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Então vai, siga em paz e boa sorte.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Apesar de sempre comentar, aqui no blog e nas redes sociais o quanto me sinto solitário e o quanto, quando mais novo, tive muita dificuldade em fazer amizades e socializar, tive amigos, não fui um “garoto das cavernas”, mas era bem daquele jeito, fazia amizades em doses homeopáticas, pois sempre fui muito seletivo em relação às pessoas. Apesar da minha carência, me senti sempre muito diferente do resto do mundo e, por conta disso, era muito raro eu confiar em alguém, gostar realmente de alguém a menos que a pessoa tivesse muito em comum comigo. Seguindo essa linha de raciocínio me enganei muitas vezes, claro, ansiando por carinho e atenção, dediquei-me a pessoas as quais, mais tarde descobri que não se importavam tanto comigo quanto eu com elas. Isso me machucava demais, pois eu tinha dentro do meu cérebro a ilusão de que era obrigação das pessoas que se dizem seus amigos e amigas, entrar em sua vida e não sair jamais, não importando os rumos que a vida tomasse. Mesmo que a outra pessoa se casasse, tivesse filhos e fosse morar lá no Japão, era obrigação dela continuar a manter contato comigo constantemente, a me dar a atenção que eu tanto sentia falta, não importava de que forma fosse.

De tempos em tempos elegia um melhor amigo, alguém com quem sentia poder realmente conversar, alguém que julgava ser igual ou, pelo menos muito semelhante a mim, e por um tempo isso era bom, a coisa toda funcionava, havia uma sintonia bacana, até a pessoa acordar um belo dia e tomar um rumo diferente do meu, o que me destruía. Eu simplesmente não conseguia aceitar, não conseguia entender o por que a pessoa tinha que sair da minha vida, afinal éramos amigos e os amigos devem ficar juntos pra sempre, como nos filmes de cinema. Eu me sentia traído, magoado, passava a sentir raiva da pessoa, que se dizia meu amigo ou amiga, mas que me virou as costas. No colegial tive amizades fortes, três melhores amigas das quais gostava muito, daquele tipo "unha e carne" mesmo. Pra mim era como estar no céu. Ríamos juntos, fazíamos piadas e conversávamos sobre tudo. Eu as tinha como minhas irmãs. Depois quando terminamos o colégio cada um de nós tomou seu rumo, mas procuramos, juramos manter eterno contato. Naquela época ter um computador com internet em casa era um sonho distante, usávamos cartas pra nos corresponder. Tinha uma certa dose de poesia nisso, nesse ritual, no papel de carta decorado e perfumado, cheio de figurinhas de chiclete e papel de bala com mensagens carinhosas, ir até os correios comprar o selo e postar o envelope. Era divertida a ansiedade de quem enviava e a alegria de quem recebia. Ficamos nessa por muito tempo.

Mas, os anos foram passando e começamos a ter cada dia menos contato. Enviávamos cartinhas com menos frequência uns para os outros e as respostas, aos poucos foram se tornando cada vez mais raras. Uma parte minha sabia o motivo e no fundo, bem no fundo tentava se conformar com isso: a vida segue pra todo mundo. De minha parte eu continuava a insistir, enviando cartas todos os meses, as vezes uma por semana, com desenhos, com cheirinho, com lacinhos, na esperança de que elas percebessem o quanto a saudade estava apertando, o quanto a falta de contato com elas estava me destruindo. As vezes, uma ou outra resposta ainda chegava, mas já num tom diferente dos tempos de colégio. E embora minha vida também estivesse passando por mudanças, eu não conseguia, como já disse, compreender e aceitar o fato de que as coisas já não eram mais como antes. A saudade foi se transformando em tristeza, a tristeza foi se transformando em raiva e a raiva se tornou mágoa. Como elas puderam, como elas ousaram fazer isso comigo? Me esquecer após três maravilhosos anos juntos. E a nossa eterna amizade, onde ficava? Questionamentos à parte, eu tinha também meus próprios problemas para resolver, a busca pelo primeiro emprego, pela minha identidade (a qual, embora as vezes não pareça, até hoje anda meio perdida). Minha mãe, que sempre foi ima pessoa insatisfeita com a própria vida, ao me ver sem uma perspectiva de vida, começou a me culpar por muitas coisas e a exigir de mim uma postura mais adulta, mais responsável, mas minhas muitas desavenças com a minha mãe é assunto pra outras postagens, quem sabe. 


