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Sobre pão doce em excesso, uma boa faxina na casa e palavras belicosas.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Tem sido realmente muito difícil, complicado conviver com minha mãe nos últimos anos. Ela não é uma pessoa ruim, mas tem graves falhas de caráter as quais estamos sempre lhe apontando e tentando corrigir, minha tia e eu, mas é difícil, já que ela é uma pessoa orgulhosa e bastante revoltada com a vida. Ela não aceita que algumas coisas na vida são como são, está sempre, como eu estive por muitos anos, esperando que o mundo e as pessoas sejam do jeito que ela quer e, quando isso não acontece, se revolta e mostra o seu pior lado. Me dói saber que muito do meu caráter, do comportamento que tenho hoje herdei dela. Muitas vezes a reconheço em mim facilmente e isso gera uma guerra interna, estou sempre e ininterruptamente travando uma batalha entre três exércitos: quem eu quero realmente ser, quem minha mãe espera que eu seja e com quem eu sou atualmente, infectado por influências externas, principalmente as da minha mãe, que até hoje muitas vezes me obriga a dançar conforme sua musica e eu, para evitar um confronto realmente grave, acabo cedendo em alguns pontos, o que me deixa realmente muito infeliz, minando minha auto-estima cada vez que acontece.
O orgulho de minha mãe faz com que ela seja aquele tipo de pessoa que, de uma forma descontrolada, quer gastar um dinheiro que não tem, com coisas que não precisa por motivos sem fundamento algum. Faz dividas de mais de cem reais no mercadinho da esquina comprando um pão doce por dia, as vezes dois, sabendo que não pode comer açúcar demais, por ser pré-diabética, depois, na hora de pagar, pede dinheiro às amigas, pois ela sabe que de mim não vai obter, já que eu já dou dinheiro todos os meses para o supermercado e a maioria das contas. Estou tranqüilo quanto às minhas responsabilidades, não me sinto culpado, pois muitos jovens que conheço, alguns amigos bem mais novos do que eu, já estão arrumando suas vidas, usando o dinheiro que ganham para o seu próprio beneficio, já que não precisam ajudar os pais, enquanto eu trabalho das 8h as 18h e talvez ainda estude a noite em 2013, para ajudar em casa da forma que puder. Lógico que sim, uso meu dinheiro para mim também, dizer que não me sobra nada seria mentira, mas nunca o suficiente para que eu tenha uma vida particular, a minha vida.


O corredor de casa finalmente foi cimentado. Não vai ficar uma maravilha até lavarmos tudo, na verdade nem mesmo depois disso, porque ele é feio mesmo, mas agora, limpar toda a terra e lama que ficou impregnada no chão é uma prioridade, pois é nesse corredor que fica nosso varal. No domingo passado subi até o supermercado e comprei material de limpeza, pois vamos aproveitar e no próximo final de semana fazer uma faxina geral na casa, daquelas de arrastar móveis pesados do lugar, tirar pó de tudo e encerar cada cantinho. Odeio fazer faxina, por preguiça mesmo, mas as duas sozinhas já não dão mais conta do recado, principalmente a minha mãe, então vou ser obrigado a largar a preguiça de lado e lustrar, varrer, lavar e escovar. Ainda fabricam enceradeiras, por falar nisso?
Minha casa é daquelas que não param limpas, pois tenho um enorme quintal de terra nos fundos, cheio de mato, entulho... e terra, e isso faz com que o pó e a sujeira se acumulem muito rapidamente dentro de casa. Lustramos alguns móveis pela manhã e ao meio-dia já está tudo empoeirado novamente. Infelizmente nada podemos fazer quanto a isso, apenas nos resignar e continuar limpando. Cimentar o quintal todo está fora de cogitação, já que eu vou ter que pagar o pai de meus amigos Adriano e Edson em suaves prestações, pelo serviço no corredor. Cimentar o quintal todo seria um custo muito custoso.
Desde que a dona da casa, prima de minha mãe, faleceu no começo desse ano, estou com os nervos a mil, pois já moramos há mais de 20 anos na casa, sempre de favor, nunca pagamos um centavo de aluguel pois não temos condições para tanto, mas agora, com a morte da dona, a casa foi para o filho dela, também primo de minha mãe, o problema é que não sabemos que atitudes esperar dele. Desde que a mãe morreu ele não se manifestou de forma alguma, não nos procurou, mas sabemos que cedo ou tarde ele terá planos para a casa onde moramos. Caso ele nos peça para deixar o imóvel, será um problema grande, pois não temos para onde ir e nem dinheiro para pagar qualquer valor de aluguel. E você acordar, passar os seus dias e ir dormir com a incerteza de se terá ou não um teto para dormir no futuro é muito desgastante.

Dizem que conforme vamos envelhecendo a vida vai nos ensinando a falar menos e ouvir mais, com o tempo alguns de nós (os menos alheios, pelo menos) vão percebendo que quem fala demais escuta pouco, que na ânsia de sermos compreendidos acabamos sem tempo para compreender o outro. Depois que meu namoro virtual acabou recentemente, tenho pensado muito sobre isso, sobre o quanto cobrei amor, companheirismo, apoio, compreensão, mas nem de longe retribui da mesma forma. Tudo o que fiz foi falar, aconselhar sem parar enquanto tudo o que a outra pessoa queria era ser ouvida, ter um ombro para se apoiar, mesmo que virtualmente.
Como disse mais acima, herdei muitas características negativas de minha mãe, que herdou de seus pais e assim por diante, uma delas, uma das mais graves é ser verborrágico e belicoso, falar demais mesmo quando quero ajudar alguém. Fico tão afoito para colaborar, para tentar fazer com que a pessoa veja certas coisas pelo meu ponto de vista que acabo me esquecendo de que cada um é cada um e é único em suas alegrias, tristezas e problemas. Muitas vezes o que serve para você pode servir ao outro também, mas muitas vezes não, mas na pressa de tentar ajudar ao outro eu acabo generalizando tudo e muitas vezes atrapalhando mais do que contribuindo. Isso faz com que a pessoa prefira não mais se abrir comigo, pois ela teme que, ao fazer isso, tudo o que vai receber é uma enxurrada de criticas e conselhos francos, sendo que ela só precisa realmente de alguém que a ouça e diga que vai ficar tudo bem. Me dói muito perceber que mesmo tendo consciência de todas essas coisas, não consigo ser o amigo, o amor, o apoio que a pessoa espera de mim. Enquanto eu não mudar, enquanto eu realmente não mudar, serei sempre sozinho, pois as pessoas precisam de alguém que as apoie, que as coloquem pra cima, não o contrário. Precisam de alguém que lhes tire o peso dos ombros, pelo menos parte dele, não que contribua para o oposto.

Sobre o Autor:
Eduardo Montanari Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática, trabalha como designer e diagramador. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.



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