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Sobre futuros interrompidos, passados compreendidos, eternas responsabilidades e situações temporárias ou não.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sinceramente não vou fazer uma postagem completa falando sobre o que houve em Realengo, não porque eu não tenha dado a mínima para o que houve, mas sim porque nada do que eu viesse a escrever aqui seria diferente de tudo o que já foi divulgado pela mídia ou da opinião pública. Foi uma tragédia, não deveria ter acontecido, não se pode medir a dor dos pais que perderam seus filhos, tudo isso é fato, mas o problema é que toda vez que acontece algo do tipo no Brasil, uma enchente, um acidente grave ou essa chacina como aconteceu agora, o país, a mídia tratam como algo único e sem precedentes, como se fosse um caso isolado e mais importante do que todo o resto. Não é que eu esteja diminuindo a importância do que houve e nem desvalorizando a vida das crianças inocentes que morreram de forma brutal e covarde pelas mãos de um doente psicótico, mas acredito que uma coisa como a que acabou de acontecer não é um mal do Brasil, não é um mal de uma pessoa só, desequilibrada, é sim um mal do mundo, o mundo está assim. 
Paz e tranqüilidade hoje são artigos raros na maior parte do globo e no coração da maioria dos seres humanos. Diariamente morrem mais pessoas por arma de fogo no Brasil do que no Iraque e no Afeganistão, inclusive crianças, a única diferença é que dessa vez a matança aconteceu num local “público”, numa escola, com um grupo específico e não espalhado ou escondido nas vielas imundas das favelas, aonde os olhos da maioria não chegam. O problema do povo brasileiro, com sua mentalidade estereotipada é que eles acham que porque o Brasil é o país do carnaval, do futebol e das belezas naturais e sem terremotos, com seu povo feliz e festeiro, também é um país cheio de harmonia e tranqüilidade, onde sexta-feira é dia de cerveja e tragédias assim são impedidas de acontecer.

Tenho refletido muito sobre minhas responsabilidades atuais, já há umas três postagens venho falando sobre isso, contas a pagar, mãe e tia pra sustentar e tudo o mais. Mas ao mesmo tempo em que isso vem me deprimindo e cansando bastante, também passei a aceitar a situação com mais naturalidade. Nunca fui de acreditar em destino, que a vida da gente é porque é, devido a algum motivo, mas estou começando a acreditar que em alguns casos, algumas pessoas estão fadadas a um “estilo de vida” diferente, onde ser igual à maioria não é uma opção.
Pra algumas coisas da vida, espernear não adianta, nem reclamar, nem xingar ou se revoltar, no final das contas só nos resta aceitar e seguir em frente, nos adaptando aquela situação, temporária ou não, da melhor forma possível. Esse mês eu já reuni todas as contas que tenho que pagar, fiz os cálculos e simplesmente vou fazer o que preciso fazer, o que ninguém mais pode fazer por mim não importa o quanto eu reclame, ir ao banco e liquidar todas. Não é um conformismo, não é aceitar a derrota, mesmo porque isso não é nenhuma derrota, mas simplesmente estou aceitando o fato de que no momento e por tempo indeterminado esse é o meu papel, é isso que preciso fazer. Não tenho um quarto só meu, não tenho um carro, não consigo economizar muita coisa pro futuro, mas a realidade é que não estou lutando por mim, mas sim por nós, lá de casa. E embora isso seja cansativo e de certa forma até mesmo injusto, não é errado. Adoraria ter uma vida mais fácil, uma vida só minha onde eu pudesse pensar apenas nos meus interesses, mas minha realidade não é essa. E não podemos viver fora da realidade, isso só nos fará sofrer mais do que o comum.

Passei por uma situação hoje que vem me fazendo lembrar sem parar daquela frase do livro O Pequeno Príncipe: “Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas”. Na verdade não só da frase, mas do capítulo todo, de toda a conversa entre o príncipe e a raposa, a qual não vou transcrever aqui porque é muito longa. Tenho o PDF do livro disponível para download no blog pra quem quiser baixar, clicando aqui.
Lidar com o ser humano, cativar alguém é muito lindo, maravilhoso, mas extremamente complicado e triste também. Não são apenas palavras de um livro infantil, você acaba se tornando mesmo eternamente ligado àquilo que cativa, sentindo-se responsável não só pelas alegrias do outro, mas por suas tristezas também. O lado ruim de ir colocando as pessoas dentro do seu coração é que ele vai ficando pesado, principalmente se você já não tiver muita força nem mesmo para carregar direito o seu próprio peso.
Apesar das mágoas que guardo, hoje, sozinho, depois de muito refletir eu consigo claramente perceber, ou melhor, entender as coisas que uma pessoa me dizia há dois anos e meio atrás, sobre o quanto por mais que você se importe com alguém, por mais que queira ser amigo desse alguém, suas obrigações para com esse alguém vão somente até certo ponto, mais do que isso começa a ficar complicado, pois por mais que, em minha opinião, tenhamos a obrigação de ajudar a quem amamos, fundamentalmente nascemos com nossos próprios alicerces individuais, feitos para suportar muito, muito peso, mas o nosso próprio peso. Essa pessoa me dizia que sim, queria me ajudar, mas que não queria e na verdade, não tinha condições de encarar isso como uma responsabilidade. Depositar sua felicidade nas mãos de outra pessoa hoje vejo que é algo bem complicado, primeiro porque vivo dizendo que a felicidade plena não existe, não é algo a ser alcançado, é uma coisa feita de pequenos momentos ao longo da vida que se valorizados e acumulados, se tornam grandes, se tornam nossa força e um reforço para nossos próprios alicerces. Segundo, porque ninguém nunca, por melhor que seja, vai corresponder 100% às expectativas que criamos.

