0

Uma dolorosa Via-Crúcis, cores berrantes nos pés e uma surdez temporária.

domingo, 20 de abril de 2014

Uma das coisas mais estranhas, pelo menos para mim, quando calha de me acontecer, é ser acometido por alguma enfermidade daquelas que, geralmente a gente só tem quando criança. Raramente isso me acontece, se eu não me engano, o pequeno problema o qual estou enfrentando agora, mais ou menos há umas duas semanas, só tive quando era vem pequeno, quando tinha uns três ou quatro anos de vida apenas. Não me lembro se, na época, minha mãe, a mulher que me gerou em seu ventre, resolveu isso em casa mesmo ou me levou à um (agora é dificil) otorrinolaringologista, só sei que resolveu. O que sei é que, graças a uma leve gripe que tive há, como disse, umas duas semanas atrás, sei lá por que, fiquei com o ouvido esquerdo completamente entupido de cera. Não sei se algum de vocês já sofreu disso, mas lhes digo que é uma sensação bastante chata, digo chata, porque não machuca, não dói, nem nada, apenas te deixa meio surdo e muito, muito irritado e impaciente, pois é como se você estivesse com uma rolha enfiada bem fundo no ouvido e por nada no mundo conseguisse tirá-la. Por sorte não estou completamente sem audição e, por sorte, está acontecendo em apenas um ouvido, mas já é o suficiente para que eu, que prezo tanto meu bem estar, já fique muito incomodado, até o meu senso de equilíbrio está sendo afetado. Tentei resolver primeiro, da forma mais caseira possível, a famosa técnica do cotonete embebido na água morna, ela "teoricamente" derreteria a cera maldita e "Voilà!", tudo estaria resolvido, mas é lógico que nada nunca é tão simples quando se trata de mim, a vida gosta de testar minha paciência, colocando em minha rotina certas coisas bem chatinhas de resolver, algumas delas, que sei que não terei como resolver tão cedo. Comprei um remedinho de pingar que o farmacêutico disse que "pode ser que desentupa em uns cinco dias", até lá, vou pingando, esperando o possível resultado e assistindo aos filmes que aluguei, em mono, até recuperar meu estéreo sound.


Embora nesse calor infernal, seja altamente recomendável pegar um ônibus para ir onde quer que seja, caso contrário você pode acabar tostado, eu ainda sou adepto da caminhada, esteja o clima que estiver. Amo caminhar longas distâncias e a minha médica me disse o quanto isso é bom, desde que, logicamente, eu tome as medidas necessárias pra me proteger do sol, como um bom protetor solar facial e corporal. Sou uma pessoa vaidosa, não abro mão de certos cuidados, mas o problema é que, caminhando tanto, como eu sempre faço, não há tênis que aguente muito tempo. Olha que os meus até que duram bastante, antigamente nem tanto, hoje, consigo fazer um calçado de qualidade mediana durar de seis meses à um ano envolto em meu pé, e mesmo quando ele já está, como dizem vocês jovens, "um bagaço", eu ainda costumo usar por bastante tempo, não sou do tipo consumista, que gasta dinheiro em coisas que não preciso. Comprei um novo tênis pra mim recentemente, mas isso porque o estado da sola do meu antigo estava precário. Eu piso muito torto com um dos pés, devido aos meus problemas de coluna, postura e isso causa um desgaste muito grande no calcanhar, e como eu não tenho carro ou moto, e pelo menos não tão cedo, uma bicicletinha, preciso calçar alguma coisa que aguente o tranco dos meus imensos 71,4kg. Já fui mais gordinho, mas a idade emagrece alguns. Por sorte, graças à minha mãe consegui um excelente desconto, de R$ 259,90 que era o preço dessa maravilha, comprei-o por R$ 120,00, já que ela tinha comprado um casaco que não gostou, nunca usou e o gerente bacana deixou ela trocar por outra mercadoria, precisei apenas completar o restante. Nunca fui fã de tênis com cores berrantes demais, pois achava que chamavam demais a atenção, tanto de bandidos quanto de pessoas curiosas e eu odeio ser o centro das atenções, em alguns sentidos pelo menos, mas sei lá, estou numa fase mais liberal atualmente, não sei se foi pelo fato de eu ter saído do meu armarinho ou não, mas o caso é que estou mais aberto à novas possibilidades e à novas cores de tênis.


