5

Sobre filtros de barro, cartões de crédito e um barrigudinho desencanado.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Dia desses estava eu navegando à toa pela famosíssima rede social Facebook, quando me deparei com uma postagem em minha timeline, na qual havia a foto de um desses bebedouros/filtros de barro e a frase: “Se você já bebeu água em um desses, compartilhe”. Às vezes me deparo com coisas que me fazem perceber o quanto já me encontro envelhecido, mas essa não foi definitivamente uma dessas vezes. 
Eu e minha família (entendam família, como minha mãe e minha tia) sempre fomos pessoas de poucas posses, nunca pudemos comprar algumas coisas que outras pessoas podiam com facilidade. Me lembro que, quanto eu estava na sétima, oitava série acho, durante uma conversa com alguns colegas eu lhes disse que não tinha telefone em casa, que nunca tive e que não tinha previsão de um dia ter um. Todos na rodinha ficaram boquiabertos, espantados ao saberem que existia alguém no mundo que não tinha um telefone. Um deles até se manifestou revoltado: “Ah! Para com essa brincadeira, vai! Você tá brincando né? TODO MUNDO tem telefone em casa!”. Anos depois foi a mesma coisa com o Vídeo K7, o vídeo-game e o forno de microondas. As pessoas ficam pensando que você não tem as coisas porque você não quer ter, não porque você não pode ter
Eu sempre achei muito idiota algumas reações das pessoas com o que ou quem é diferente. Quando eu falava que não tinha pai, que nunca soube quem era ele, todos ao redor ficavam abalados: “Caramba! Mas como isso? TODO MUNDO tem pai!”. Ou quando eu falo que odeio futebol, sempre a mesma reação de espanto. Nesse caso do filtro de barro eu fiquei pensando: “Meu Deus, será que eu sou a única pessoa no planeta que usa e gosta de usar filtros de barro até hoje?”. Sim, pois pra criarem essa piadinha no Facebook, isso significa que quase ninguém mais usa esse tipo de filtro. De repente me revoltei, pois percebi o quanto coisas super simples e corriqueiras para mim, são para essa geração de hoje, motivo de espanto, como por exemplo, beber água de um filtro de barro, algo tão comum em tantas casas brasileiras. 


Sou expert em fazer as coisas por impulso, de forma precipitada e depois acabar me dando mal. Há tempos eu vinha querendo comprar um par de óculos escuros com grau para mim, pois gosto muito de andar a pé pela cidade e com todo esse sol que anda fazendo, fica complicado caminhar olhando pra frente, o que pode ser muito perigoso. Fui até algumas óticas fazer uma pesquisa de preços e descobri que o melhor seria comprar com cartão de crédito, contudo eu sempre evitei esse tipo de produto, pois nunca vi necessidade, já que sempre tive uma renda bastante baixa, mas como eu estava querendo muito novos óculos escuros, decidi ir ao banco e pedir um cartão. Ele veio rápido, num envelope cheio de informações que me diziam o quanto seria vantajoso para mim ter o tal cartão. Fui então à ótica no sábado passado e comprei os óculos tão desejados. Contudo, o que eu não esperava era que a anuidade do cartão fosse num valor tão alto, seis parcelas de R$15,00, o que para o meu padrão de vida é bem caro, já que as parcelas dos óculos ficaram em R$71,00, somando mais 15 da anuidade eu pagaria mais de 80 reais mensais, o que para mim já não compensa. Sendo assim, meus colegas de trabalho me aconselharam a ligar para o 0800 do Banco e pedir o cancelamento do cartão, mas obvio que a idéia não era essa. Eles me disseram que, ao saberem que eu queria cancelar o cartão, o banco faria de tudo para impedir isso, inclusive quiçá retirar a anuidade do cartão. Liguei então empolgado para o 0800 e todo confiante eu comuniquei para a atendente: “Bom dia, eu gostaria de cancelar o meu cartão de credito”. Ela me perguntou qual o motivo do cancelamento e eu disse que o valor da anuidade estava alto demais, todo malandrinho, esperando ela me implorar para que eu ficasse com o cartão e me fizesse uma boa oferta para tanto. Porem, qual foi a minha surpresa quando, com a maior calma do mundo a atendente nem sequer insistiu. Ela simplesmente concordou com meu pedido e em menos de cinco minutos cancelou o meu cartão, ou seja, o meu plano malandro não saiu bem como eu queria. Me livrei da tão incômoda anuidade sim, mas por outro lado, acabei cancelando mesmo o cartão, o que na verdade não vai mudar muita coisa, já que pedi o cartão unicamente para poder comprar os óculos, não pretendia fazer mais nenhuma compra com ele nos próximos meses. Agora pelo que meus colegas me informaram, o que vai acontecer é que mesmo com o cartão cancelado, todos os meses virão os boletos com as parcelas do óculos, mas sem o valor da anuidade, o que pra mim é vantajoso do mesmo jeito. O lance agora é esperar que isso não se torne uma dor de cabeça futura, com cobranças indevidas e coisa e tal. 

