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Sobre reclamar demais de tudo, homicídios triplamente qualificados e o bom senso no uso das redes sociais no trabalho.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Na ultima terça-feira me aconteceu algo bastante chato no trabalho, por minha culpa, diga-se de passagem, por pura falta de bom senso de minha parte. Logo após meu horário de almoço, minha chefe foi até minha mesa e de forma muito educada, polida, porem muito séria, me perguntou sobre um comentário anti-religioso que postei na timeline do Facebook, uma famosa rede social mundialmente conhecida.
Não omito de ninguém que não sigo religião alguma, que sim, acredito na existência de uma forma superior, mas à minha maneira, que não gosto de nenhuma religião e de suas regras, que em minha opinião, na maioria das vezes servem apenas para impedir que a pessoa viva da forma como ela quer viver. Até hoje, já conheci muitas pessoas, parentes, amigos, que se sentiam obrigados a seguir sua religião fielmente, porque assim foram doutrinados, mas que na verdade se sentiam privados de sua liberdade, muitas vezes fazendo coisas escondidos da família, dos amigos, com medo de serem descobertos. Isso é uma coisa que me irrita muito em determinadas religiões, a forma como algumas delas manipulam você como querem, fazendo você acreditar que, se não seguir as regras, algumas delas muito absurdas, estará condenado a uma eternidade de dor e sofrimento. A meu ver, religiões devem trazer alento, não fazer com que você viva pisando em ovos o tempo todo, com medo de tomar suas decisões, não gerar medo e desconforto em você, fazer com que se sinta culpado por querer ser você mesmo.
Bom, mas o caso é que sim, eu postei no Facebook um comentário anti-religioso, mas o problema em verdade não foi esse. O negocio é que a faculdade onde comecei a trabalhar é uma faculdade católica, ou seja, nem pensar em criticar Deus, a religião ou qualquer coisa ligada a isso. Mas eu, num momento de total falta de bom senso, publiquei tal comentário no Facebook, em horário de trabalho e minha chefe, um de meus contatos na rede social, viu e não gostou nem um pouco, por motivos óbvios. Foi então ate mim, não me repreender, mas conversar educadamente, disse que eu preciso me lembrar que trabalho em uma universidade católica e que comentários como esse não ficam bem, ainda mais nas redes sociais, onde todos podem ter acesso. Disse também que, apesar de eu ser um bom profissional, estou acessando demais o Facebook durante o horário de trabalho e que ela gostaria que eu por favor tentasse evitar ao máximo esse mau hábito.  Não preciso nem lhes dizer que eu fiquei sem saber onde enfiar minha cara. Minha vontade era que se abrisse um buraco no chão para que eu me jogasse nele, o que não iria adiantar muito, já que ficamos no 1º andar e tudo o que eu iria conseguir seriam fraturas generalizadas. Pior do que você cometer uma falha no trabalho, é você cometer essa falha por sua própria culpa e consciente de que esta cometendo um erro, fazer uma coisa sabendo que não deveria fazer. Me senti muito envergonhado, sem graça, idiota e muito, muito inferior, pois eu, que as vezes acho que já amadureci tanto, cometo erros infantis de um moleque de 15 anos de idade. O pior é que quando esse tipo de coisa acontece, quando eu piso na bola, troco os pés pelas mãos, fico muito constrangido. Apesar de depois a chefe ter me dito que eu não preciso me preocupar, pois ela sabe que sou um bom profissional, provavelmente vou ficar muitos dias com vergonha de olhar na cara dela.


