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Sobre um novo tempo... apesar dos perigos, satisfação o suficiente e coleção de latinhas.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

E então finalmente aconteceu. Foi rápido e até mais fácil do que eu achei que seria. Não, não transei gostoso e nem dei o meu primeiro beijo, como gostaria, mesmo agora, rumo aos meus 37 anos. O que aconteceu foi que prestei o vestibular da faculdade para a qual trabalho, fui aprovado e no ano que vem começo a cursar Design. Caso nenhum imprevisto aconteça, serão três anos de minha vida dedicados à isso, a essa nova rotina da qual a única coisa que tenho certeza é que será cansativa. Vou me levantar todos os dias as 6h da manhã, sair de casa às 7h rumo ao trabalho, encerrar o expediente às 18h da tarde e já ficar direto para as aulas, que serão das 19h da noite até as 22h, 22h20. Ou seja, de segunda à sexta-feira só voltarei pra casa para tomar banho e dormir, para na manhã seguinte repetir a rotina. Não estou com medo ou desanimado, eu quero enfrentar isso, mas não nego que, acho que como a maioria das pessoas, preferia estar numa ilha paradisíaca, nu, ao lado da pessoa que eu ainda desejo. Mas percebo hoje que nunca caminhamos por onde queremos, simplesmente andamos pelas estradas que a vida nos oferece.
Depois da notícia da minha aprovação, na segunda-feira a noite, um amigo me perguntou se eu estou feliz. Eu, natural e instintivamente, com a maior calma e sinceridade do mundo, lhe respondi que não, não estou feliz, mas que me sinto sim satisfeito pelo acontecido. E fui mais sincero ainda, principalmente comigo mesmo, ao lhe dizer que estar satisfeito é algo que já me basta, me preenche o tanto que eu preciso no momento.


Sempre fui uma pessoa pacata, nunca gostei de me exaltar tanto para o mal quanto para o bem. Pensando agora, acho que não sei responder se alguma vez em minha vida estive realmente feliz com algo ou se apenas, sempre satisfeito. E por algum motivo estranho, eu nunca me senti na obrigação de estar feliz por algo, estar satisfeito sempre me bastou. Festinhas de aniversario para mim sempre foram coisas comuns, nada que eu ficasse esperando ansiosamente, apenas era comida, um pouco de diversão e distração, ah sim, presentes, logicamente.
Nunca tive muitas conquistas em minha vida dignas de comemoração e as poucas que tive, nunca fiz questão de comemorar. Não quis participar da minha formatura da oitava série porque era tímido demais, a simples idéia de ficar exposto para centenas de pessoas, ser obrigado a me levantar para pegar o diploma quando chamassem meu nome e saber que todos estariam olhando pra mim, meu Deus, eu realmente preferia me suicidar. Mais adiante, em 2008 quando me formei  Técnico em Informática, quis participar da formatura apenas para poder ficar perto do meu amigo Ricardo, nada mais. Havia brigado feio com minha mãe uns dias antes e minha tia e meu amigo Adriano nem sequer puderam ficar até o final da solenidade. Me senti um idiota solitário numa beca ridícula, cercado de pessoas para as quais hoje sou irrelevante. Me senti satisfeito por ter concluído três anos de curso. Nada mais.

Pretendo, embora eu quase nunca consiga cumprir as promessas que faço para eu mesmo, não criar mais expectativa nenhuma sobre nada nem ninguém. Queria conseguir cursar uma faculdade de Design porque a sociedade exige que você tenha um diploma de curso superior, porque as pessoas acreditam que se você não esta cursando uma universidade ou não tem formação superior, falta algo em você, então, nessa minha ambição obtive êxito e isso me deixou satisfeito. Não me entendam mal, não estou infeliz, pelo menos não nesse assunto da faculdade, pois de resto estou bastante, o fato é que simplesmente não estou feliz. E o fato de você não estar feliz com alguma coisa, não necessariamente significa que você esta infeliz com ela. As vezes, você simplesmente se dá por satisfeito e isso já te basta. Felicidade na verdade é o que eu tive meses atrás enquanto estava namorando, mesmo que apenas virtualmente. Sem mentira nenhuma, realmente me senti feliz, realizado, mas algumas coisas que passamos durante nossa vida servem também para nos mostrar que a felicidade não é algo constante, permanente. Eu já disse varias vezes aqui que a maioria das pessoas sofre por achar que a felicidade é um objetivo a ser alcançado e que, depois de alcançado você não pode mais deixar se perder. Se agarrar a essa idéia é algo totalmente ingênuo. A felicidade é feita de momentos, alguns pequenos, outros um pouco mais longos, mas é uma coisa instável com a qual temos a obrigação de saber lidar, de aceitar que é assim que a coisa toda funciona.

