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Sobre temores involuntários, inevitabilidade e resquícios de esperanças talvez.

terça-feira, 4 de julho de 2017



Eu não sei se vocês costumam pensar nisso com frequência ou se como muitos, evitam essa reflexão por medo de como ela faz com que se sintam. De fato por mais que seja uma parte natural da vida, pensar sobre a morte não é uma coisa agradável, principalmente pensar sobre a própria mortalidade. Muitas pessoas não suportam nem a mais leve menção do assunto, duas palavras sobre isso e já perdem o controle emocional, mostrando muita irritação. Logicamente não é preciso ser um psicólogo pra saber que não se trata de raiva, mas sim medo, afinal aos trancos e barrancos estamos vivos, indo dormir e acordando todas as manhãs, trabalhando, estudando, conhecendo lugares, pessoas, tendo novas experiências todos os dias. Não que se possa generalizar isso, claro, mas é o conceito básico de se estar vivo, creio eu.

Como todo mundo eu não gosto de pensar na morte e quando isso acontece procuro afastar esse pensamento e as sensações ruins que ele me causa, mas de uns anos pra cá, diante de algumas coisas que me aconteceram não consigo deixar de pensar nela com mais frequência, ao menos três vezes ao ano, perto da data das minhas consultas médicas.
Sei que não importa o que façamos ou como vivamos nossas vidas, pro bem ou pro mal, felizes ou infelizes, todos vamos morrer um dia, as pilhas vão acabar e o processo natural vai ter se completado. Por mais medo ou em alguns casos pavor que alguns tenham de pensar sobre isso, vai ser algo do qual nenhum de nós vai conseguir fugir. Independente de considerarmos nossa vida boa ou não, acho que o que todos queremos em comum é uma boa morte, afinal, já que seremos obrigados a ir embora algum dia, que seja de forma pacifica. Nem todos tem esse privilegio e isso assusta. Isso me assusta.

Por mais que temer a morte seja inútil, tenho medo, não constantemente como já disse, mas de tempos em tempos, da forma como ela virá até mim. Há tempos perdi o costume de orar, faço isso raramente hoje em dia, confesso que não sei dizer ao certo se ainda acredito em Deus ou não, talvez seja apenas a esperança de que haja alguma coisa maior lá, em algum lugar ouvindo, mas quando oro, além de pedir pelas pessoas com as quais realmente me importo, que podem ser contadas nos dedos, diga-se de passagem, peço por uma morte tranquila, seja lá quando ela decidir vir a mim. Não quero morrer doente como acontece com muitos, sofrendo até o instante derradeiro, não quero dar trabalho a ninguém, mas ao mesmo tempo eu gostaria muito de não ter que passar por isso sozinho.

Noutro dia desses um amigo me perguntou se eu choro ainda hoje, beirando meus 41 anos. Amei a pergunta na verdade, por mais estranho que possa parecer ela me aqueceu tanto quanto os abraços tímidos que ele costuma me dar em nossos encontros e despedidas. Considero bem melhor do que “Qual seu filme preferido?” ou “Qual a tamanho do seu pau?” (não que eu tenha qualquer problema em dar essas informações). Eu disse a ele que ainda choro fácil. Estou chorando agora enquanto escrevo essas linhas. Um misto de tristeza e medo, confesso que muito do segundo. E uma necessidade de colo e afago gigantesca. Duas coisas as quais não tenho tido. Necessidades humanas são relativas e com graus variantes, as minhas são essas e talvez sempre sejam. Tenho passado a vida buscando pessoas como eu, que compartilhem dos mesmos sentimentos mas quando encontro, ou não posso estar com elas ou elas estão tão igualmente confusas e tristes que trancam seu coração. Talvez eu seja assim também e apenas não perceba ou admita. Eu que tanto acuso as pessoas de construírem muros em torno de si talvez tenha erguido o meu próprio. Eu gostaria muito que iluminassem a minha escuridão, mas também tenho medo de escurecer a vida de quem quer que tente se aproximar.


Gostaria de ser mais como a maioria das pessoas, que não se deixam abalar tanto pelas tribulações que a vida lhes impõe, não erguem muros em torno de si, não endurecem seu coração apesar das decepções e desilusões pelas quais todos passamos sem exceção. Gostaria de conseguir pensar no fim somente próximo do fim, mas é essa incógnita da proximidade que justamente me causa essa inquietude. Embora eu sinta que os anos estão passando cada vez mais rápido e que envelhecer e consequentemente morrer é apenas uma questão de quando, ainda consigo sentir as vezes uma fagulha tênue de que talvez as coisas ainda deem certo pra mim, de que eu não chegue na reta final, olhe pra trás e sinta que apenas fui um expectador da vida, como muitos. Seria um final bem triste, como desses filmes ou livros que te dão um nó no estômago e os quais você não quer assistir ou ler novamente. Fico contente em saber que ainda consigo ter esperança, pois é isso que essa fagulha é. Estou aqui no momento e sabe-se lá até quando. Só me cabe aceitar e ir seguindo em frente. Então, que seja ao menos com o mínimo de esperança de que talvez o final seja como eu gostaria. É o que tem me feito levantar da cama todos os dias.





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