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Sobre decepções, mágoas e desencantos

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Agora no mês de outubro se completarão exatos 10 meses desde que eu cortei relações com a pessoa que cheguei a considerar um dos meus melhores amigos, Ricardo.
Sofro de depressão, a qual infelizmente devo ter herdado da minha mãe e, um dos diversos sintomas dela é a minha extrema carência afetiva. Isso desde a infância.
Por causa dessa 
carência, toda vez que faço um amigo de
quem gosto, acabo me apegando demais a ele. Esse tipo de comportamento, sei, sufoca e irrita o “alvo” do seu afeto. Mas acreditem, o carente sofre ainda mais. Principalmente quando ele tem a consciência de que está sufocando o outro e ao mesmo tempo se anulando e simplesmente não consegue parar com isso.
Bem, reconhecendo isso, admito que uns 80% da culpa do término de nossa amizade foi minha. Inclusive acredito que, caso ele seja indagado atualmente sobre o que aconteceu, ele com certeza dirá que nada tem contra mim, que nunca me desprezou, que nunca deixou de me dar a atenção que eu pedia e que quem tomou a decisão de se afastar fui eu.
Sim, quem decidiu se afastar, quem decidiu parar de falar com ele fui eu. Em nenhum momento, mesmo nas nossas discussões mais hostis ele me disse que não queria mais a minha amizade. Bom, “discutir” na verdade é um termo relativo nesse caso. Minhas discussões com o Ricardo eram na verdade mais monólogos, mais uma briga comigo mesmo do que com ele. Ele é aquele tipo irritante de pessoa que deixa você falar, falar e falar, interrompendo apenas algumas vezes com um ou outro argumento. Por um lado isso é bom, pois mostra que ele tem um bom autocontrole. Por outro é extremamente irritante, pois não há nada pior para alguém irritado, como eu ficava com ele, do que a outra pessoa se mostrar inabalável perante o seu estado agressivo. Na verdade em 3 anos de “amizade” eu o vi apenas irritado com algumas situações. Nunca o vi perder o controle ou algo do tipo. Mesmo sob pressão.
Ta, to fugindo do tema. Eu tenho essa mania. Meus pensamentos são confusos e desorganizados. Mudam de um tópico pra outro muito facilmente.
Então ta. A culpa disso foi bastante minha? Foi sim. Admito. Contudo ele também não poderia se eximir de culpa. E o motivo de minha mágoa com ele, até hoje, depois de tantos meses é esse. Fui possessivo? Sim. Fui intolerante? Sim. E apesar dessas atitudes terem origem na minha carência afetiva extrema, ela não é desculpa para a maneira que agi com ele. Entretanto, não poderia ele ter sido um pouco mais compreensivo?
Nunca me abri com ninguém como me abri com ele. Sinal de que eu confiava demais no rapaz. Contei coisas da minha vida, da minha intimidade para ele que nem mesmo minha mãe e minha psicóloga sabem. Tudo isso para mostrar a ele o quanto eu o amava, o quanto confiava na pessoa dele.
Ele me pediu isso? Não. Mas digam, a gente controla o que sente?
Perto do final de nossa amizade, ele me dizia que eu o cobrava demais, que esperava demais dele. Tudo o que eu esperava dele é o que espero de qualquer bom amigo: Camaradagem, apoio incondicional, fraternidade... Compreensão. E me perdoem se alguém acha o contrário, mas eu não vejo nisso nada demais. Não vejo um esforço sobre humano o qual a pessoa tenha que fazer. As vezes eu fico pasmo como algumas coisas para mim tão simples, para outros são tão complicadas.


