6

Sobre primeiras impressões, lentidão natural, quebraduras de contrato e sobreviver.

domingo, 21 de novembro de 2010

Quinta-feira passada foi o meu primeiro dia no novo emprego e me fez indagar: A primeira impressão é mesmo a que fica?
Subindo ao cinema no sábado a tarde cheguei a conclusão de que alguns aspectos ruins da minha personalidade parecem não ter mais cura, mesmo talvez com um tratamento ou remédios. Por mais que eu reconheça algumas falhas minhas e tente mudá-las, não consigo, mesmo vendo o quanto elas me fazem sofrer e atrasam a minha vida. Não consigo me livrar de fantasmas do passado que na verdade, da parte deles nem estão mais me assombrando, mas ainda me assustam, e é isso que me faz dar murro em ponta de faca e insistir em muitos dos erros que cometo.

Mesmo completamente solitário como tenho estado, ainda fico me comparando e querendo competir com pessoas que nem sequer fazem mais parte da minha rotina ou da minha vida e ainda fico tomando minhas decisões baseado nelas. O problema de fazer isso é que cedo ou tarde você se dá conta de que agiu por impulso, não por vontade e perde completamente o foco do que está fazendo. Quando eu saí dos Correios no dia 22 de outubro, o medo de ficar desempregado por muito tempo, tomou conta de mim, comecei a passar mal todos os dias, conjecturando por quanto tempo ficaria desempregado. Mas a minha preocupação maior não era a falta de dinheiro e nem mesmo a falta do que fazer. Afinal, depois de 8 anos de serviço, que mal faria eu descansar pelo menos até o final do ano? Com o dinheiro do acerto e também o seguro desemprego, não iria passar necessidades e teria tempo livre pra procurar um bom emprego com calma e terminar de resolver uns assuntos pessoais que venho adiando, quem sabe até usar parte do dinheiro do acerto para pagar algúm curso do SENAC pra mim o qual eu realmente goste.
Todavia, tudo o que eu conseguia pensar desde o primeiro dia fora dos Correios era que eu não podia ficar parado a toa, não pela falta de dinheiro ou porque trabalhar me traz satisfação pessoal, mas sim porque ficar sem trabalhar me faz sentir inferior a algumas pessoas que estão com certeza trabalhando no momento. Eu já me sinto inferior a elas naturalmente, pelo simples fato de tê-las conhecido e de elas estarem vivas, sem emprego então seria pior. Muitas vezes imagino, as vezes tenho até pesadelos onde encontro essas pessoas na rua ou em algúm lugar e as vejo bem sucedidas, casadas, com seus carros, bons empregos e posses, enquanto eu estaria desempregado e sem perspectiva alguma. Bom, sem perspectiva eu sou mesmo, mesmo trabalhando em alguma coisa. Acho que vou morrer sem saber o que eu quero pra minha vida.


Na ânsia de me reinserir logo no mercado de trabalho, mandei currículos para vários lugares, mesmo os que não tem absolutamente nada a ver comigo, tudo o que me importava era arrumar um emprego antes que alguém começasse a falar mesmo sem meu conhecimento, que eu sou um vagabundo preguiçoso. Eu realmente gostaria de ser uma dessas pessoas que não ligam a mínima para o que os outros acham de mim, mas ainda sou assim e não consigo mudar por mais que tente ou ache que possa. Se fico sabendo que fulano falou mal de mim ou que tem uma opinião errada sobre mim, fico acabado, tentando a todo custo provar o contrário. Por isso então, aceitei fazer a entrevista para essa empresa de advocacia e depois de duas delas, aceitar o cargo de arquivista digital. O salário é razoável, os benefícios depois de um tempo até compensam, mas o horário de trabalho e principalmente a função me desagradaram por completo.
Nos Correios, como deficiente, eu trabalhava apenas 6 horas por dia, dizem que pela lei a carga horária para esses casos é essa mesma, então mandei alguns currículos para esse tipo de emprego pois com o tempo livre que me sobraria eu poderia fazer um curso, terminar de tirar minha carta ou trabalhar em casa, como tenho planejado há algúm tempo. Quando me chamaram para essa entrevista eu fui empolgado, apesar de já saber que o trabalho não era pra fazer o que eu gostava, não liguei muito pois deduzi que seriam apenas as 6 horas diárias mesmo, sopa no mel. Contudo um dos meus grandes defeitos é ser pouco comunicativo e por causa disso, fui deixar para perguntar sobre a carga horária só depois que decidi aceitar o cargo e para minha surpresa descobri que não são 6, mas 9 horas diárias de trabalho com apenas uma hora e doze minutos de almoço. Fiquei meio daquele jeito: "detestei, mas agora serei obrigado a me sujeitar".
Sou uma pessoa de raciocínio e reflexos lentos por natureza, não sou preguiçoso, mas faço tudo devagar, se tento fazer rápido, extrapolar meu rítmo eu passo mal, me estresso em cinco minutos e fico completamente esgotado em dez. Nos Correios trabalhava com design e isso é um trabalho muito relaxante, tranqüilo, eu tinha prazos a cumprir mas como era uma coisa que adorava fazer, o trabalho rendia mesmo eu trabalhando no meu ritmo lento. O dia passava gotoso, mesmo que eu passasse horas mexendo numa arte trabalhosa. Nesse novo emprego minha função é abrir os e-mails que me chegam com processos judiciais anexados e inserir essas informações no servidor, digitando e preenchendo os campos de um programa o qual eles chamam de GRACCO 2. É um processo repetitivo, cansativo e acima de tudo extremamente trabalhoso. O pior: exige muita agilidade, velocidade e raciocínio rápido, já que os e-mails não param de chegar e você precisa fazer o máximo de arquivamentos que conseguir no dia. Uma corrida contra o tempo.


