35º ou comprar um boneco do Lanterna Verde só pra deixar guardado na gaveta um anel esmeralda que nem cabe no seu dedo. Já me arrependo demais, já me culpo demais por tudo aquilo o que eu não sou. Me culpar pelo que gosto de ser é carregar um peso desnecessário, em minha opinião.

Eduardo Montanari Sobre o Autor:
Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática e trabalha como designer e web designer. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


4 Divagações

  1. O Google me diz que você gostou de parte do meu poema Mude.
    Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.
    Que, aliás, não é de Clarice Lispector.
    Se puder, veja o poema todo, assim como o vídeo e o livro Mude, publicado pela Pandabooks e à venda nas maiores livrarias.
    http://Mude.blogspot.com
    Abraços!

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  2. Cara, que braba, já não basta estar trabalhando de aviso prévio, ainda tem que se sujeitar a essas condições de trabalho, acho que seu chefe ta precisando jogar um jogo com Jigsaw, pra aprender a ser mais humano.

    Edu, vc faz bem em não se encaixar, pq essa sociedade, só nos distancia do que somos, e do que realmente importa, quanto mais distante dela, mas humanos somos.

    Realmente como vc bem disse, não mudamos o que somos, a grande transformação não é a da personalidade e sim a do pensamento, muitas das vezes agente sofre por não enxergar isso, eu mesmo levei um tempo pra perceber isso, que o que tinha que mudar era a forma de pensar e de agir, porque mudar o que sou, é luta perdida.

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  3. Caro Eduardo.

    Nem sempre voltar pro emprego antigo é um mau negócio.

    Conheço muitos que fizeram isso e conheço um cara que fez 2X.

    Sabe, às vezes, damos importância demasiada pra coisas sem sentido.

    Todo mundo carrega tristezas e frustrações, Edu. Comigo não é diferente.

    Vc coleciona cards??? Legal eu tmb coleciono.

    Eu tenho várias HQ digitais. Se vc quiser te mando algumas, só me manda uma mensagem.

    Um abrço.

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  4. Ei Dú, pelo amor de Allah!,
    Que pensamento profano ,o fato de voltar a trabalhar em uma empresa que já trabalhou não é sinonimo de retrocesso, quem falou essa merda!
    Pense como uma nova oportunidade, uma outra chance para enxergar ou refazer a sua vida!
    Ou mesmo pense que a vida está lhe concedendo uma grande oportunidade, pois como deve saber existe uma grande fila de desempregado em nosso pais!
    Então curta o momento como se fosse uma grande oportunidade pois é meu amigo, e tenho a certeza que a empresa pode ser a mesma, mas você fará tudo diferente, tudo melhor!
    Pois agora Edú você está amadurecido e tem uma outra percepção da vida!
    Estarei enviando fortes vibrações e pensamentos positivos para você, ESTEJA BEM MEU ESTIMADO AMIGO, SEJA POSITIVO EM TUDO NESTA A VIDA.
    E DESCUBRA QUE A VIDA PODE SER UM LUGAR MUITO AGRADÁVEL, PARA ISSO BASTA VOCÊ NÃO SER SEVERO CONSIGO MESMO!
    BOA SORTE EM TUDO NESTA VIDA!

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