Natal e ano novo chegando e as únicas duas coisas pelas quais estou ansioso é a estréia da primeira parte da trilogia de O Hobbit nos cinemas e o inicio das minhas aulas na faculdade. Estranho me ver como universitário, realmente a ultima coisa que pensei é que fosse um dia cursar uma universidade (conheço outro alguém assim também e estou feliz por ele), acho que vou custar a me acostumar com o meu novo status social: “Eduardo de Montanari & Martiniak – UNIVERSITÁRIO”. Soa chique, até que combina, mas acho que a ficha ainda não caiu. Dos muitos lados bons que essa mudança terá, um deles vai ser o de que, queira eu ou não, serei obrigado a reavivar em mim o habito da leitura, que deixei no passado. O ultimo livro que tentei ler, sem sucesso, foi A Batalha do Apocalipse, de Eduardo Spohr, leitura interessante, mas eu hoje sou tão desmotivado que não consegui chegar nem na metade da trama, depois de recomeçar a leitura duas vezes em seis meses. O ultimo livro que li inteiro e com vontade foi Harry Potter e o Enigma do Príncipe e agora, depois de ter visto o final na telona, estou ainda mais sem vontade de ler o sétimo livro. Da trilogia O Senhor dos Anéis e agora O Hobbit, só conheço mesmo os filmes, não tive paciência de ler nenhum dos livros. Só pra variar, até comecei. Estou tentando começar o ano de 2013 mais “desencanado” também, tentando me preocupar menos com coisas pequenas e perder alguns complexos que tenho em relação à minha forma física. Não me considero bonito nem de longe, mas também não me considero uma pessoa feia, mal cuidada, eu mesmo me namoraria se pudesse, pois apesar de todos os meus defeitos e da enorme falta de atributos físicos, tenho muitos outros predicados que valem a pena, sou divertido, dizem alguns. Não quero me tornar um obeso mórbido, mas eu acho que não preciso ficar tão neurótico com minha barriguinha de almofada, quem se interessar por mim, vai ter que levar o pacote completo, incluindo a barriguinha e os peitinhos salientes, não vou mais ficar tão incomodado com isso, pois estão surgindo um monte de outras coisas com as quais eu deverei me preocupar e não posso perder mais meu tempo me diminuindo, achando que sou feio, barrigudo ou com peitinhos saltados. Como eu disse, quem gostar de mim, que me aceite como sou. E acreditem, eu sou bem mais do que uma barriguinha saliente e aparelho nos dentes, o qual alias, estou prestes a tirar.


Sobre o Autor:
Eduardo Montanari Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática, trabalha como designer e diagramador. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.



5 Divagações

  1. Quero muuuuuito tirar meu aparelho, mas nem tou cuidando e a dentista disse que vai demorar muito, não tem previsão :/
    Bom, esse lance de telefone que você sofreu eu sofri com celular, microondas e me sinto meio "peixe fora d'água" por não ter e nem entender as novas tecnologias. E olhe que sou nova! E que bobagem o filtro de barro né? A família do meu pai ainda usa deles.
    Sobre Senhor dos Anéis eu li o primeiro livro (tenho a trilogia) há uns anos, acho que 2009... Não lembro muita coisa dele não, mas não vou ler de novo (é muito extenso). Vou ler O Hobbit e voltar a trilogia. Parece que existe um livro antes do Hobbit que é preciso ler com um mapa ao lado. Não lembro o nome dele. Eu gosto porque é uma história épica e Tolkien tem uma escrita maravilhosa.
    Sobre a barriguinha, ninguém é de ferro né? rs Mas o que acho interessante é que, agora que tou sem dinheiro pra academia, eu andei pesquisando coisas no youtube e tem como fazer muitas coisas em casa. Se você tiver incomodado com a barriguinha dar uma pesquisada e faz com o que tem em casa mesmo :)

    ResponderExcluir
  2. Cara eu particularmente sempre gostei da aguá desses filtros, sempre fresquinha e agradável como aguá mineral. Cara, eu acho que as pessoas estão tão consumidas com esse espirito de consumismo desenfreado que elas se espantam com alguém que ainda conserva algum tipo de bem ou produto que tenha saído de linha ou que não seja a novidade do momento. Não passa pela cabeça delas, que alguém pode não ter condições de possuir as novidades do momento ou simplesmente goste de conservar seus bens ainda que antigos.
    Cara, sinceramente vc fez bem em cancelar seu cartão, eu a muito tempo não uso o meu, pois percebi que a praticidade do cartão não passava de uma ilusão para me fazer gastar ainda mais. Eu ri aqui, com a parte em que vc diz que seu plano malandro não saiu bem (risos).

    Ai Edu, não sei se vc esta sabendo mas o Hobbit foi gravado com a tecnologia de 48 quadros por segundo, o dobro da velocidade de reprodução normal, que da mais realismo as cenas pq se aproximam da velocidade assimilada pelo olho humano, eles chamam essa tecnologia de High Frame Rate 3D, só que essa nova tecnologia, só será vista em algumas salas, to querendo muito ir em uma das salas que vão usar essa tecnologia, pq esse filme eu não perco por nada, acho que la pro dia 22 eu irei.

    Abraços

    ResponderExcluir
  3. Que ótimo Eduardo, novo universitário. Parabéns! Qual curso você irá fazer? Se for na área do ICH (INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS), tenho certeza, e te garanto, que, realmente, você terá uma carga de leitura muito grande e bastante variada; falo por experiência própria. Como um universitário também posso te dizer que as as preocupações e prioridades vão mudar. Isso será muito bom para você, pois problemas, às vezes tão pequenos, começam a tomar proporções menores até não mais fazerem tantos estragos na sua auto percepção. Quanto o filtro, ainda mais esse de barro, até hoje tem dele na minha casa. Acho esse utensílio, ou algo assim, uma identidade de Minas Gerais. UM ABRAÇÃO, MEU QUERIDO!

    ResponderExcluir
  4. Querido Amigo Eduardo,

    Eu sempre gostei do sabor da água que passa pelo filtro de barro. É diferente. Fica leve.

    Quanto ao telefone, nem eu tinha e nunca fez tanta falta assim. Alias, muitas coisas nao tive e nem por isso deixei de viver. Entendo bem que as pessoas se espantem porque outras nao tem determinados objetos, afinal, a sociedade gasta demais e "ter" é como um poder.

    Beijos e FELIZ NATAL e Otima 2013.

    ResponderExcluir

Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!