Não existe ninguém perfeito pra ninguém, nem amigos, nem namorados, nem as situações, por mais que pareçam perfeitas e ideais, não o são. Acaba ficando complicado para ambas as partes, pra quem espera uma ajuda, um apoio e pra quem oferece isso, pois a sintonia do que se espera e do que se tem a oferecer quase sempre não é a mesma, e isso gera frustração, mágoa, desentendimento. Nunca mais vou equecer essa frase na minha vida: "Eu não posso ser pra você o que você espera que eu seja". Não lembro dela na verdade com mágoa nem com pesar, mas sim como uma daquelas muitas verdades que precisamos ouvir na vida e se possível aceitar de imediato. O problema é que na maioria das vezes não fazemos isso, só conseguimos entender uma coisa quando realmente passamos por ela, até então só podemos conjecturar, Da mesma forma que vivo a reclamar que algumas pessoas só vão entender os meus verdadeiros sentimentos se passarem pelas mesmas coisas pelas quais passei e ainda venho passando, igualmente é comigo, na verdade não só comigo, mas com todo mundo. Quando alguém sai de férias, vai pra um lugar bonito, depois volta, conta tudo pra você e lhe mostra as fotos maravilhosas, você fica encantado e acha tudo muito legal, mas só o que pode fazer é imaginar como é a grama, as montanhas, as pessoas de lá. Só mesmo estando lá pra poder entender o que é tudo aquilo, pra ter uma verdadeira sintonia com o lugar e com quem já esteve lá. Infelizmente com as pessoas isso está longe de ser tão simples, as vezes mesmo quando passamos pelas mesmas coisas que outra pessoa passou ou passa, fica diíficil entender o mundo dela, pois cada ser humano na face da Terra é único e complexo à sua maneira, e é por isso que por mais que tentemos, por mais que queiramos, só conseguimos ir com a outra pessoa até determinado ponto, o resto precisa sair de dentro dela. Hoje vejo que as influências externas em verdade pouco influenciam na nossa formação, não são as coisas pelas quais passamos que moldam o tipo de pessoa que seremos, mas sim a maneira como lidamos com essas coisas. Não nos cabe evitar nossos problemas, isso é impossível e quem pensa o contrário sofre demais, só nos resta é tentar contorná-los da melhor maneira possível. E embora sejam coisas parecidas, evitar não é uma forma de contornar, não confundam isso. Quando você cai, não há nada de errado em estender a mão e pedir uma ajuda para se levantar, mas continuar caminhando ou não, é uma decisão somente sua.

Sobre o Autor:
Eduardo Montanari Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design, além de pseudo-web-designer. É formado técnico em informática e sabe estourar pipoca sem deixar muitos piruás sobrando. Semi-nerd assumido (se é que isso existe), gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


