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Sobre os percalços do acaso, matemática simples e a metade de uma laranja.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Creio que a percepção de que superamos determinado problema é dada pelo fato de lidarmos com ele de forma diferente caso aconteça novamente. Os anos estão passando e conforme vou vivendo novas experiências e conhecendo novas pessoas, tenho notado, para minha total frustração, que por mais que eu já tenha passado por algumas situações várias e várias vezes e tido o mesmo resultado desagradável, continuo insistindo em alguns erros. Em todas às vezes me pergunto o porquê disso, mas a resposta não vem, pelo menos não de forma clara.
No último ano me apeguei demais a alguém. Nos falávamos todos os dias, quase toda hora, por mensagens, telefone, vídeo. Eu, que adoro receber atenção, nunca fui tão paparicado em toda a minha vida, nunca me senti tão amado. Se ficássemos sem contato por um único dia que fosse, esse dia não era a mesma coisa, parecia se arrastar, parecia estar incompleto. Todo esse apego era alimentado ainda mais pelo fato de estarmos impossibilitados de nos encontrar pessoalmente.
O caso é que por mais que amemos e nos importemos com o próximo, todos temos nossos problemas, sem exceção, e alguns desses problemas, somos obrigados a resolver sem a ajuda de ninguém, não por sermos egoístas ou por não confiarmos nas pessoas, mas sim porque é um processo natural, faz parte do amadurecimento aprendermos a pensar sozinhos, tomar nossas decisões e escolher nossos caminhos sem influência de terceiros. Cabe a nós também, entender e aceitar o fato de que talvez não sejamos a pessoa certa naquele momento para ajudar. Um dos males do amor é que ele nos torna prepotentes, achamos que o que temos a oferecer ao outro é mais do que o suficiente para completá-lo, que se tudo está bem pra nós, também está pra outra pessoa. “Ele não precisa de mais nada, pois já tem a mim”. Então, quando vemos o outro sofrendo acabamos não entendo o que lhe falta, o que há de tão errado já que você está dando a ele tudo o que ele precisa pra ser feliz. Será mesmo?
Todo esse negócio de metade da laranja, tampa de panela, tudo é muito bonito, muito poético e não deixa de ter um fundo de verdade. Hoje, apesar de ainda ter meus contras com o chamado “verdadeiro amor”, acredito que as pessoas podem ficar juntas, mas há de se respeitar os percalços que o acaso coloca no caminho (por favor, não culpem o destino, a vida ou a entidade superior que muitos chamam de “O Deus”).
As pessoas se frustram e se decepcionam porque eliminam esse fator da equação, querem adaptar tudo de acordo com a realidade na qual acreditam. Querem acreditar que o amor é como descreve o poeta, perfeito, sem falhas, imortal, então depois, quando algo diferente do que elas idealizavam acontece, aquele questionamento básico é feito: “O que foi que deu errado?”.


Bom, voltando ao meu caso em particular, essa pessoa com quem eu me envolvi, agora está passando por uma fase de sua vida na qual precisou se afastar. Continuamos mantendo contato, só que agora em um nível muito menor. Se eu me revoltei com ela? Sim, muito, afinal sou eu quem deveria ser a solução para todos os problemas dela. Como ela ousa querer enfrentar uma dificuldade sem pedir a minha ajuda? Se ela me ama tanto como diz que ama, ela tem a obrigação de precisar de mim. Matemática simples: se a pessoa não precisa de mim é porque não me ama. Gozado, quando estamos com alguém, sempre erguemos uma bandeira de altruísmo, dizendo que a pessoa amada é tão importante pra nós quanto somos pra ela, mas a verdade é que egoisticamente sempre nos consideramos a parte mais fundamental da relação.
Esquecemos que a outra pessoa já vem até nós com uma bagagem de vida, de experiências, sentimentos, aí quando tudo começa, fingimos que levamos isso em conta, mas na verdade o que queremos fazer é “reiniciar” a pessoa, assim como quando apertamos a tecla reset no nosso computador. “Não importa o que você viveu até agora, tudo o que você já passou, agora você está comigo!”.
O amor é poderoso, hoje eu sei. Como dizem no seriado Once Upon a Time, o amor é a magia mais poderosa que existe, capaz de vencer todas as outras e desfazer qualquer mal, só que o problema é que como todo o grande poder, ele vem acompanhado de grandes responsabilidades. Se você não souber usar com cautela todo esse poder, pode acabar prejudicando a si e aos outros mais do que ajudando. E as pessoas na maior parte do tempo não sabem muito bem como lidar com o amor, às vezes usam de menos, às vezes usam demais. O amor é um medicamento, seu uso pode conter riscos, não use em caso de suspeita de dengue, procure um médico ou um farmacêutico.
Se você é daquelas pessoas que acha que o outro é tudo o que você precisa e nada mais, se você é daqueles que diz amar tanto que acha que a outra pessoa não precisa de mais nada além de você, comece a repensar seus conceitos. O fato de no amor completarmos a outra pessoa, não quer dizer que a completemos por completo. Cada um de nós nasce com um vazio que não pode ser completado por ninguém, nem por quem o ame muito, mas isso não é uma coisa negativa, pois essa parte que sentimos que nos falta, que a outra pessoa mesmo querendo ajudar muito não consegue preencher, é uma lacuna reservada para que outras pessoas possam entrar e ajudar a completar. É egoísmo pensar que só você pode fazer isso por alguém. Ninguém é tão poderoso, ninguém é tão completo. E o fato de você não poder ajudar alguém completamente como você gostaria não faz de você incapaz ou alguém sem amor, só te mostra que você não é melhor ou pior que qualquer outra pessoa, que você é humano.
As vezes não nos cabe entender certas coisas, só nos cabe aceitar.


Eduardo Montanari Sobre o Autor:
Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática e trabalha como designer e web designer. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


4 Divagações

  1. Que belo texto sobre o amor.

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  2. Mas a parte mais difícil é a de aceitar que temos que aceitar, que nem tudo dá pra mudar. Também já quis ser necessária, totalmente necessária. Queria que ele fizesse tudo comigo, que só se divertisse junto a mim, que me contasse e pedisse opinião sobre todas as suas coisas. Muita piração! Sofri muito pra aprender a amar sem prender. E ainda estou aprendendo.
    Abraços.

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    1. Ainda não aprendi a fazer isso. Pelo visto acho que nunca aprenderei.

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