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Sobre falso altruísmo, o melhor amigo que alguém pode ter e autopreservação

terça-feira, 6 de março de 2018




Mesmo depois de me tornar um adolescente, quando tinha meus 15, 16 anos, eu ainda era completamente ingênuo em relação a muitas coisas. Enquanto meus amigos com a mesma idade já se masturbavam e conversavam entre si sobre pornografia, eu ainda gostava de assistir meus desenhos animados e brincar com meus bonecos de heróis no fundo do quintal.
Me lembro certa vez quando estava na casa do meu melhor amigo (pelo menos assim eu o considerava) assistindo Jaspion, quando uma amiga nossa chegou procurando por ele. Achei super natural, afinal éramos colegas de classe, mas os minutos foram passando e eu notei que os dois começaram a ficar bastante desconfortáveis com a minha presença. A garota então me olhou irritada e disse: "Eduardo, será que você pode nos dar licença um pouco?"
Surpreso, fiquei sem entender o porque eles estavam bravos e também por que praticamente eu estava sendo expulso da sala. Sem graça, fui até o quintal dele e fiquei lá sentado quieto, sozinho, por mais ou menos uma hora sem entender o que estava acontecendo. Depois, quando ela foi embora ele foi até mim e me explicou que os dois tinham começado a namorar e que ele "precisava ficar um pouco com ela". De minha parte fiquei bastante abalado, perdi o chão na verdade, afinal nós éramos amigos, ele era meu melhor amigo. A gente via TV junto, jogávamos vídeo-game, desenhávamos juntos, brincávamos juntos e de repente, sem mais nem menos ele estava... como é mesmo a palavra? "Namorando". Eu, como melhor amigo deveria ser mais do que o suficiente pra ele. Bem, como eu disse, eu era extremamente ingênuo.

Nos anos que se seguiram passei por situações semelhantes a essa diversas vezes com outros amigos. Tudo parecia normal e em seu devido lugar até que, sem aviso prévio o amigo simplesmente perdia o interesse por mim. E mesmo com essa situação se repetindo, todas as vezes o meu mundo desmoronava quando isso acontecia. De uma hora pra outra eu era simplesmente descartado, colocado de lado e não entendia o por que disso. Por que era tão mais interessante pra ele ficar com uma "namorada" do que comigo? Afinal eu era o melhor amigo que uma pessoa podia desejar, do tipo que se joga na frente do outro pra tomar um tiro por ele. "No que um namorado ou namorada pode ser melhor do que um amigo?" Eu pensava. E o que mais me irritava (e sinceramente irrita até hoje) é que, para o outro, tudo parece normal, mesmo quando eu demonstrava abertamente que me sentia descartado, quando eu dizia isso com todas as letras, para meu amigo do momento meus sentimentos eram incompreensíveis. A pessoa simplesmente não consegue enxergar. "Oras bolas, não tem nada de errado Eduardo. Eu só parei de ir na sua casa, parei de te chamar pra minha casa, não saio mais com você, não converso mais com você, quando converso, só falo sobre minha namorada, mas fora isso absolutamente nada mudou".
Eu, na minha teimosia ingênua, no meu inconformismo, insistia em um cabo de guerra inútil, forçava ao máximo um "triângulo amoroso" o qual no final tinha sempre o mesmo resultado: minha desistência. Eu saía ressentido, ofendido, irritado e o desgaste era apenas meu, com a mesma sensação que ainda carrego comigo até hoje: a de que as pessoas só ficam próximas de você quando não tem algo melhor para satisfazer suas necessidades, sua carência. A partir do momento em que algo ou alguém melhor surge na vida delas, instintivamente elas mudam seu foco. Não é nem por maldade ou pouco caso, creio eu, depois de décadas na Terra eu percebo que isso é natural pra maioria.

É por esses e muitos outros motivos que hoje eu, embora ainda me sinta sozinho, ainda me sinta posto de lado algumas vezes prefiro simplesmente não me desgastar com algo que sei que vou perder no final. Já desfiz muitas amizades por conta disso, guardei mágoas demais e hoje consigo perceber que é uma atitude radical demais, não é preciso tanto, mas depois de tantas vezes passando pela mesma situação eu meio que desenvolvi um mecanismo de defesa, um bloqueio emocional. Prefiro sair um pouco de cena não pelos outros dois, mas por mim e pelo meu benefício próprio. Já vivi esse tipo de situação demais pra saber que as outras pessoas estão bem como estão, elas se bastam. É como diz aquele ditado: "Dois é bom, três é demais", ainda mais quando sou eu quem sempre sai usando o nariz de palhaço no final da brincadeira. Sei bem que essa pode não ser a melhor das atitudes, mas é o que eu escolhi para sofrer menos, para me preservar. Sempre dizem que você deve se colocar em primeiro lugar, deve se cuidar, ter carinho por si mesmo. E entre um escorregão e outro que eu ainda dou, essa foi a forma que eu encontrei de não sofrer tanto com esse tipo de situação.
Não deixa de ser um falso altruísmo. Em verdade finjo que faço isso para dar aos outros o espaço que eles precisam, sendo que na verdade eu só não quero gastar minhas energias em batalhas as quais sei que vou perder, porque estou em desvantagem.






2 Divagações

  1. Entendo, todos em algum momento na vida nos sentimos preteridos por um amigo, apenas algumas pessoas se sentem mais do que outras, me identifiquei com você, mas eu não conseguia ser sincera como você, eu também meio que me afastava também, a última situação parecida que aconteceu comigo foi beemm pior do que você descreveu, me senti traída, pois minha "amiga" me usou pra conquistar o namorado e no final tentou fingir que tava tudo bem, mas não estava. Sinto muito por você estar desconfortável. :(

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    1. Oi querida, obrigado pelo comentário.
      Hoje eu procuro tentar lidar melhor com esses sentimentos, mas mesmos agora ainda é complicado, pois sou e acho que sempre serei muito carente. Um lado meu se esforça para entender que a vida e as pessoas são assim mesmo em sua maioria, mas ainda existe uma parte em mim que se sente muito rebaixado quando isso acontece. beijos.

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