Sempre ouvimos falar que devemos guardar no coração os momentos bons que nos acontecem, mesmo que eles acabem cedo ou tarde. Se você for analisar isso, vai ver que faz todo sentido colecionar nem que sejam pequenos momentos de felicidade. Assim como uma coleção seja do que for, latinhas, tampinhas, selos, esses objetos sozinhos são bonitinhos, você pega uma latinha na mão e admira aquilo, as vezes é uma latinha muito rara, difícil de encontrar e justamente por isso é algo que você quer preservar. Aí você coloca ela junto com suas outras latinhas tão queridas, da alguns passos pra trás e começa a admirar sua pequena coleção de felicidade, percebendo que, olhando todo o conjunto da obra, tem em mãos uma boa dose de felicidade acumulada, a qual, se for bem cuidada, preservada, vai estar sempre lá, pra você poder vislumbrar sempre que quiser, e cada vez que decidir fazer isso vai ter aquela sensação boa de que, valeu a pena passar todo esse tempo fazendo essa coleção.
Depois, no futuro, quando você se for (porque todo mundo morre, não importa o tipo de pessoa que você seja ou tudo o que você tenha conquistado), não vai poder levar com você as suas preciosas latinhas, mas a alegria por te-las colecionado por tanto tempo, essa sim você pode levar com você, seja lá para onde quer que você acredite que vá.
Eu acho que aprendi, meu amor, finalmente estou compreendendo o que você, em tantas das nossas discussões quis expor pra mim. A questão de agora em diante não é valorizar o que não temos mais, mas sim dar valor ao que tivemos. Uma coisa que eu quero acreditar, marcou você tanto quanto a mim.

 
Sobre o Autor:
Eduardo Montanari Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática, trabalha como designer e diagramador. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.



7 Divagações

  1. Parabéns por ter passado no vestibular. Espero que vc goste bastante dessa experiência. Abçs.

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    1. Eu, Eduardo, também espero gostar dessa nova fase de minha vida.

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  2. Olá, Eduardo!
    Parabéns!!!!!!!!!!!!!!!
    Abçs!
    Rike.

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    1. Eu agradeço a ti pelos parabéns. Ser elogiado aumenta minha autoestima em 17.6%.

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  3. Putz cara, nossa, é isso... Essa é a reflexão mais madura e inteligente que já li em toda BLOGOSFERA. Como diz uma musica dos Titãs: É preciso saber viver. Tudo isso que vc escreveu é a lição da vida, a sociedade cria conceitos, regras comportamentais, ideias distorcidos que só nos afastam do verdadeiro sentida da vida, todos os conceitos estão errados, tudo que se prega a respeito da felicidade é equivocado, e por isso agente sofre, pq desde de pequenos somos enganados com um falsa ideia de bem estar e viver. A coisa é tão simples como colecionar latinas, vc finalmente entendeu o verdadeiro sentido de bem estar e viver e esse é o caminho para felicidade, se bem que eu acredito que felicidade é só mais uma palavra que inventaram para dificultar as coisas, pq cada um tem seu próprio conceito do que é felicidade, o que te deixa feliz, não é a mesma coisa que me deixa feliz e por ai vai, então o que é felicidade? Se não o sentimento de satisfação e realização com aquilo que se tem.

    Parabéns por mais essa conquista, sempre soube que vc conseguiria, pq quando agente quer e se propõe a mudar, os resultados são inevitáveis, o contrario de quando simplesmente sentamos em nosso sofá a passamos a vida a lamentar nossos infortúnios. É como diz a Terceira Lei de Newton, a lei da ação e reação:

    "Toda ação provoca uma reação de igual intensidade e em sentido contrário"

    Abraços Edu

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    1. Nossa Marcos, calma, não é pra tanto. Desse jeito fico muito sem graça. Sei lá. Eu falo, falo, escrevo bonito, mas você vê, continuo sempre metendo os pés pelas mãos.

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  4. Parabéns por ter passado! Lembra quando você desistiu, que estava desestimulado? Acontece com qualquer um, mas não subestime sua capacidade. Dessa vez você não desistiu e deu tudo certo!
    Realmente criar expectativas é meio caminho andado para decepções, eu mesma não gosto.
    Sobre o que você falou sobre a felicidade, eu discordo. Felicidade está ligado a várias outras condições que devemos alcançar. A Felicidade não é feita de momentos, a alegria sim é feita de momentos e instável. Para sermos felizes é preciso estarmos plenos. E plenitude, rs, plenitude é para poucos. Que dera eu alcançar esse estado maravilhoso da vida!
    Sei que estais satisfeito, sei que será cansativo pra você! Mas quanto mais você se dedicar, mais tempo terás para construir o que quiseres. Vai ser um sacrifício, mas tem suas recompensas!
    Boa sorte e tenha certeza que vai dar certo!

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