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Sombras que me seguem.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Ultimamente não tenho me sentido eu mesmo. Nesse ano completarei, se tudo der certo, 38 anos de existência, embora, “existir”, pra mim, seja relativo, já que creio, não com base em nenhuma religião, mas em minhas próprias crenças pessoais, que somos eternos, já existimos antes mesmo de nascer nesse mundo e continuaremos a existir, na forma de energia, depois que esse nosso invólucro de carne se desfizer. Refletir sobre isso me faz perguntar o que sou eu de fato, eu não sei, na verdade, quem eu sou. Sou o que era antes, o que sou atualmente ou ainda não sou nada, serei algum dia, quando alcançar o entendimento de sei lá o que?
Já contei um numero grande de vezes aqui, que durante toda a minha infância e juventude, nunca fui uma pessoa espontânea, sempre me deixei guiar pelo outros, com o intuito de agradar-lhes e assim ser querido por eles, coisa que jamais funcionou, tudo o que consegui foi me tornar um capacho, submisso à vontade de muitas pessoas mais espertas, que conseguiram identificar nesse meu comportamento, uma fraqueza. Cresci sem personalidade e, até hoje, aos 37, ainda a busco. Tenho meus gostos, minhas opiniões próprias a respeito de um monte de coisas, tomo sozinho a maioria das minhas decisões, mas ainda assim me sinto deslocado no mundo, como se não fizesse realmente parte dele, parte de nada. Descobri que há pessoas que lidam muito bem com isso, são independentes a tal ponto que conseguem ser muito felizes independente do resto do mundo. Fico me perguntando sempre se isso vem do amor próprio ou é simplesmente uma espécie de egoísmo disfarçado de auto-suficiência.

Não me orgulho muito da forma como me comporto em varias situações. Embora algumas pessoas me digam que isso seja normal, que cada pessoa tem seu próprio tempo para amadurecer e compreender determinadas coisas, não consigo deixar de achar que, na idade em que estou, já deveria ter mudado certos padrões de comportamento há muito tempo. Alguns dizem que, o que você não consegue mudar em si mesmo, mesmo tentando muito, faz parte de sua personalidade, não se trata de um defeito a ser corrigido, mas do seu “jeito de ser”, comumente falando. Tenho medo disso, pois se for realmente verdade, há traços em minha personalidade que não são nem de longe, os de uma pessoa boa, decente e correta. É fato que todos nós temos o nosso lado negro e vez ou outra cedemos a ele, mesmo que não percebamos, mas ultimamente tenho me perguntado muito se, na verdade, ao invés de ter um lado sombrio, sou uma pessoa naturalmente sombria, que vez ou outra mostra um lado mais bondoso. Eu não sei, analiso constantemente o que sinto em relação ao mundo e à seus habitantes e os resultados não tem sido bons. Raramente sinto pena das pessoas, mas sempre estou esperando que sintam de mim, não consigo ficar feliz pelos outros, na verdade a felicidade deles até chega a me incomodar, sou rancoroso, invejoso, vingativo, embora minhas “vinganças” sejam bem ridículas e pouco ou nada eficazes. E me confunde, mais do que me ajuda, na verdade, o fato de eu conseguir externar essas coisas abertamente, com tanta clareza. Há quem diga que isso é bom, que gostaria de ser como eu, dizer o que realmente sente de fato, sem mentir, sem se preocupar com o que os outros pensarão a respeito, mas confesso que não sei se tem valido a pena. Contudo há um problema: eu não consigo mais, não ser franco, não consigo não dizer como me sinto de fato, não consigo dizer que estou bem, se não estou, não consigo fingir que gosto de algo que não gosto ou aceitar algo que de fato, jamais aceitarei. Também me pergunto se isso é algum crime.