Novamente digo que, se hoje lhe for perguntado se ele me deu tudo isso, com certeza ele dirá que sim, que fez o que pode na medida do possível. Como ele mesmo me disse: “Eu me adapto a você mais do que você imagina!”
Oras. Adaptar-se a algo ou alguém não é a mesma coisa que aceitar, que compreender. Existe uma diferença muito grande nisso, gritante.
Adaptar-se por exemplo, é o que fazemos com aquela professora chata, bruxa, a qual apenas “toleramos” porque precisamos de boas notas ao final do ano para aprovação. Você se adapta àquela pessoa apenas porque é preciso. Um meio para chegar ao final. Cria aquela relação de respeito mútuo, mas não porque você gosta daquela pessoa, não porque você aceita ou compreende seu jeito. Aí o ano termina, você é aprovado e dá graças a Deus por nunca mais ter que olhar na cara daquela megera.

Aceitar e compreender são duas coisas completamente opostas à adaptação. Você pode não gostar do jeito da pessoa, pode não concordar, mas você a compreende, sabe por que ela é daquele jeito e, em prol de algo maior, passa por cima disso. Tenho um amigo, Adriano, que há algum tempo me disse: “Eu realmente não gosto desse seu comportamento. Muitas vezes me cansa. Mas conhecendo você, eu consigo passar por cima disso, porque sei que existe algo maior”.
Traduzindo, ele disse que não gosta da maneira que eu me comporto, mas ele consegue driblar isso em nome da nossa amizade.

Ninguém é igual a ninguém. Uns são mais limitados que outros. O Ricardo não é igual ao Adriano e vice-versa. Entretanto, se para o Adriano é tão fácil, porque para o Ricardo não foi?
Egoísmo. Descobri com o passar do tempo que o Ricardo, a quem eu tanto idolatrava, a quem eu coloquei num pedestal e pintei de ouro, é tão ou mais limitado do que eu.
Quando observamos uma coisa muito de perto, não conseguimos ver a coisa como um todo, vemos apenas um ou outro detalhe que queremos ver. É mais ou menos como olhar os seios de uma stripper pelo buraco da fechadura, se excitar e ao abrir a porta descobrir que a gostosa na verdade é o maior traveco.
Quando nos afastamos, olhamos a coisa um pouco mais de longe e com mais calma, com um olhar mais crítico e menos idólatra, percebemos rachaduras, defeitos e imperfeições que antes não havíamos reparado.

Com o Ricardo foi isso. Na minha ânsia por afeto, por carinho e compreensão, fiz dele a minha tábua de salvação, como eu mesmo disse pra ele em uma ocasião. Fiz dele um ser perfeito. Sem defeitos, quase um Deus. Literalmente, meu salvador. Mas como eu disse, ele é tão humano, falho e imperfeito quanto eu. Tão amedrontado com a vida, com a solidão, tão inseguro, tão carente quanto eu. Tão egoísta quanto eu.
Apegou-se e tornou-se dependente da namorada, tanto quanto eu dele. Anulou-se para ela tanto quanto eu para ele. E no caso de namoro, isso é ainda mais ridículo, porque as partes envolvidas alegam “amor”. Poderia repetir hoje para ele com todas as letras, todos os conselhos que ele me deu. Ainda assim ele não os aceitaria, não concordaria. Seu orgulho e egoísmo o impedem de admitir seus próprios erros com as pessoas. O impedem de reconhecer que em algumas partes ele é exatamente como eu.
Ainda penso muito nele desde que me afastei. Bem, na verdade penso nele todos os dias. Imaginando o que vem fazendo desde então e se algum dia terá interesse em minha amizade novamente. Eu sinceramente acho que não. Tenho me decepcionado demais com os seres humanos ultimamente e aprendido a não esperar mais tanto das pessoas como eu esperava.
Mas eu ainda me pergunto: Eu realmente espero tanto? Amizade, amor, fraternidade, companhia, um ombro amigo. Se uma pessoa não tem a capacidade de dar essas coisas simples, qual a utilidade dela no mundo?



2 Divagações

  1. me identifiquei totalmente com seu post, tô sem paralavras. sério!ai queria tanto conversar com vc, me identifiquei total. vou te adicionar no msn pode?
    obrigada por comentar no meu blog..então, eu até já abri uma conta aqui no blogspot..postei só uma coisa..é que eu já tenho aquele há um tempinho e tô com dó de deixa-lo, haha. mas eu também acho o blogspot bem mais legal! rsrs

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