Traumas pequenos de gente pequena - cinemas e games
terça-feira, 12 de janeiro de 2010Quando eu era adolescente, por volta dos meus 16, 17 anos, tinha um amigo de quem gostava muito (oras, que novidade, em que época da minha vida eu não tive um desses?), seu nome era César. Através desse amigo, conheci mais dois, um japonês, Daniel e um gordo, Samuel. Da minha parte ficamos bastante amigos (demorou pra cair a ficha de que as minhas amizades são sempre mais da minha parte).
Não havia garoto no mundo que não dava a vida para passar horas na frente da TV, detonando um irmão, um primo ou um amigo com "Hadoukens, Shoryukens e Sonic Boom". Estratégias de lutas, combinações de golpes, efim, as bíblias dos adolescentes da época eram duas: A revista Playboy e a Ação Games.
Conosco não era diferente, vivíamos enfiados na casa do Daniel depois da escola pra ficar jogando Street Fighter II até a noite. Éramos fãs de carteirinha mesmo.
Como todo o jogo de sucesso, não demorou para sair um filme pra cinema do jogo. Logicamente, como líamos as revistas de games todos os meses, ficamos sabendo de boato muitos meses antes e ficamos esperando pelo lançamento do filme ansiosamente, imaginando como ficariam os nossos heróis na tela grande. Eu particularmente, além de estar ansioso pelo filme, estava mais ainda pela oportunidade de poder sair sozinho pro cinema com os caras, "dar um rolê" como se diz. Nessa época a minha mãe estava apenas começando a me deixar sair sozinho mais do que 3 quadras de casa.
Eu também tinha vídeo-game nessa época, mas não era moderno como o dos meus amigos. Minha mãe nunca teve grana pra comprar nada muito caro. Mas mesmo assim tinha uns joguinhos legais e certo dia, combinei com o Daniel de trocarmos os aparelhos por uma semana, já que eu tinha um jogo que ele gostava. Ele aceitou de bom grado e fizemos a troca. Nessa época estava já próximo o lançamento do filme nos cinemas.
O que era pra ser uma troca de uma semana se arrastou por quase um mês. Ele viciou no meu jogo e eu aproveitei, já que o aparelho dele era mais moderno que o meu, podia aproveitar mais tempo.
Sempre procurei tomar o máximo de cuidado com as coisas dos outros. Essa foi uma coisa que a minha mãe me ensinou desde cedo. Principalmente pelo fato de que, se eu quebrasse, ela não teria dinheiro pra pagar o prejuízo. Jogava o vídeo-game do Daniel todos os dias, sempre manuseando o joystick com um paninho e cobrindo o aparelho com um lençol depois de desligá-lo. Não queria que ele pegasse pó. Cuidei da coisa como se fosse minha.
Bom, o tempo passou e destrocamos os aparelhos. Ele me devolveu o meu e eu o dele, sem nenhum arranhão. Inclusive até passei um paninho com álcool pra desinfetar. Afinal, é... era da minha natureza querer agradar os amigos pra que eles gostassem mais de mim.
Passada uma semana depois da destroca, estava assistindo TV quando vi o anúncio do filme do Street Fighter. Ia estreiar na próxima sexta. Fiquei louco. Tudo o que eu conseguia pensar era em ir até os meus amigos e avisá-los, empolgado, de que o filme pelo qual tanto esperamos iria finalmente estreiar.
Eu não estava só empolgado, estava feliz, realmente feliz. Não só pelo filme, mas por poder sair com os caras que eu curtia tanto.
Depois do almoço, o qual praticamente aspirei de tanta ansiedade, fui até a casa do Daniel porque sabia que os três estariam lá jogando. Cheguei a correr pela rua pra chegar mais rápido, tamanha era a minha gana de contar-lhes a novidade. Ficava imaginando a reação deles, a gente marcando uma data pra ir, comentando sobre o filme depois, enfim...
Cheguei até o portão do Daniel, ofegante e apertei a campaínha. Uma, duas, três vezes e nada de virem me atender. Meu sangue tava fervilhando de ansiedade, tava louco pra lhes contar a novidade. Comecei a estranhar a demora. Foi quando um vulto apareceu por trás da porta de vidro da sala. Já me preparava pra entrar, quando comecei a os ouvir cochichando:
"_É ele que tá aí fora? ..."
"_Ih, não sei, acho que é. E agora?..."
"_E aí? A gente deixa ele entrar?..."
"_Ah, sei lá cara! Vai lá. pergunta pro Daniel..."
Fiquei surpreso. Realmente fiquei sem saber o que pensar. O que significava aquilo? O que estava acontecendo?
O César e o Samuel vieram abrir o portão pra mim com uma cara de poucos amigos. Toda a minha euforia deu lugar a uma dor de estômago esquisita. Nada estava fazendo sentido. Entrei receoso e fomos até o quarto do garoto, onde ficava o vídeo-game. Entrei e ele se levantou furioso:
"_Escuta aqui! O que é que você fez com o meu video-game? Cagou em cima?"
Minha voz sumiu, meu chão sumiu. Não fazia idéia do que é que ele estava falando.
"_Responde! O que é que você fez? Tua mãe sentou com a buceta em cima dele? Ele tá todo seboso. Você passou alguma coisa nele?"
"_Eu limpei ele." respondi. "_Passei um paninho com alcool pra limpar. Só isso."
"_Ah tá! Limpou igual a tua bunda! Você melou todo ele. Tua mãe deve ter cagado em cima!"