Não tenho me sentido eu mesmo ultimamente porque nos últimos tempos tenho novamente me forçado a tentar ser um alguém que não sou. Um alguém calmo, conformado, compreensivo e que esta aceitando as coisas que estão lhe acontecendo, de forma serena e tranqüila, quando de fato não é isso que está acontecendo. Dizer que “coisas ruins” estão me acontecendo nesse momento seria mentira, um drama de minha parte, em teoria, na “superfície do lago”, tudo está bem, aparentemente minhas águas não estão agitadas. Tenho meu emprego que não me paga muito, nem é o melhor emprego do mundo, mas com o qual, tenho minha bolsa de estudos garantida na universidade. Tenho bons dias de trabalho, outros nem tanto, noites comuns nas aulas, outras bem mais cansativas e estressantes, mas sempre me pergunto: “Quem é que não tem”? Entretanto, dizer que estou feliz, que estou satisfeito ou conformado em como minha vida tem andado é mentira, tenho funcionado no automático, simplesmente fazendo o que sou obrigado a fazer, cumprindo minhas obrigações, não porque seja isso que as pessoas esperam de mim, aprendi que a grande maioria das pessoas não está nem aí com o que acontece ou deixa de acontecer com você, tampouco por achar que, seguir assim seja o certo a fazer, o faço simplesmente porque não tenho escolha. Se não trabalho, não ganho dinheiro, não pago minhas contas, não compro o que preciso comprar, se não estudo, não ganho meu diploma, não consigo arrumar um emprego que me pague melhor, sem esse emprego, não pago minhas contas, não compro as coisas que preciso. Tenho alguns bons amigos, mas nenhum deles “para todas as horas”, como dizem, como eu gostaria, como sempre sonhei desde a infância, quando assistia a filmes onde esse tipo de coisa existia, nenhum com quem possa realmente contar, para o qual possa chorar, lamentar sem ser julgado.

Tenho seguido assim, conquistando pessoas quando mostro o melhor de mim, perdendo outras quando deixo que vejam o meu pior, me arrependendo de muitas coisas, outras não, e mesmo só agora, beirando os 38, me pergunto se a vida comum e normal não é isso mesmo, uma sucessão de erros e acertos, perdas e ganhos, encontros e desencontros. Me pergunto se tudo isso é inevitável e se, quem consegue evitar, não está apenas fugindo de se machucar. Tenho lembrado muito daquele ditado, "a dor é inevitável na vida, mas ficar sofrendo é uma opção". Não tenho tido mais ou menos dores do que qualquer outra pessoa, mas tenho, desde que me entendo por gente, optado por ficar sofrendo pelas feridas que esses machucados me deixaram, mágoas, decepções, frustrações. Faço isso como uma forma de manter vivas em mim, coisas que ainda acho que poderei resolver, de preferência à meu favor, mastigando assuntos, remoendo fatos que considero inacabados, pendentes, quando na verdade eles estão assim só na minha cabeça. Coisas que já deixaram de ser há muito tempo e que provavelmente jamais serão novamente. O que preciso fazer, eu sei, é aceitar, aceitar o que não posso mudar, ter força para mudar o que estiver ao meu alcance. Não tenho feito nem uma coisa nem outra, tenho optado por insistir em meus erros, bater na mesma tecla por anos a fio, cometendo os mesmos enganos, magoando a mim e aos outros. Mas como aceitar, como se resignar? Qual o segredo? Ao mesmo tempo em que sinto que, conseguir alcançar isso me trará paz de espírito, meu "lado sombrio" encara isso como uma derrota, como levantar a bandeira branca, me render a coisas que acredito poder mudar se continuar insistindo nelas. Mas não podemos mudar nada ao nosso redor, nem as coisas, nem as pessoas, só temos controle sobre nós mesmos e as decisões que tomamos, e eu sinceramente não faço idéia de que decisões tomar em relação a tudo na minha vida, se até hoje não consigo saber na verdade quem sou eu e o que quero pra mim.


Sobre o Autor:
Eduardo Montanari Nascido e ainda morando na cidade de Bauru, interior do Estado de São Paulo, sou estudante de Design e trabalho como designer e web designer, áreas pelas quais tenho muito interesse. Amo cinema, quadrinhos e boa música.



1 Divagações

  1. Pelo que conheço e acompanhei de você, acho que veio de muito mais longe. Você é muita. Teve peito para assumir sua sexualidade, isso é privilégio de grandes homens e mulheres apenas; Depois que começou a de fato trabalhar na área que gosta, está mais animado, otimista ainda que tenha crises e momentos de tristeza. E isso todos tem... apenas ser humano.
    Você aguentou esses 38 e irá aguentar muito mais. Você é forte. Uma vez li uma frase assim "Pessoas sofridas são perigosas... Elas são capazes de tudo"
    Inclusive de aprender a driblar e ir vencendo a si mesma. Você vai longe, ou melhor, já foi e muito! :) ;)

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