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Sobre pesadelos secos, sonhos molhados, vinil e hospitais.

sábado, 15 de maio de 2010


Quando falamos ou ouvimos falar de pesadelos pensamos logo em monstros, morte, coisas ruins, medo.
Quando eu era pequeno, tinha um pesadelo que se repetiu noite após noite durante anos. Eu não sei se alguns de vocês se lembram do famoso grupo Secos e Molhados, do qual fazia parte o Ney Matogrosso. Minha tia tinha os discos deles, adorava-os e um em especial me chamava muito a atenção, pois a capa dele naquela época me assustava demais, pra mim era bizarra, muito mórbida.


As cabeças sobre a mesa, pintadas com maquiagem estranha, as expressões sérias e mortas. Eu ficava olhando aquela capa durante horas e memorizando tudo. Me lembrava umas dessas estórias dos contos da Cripta, sobre mansões mal assombradas.
O caso é que depois de um tempo, passei a sonhar com essa capa todas as noites sem parar. Sempre a mesma coisa, sempre o mesmo início e o mesmo desfecho. Era noite, eu estava na rua deserta, andando pelas calçadas do hospital aqui da cidade. Talvez coisa do subconsciente o lance do hospital, já que minha mãe diz hoje que quando eu era bebê passei um bom tempo internado doente, desenganado pelos médicos que diziam que eu iria morrer. Sabem como eram os anos 70 não? A medicina não era lá aquelas maravilhas. Bom, mas voltando ao sonho, toda noite o mesmo. Eu caminhando na calçada em torno do hospital e de repente do nada, monstros começavam a correr atrás de mim. Corpos magros, quase esqueléticos, mas com uma cabeça maior do que o normal. As cabeças da capa do disco dos Secos e Molhados.

Eu corria desesperadamente, sem olhar pra trás e sem parar nem um minuto. Se eu me virasse eles me pegariam. Eu nunca saía da calçada do hospital, dava a volta no quarteirão todo, tipo aqueles desenhos do Tom correndo atrás do Jerry sem parar. Eu dava voltas e voltas, uma, duas, três vezes. Eu não olhava pra trás mas sabia que eles estavam a centímetros de mim, correndo, quase me alcançando.
O sonho sempre terminava da mesma forma. Depois de muito dar voltas no quarteirão eu acabava desistindo, afinal eles acabariam me pegando mesmo. Eu parava, deitava na calçada, cobria os olhos e acordava. Hoje eu acho isso até muito engraçado. Imaginar os Secos e Molhados cabeçudos me perseguindo é bem cômico, mas fico curioso quanto ao significado psicológico disso. Nossos sonhos sempre tem um significado.

O tempo vai passando, vamos crescendo e tendo experiências de vida diferentes, muitas coisas mudam inclusive os tipos de pesadelos que passamos a ter.
Na minha pré adolescência, além dos típicos "sonhos molhados" de todo garoto, continuava com meus pesadelos, agora diferentes. E esse pesadelo confesso, as vezes vem a mim ainda hoje.

Nele eu estou passeando com meu grupo de amigos. Esses amigos variam de acordo com a época. Antes eram os amigos do ginásio, depois os do colégio, recentemente os do curso técnico. Bom, mas estou passeando com os amigos pelas ruas, rindo, conversando, interagindo, feliz, me sentindo parte do grupo. A certa altura do passeio, percebo que um dos meus cadarços está desamarrado. Eu então paro de repente e aviso o pessoal:

"_Gente, por favor, dá um tempinho aí que o meu cadarço desamarrou. Para um pouco. Espera eu amarrar."

Eu me agaixo e começo a amarrar o cadarço apressadamente. Só que o fato é que ninguém para pra me esperar. Na verdade ninguém sequer me escuta pedir. Continuam indo em frente, rindo e conversando, se distanciando. Eu então começo a amarrar o cadarço mais desesperadamente ainda, só que não consigo dar o nó de jeito nenhum e peço novamente:

"_Ei povo! Me espera! Dá um tempo aí! Esperem um pouquinho só!" Mas ainda assim ninguém me ouve e continuam indo, me ignorando como se eu nunca tivesse estado lá.

Começa a me dar um desespero, um aperto no peito e eu continuo me enrolando todo com o cadarço. Então eles dobram alguma esquina bem adiante.
Eu me desespero e com o cadarço desamarrado mesmo, me levanto e começo a correr atrás deles, gritando para que me esperem. Chego até a esquina onde eles viraram, olho, mas eles desaparecerem, não estão mais lá e nem em lugar algúm. Eu começo a ficar mais desesperado ainda e começo a correr pelas ruas todas procurando eles, chamando, mas aí não os acho mais em lugar nenhum. Olho ao redor e estou sozinho nas ruas desertas. Então acordo.