Eu não conseguia falar nada. Minha vontade era chorar ali mesmo. Fui pra dar-lhes uma notícia feliz e de repente estava acontecendo tudo aquilo do nada.
"_Mas eu tomei o maior cuidado!" eu disse. "_Cobria com um pano. Limpava. Até segurava os controles com um pano!"
"_Deve ter sido com a calcinha da tua mãe então! Porque o controle tá todo sujo, encardido. E um dos botões nem está funcionando mais! Se você não sabe cuidar das coisas dos outros, não empresta!"
Fiquei esperando uma defesa dos outros dois, mas é lógico, a corda arrebenta sempre do lado mais fraco. Quem tinha o video-game melhor era o Daneil. Era mais vantajoso pra os dois, não ficarem contra ele. Eu permaneci calado, chorando o tempo todo. Sempre tive medo de brigar, de apanhar, sempre engoli sapos por pura covardia. Os três ficaram fazendo piadinhas sobre mim e minha mãe por quase meia hora. Eu permaneci calado, sentado ouvindo tudo, queimando por dentro.
Logicamente que eles nem deixaram mais eu jogar, apenas jogavam entre si, conversavam entre si e me humilhavam entre uma frase e outra. Fiquei naquilo por quase 30 minutos, esperando, sei lá, que eles se compadecessem e me pedissem desculpas, mas não, a coisa só piorava. Eu levantei do sofá, segurando o choro com todas as forças e disse baixinho:
"_Alguém abre lá o portão pra mim por favor. Eu já vou embora!"
Os dois me levaram até o portão com aquela expressão de "desculpe, não há nada que possamos fazer" e eu sai pra rua. Eles entraram pra dentro, fecharam a porta e eu fui indo até a esquina. Não aguentava dar mais um passo. Agaixei-me, sentei na sarjeta e deixei o choro vir. Sabe quando as pessoas definem algúm sentimento como "uma dor tão intensa"? Pois é, nesse dia eu pude ver o que significava.
De sentado que eu estava, me deitei na calçada e comecei a gemer, chorar como quando eu tinha 5 anos e a minha mãe rasgou a minha carta. Meus braços e minhas pernas não se mexiam. Tudo o que eu queria era ficar deitado naquela calçada, chorando até morrer. Demorei horas pra voltar pra casa, fiquei na rua até tudo aquilo passar. Nõ queria que a minha mãe me perguntasse o que havia acontecido. Depois desse dia, jamais voltei a falar com qualquer um dos três. Fui assistir Street Fighter com a minha mãe.
Há alguns anos atrás a minha mãe encontrou o Daniel em um super mercado. Cumprimentou-o e perguntou pra ele o porque havíamos nos afastado. Ele simplesmente respondeu:
"_AH, eu não sei, dona Marlene! Nem me lembro mais. Acho que foi por causa de um video-game ou sei lá o que. Acho que ele ficou bravo com alguma coisa, nem sei o que?"
Pois é. Assim são as pessoas. Gozado como a vida é injusta, não. Elas passam pela sua vida, te dizem coisas, magoam você e pra elas, é como se nada tivesse acontecido. Hoje pelo que eu sei ele é um policial, está casado, o César também, o Samuel sabe-se lá por onde anda. Mas eles contiuaram com suas vidas, como se nada tivessem feito, como se nada tivesse acontecido. Pra eles, aquele foi um dia normal e comum como qualquer outro. Eu fui apenas mais um na lista de outros com os quais eles já devem ter feito a mesma coisa. Assim como o Ricardo e agora o Rodrigo, eles acham que não estão em dívida comigo, que não me devem nada, que jamais fizeram ou disseram nada que pudesse me magoar.
Eu só queria companhia pro cinema.
3 Divagações
É sempre assim quem magoa nunca lembra.
ResponderExcluirCACETADA CARA
ResponderExcluirQUE BANDO DE FILHOS DA P*****
cara duas coisas eu aprendi nessa vida
1°- não empresto,não troco,e nem sou fiador de ninguem
por que nem todo mundo penssa igual vc,ja quase briguei com um amigo,justamente pq tirei algo pra ele no meu nome,ele não pago e meu nome foi pro spc,depois dai eu mudei e nunca mas tive problemas com niguem.
2°- O amigo de verdade ele vem até vc,não é preciso fazer força para gostarem de vc é algo natural,e nem te pedem nada em troca,gostam de vc pelo que vc é e ponto final,eu sempre me afastei de pessoas que eu precisava sempre ta correndo atraz,sabe aquele tipo de amizades que só vc liga,só vc se emporta,só vc que ta sempre chamando pra sair,se vc larga de mão os cara num tão nem ai,eu sempre me afastei desse tipo de gente,tenho poucos amigos da pra contar no dedo,mas são aqueles tipos de amigos se eu desaparecer uma semana,eles vem atraz de mim para saber o que aconteceu,eu acho que vc só sabe se seu amigo é verdadeiro mesmo quando vc não tem nada pra oferecer e ainda assim ele ta sempre ali do seu lado
Ja aconteceu coisas parecidas comigo de amigos olhando torto quando ia na casa deles apenas porque ele tinha um Play 2 e eu um Super Nitendo. Bom... contei a minha tia na época, e sabe o que ela disse? Que no final de tudo, o único amigos verdadeiro que vc tem é vc mesmo, mais ninguuém. Desde então quando me decepciono com um amigo, não é tão grande a decepção, pq no fundo ja esperava por isso e assim procuro ser feliz e amigo de mim mesmo :D
ResponderExcluirMuito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!