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Sobre juras não cumpridas, motivações dúbias, distanciamento social e imaginação distorcida

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Dos meus muitos defeitos, um dos piores deles e o qual ainda persiste até hoje é o de tomar minhas decisões e atitudes baseadas não no que eu de fato tenho vontade, mas pensando em como eu serei visto pelas outras pessoas e se isso fará com que elas passem a gostar mais de mim ou não.
Há alguns anos conheci um rapaz pelo qual fiquei muito apegado, pois ele era muito tímido e me identifiquei demais. Ele era católico na época, ainda deve ser, tocava na banda da igreja e tudo o mais. De minha parte eu o considerava um dos meus melhores amigos, mesmo que, refletindo hoje, ele jamais tivesse de fato demonstrado esse interesse. Mas como ele sempre foi legal comigo quando era estagiário na época em que eu trabalhava nos Correios, achei que fosse o suficiente para nos tornarmos melhores amigos.
Eu nunca fui católico praticante, nunca me interessei por nenhuma religião, como até hoje não me interesso, mas na época, desejando muito que esse rapaz passasse a gostar mais de mim, se aproximasse mais, tomei a decisão de fazer a Primeira Comunhão. Sem vontade alguma ou real interesse, apenas achei que, se eu fizesse parte do mundo dele, talvez isso nos aproximaria cada dia mais. Isso nunca aconteceu e hoje já não nos falamos mais. Nem sei que fim ele levou. E ah sim, antes que eu me esqueça, cursei três anos de Colégio Técnico, o mesmo curso que ele fez, acreditando que isso também serviria para nos aproximar. Quem sabe se eu frequentasse o mesmo lugar que ele frequentou, conhecesse as mesmas pessoas, professores, aprendesse as mesmas coisas, isso faria com que ele me quisesse mais por perto quase como que um irmão, uma alma gêmea.
Muito tempo depois, já crismado e formado Técnico em Informática, quando caí na real e percebi que de nada adiantou eu tentar ser como ele para conquistá-lo, jurei que jamais agiria dessa forma novamente.
Anos depois fiz um novo amigo e mais uma vez acreditei que a forma certa de fazer com que ele gostasse mais de mim fosse ser como ele. Em algumas ocasiões quando saíamos a noite em algum show ou barzinho, ele, junto com o irmão mais velho fumava cigarros, algo que eu sempre odiei e detesto até hoje, o cheiro, mesmo de longe me faz passar mal, mas na época, tudo o que eu queria era fazer com que ele gostasse mais de mim, me quisesse sempre por perto, então claro, tentei aprender a fumar também para poder fazê-lo durante nossos passeios noturnos. Inclusive experimentei maconha, pois ele me disse que já havia experimentado e então, é claro, eu tinha que ter essa experiência também. Na minha imaginação distorcida, quanto mais eu agisse como ele, mais a chance de nos tornarmos íntimos eu teria. Isso nunca aconteceu e hoje já não nos falamos mais. Nem sei que fim ele levou. E ah sim, antes que eu me esqueça, por sorte não me viciei em cigarro e nem maconha. Na verdade achei um hábito bem idiota.

Na postagem anterior à esta, escrevi sobre como foi pra mim ter ido pela primeira vez numa sauna liberal a convite de um amigo muito querido. Caso você ainda não tenha lido, clique aqui para tanto.
Depois de decidir passar por essa experiência eu refleti muito e ainda estou, sobre o que, de fato, me motivou a tomar a iniciativa de aceitar o convite, pois como disse no texto anterior, nunca tive vontade ou real interesse em conhecer um lugar assim. Confesso que sou bem promíscuo entre quatro paredes, mas sempre achei esse tipo de ambiente pesado demais pra mim.
Apesar de ter gostado da experiência, cheguei à conclusão de que mais uma vez decidi vivenciá-la pelos motivos errados. Como disse, esse amigo o qual me fez o convite é alguém muito querido, alguém com quem gosto muito de estar junto, passar o tempo, beber, conversar e copular. Uma das pessoas mais compreensivas e pacientes que já conheci, levando em conta minha personalidade. Costumo brincar com ele, agradecendo por ele me tolerar. Ele fica bravo e garante que não se trata disso, dizendo que, mesmo hoje em dia, estando quase sem tempo, quando têm a oportunidade gosta muito da minha companhia.

Começou por conta da pandemia e do distanciamento social imposto pela situação, decidimos nos afastar por um tempo por segurança, mas com o passar dos meses e a chegada do "novo normal", fomos ambos obrigados a nos adaptar cada vez mais às nossas novas rotinas de vida, trabalhando em home-office e começando um curso de Pós-Graduação, o que, embora seja absurdamente positivo para ambos, nos toma grande parte do tempo, principalmente da parte dele, que é muito mais proativo do que eu em todos os sentidos. Agora no mês de agosto se completam 10 meses que deixei de poder visitá-lo. E sinto muita falta, Deus, como sinto falta. As pessoas precisam ter uma certa cautela comigo, pois se me dão carinho, atenção e companhia, fico muito, muito dependente delas. Perigosamente pegajoso (tenho outro amigo que, se estiver lendo isso deve estar dando graças à Deus por ter voltado pra cidade natal).
Refletindo então sobre minha visita à sauna, tentando descobrir o que de fato me motivou a fazê-lo, deduzi que, em verdade eu tomei a decisão unicamente para poder estar com meu amigo depois de tantos meses. Como disse antes, não estava com vontade e tampouco com tesão, curioso sim, confesso, mas minha principal motivação foi rever pessoalmente meu amigo, poder beber com ele, conversar, tocá-lo de forma íntima. E se para tanto eu fosse obrigado a dividi-lo com outras pessoas (sou péssimo nisso, embora hoje finja super bem), então que seja, se esse era o único jeito.
Se ele estiver lendo isso, peço que por favor não entenda mal minhas palavras, não me senti forçado ou coagido de forma alguma. Desconfortável sim em alguns momentos, constrangido em outros, mas no frigir dos ovos eu gostei muito de ter vivido essa experiência e não me arrependo. Tanto que, como já falei, em algum momento quero voltar ao local, quando me sentir disposto à isso. Mas o fato real é que, assim como nos outros casos, tomei a decisão de passar por isso para que, talvez assim, ele quem sabe se identifique mais comigo, afinal, se eu conhecer o mundo dele, fazer parte, num certo grau, ele queira estar mais comigo, passe a gostar ainda mais de mim.

Apesar de decidir fazer muitas coisas pelos motivos errados, não é de tudo que me arrependo. Não me arrependo de ter feito a primeira comunhão, mesmo que hoje isso continue não me servindo de nada, contudo ter passado pela experiência foi algo curioso. Assim como não me arrependo de ter feito um curso Técnico, experimentado cigarro e maconha. Guardo isso tudo hoje na memória como experiências de vida, coisas pelas quais passei e que talvez um dia se tornem boas histórias para serem contadas a quem interessar possa. De outras me arrependo sim, me arrependo muito e voltaria no tempo se pudesse para não cometer os erros que cometi, mas é impossível fazê-lo, então, vou seguindo a vida.

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