A moça que está me ensinando a função é muito veloz, ela nem sequer olha direito o que está fazendo, age de forma automática e muito rápida. Consegue arquivar de 40 a 50 processos num único dia, enquanto eu demorei quase dez minutos para conseguir arquivar apenas um, pois não conheço bem o tal programa e nem os dados dos e-mails. Quanto mais rápido tento ser, mais me estresso, mais me canso. As horas se arrastam, demoram pra passar, em contrapartida o horário de almoço curtíssimo passa voando, mal tenho tempo de almoçar e descansar.
Todos estão dizendo que logo me acostumarei, afinal não faz nem uma semana que comecei e é preciso dar uma chance, mas o caso é que mesmo com apenas dois dias de trabalho já vi que vou odiar tudo. Além de ser um serviço robótico e repetitivo, do tipo que odeio fazer, ainda o horário é muito puxado. De hoje em diante não terei mais tempo de fazer nada, nem natação, nem terminar de tirar a minha carta. Vejo agora que fui precipitado em aceitar esse emprego apenas para não me sentir inferior em relação aos outros. O ridículo disso é que quanto mais eu erro, mais continuo errando ao invéz de aprender. Errar é humano, mas sabem o que dizem sobre repetir os erros, não?
Se dependesse de mim eu desistiria do cargo ainda nesta semana, mas o caso é que agora já perdi o direito ao seguro desemprego dos Correios e além disso, no contrato de trabalho tem uma cláusula que diz que devo ficar pelo menos durante o período de experiência, caso contrário terei que pagar multa por quebradura de contrato. E tudo isso por que? Porque fui precipitado, desesperado, porque estou ainda pensando em pessoas que nem fazem mais parte da minha vida, baseando cada passo que dou nos passos que elas dão. O pior é que eu na verdade nem sei que passos elas estão dando, só sinto que são melhores que os meus.
Mandei confeccionar 500 cartões de visita para oferecer meus trabalhos, contudo agora onde está o tempo para que eu trabalhe em casa? Nos finais de semana? Sim, poderia, mas o caso é que de agora em diante se tornará muito torturante pra mim passar a semana toda, 9 horas por dia preso a um emprego que não gostei e ainda nos finais de semana ser obrigado a trabalhar, não descansar. Adoraria ter o pique por exemplo, do meu amigo/irmão Agner, que trabalha essas 9 horas na mesma empresa, faz horas extras inclusive nos finais de semana, mas não tenho e não me culpo por isso. Cada um tem um ritmo de vida diferente e eu infelizmente não sou proativo, empreendedor ou empolgado com nada.
Estou enfiando a minha vida no cú, cometendo erros atrás de erros e não sei como sair disso. Não tenho com quem contar, não tenho quem possa me ajudar ou me apoiar. A cada dia que passa eu constato mais que a minha existência aqui é mesmo inútil. Não tenho vivido, tenho apenas sobrevivido. Sempre.





Adicionar aos Favoritos BlogBlogs

Bookmark and Share

6 Divagações

  1. Fala aí Edu!

    Realmente ficar parado não dá, vou lhe falar a mesma coisa que eu disse para a minha mulher.

    O que realmente faz a felicidade na profissão é o dinheiro, cedo ou tarde isso bate a sua porta.

    Podem falar o que quiserem que tem que se fazer o que gosta e blá blá blá.

    Eu só estou a quase 13 anos no mesmo emprego por causo do dinheiro do contrário teria mandado todo mundo pro inferno.

    No teu caso dá pra vc dar uma boa guinada na vida, vc pode trabalhar com informática tem muito campo e muitas coisas legais para se fazer.

    Não estou lhe incentivando a abandonar o emprego, mas vc pode e merece coisa melhor, basta vc tomar uma decisão e seguí-la em frente com uma palavra que tá muito na moda: "Planejamento".

    Um abç.