3 Divagações

  1. Sobre a violência que aconteceu no Rio,
    a questão é, o que podemos fazer, se não
    demonstrar a nossa total indignação em
    relação as pessoas ,entrarem impunemente
    armadas nas escolas?
    Como isto é possível?
    Pois tudo que falarmos ou escrevermos, não
    trará aquelas pequenas vidas roubadas.
    Destas crianças só ficará o sofrimentos,
    das lembranças enquanto vivas, a brincar
    alegremente(de seus pais, tios e amiguinhos)!
    Querido Eduardo, quem na vida , não tem uma obrigação, que odeia fazer?
    Estou muito orgulhoso, pelo que você falou,
    você é mesmo uma pessoa de caráter, e não
    vai desamparar aquelas que te deram a vida,
    para te criar, isto é muito digno da tua parte!
    Independente, se está sofrendo ou não (perdoe
    me se estou parecendo cruel!), acredito que
    algumas pessoas, já nascem com determinadas
    missões.
    Como já mencionei, poderia sair mundo afora,
    e deixar as minhas irmãs , jogadas a sorte!
    Mas a questão é, será que conseguiria viver,
    com isto(se um dia as abandonasse?)?
    Acho que não, pois o fato delas ter problemas,
    psicológicos, já me deixa muito triste!
    Pensando em ajuda-las no que for possível,para
    que elas voltem ao seu normal, mas é dificil!
    Muito dificil, sabe Edú, não me considero,
    uma pessoa infeliz,mas vivo um constante
    estado de inferno, por não poder ajudar as
    minhas maninhas loucas!
    Não tenho tudo que desejo na vida, mas
    sou sincero, em te dizer que se existisse,
    um gênio que concedesse pedidos.
    Pediria que ele curasse as minhas irmãs, da
    depressão e da esquizofrenia aguda!
    Sou sincero em dizer, que nem ligaria para
    as minhas necessidades, pois atualmente
    o que me incomoda muito é o sofrimento
    delas!
    Ah , e pelo amor de deus, não pense que isto,
    o que faz, seja uma derrota. Muito pelo contrário,é um ato de muita coragem.
    Sabe, se sacrificar pelos outros, na verdade,
    não estamos falando dos outros, mas da
    sua querida Mãe, que tanto lhe dedicou a vida,
    e a sua tia , que é como se fosse a segunda mãe!
    Então não é derrota alguma, é uma vitória,
    e daquelas digna de muito respeito, pois voce
    meu querido é um campeão!
    Não ostenta medalhas, e nem condecorações
    de algum tipo, mas a tua alma é como
    se fosse um diamante.
    Edú, sabe o que acho sobre o que vc falou,
    da agente nunca encontrar alguém 100%?
    Acho mesmo que agente procura nos outros,
    o que agente gostaria de ser, e quando percebemos,que determinadas pessoas não são, agente se decepciona!
    E o pior não admitimos que estamos
    decepcionados com nós mesmos, e culpamos os
    outros!
    Culpamos os outros pelo que não conseguimos ser por conta própria!
    E não adianta, agente tem mesmo que
    encarar a realidade daquilo que nos faz
    sofrer.
    Pois a vida é programada para nos ensinar,
    podemos nos esquivaR, protelar muitas situações,
    mas enquanto não passamos por determinadas
    experiencias, a vida vai continuar a insistir.
    E estas atitudes de procrastinar em nossas vidas, só tem atrasado a nossa evolução espiritual, impedindo muitas vezes de vivermos uma vida mais plena!
    Concordo com você , devemos pedir ajuda
    quando nos sentimos "atolados", em alguma
    merda, e continuar as nossas jornadas pela
    vida!
    Edu obrigado por existir, saiba que os teus
    textos tambem me fazem refletir sobre um
    bocado de coisas, que antes não dava a minima!
    Abraços apertado de urso panda, e tenha
    um ótimo fim de semana!
    Te adoro, NAMASTÊ!

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  2. Verdade, concordo com tudo o que disse. No Brasil, ainda não sabemos as medidas corretas para julgar. Sim, se fosse o meu filho eu morreria também. Mas, o garoto em questão, talvez, não seja cruel, fosse apenas alguém muito doente, e que, ninguém viu. Esquecido, pois cada um cuida do seu umbigo. Justificar? Não. Mas enxergar. Quem não passa pelas provações não pode saber, nem imaginar. Fica fácil julgar as atitudes alheias, porque realmente é confortável. Cruel, para mim, são certos políticos, que tem o poder sobre o "pão e a água" sobre a saude e tudo mais... quantos já vimos morrer na fila de um hospital porque não havia atendimento? Pois alguém desviou a verba destinada aquele atendimento? Isso, sim, é crueldade, pois não se trata em hipotese alguma de doença.E mesmo assim, as pessoas confiam, e votam de novo. Hipocrisia é o que há, e pessoas doidas feito esse garoto tá cheio por aí. Precisam ser cuidados e percebidos, enquanto ainda há jeito, enquanto ainda há infância.

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  3. Vc falou uma coisa importante: sobre cumprir o seu papel. Na verdade os problemas começam quando um não quer cumprir o seu papel, a sua responsabilidade. Querem passar o seu papel para outro ou mesmo fazer o papel de outra pessoa. É a mãe que não quer ser mãe, o pai que não quer ser pai, a avó que não quer ser avó, o filho que não quer ser filho e por aí vai. Acho que só uma minoria, mas uma minoria muito mínima pode viver apenas sua própria vida e se preocupar apenas com suas próprias coisas. Quase todos nós temos amarras, pessoas que devemos cuidar e zelar. A vida é assim mesmo.

    Sobre contas a pagar, dinheiro, etc. Leia o livro "O homem mais rico da babilônia". É um livrinho fino e barato. Foi publicado pela ediouro. É uma história que muda a nossa maneira de pensar e agir em relação ao dinheiro. "Não importa o que vc ganha, o que importa é o que vc guarda".

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