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Sobre a pessoa que eu realmente quero ser, propostas aprovadas e conversas serenas sobre os assuntos de sempre.

domingo, 24 de junho de 2012

Quatorze dias após ter começado no meu novo emprego, na Universidade Sagrado Coração, tive o meu primeiro trabalho aprovado. Dentro da faculdade existe um setor chamado UATI, que é a sigla para Universidade Aberta à Terceira Idade. Bem, pelo próprio nome já dá para vocês terem uma idéia do que se trata, então não vou me aprofundar em explicações sobre o projeto. O que importa é que semestralmente a UATI publica um jornal de quatro páginas com textos dos alunos, historias de vida, fotos de eventos, poesias, poemas, homenagens, uma forma de integração e impulso à autoestima dos idosos, acredito. E sou eu agora o encarregado da diagramação de todo o jornal. Na verdade, fui encarregado de fazer uma reformulação total, novo layout, um estilo mais jovem, levemente mais
ousada. Não preciso dizer que, como sempre acontece quando recebo um novo desafio, fiquei evacuando nas vestes, tamanho foi o meu pavor, meu primeiro pensamento foi “Eu não vou conseguir, nunca fiz nada parecido, não sei usar esses softwares complicados, vou me enrolar todo, estragar tudo e ser demitido na primeira oportunidade”. Todavia descobri que existe um abismo muito grande entre o pensar e o agir ou não, então, apesar do meu medo, aceitei o desafio, pois estou cansado de fugir. Ainda fujo de muitas coisas, inclusive da pessoa que eu quero ser realmente, mas para conseguir parar de fugir eu preciso começar de algum ponto, então, que seja no profissional, depois eu dou um jeito de arrastar essa coragem toda pro pessoal. Na verdade “essa coragem toda” soa meio prepotente, pois tive que reunir uma boa dose para parar de borrar as calças.
Eu fiz, refiz, retomei tudo do zero, ajustei uma linha aqui, um bloco de texto ali, depois de tudo pronto olhei, tive novas idéias, deletei tudo e comecei de novo outra vez, até que na tarde do dia 21/06, minha proposta foi aprovada pelos responsáveis pela publicação e teve sinal verde para ser produzida. Mais tarde, durante nossa pausa para o café da tarde, minha chefe me disse que a encarregada do jornal foi me elogiar para ela: “A Gislaine disse que você é ótimo, se saiu muito bem, parabéns”. Não sou o tipo de pessoa que gosta de se gabar, vocês bem sabem que minha auto-estima é pouca, mas outra coisa que eu aprendi também com as coisas que já passei é que não há nada de errado em nos sentirmos bem com nós mesmos quando somos elogiados. Se dizem que eu fiz um bom trabalho, então eu fiz. Quem sou eu pra desmentir quem entende do assunto. Cabe a mim agora me esforçar mais, pois sei que desafios muito mais complexos virão.


Meu final de semana não foi dos mais animados, mas foi sereno, esse é o termo exato. Fui convidado para passar a tarde com uma amiga que já não via há tempos, meses e meses. Estudamos juntos no Colégio Técnico e apesar não nunca temos sido unha e carne, conversávamos bastante e sempre nos gostamos muito, desde que a conheci eu percebi que tínhamos muito em comum, igualmente inseguros.
Ela me enviou uma mensagem no sábado de manhã, perguntando se eu queria passear no shopping após o almoço, espairecer, conversar, bater perna. Inicialmente ia recusar, pois para todos os convites que recebo, minha primeira reação instintiva é recusar. Eu era menos antissocial no passado, hoje sou mais, mas estou lutando contra isso.
Fui e me surpreendi, pois meu sábado foi melhor do que eu esperava. Eu como vocês sabem, adoro tagarelar, falar tudo sobre minha vida e também amo muito quando acho pessoas que confiam em mim o suficiente para se abrirem comigo, contando sua vida, suas tristezas, seus sonhos, medos e esperanças. Essa reciprocidade me faz sentir tão bem, tão querido e me faz querer tão bem a outra pessoa, sinto uma gratidão muito grande.
Sentamo-nos na mesinha de uma cafeteria na área do cinema e passamos mais de uma hora conversando sobre como sempre nos apegamos às pessoas, sobre nossos amores pouco ou não correspondidos e sobre o quanto precisamos mudar, mas é difícil, como costumo dizer nas conversas com meu amigo Levi, sempre “mais do mesmo”, mas eu percebo que esse mais do mesmo, apesar de repetitivo é o que alivia. Acredito que o fato de ficarmos insistindo num assunto repetidas vezes vem da nossa necessidade de resolvê-lo, e da nossa dificuldade extrema em fazê-lo.
Foi tão bom conversar com alguém que realmente te entende, que passa pelas mesmíssimas coisas que você passa, que sabe o que você vai dizer antes mesmo que você diga. Uma pena que ela não é de sair muito, mas decidi que pretendo chamá-la mais vezes. Não posso falar por ela, mas eu adorei cada minuto do nosso passeio, cada palavra da nossa conversa. O tipo de coisa que eu preciso fazer mais vezes, ainda mais agora que durante a semana tenho que me concentrar muito no meu abençoado novo trabalho. Uma vez que a profissão não tem regulamentação exata, mesmo sem um curso posso me considerar oficialmente ilustrador, designer e diagramador, e isso enche a minha bola pra caralho.




Eduardo Montanari Sobre o Autor:
Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática, trabalha como designer e diagramador. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


5 Divagações

  1. Adoro, você sempre promovendo a fusão entre o cotidianos e reflexões filosóficas. Trabalho, estudos, responsabilidades, são coisas que exigem uma doação muito grande do indivíduo. Eu sou estudante em uma Universidade Católica e faço estágio pela manhã, é uma ralação que não está no gabarito, porém sinto que todas as circunstâncias me fazem crescer, já que exigem que eu me entregue e, consequentemente, dê o meu melhor.

    Referente a passeios e a interações que saiam do nicho escolar e do trabalho, também não sou muito adepto. Não gosto de muitos lugares e programas que a maioria dos jovens da minha idade gostam. UM lugar que eu me sinto confortável com alguns poucos amigos é no cinema.
    Reconheço que a pesar de toda essa minha reclusão e também falta de auto -estima, é bom sair com os amigos, pois ficar muito sozinho é desagradável, por mais que eu goste da minha companhia.

    Amei o seu texto.

    Parabéns e um abraço.

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    1. Rapha, também não curto sair nos lugares comuns onde todo mundo vai. Gosto de lugares mais discretos, onde eu possa sentar, beber um drink, conversar, filosofar...
      E não sei de onde você tirou essa sua baixa-auto-estima rapaz, pare com this.

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  2. Olá, Eduardo!
    Como já diria a canção: somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter.
    Abçs!
    Rike.

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  3. Nossa, adorei o seu texto e sua maneira de escrever. É uma delícia de ler.
    Concordo plenamente quando diz do quanto é difícil mudar, mesmo quando sabemos o que precisa ser mudado. Como estudante de Psicologia ouço muitas vezes que a tomada de consciência das nossas fraquezas é o primeiro passo para mudá-las, não deixo de concordar com isso, mas acho que essa é a pior fase, quando fazemos algo e ao mesmo tempo sabemos que não deveríamos fazer. É uma tortura constante. Mas, sem dúvidas, estar com quem nos compreende é sempre o melhor remédio...

    Parabéns pelos seus textos.

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