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Sobre olhares desesperançosos, avaliações periódicas, perícias médicas e falta de assunto.

domingo, 22 de abril de 2012

Da lista de problemas que tenho pra resolver, agora estou com um a menos, não que ajude muito, mas é melhor faltar do que sobrar, pelo menos em se tratando de problemas. Na semana passada fui até uma instituição daqui da cidade fazer uma perícia médica para ter direito ao passe deficiente, um documento que me permitirá andar de ônibus gratuitamente pelo resto de minha existência nesse plano, bastando para isso que eu a renove anual ou semestralmente. Pra mim isso vai ser uma mão na roda, pois o preço da passagem do transporte coletivo aqui de Bauru vai subir absurdamente nos próximos dias e comigo frequentando o cursinho todos os dias, gastando duas passagens por dia, logo estaria perdido. Por enquanto eu estou usando o vale transporte que ganhei na época em que ainda trabalhava nos Correios, pois como a agência fica a quinze minutos de caminhada de casa, jamais usufruí desse benefício, juntando assim quase quinhentas passagens no interior do cartão. Se não fosse isso, não teria condições de estar indo e voltando do cursinho todas as noites, como tenho feito desde o início de março.
Nesse dia em que fui passar pela perícia, cheguei ao local por volta de uma e meia da tarde, peguei uma senha de número oito e fiquei esperando. O local fica num bairro bem humilde daqui da cidade e é frequentado em sua maioria por pessoas bem pobres, das periferias, a maioria em busca de benefícios do governo como o Bolsa Família, Conselho Tutelar ou o Passe Deficiente, como foi o meu caso.
Não gosto de ser pobre, gostaria de ter uma condição de vida melhor, ir a médicos particulares, fazer bons cursos em excelentes escolas pagas e ter uma moradia mais digna. Me sinto mal, inferior, principalmente quando preciso usar o serviço público de saúde, tendo as vezes que esperar meses pra poder fazer um exame simples ou ficar horas em pé em um lugar lotado esperando chamarem o número da minha senha. Geralmente quando sou obrigado a passar por esse tipo de situação, tudo o que posso fazer é me acalmar e seguir em frente, mas sempre fico observando tudo e todos ao redor. É da minha natureza ser muito observador do comportamento humano, me encanta, seja ele para o bem ou para o mal. E foi o que fiquei fazendo nesse dia, enquanto esperei por quase duas horas em pé para ser atendido. Fiquei observando as pessoas que entravam e saíam, pessoas que não conseguem esconder o seu cansaço, seu descontentamento, sua tristeza, transmitindo no olhar a desesperança que está no seu coração, talvez até pensando o mesmo que eu: “O que diabos eu estou fazendo no meio disso tudo, meu Deus? Como foi que minha vida tomou esse rumo?” . Porém de repente, apesar de todo o descontentamento, o desânimo que estava sentindo ao vislumbrar aquela situação toda, um lampejo me veio e eu pude ver que, posso até não ter a vida que muitas pessoas tem, uma vida mais tranquila na qual seus pais podem se manter sozinhos, sem ajuda, não tenho carro, casa própria, não sou bonito, descolado e nem muito inteligente, mas conhecendo algumas pessoas como conheço e outras que não conheço muito bem, mas tenho observado, creio que muitos não aguentariam passar por algumas dificuldades que passo, não conseguiriam ficar sem algumas coisas na vida as quais eu já me acostumei a não ter. Posso não ser a melhor pessoa do mundo, mas com certeza estou longe de ser a pior.