Segui minha juventude assim, confuso quanto a mim mesmo e com pessoas entrando e saindo de minha vida a todo o momento e sempre deixando uma lacuna que eu não conseguia preencher. Se consigo hoje em dia? Ainda não, apenas aprendi a lidar melhor com isso, aceitar melhor certas coisas. 
Uma parte de mim, hoje já quase apagada, ainda acredita que existam amizades eternas, que se pode encontrar um amor verdadeiro, mas depois de tanto me frustrar (por minha própria culpa, que fique claro), tenho evitado me entregar tanto quanto fazia antes, acreditar que vou manter comigo coisas e pessoas que são passageiras. Hoje tenho consciência de que NADA é seu, nada é seu PRA SEMPRE. Todas as coisas e todas as pessoas que passam pela nossa vida, fiquem conosco o tempo que ficarem, uma semana, um ano, dez anos, de uma forma ou de outra PRECISAM ir alguma hora, porque esse é o fluxo natural. Você não tem controle sobre nada nem ninguém, apenas sobre si mesmo e as decisões que você toma. Sim, é chato deixar coisas pra trás, acredito que por mais que aceitemos que essa é a realidade necessária, ninguém gosta muito, despedidas são sempre ruins e sempre deixam um vazio estranho. Mas é egoísmo e ter uma visão limitada demais, acreditar que você não consiga mais seguir adiante sem aquilo ou aquele alguém ou crer/querer que a pessoa não seja feliz a menos que seja junto com você. Mesmo tendo consciência disso, não vou dizer que aceito plenamente, não vou dizer que não me dói, que uma parte de mim gostaria muito de ser o motivo de felicidade de alguém. Mas as coisas raramente são como queremos, elas são como precisam ser. E não existe apenas o SEU lado da história, não podemos ser o sol, com as pessoas orbitando ao nosso redor como planetas, dependendo de nós para existir. Todos temos nossas histórias e desejos distintos e, se é complicado aceitar isso, há pelo menos a obrigação de se respeitar.

Gostaria muito que as pessoas que passaram pela minha vida ainda estivessem nela, mas não é minha escolha, não sou eu quem decide isso. estamos todos buscando nosso lugar no mundo e buscas exigem deslocamento, exigem decisões, escolhas que na maioria das vezes nos levam por caminhos separados. Então, a todos vocês que em algum momento tiveram que deixar a minha vida, à aqueles que eu escolhi deixar, a VOCÊ em especial, só tenho a dizer que não lhes desejo mal, sinto falta sim, MUITA, principalmente nos dias mais quietos, mas não lhes desejo mal, apenas boa sorte nas escolhas que fizerem. Independente de mágoas ou rancores, agradeço pelo tempo que deram a mim, por livre e espontânea vontade, até o momento em que precisaram partir por algum motivo. O que vou pedir agora, ainda pode soar rancoroso, mas acreditem, não é. O que peço é pelo meu bem e o de vocês também. Eu gostaria muito de tê-los de volta, mas sejam quem forem, se um dia decidirem voltar pra minha vida, voltem por inteiro ou por favor não voltem mais, sigam com suas vidas. Como disse, lhes desejo de coração toda a sorte do mundo no caminho que escolherem. Desejo que tomem as melhores decisões pras suas vidas, que evitem os caminhos pedregosos e que cheguem bem seja lá onde quiserem estar no futuro. O espaço que vocês deixaram em meu coração vai sempre estar aqui, mais cicatrizado, um pouco menos acolhedor, mas não por mal, é apenas um mecanismo de defesa, mas vai sempre estar aqui. Saibam que eu me lembro todos os dias de cada um de vocês e os levo comigo onde quer que vá. Se vocês fazem o mesmo eu não sei, nem lhes cobro isso, não mais. Independente das coisas boas ou ruins que aconteceram, o que eu ainda sinto vale pelos dois lados.



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