O sábado chegou com a seguinte manchete na primeira página do Jornal da Cidade, de Bauru: "Tese de teólogo bauruense revela dor física de Jesus na Via-Crúcis". Me lembro de ter batido os olhos no título da matéria e pensado: "Cara, como assim?".
Digo sempre aqui, mas gosto também de sempre repetir: não sigo religião alguma, não sinto necessidade disso, mas acredito em Deus, à meu modo particular e acredito que assim como Buda, Ghandi e outras figuras religiosas históricas, Jesus Cristo existiu e passou por tudo o que passou. Quanto a fazer tudo o que dizem que ele fez e ser realmente o filho de Deus, tenho minhas dúvidas, mas não me culpo por isso, não me considero um pecador ou um herege, simplesmente sou tão humano e falho quanto qualquer outra pessoa, um pouco menos falho, é claro, do que esses fanáticos religiosos que levam tudo ao pé da letra. Mas enfim, a matéria me chamou a atenção e de certa forma, me indignou, pelo seguinte motivo: Por mais "divino", que Jesus tenha sido, ainda assim ela era um ser humano, comum e normal, precisava se alimentar, caso contrário morreria de fome, precisava se aliviar, fazer xixí, cocô, como todos nós. Me espanta de fato, que exista alguém que ache que ele era tão "superior", que não precisou fazer nada disso. Obviamente então, fazendo uma dedução lógica, se apesar de "divino", ele também era humano, o fato é que ele sentia dor como qualquer um de nós.


Veja bem, você foi espancado, chicoteado, jogaram coisas em você, te colocaram uma coroa de espinhos, fizeram você carregar uma cruz de madeira pesadíssima por uma distância enorme e no final, só pra "colocar a cereja no bolo", perfuraram suas mãos e pés com pregos gigantes e te pregaram pendurado numa cruz. Prática muito comum nessa época, diga-se de passagem. Imagino que, a menos que Jesus tenha vindo numa nave especial, oriunda do planeta Krypton e tenha incríveis poderes feito o Superman, terem feito tudo isso e mais um pouco com ele, deve ter sido, vejamos, bem dolorido, tipo assim, ao extremo do extremo. Pensar que existem ainda, no século XXI, pessoas, religiosos, que acredita, que Jesus, porque aceitou de bom grado o seu destino, também não sentiu nenhum tipo de dor física é algo abominável, pra não dizer muito ridículo. Um pensamento burro, enfim.
As pessoas, principalmente os religiosos mais ferrenhos, tem uma visão altamente utópica da figura de Jesus cristo, achando que ele andava sempre com sua túnica branca, limpa, impecável, que suas sandálias protegiam seus pés perfeitamente, que ele tinha dentes perfeitos, unhas perfeitas, um cabelo macio e sedoso, unicamente por ser o "filho de Deus". Ter de se chegar ao ponto de se fazer um estudo, uma tese, simplesmente para afirmar que Jesus realmente sentia dor física como qualquer um de nós é no mínimo idiota. E acima de tudo, as pessoas ficarem surpresas com essa descoberta, como se fosse uma novidade, é mais ridículo e idiota ainda.
Feliz Páscoa. Comam seus chocolates. 


Sobre o Autor:
Eduardo Montanari Nascido e ainda morando na cidade de Bauru, interior do Estado de São Paulo, sou estudante de Design e trabalho como designer e web designer, áreas pelas quais tenho muito interesse. Amo cinema, quadrinhos e boa música.



0 Divagações

Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!