Esse episodio desagradável e mais um comentário “puxão de orelha” que recebi na postagem passada tem me feito refletir muito essa semana sobre tudo o que tem me acontecido nos últimos meses e a forma como eu venho encarando isso. O que aconteceu no meu trabalho só aconteceu porque eu tenho a mania de reclamar e criticar automaticamente de tudo, ainda mais depois de adulto. As pessoas me cansam de um modo geral, o mundo me cansa, o comportamento humano me cansa, a maioria das coisas me irrita muito. Com o passar dos anos fui me tornando cada vez mais insatisfeito com minha vida e com tudo e todos que me cercam, adquiri o costume de criticar primeiro e só depois parar para refletir sobre minhas palavras e meus atos, geralmente tarde demais. Quando me arrependo do que fiz ou disse, a merda já foi jogada no ventilador me dando o maior trabalho pra limpar depois. E na maior parte das vezes, deixa manchas difíceis de remover.
Eu me reservo o direito de reclamar, todos reclamam. A meu ver, pessoas que dizem não reclamar da vida são pessoas que não tem motivos para isso, acredito que mesmo que as pessoas não reclamem publicamente como é de meu costume, elas o fazem em pensamento, quando estão sozinhas. Mas o fato é que eu realmente tenho o péssimo costume de reclamar demais, de criticar demais, e cada ação tem uma reação igual ou contrária. Não sou uma pessoa agradável de se conviver e por isso meu “namoro” não vingou, nem mesmo à distância, pois acredito que a outra pessoa com o tempo, conforme foi me conhecendo melhor, percebeu que realmente, conviver com uma pessoa como eu é muito complicado e extremamente cansativo, e nessa vida, já é difícil levarmos nossos próprios problemas nas costas, quem dirá os dos outros.
Esse meu comportamento belicoso, agressivo, recheado de negativismo e criticas é o que faz com que coisas ruins me aconteçam. O fato de eu não saber me controlar, de sempre falar mais do que devo, dizer a coisa errada na hora errada e só depois pensar na besteira que fiz é o que fode minha vida, é o que faz com que as pessoas prefiram se afastar de mim, que me fecha para o amor. Eu não consigo ser otimista e esperar o melhor das coisas e das pessoas, mas preciso fazer força e tentar pelo menos também, não ficar esperando o pior. Acredito que o equilíbrio, o meio-termo que busco nessa situação é aprender a não esperar nada de ninguém e nem das situações. Uma vez que eu não espero nada eu não me decepciono, uma vez que não me decepciono, não critíco, não criticando eu me torno uma pessoa melhor aos olhos da sociedade a qual tanto desprezo.
Tudo isso me lembra muito um filme muito bonito que tenho em casa, chamado Na natureza selvagem (Into the wild), no qual um rapaz bem nascido, cansado da sociedade e de suas regras estúpidas, resolve viajar sozinho para o Alaska e ficar uno com a natureza, mas no final, em meio à solidão das montanhas geladas e já à beira da morte, percebe que somos seres feitos para viver em sociedade, que por mais que sejamos diferentes uns dos outros em nossas crenças, opiniões e valores, sempre acabaremos precisando uns dos outros em algum momento de nossas vidas, e que generalizar as coisas não é o caminho.


