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Um pouco da vida de um mutante sedentário, a tênue linha entre ficção e realidade e a intolerância entre iguais.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Para aqueles que ainda não tem conhecimento do fato, o famoso ator Ian McKellen, intérprete dos personagens, Magneto e Gandalf, no cinema, é homossexual assumido. Em algumas entrevistas que concedeu, quando era questionado sobre como foi atuar em filmes de heróis, mais especificamente na franquia dos X-MEN, McKellen disse que um dos principais motivos pelos quais aceitou interpretar o vilão mutante Magneto, foi porque, descobrindo mais sobre o universo dos mutantes da Marvel Comics, ele percebeu o quanto o drama vivido pelos heróis, pela “raça mutante”, é idêntico ao enfrentado pelos homossexuais no mundo todo. Indivíduos discriminados pela sociedade por serem considerados, por ela, diferentes e portanto, anomalias, erros de Deus, que não merecem existir, sendo caçados e exterminados. Defensor ferrenho dos direitos dos homossexuais, McKellen aceitou o papel e diz que, apesar de interpretar um vilão sem escrúpulos no filme, com uma visão distorcida de justiça e que é capaz de ferir inocentes em nome de sua causa, sente orgulho de poder participar de uma história que mostra o preconceito de forma tão direta. Podemos ver isso em todos os cinco filmes dos heróis, mas, particularmente, consigo perceber esse tema abordado de forma mais intensa em X-MEN - O CONFONTO FINAL, lançado em 2006 e com a direção de Brett Ratner e mais recentemente agora, em 2014, em X-MEN - DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO, dirigido por Brian Singer.

Na trama de O CONFRONTO FINAL, a raça mutante se vê diante de um dilema: Cientistas de uma renomada indústria farmacêutica descobrem uma forma de suprimir o gene mutante X, responsável por causar as alterações físicas e conferir super-poderes e habilidades aos mutantes. Eles chamam de "A cura" para a mutação (Hmm... Já ouvimos falar de uma coisa semelhante na vida real, não é mesmo?). Os mutantes de todo o mundo se dividem então, em dois grupos: aqueles que, por temerem o preconceito, a violência e o ódio da humanidade, querem a cura e se sujeitam a recebê-la, formando enormes filas nos "postos de vacinação" anti-mutante e aqueles que se aceitam exatamente como são, que acreditam que a raça mutante tem o direito de existir e que não há nada a ser "curado".
Como eu mencionei mais acima, na vida real tivemos, há pouco tempo, algo muito semelhante à cura para a mutação, que foi o tão comentado e tão polêmico Decreto Legislativo nº 334, popularmente conhecido como a "Cura Gay", decreto esse que, embora muitos acreditem, não foi de autoria do deputado Marco Feliciano, mas sim de João Campos, também deputado. Contudo, diferente da ficção, a chamada cura gay não consiste em uma injeção milagrosa, embora muitas pessoas ignorantes ainda acreditem que ser gay é uma espécie de doença, passível de cura com algum tipo de medicação. Na verdade, a "cura" proposta pelo tal projeto não foge muito dessa ideia, já que se baseia na crença de que o homossexualismo é um transtorno mental, um problema psicológico que pode ser sanado com terapia, tratamento psicológico ou psiquiátrico.


O que de fato esse projeto faz é suspender um parágrafo de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia, que impede os psicólogos de colaborar "com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades". Assim diz o texto do projeto. O Conselho Federal de Psicologia é o órgão que organiza e supervisiona as atividades de todos os psicólogos do Brasil. Para atuar nessa profissão, você precisa da autorização dele. Em 1999, o CFP publicou uma resolução que determinava e atualizava as regras da psicologia brasileira. Dentre elas, esse texto proibia os psicólogos de lidarem com a homossexualidade como doença, e também de participar de qualquer atividade que partisse do princípios de que pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo são doentes. O deputado João Campos fez esse projeto com a finalidade de anular essa proibição, enquanto Marco Feliciano, como presidente da Comissão de Direitos Humanos, aprovou o projeto. No final das contas, atualmente, como acontece com a maioria das ideias idiotas e retrógradas demais, não tem se falado mais tanto sobre essa tal cura gay, quer dizer, pelo menos eu não tenho mais visto isso ser assunto para a mídia há um bom tempo. Pelo que eu soube, o projeto foi arquivado, acabou não dando em nada, não tenho bem certeza, se alguém tiver informações atualizadas sobre isso, por favor, deixe nos comentários.
Em verdade, o que me revolta, se é que chega a ser uma revolta e não apenas um descontentamento, não é a homofobia, o preconceito que as pessoas que se consideram "normais", tem contra os gays, sejam eles homens ou mulheres, mas sim a intolerância do ser humano com o outro de um modo geral, com tudo o que é considerado fora dos padrões estipulados, considerados moralmente corretos, essa mania que todo mundo tem, de estereotipar tudo, generalizar. Todo o negro é bandido, todo japonês tem pinto pequeno, toda loira e burra, todo gay é um poço de promiscuidade.


Eu sou gay, homossexual, se a palavra for mais "confortável" pra você, mas dá na mesma. Parei de fugir disso há alguns anos, parei de enfrentar quando percebi que não há nada o que ser enfrentado. Não nego que ainda tenho medo, não de quem eu sou, mas de como algumas pessoas encaram isso, apesar de que, me surpreendi um pouco ao perceber que algumas coisas as vezes são mais simples do que parecem e que, quando você tem o apoio e o amor de pessoas que sabem verdadeiramente quem você é, o que a grande maioria das pessoas acha sobre você se torna muito irrelevante. Incômodo sim, as vezes, mas numa proporção bem menor. Quanto a como levo minha "vida de mutante", bem, eu acordo cedo e vou todos os dias trabalhar no que gosto, tenho dias bons, dias ruins, estou no meio do segundo ano de um curso que amo, com o sonho de me formar e seguir minha vida trabalhando na área, estudo a noite, ajudo nas despesas da casa, fico preocupado quando minhas gatinhas somem por muito tempo, gosto de sorvete de pistache, as vezes choro a noite, com a cabeça debaixo do travesseiro, seja por medo do futuro, seja por saudade de alguém, pago água, luz, telefone, gás, estou quebrando a cabeça pensando em como comprar um óculos novo para minha mãe e no final do ano uma bicicleta pra mim, já que meu trabalho me faz uma pessoa muito sedentária. Enfim, uma vida promíscua, sendo eu gay. Ah sim, eu já ia me esquecendo, eu amo muito também, amo quando consigo encontrar em algumas pessoas a luz que estou sempre buscando pra iluminar um pouco mais os meus caminhos.


Sobre o Autor:
Eduardo Montanari Nascido e ainda morando na cidade de Bauru, interior do Estado de São Paulo, sou estudante de Design e trabalho como designer e web designer, áreas pelas quais tenho muito interesse.
Amo cinema, quadrinhos e boa música.






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