    ResponderExcluir
  2. Se você desistir agora ficará lamentando por ter feito isso. Porque não espera a experiência acabar? Existem serviços (sei que é casuísmo e um argumento meio idiota) que são insalubres, alguns chatos, outros agradáveis. Não se leve pelas primeiras impressões, você irá desenvolver seu potencial aos poucos. Vc deveria estranhar se chegasse e começasse tudo 'beleza' e depois desandasse. E trabalhar nos fins de semana faz parte, não é o ideal, mas faz parte.

    ResponderExcluir
  3. Oi Edu
    Cara eu acho que em primeiro lugar vc deveria parar de se martirisar por causa dessa sua personalidade que vc não consegue mudar.
    Sabe Edu eu cheguei a uma conclusão na minha vida, eu também ja me matirizei por muitas coisas em mim que não consigo mudar, mais ai cheguei a conclusão que o que tenho são deficiencias na minha personalidade, comecei a entender que assim como existem pessoas deficientes dos menbros do corpo, tipo aleijadas, pessoas sem os braços, as pernas, sem visão ect... existem tambem o lado da deficiencia de personalidade, deficiencia emocional, comportamental e por ai vai, por isso não conseguimos mudar, pq isso é uma deficiencia, cara que loco né, então me chame de maluco, mais é essa a conclusão ao qual eu cheguei.
    Confesso a vc que ainda tento mudar, mais depois de ver as coisas dessa maneira, alem de tentar mudar, procura me adptar, tipo, se sei da minha deficiencia e que não consegui agir como as pessoas normais, que tenho dificuldades em determinadas harias, ajo com cautela, pondero tudo, faço tudo com a consciencia de como sou,

    vou te dar um exemplo:

    se eu estivesse nessa sua cituação
    eu pararia, pensaria em como eu sou
    em como eu costumo agir
    pensaria nas experiencias paracidas em que me dei mal
    e o principal de tudo
    o pq fiz aquela determinada escolha ou tomei
    aquela determinada atitude
    se aquilo seria bom pra mim diante de como sou
    de pois tomaria uma decisão

    bom cara pelomenos pra mim isso tem dado certo.

    Cara eu acho que vc deveria ficar na experiencia e enquanto isso continuar mandando curriculum
    pra outras em presas, que ofereça um trabalho que esteja mais de acordo com vc, se derrepente aparecer alguma, quando vc terminar a experiencia vc sai fora dessa.

    Mas se durante esse periodo não aparecer nada vc terá que tomar uma decisão mediante a sua citução, as suas nessecidades, e mediante ao que vc é, e decidir se fica, ou se arrisca a sair e tentar algo melhor.

    um grande abraço
    estou torcendo por vc

    ResponderExcluir
  4. Eduardo, apesar de não nos conhecermos pessoalmente, sou fão do seu blog, sempre que posso dou uma olhada nele, e te conheço da comunidade, amo seu jeito de escrever, dificilmente alguem se abre tanto assim, vc consegue se abrir de uma forma q poucos conseguem e muitas vezes me identififico, parece que vc esta falando de mim ,rs
    Sobre esse post, sei que deve estar sendo dificil pra vc, eeu tb tomo muitas decisões baseado no que as pessoas iram pensar, e sempre sofro muito depois, pq fora notar que as pessoas nem ligam pra isso, eu acabo ME magoando e descepcionada ainda mais comigo msm.
    Creio que deva sim esperar o periodo de experiencia, pensando que alguma coisa vc vai aprender com isso, e que se vc tá lá, algo muito melhor te espera lá na frente, um conselho:qdo chegar do trabalho, va riscando todo dia no calendario um dia a menos que vc tem q ir pra lá, e se sinta vitorioso, pq apesar de todo sofrimento que ta sendo.....vc conseguiu ir mais um dia!!

    ResponderExcluir
  5. Eduardo...
    respondi seu tópico numa comu sobre isso... Prazer5 te conhecer melhor, viu?
    Adorei seiu modo de escrever...
    Agora, quanto ao trabalho, te entendo 1000%... Já cheguei a ficar 3 dias num emprego, surtar e sumir. Sei mesmo a barra q vc está passando... Mas também sei que eu só pude fazer isso pq tinha quem me sustentasse... e se não tivesse? Ia ter q ficar e trabalhar pra comer, sem chances.
    Mas ia ficar morrendo, fazendo das tripas coração pra aguentar e provavelmente não aguentaria mesmo precisando.
    Sinto muito que vc tenha perdido o seguro... Se não tivesse multa também...
    o negocio é ficar até terminar a experiência e depois achar outro
    vai mantendo contatos na sua áresa... quem sabe aparece algo que vc goste pra quando vc sair daí?
    Te desejo o melhor.
    Abçs.

    ResponderExcluir
  6. É muito difícil mesmo tudo isto. Este planeta élerdo por natureza. Isso pra mim também é incompreensível e insuportável. Benvindo a minha vida.

    ResponderExcluir

Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!