A primeira avaliação periódica do cursinho pré-vestibular está marcada para o próximo dia 25/04 e eu provavelmente irei bem mal. Teria que acertar no mínimo 50% da prova, mas por mais que eu leia as apostilas, tente fazer os exercícios, dificilmente tenho conseguido um bom resultado. Serão 18 questões, uma de cada disciplina e o meu problema maior vai ser desenvolver os cálculos. Eu sou muito bom em chutes quando a avaliação é apenas de múltipla escolha, mas tanto em um cursinho quanto no vestibular, nas questões de exatas você é obrigado a desenvolver os cálculos antes de assinalar a resposta e é isso que vai me afundar. Mesmo que eu marque a resposta correta no chute, se não mostrar os cálculos ao corretor estarei encrencado, com certeza serei chamado dias após essa prova para conversar na coordenadoria do cursinho, pois se os alunos tiverem notas abaixo do esperado, serão repreendidos.
O negócio é que por mais que eu saiba da importância de um vestibular, de uma faculdade, estou mais preocupado em conseguir um novo emprego, mesmo que não seja lá aquelas coisas, do que em me concentrar no cursinho. Estou pensando em um monte de coisas ao mesmo tempo como sempre faço e não consigo dar cabo de nenhuma. No próximo dia 27/04 será liberada a primeira das cinco parcelas do seguro desemprego às quais tenho direito, mas não sou o tipo de pessoa que gosta de ficar em casa criando barriga enquanto o governo me dá uma ajuda pra comprar comida. É uma questão de hombridade que eu trabalhe para ajudar a minha mãe, minha tia e a eu mesmo. As vezes ouço relatos de pessoas, principalmente jovens que perdem o emprego e nem sequer se preocupam, vivem do seguro durante meses, não fazendo nada e gastando tudo com supérfluos. Me pergunto se a consciência deles não pesa. Se eu fosse rico, milionário, aí sim seriam outros quinhentos, eu usaria o dinheiro para me especializar, para fazer cursos bons, pagaria uma faculdade particular e usaria todo o meu tempo para me dedicar a essas coisas, sem precisar trabalhar, mas você querer levar uma vida fácil, folgada, contentando-se com uma ninharia é pensar pequeno.
Inscrevi-me recentemente em um concurso público da companhia de habitação daqui, acho que até já disse isso em outras postagens, me desculpem mesmo, sei que estou ficando chato e sem assunto, mas sei lá, minha necessidade de compartilhar minha vida com seja quem for, de interagir ainda é grande, mesmo que eu não tenha nada de muito relevante pra dizer.


Eduardo Montanari Sobre o Autor:
Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática e trabalha como designer e web designer. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


3 Divagações

  1. Grande Edu, cara depender de órgãos públicos é quase uma via crúcis. Somos heróis Edu, somos os verdadeiros vencedores, os que conseguem driblar todas as dificuldades e viver honestamente, esses são os verdadeiros vencedores.

    Não ha motivo para se envergonhar, o se senti menor, ou pior, pois quem devia se sentir assim, que são os políticos, que mentem, enganam, roubam e ainda tem a cara de pau de pedir nosso voto todo ano, não se sentem, eles deveriam se envergonhar, eles deveriam se sentir menor, pior, mas não estão nem ai.

    Temos é que nos orgulhar Edu, por mantermos nosso caráter e integridade mesmo em meio a tanta dificuldade. Força GUERREIRO!

    As vezes acredito que somos quase semideuses por conseguir tal façanha

    E boa sorte no cursinho, sei que estudar tendo mil e uma preocupação na cabeça é realmente muito complicado.


    Grande abraço

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  2. Pois é Marcos, eu ainda me comparo muito com os outros, pois realmente quem tem vida fácil, como alguns conhecidos meus, conseguem tudo mais facilmente, lutam sim, mas não precisam nem suar muito, mas o caso é que aos trancos e barranco, conseguindo as cousas mal e porcamente, damos mais valor a elas.

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  3. Sei que faculdade é importante, mas na hora que a vida real bate na porta, e ela não é bem o ideal desejado por nós, nossas preocupações são mesmo de ordem prática, como emprego.
    Sempre que leio seu blog eu penso nisso, que você deve ser muito forte pra aguentar a pressão de ser responsável pela sua casa, por sua família. Por ter de colocar as necessidades de outras pessoas antes das suas, de ter que segurar suas vontades porque tem que pensar em coisas mais importantes. Admiro você pela maneira madura como lida com isso tudo. Sinceramente, não sei se conseguiria.
    Um abraço, toda sorte do mundo. Se precisar conversar, pode me chamar no face, se quiser.

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