Todavia o meu problema maior não é a falta de ter descoberto essas coisas antes. Eu não sei se isso acontece com vocês também, mas vez ou outra, quando percebemos coisas desse tipo, de alguma forma sentimos que já sabíamos disso o tempo todo, que estamos agora apenas admitindo o que já estava sendo esfregado na nossa cara faz tempo, mas como temos a necessidade natural de nos afirmarmos como seres individuais, mesmo sabendo que não o somos, ficamos negando essas verdades, pois aceitar algumas delas nos mostra que nem sempre podemos dar conta de tudo sozinhos, como imaginamos e como gostaríamos. Pelo menos no meu caso em particular, todas as vezes que passo por uma situação ruim, percebo ou aprendo alguma coisa, acabo me sentindo muito mal depois, um imbecil de marca maior, pois quase que imediatamente, junto com a percepção do meu erro me vem o pensamento: “Mas eu já deveria saber que isso iria acontecer”. E é isso que me deixa doente. Na tarde de terça, voltando pra casa após o episodio desagradável com minha chefe, da qual não tiro a razão em nenhum momento fiz um exercício mental e tentei identificar qual era o sentimento mais intenso em mim naquele dia, depois do ocorrido. Medo, tristeza, vergonha? Pensei por alguns quarteirões e percebi que o que eu estava sentindo, pra variar um pouco, era ódio, não raiva, que é uma variante mais branda, mas ódio mesmo, um ódio intenso e destrutivo de tudo e de todos, mas acima de tudo de eu mesmo e da forma como eu levo minha vida e meus relacionamentos, ódio por eu, mesmo agora aos 36 anos ainda ser um burro, um tapado que tudo o que consegue é cometer um erro atrás do outro, por imaturidade emocional.
Mas ainda assim continuei sentindo ódio de tudo e todos ao meu redor, sem exceção, pois se é verdade que somos seres sociais, que completamos uns aos outros, que precisamos uns dos outros, por que é que eu tenho essa constante e incessante sensação de que as pessoas não precisam de mim, de que somente eu estou sempre precisando dos outros, sempre buscando os outros enquanto eles aparentemente podem passar suas vidas muito bem, sem jamais sentirem minha falta?
Estou cansado das pessoas, de acordar e ser obrigado a lidar com elas todos os dias, fingir uma falsa alegria quando na verdade estou em vias de cometer um homicídio triplamente qualificado. Estou cansado de sofrer por tudo, de ser um covarde para tudo, de ficar feito um imbecil vomitando arco-íris e doçuras para agradar a todos, cansado de fingir que isso não me deixa com instintos psicóticos e desejo assassino. De mais a mais, estou cansado de sentir ódio, eu só queria ficar em paz, só queria ter sossego na minha cabeça, conseguir conviver normalmente com as pessoas aceitando-as e não simplesmente aturando-as, suportando-as. Parem o mundo que eu quero descer e ir pra um lugar isolado e sossegado. Já passou do meu ponto!


Sobre o Autor:
Eduardo Montanari Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática, trabalha como designer e diagramador. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.



4 Divagações

  1. Ri agora... também sou muito crítica e já fiz isso. Na época eu trabalhava para uma empresa, um banco, fazia trabalhos na internet, monitorava o site e falei mal das insituições financeiras. Levei um puxão de orelhas bem mais doloroso que o seu. E nem tinha ninguém como amigo no Orkut na época, percebi que os patrões adoravam bisbilhotar minhas redes. Desse dia em diante fechei tudo! E nunca mais coloquei nada semelhante. Nada demais, 2 meses após eu ter concluído um trabalho me dispensaram alegando que não precisavam mais de ninguém, colocariam uma ferramenta no meu lugar. Eu sabia que não havia ferramenta nenhuma, pois eu trabalhava lá e não vi ninguém fazer uma, já que o banco sempre faz as próprias. Descobri um senhor no meu lugar 32 dias depois. Talvez, ele, sendo um senhor de idade, não fizesse coisas de garotas de 15 anos rsrs... abraço.

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    1. Bom, mas você tinha 15 anos né? Até aí ainda é aceitável, mas eu já com 36, com certeza deveria ter mais bom senso do que eu tenho as vezes.

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  2. Cara, sinceramente, chefe na minha rede social nem pensar, não que eu tenha algo a esconder, mas sim pq acho que ao meu chefe cabe somente saber das minhas capacidades e habilidade para o trabalho, da minha vida particular, do que eu penso ou acho eu o quero bem longe, e isso serve até para alguns colegas de trabalho se tenho uns 3 colegas de trabalho no meu Face é muito, não acredito muito nesse lance de amizade no trabalho, sempre achei o trabalho um ambiente muito perigoso para se fazer amizade ou deixar que saibam da minha vida particular.

    Quanto a sua mancada, acho que vc não tem do que se envergonhar, não acho que seja uma questão de imaturidade ou coisa do tipo, afinal que nunca deu uma mancada ao ponto de querer sumir da face da terra que atire a primeira pedra, isso acontece com todo mundo independente da idade, credo, classe social e etc.

    Eu particularmente tenho uma filosofia de vida.

    Eu não procuro me encaixar a ninguém, mas procuro pessoas que se encaixem a mim, até aqui tem funcionado.

    Abraços

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    1. Agora já estou mais calmo. Minha chefe está me tratando normal e tudo bem. Foi apenas uma bronca merecida mesmo;

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Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!