Acho que é por isso que recentemente tive uma reação tão violenta durante um passeio, quando me aconteceu algo. De certa forma a culpa foi minha, pois fui ingênuo, mas foi como ter vivenciado esse meu pesadelo no mundo real. me senti nessa noite exatamente como no sonho.


Em 2008 fui ao cinema com um grupo de amigos, numa quarta a noite assistir Wall-E. Filme chatérrimo, diga-se de passagem. Um romancezinho idiota entre robozinhos, me deu vontade de vomitar.
Depois do cinema já passando das onze da noite, todos tínhamos que ir embora, pois era dia de semana e tínhamos que acordar cedo no outro dia. Cada um do grupo morava num lado diferente da cidade e tinha até um que era de fora. Fomos todos para os nossos respectivos pontos de ônibus, exceto um, que ficou pra trás pra namorar um pouco. Justamente ele pegava o mesmo ônibus que eu.
Como eu disse, fui ingênuo nesse ponto. O ônibus de todo mundo passou, cada um foi embarcando pras suas respectivas casas, mas eu acabei decidindo esperar o cara acabar de namorar, achando que ele viria pegar o ônibus, já que era o último da noite, já era tarde e se perdêssemos teríamos que voltar pra casa a pé. Quase uma hora de caminhada, quase a meia-noite.

Todos entraram em seus ônibus e foram embora. Ficamos só eu no meu ponto e um amigo de Agudos no ponto dele, do outro lado da avenida quase deserta. Tudo bem, eu fui idiota mesmo. Deveria ter entrado no meu ônibus e ido embora pra casa, mas sei lá porque cargas d'água, decidi ficar esperando pra ver se ele vinha.
Meu ônibus passou e eu não entrei. De uma forma ou de outra agora teria que voltar a pé pra casa, já beirando a meia-noite.
Comecei a ficar preocupado. Tudo bem, eu sabia que ele estava lá, sei lá, "cuidando de assuntos pessoais", mas já passava da meia noite, as ruas meio desertas, comecei a imaginar se não havia acontecido alguma coisa de errado. E se ele e a namorada tivessem sido assaltados? Sei lá. Poderia ter acontecido algo ruim.
Atravessei a avenida e fui perguntar pro meu amigo de Agudos o que havia acontecido, pois ele tinha sido o último a ve-los. Ele então me disse que os dois haviam ido embora já fazia algum tempo:

"_Ah, eles já foram embora faz um tempinho. Tavam lá em cima e eles foram descendo a rua".

Nunca levei de fato um soco de verdade na boca do estômago, mas acho que a sensação no momento foi a mesma. Eu só consegui soltar um: "_Como é que é?"

Como disse, a culpa no final das contas foi minha, por ser ingênuo demais. Ele nunca me disse que eu deveria esperá-lo e nem de que forma iria embora depois do cinema, mas eu fui pela dedução mais óbvia. Imaginei que por ser já tão tarde e termos que trabalhar na manhã seguinte, seria mais do que óbvio que ele pegaria o último ônibus da noite e, como pegávamos a mesma linha, achei que poderia esperá-lo. O ônibus de Agudos passou, meu amigo embarcou nele e eu me vi de repente como no meu pesadelo. Num minuto, cercado de amigos, passeando e conversando, no outro, sozinho numa rua deserta, quase meia-noite-e-meia, sem saber o que fazer ou que reação ter.

O sangue me subiu a cabeça de tal forma e tão rápido que eu juro que se tivesse sido abordado por algúm ladrão naquela noite, era ele quem teria levado a pior. Como no meu pesadelo, saí pelas ruas próximas procurando meu amigo e a namorada desesperadamente por quase 30 minutos. Subi e desci várias ruas diferentes mais de uma vez, mas não encontrei sinal deles. Tentei ligar, mas ambos não quiseram atender os celulares.
Cansado, com medo, furioso, não vi outra opção a não ser tomar o rumo de casa. Nessa altura do campeonato já era prá lá de meia-noite e eu precisava dormir. Tentei ligar por várias vezes, mas ambos não quiseram atender. Ele antendeu bem mais tarde, quando eu já estava perto de casa. Jogou a culpa em mim, por tê-lo ficado esperando no ponto sem que ele me pedisse. Hoje vejo que ele teve razão. Gente burra tem que sofrer mesmo.
Bom, orelhas grandes eu já tenho.
Meus pesadelos atuais tem sido outros. Estranhos, mas igualmente curiosos. Hoje sonho que encontro pessoas nas ruas as quais não quero encontrar, que muitas vezes chego até a pegar carona com elas sei lá por que. 
Gozado né? Antigamente meu pior pesadelo era perdê-los, agora é encontrá-los, mesmo que de longe. Talvez pessoas como eu, complicadas, instáveis, sejam o tipo de pessoas que são e serão atormentadas por sonhos ruins pelo resto da vida. Gostaria de poder sonhar com coisas diferentes pra variar.

Instalei recentemente aqui no blog um trequinho divertido, que me mostra a origem dos meus visitantes. De que cidade eles são, que horas acessaram e que tópico visitaram. Acho que só seria mais legal se ele pudesse me mostrar exatamente quem é que está acessando, mas pela cidade e o tópico já dá pra ter uma idéia. Aqui de Bauru por exemplo, existe um número bem limitado de pessoas que acessam e isso torna quase possível identificar quem seriam. Ainda mais acessando esse ou aquele determinado tópico. Muito, muito divertido mesmo. 





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5 Divagações

  1. Falar de sonhos ou pesadelos é meio complicado porque até hoje os cientistas não sabem exatamente o que é e há também muita especulação a respeito. Mas acho que esses sonhos se repetem enquanto a gente luta contra eles. Pelo menos comigo, quando falo, "então tá", o negócio para. Li também num livro sobre ver as mãos no sonho. O autor diz que se vc está sonhando com uma coisa e no sonho vc se esforça pra ver suas duas mãos, a partir daquele momento vc controla o sonho. A maioria das vezes a gente esquece isso em pleno sonho...rs Mas já aconteceu de eu lembrar e fiz uma força danada pra ver minhas mãos no sonho. Só que eu acordei. Fiz essa experiência várias vezes. É interessante isso. Acho que no final das contas a gente se distrai procurando ver as mãos e o sonho deixa de ser importante.

    Sobre a maquininha de ver quem está visitando o blog eu tenho o feedjit e achava interessante que meu blog era visitado por alguém da cidadezinha onde minha irmã mora. Sempre pensei que fosse ela visitando o blog, mas ela falou que não é ela, tive até comprovação disso, pois uma vez ela estava aqui e houve o acesso de alguém daquela cidade. Às vezes a gente pensa uma coisa mas é outra.

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  2. Com uma capa de disco dessa em casa não tem como não ter pesadelos.Quando era criança sempre sonhava que estava caindo de um precipício,e o pior era que sabia que estava sonhando e ficava desesperada no sonho tentando acordar,antes de me esborrachar no chão.Também tenho esse trequinho ai no blog,mas só reparo por onde vieram.

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  3. Vou me limitar a falar do "trequinho" dos visitantes: eu adorei, logo que vi me cadastrei e sempre aparece minha careta ali kkkk já coloquei lá no House também hihihih

    bjuss

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  4. Oi, Eduardo!
    Adooooro os teus textos. Parece que estou vivenciando contigo. Todos nós temos épocas de pesadelos. E acho que todos têm um porquê. Também já tive os meus. Inclusive, na noite passada, sonhei que a minha cama chacoalhava e escorregava para dentro de um lago. Já pensou?Mas eu não sentia medo, não! Cada coisa!!!
    Bjs, meu querido! Bom... domingo! Aproveite o dia! "Carpe diem!"

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  5. Pois é, meus sonhos são sempre bem significativos, só queria saber o que significam. É bem interessante, porque quando era mais nova, lembro que sonhei com um dragão comendo toda a minha família, menos eu, e então acordei bem assustada e meu pai estava do meu lado. Estávamos apenas eu e ele na casa, ele foi buscar água pra mim, enquanto isso eu não queria ficar sozinha, estava com medo, esperei ansiosamente ele vim e isso demorou muito pra mim.
    Hoje tenho pesadelos bem reais, que me intriga bastante e tento desvendá-los. Acredito que todos os sonhos que temos tem ligação com a realidade.
    Eu tive vários sonhos que me fizeram enxergar as coisas diferentes, com mais nitidez, é estranho mas é a verdade, vejo que o sonho me fez ver que aquilo qe eu achava que era (ingênuo), na realidade não era.
    Sobre esse seu pesadelo com seus amigos, eu tb tive um assim bem parecido, onde todos desapareciam, acho que é o medo da realidade que temos, não sei.
    Agora, viagens astrais sempre me assustaram um pouco, sem experiência ficava com medo de nunca mais voltar.
    Acho que vivo pesadelo em tempo real. Penso mais nos meus sonhos e das coisas que imagino e que sinto do que a própria realidade.

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