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Sobre novas moradas, nada de interessante na programação dominical e sobre Peterson. Sim, pois precisamos falar sobre Peterson.

quarta-feira, 11 de março de 2015

No domingo passado, sozinho em casa e já enjoado de assistir à vídeos pornô-gays no X-Tube, liguei o meu aparelho de televisão e, alternando entre as emissoras, procurando algo bacana pra assistir, deparei-me com uma chamada para um dos quadros do programa Domingão do Faustão, famoso entre os públicos de classe C e D. Pelo que me lembro, o quadro se chama “Divã do Faustão” ou algo parecido. Pelo que pude entender, esse quadro consiste em fazer com que um cidadão aleatório peça ao público uma opinião sobre sua vida pessoal, para que depois, sem sequer conhecer o sujeito, outras pessoas aleatórias externem suas opiniões de merda, dizendo à ele como deve proceder perante o “problema” que ele apresentou. Coisa linda de Deus. Nessa chamada, o rapaz lançou sua dúvida aos telespectadores e ao público presente no programa: “Faustão, eu dou duro no trabalho, acordo cedinho todos os dias para trabalhar, depois, volto bem tarde pra casa e a minha mulher não reclama. Ela é super compreensiva, estou achando muito estranho. Acho que estou levando chifre”. E é claro, o rapaz faz esse polêmico relato com um sorriso no rosto, como se fosse algo divertido de ser contado.
Pode ser armação, pode não ser, talvez o sujeito tenha tido suas mãos "umedecidas" com alguma quantia em dinheiro para se sujeitar à esse papel ridículo, pode ser que ele seja apenas idiota mesmo e não veja problema em expor isso em rede nacional, mas o fato é que, ao ouvir isso, senti-me extremamente ofendido e revoltado por dois motivos: O primeiro é o fato dessa informação ou esse "debate", se quiserem ver assim, ser "extremamente relevante" (ironia mode:= on;) para mim e tenho certeza, para a maioria das pessoas do planeta. Saber sobre a vida íntima e ouvir opiniões alheias sobre um sujeito com o qual não me importo nem um pouco, se está sendo chifrado ou não, se está vivo ou se está morto. Segundo, pelo fato da idéia que esse tipo de "coisa televisiva", pode plantar na cabeça de alguns homens mais inseguros. Sim, existem mulheres adúlteras, homens adúlteros, mas isso não quer dizer que só porque sua mulher é compreensiva demais com você, ela está te chifrando. O detalhe mais legal é que esse quadro foi ao ar em pleno dia internacional da mulher feminina. Falta de sensibilidade total, contudo, esperar qualidade de programação das emissoras brasileiras de TV aberta, com exceção da TV Cultura, é esperar demais.


De acordo com minha mãe, a mulher que me gerou por 9 meses no interior de seu ventre, o apartamento que ela ganhou pelo programa "Minha casa, minha vida" lhe será entregue agora em abril, após meses e meses de espera. Difícil saber se ela está contente, ansiosa ou não, pois idosa como é e descontente com a própria vida, talvez essa mudança tenha se tornado para ela apenas mais um detalhe. Confesso que estou com medo em deixá-la morar sozinha em um lugar tão distante, quase fora da cidade, mas realmente não quero me mudar pra tão longe e também, infelizmente não nos damos muito bem. Convivemos pacificamente, mas suas atitudes bipolares me causam uma forte depressão.
No último sábado ela esteve bastante irritada e melancólica, pois recebeu a notícia de que o governo cortou aquele cartão "Minha casa mais melhor", que garantia um empréstimo de R$ 5.000,00 para que os seus usuários comprassem móveis e utensílios para seus novos lares. Creio que ela está pensando agora em como fará para mobiliar a casa nova, já que contava com esse dinheiro, mesmo eu não tendo idéia de como ela faria pra pagar tudo depois, já que eu não tenho condições de ajudá-la nessa empreitada em que quer se meter e a aposentadoria por idade que ela recebe é bem baixa. 
Caso ela realmente insista na mudança, é óbvio que, apesar da nossa situação apertada e das diferenças que temos, vou ajudá-la da forma que conseguir, tentando tornar sua vida na nova morada o mais confortável possível, mas ela, que é uma mulher pouco humilde, embora lógico, ela negue isso, terá de se contentar com alguns móveis usados, entre outras coisas não tão novas. Só espero que ela saiba lidar com essa nova situação em sua vida, espero mesmo, pois já passou da hora de eu dar um rumo na minha e, embora, como eu já disse, vá tentar ajudá-la no que conseguir, preciso ao mesmo tempo me ajudar também e sinceramente não sei se dou conta de carregar a minha vida e a dela nas costas.


Muito se noticiou e se comentou nos últimos dias, ao menos na internet, mais especificamente na mundialmente famosa rede social de origem americana conhecida como Facebook ®, sobre o caso do menino Peterson Ricardo de Oliveira, de 14 anos, que morreu dias após ser agredido violentamente por outros cinco jovens em uma escola pública na Vila Jamil, em Ferraz de Vasconcelos, Grande São Paulo, no dia 5 de março. O garoto estava em coma desde a agressão. Ela era filho adotivo de um casal homossexual. A escola e os pais dos agressores logicamente, negam o ocorrido. 
Não consigo definir o que mais me enoja, me embrulha o estômago nesse acontecimento, se é o ato cruel de homofobia na sua mais pura forma, ainda mais vindo de outras "crianças" ou se é o fato da maioria das pessoas ditas "normais" e da mídia televisiva simplesmente fingirem que isso não aconteceu. Desde o ocorrido, só tenho visto notícias, protestos e comentários sobre o caso nas redes sociais. Minha mãe assiste o noticiário quase todos os dias e me disse não ter ouvido nada a respeito, inclusive se chocou bastante quando eu lhe contei sobre o que se tratava.
Demorei muitos anos para admitir pra mim mesmo que prefiro garotos, que sou homossexual. Confesso que ainda hoje é complicado pra mim lidar com certos aspectos de minha sexualidade, mas embora ainda não me aceite como deveria, não minto mais pra mim mesmo e não nego o que sou. Inseguranças à parte, não gosto de rótulos, nem sequer me defino "homossexual", simplesmente me considero uma pessoa que prefere ser guiado pelos sentimentos. Mais do que o corpo, mais do que o gênero, o que me atrai em uma pessoa é o que ela tem dentro dela, suas idéias, convicções, seus sentimentos, seja ela um homem, mulher ou alienígena. Confesso que sou inseguro, pouco confiante, tenho medo do preconceito, tenho medo do julgamento do outro, mas acima de tudo, vendo o que aconteceu com essa criança, tenho medo do mal demoníaco que o preconceito pode disseminar e do quanto esse mal as vezes parece ser tão poderoso, quase indissolúvel

Entretanto, apesar do meu medo, apesar do receio em me tornar mais uma vítima desse mal, casos como o de Peterson Ricardo, casos que acontecem todos os dias, com muito mais frequência do que são noticiados pela nossa imprensa vagabunda me dão forças me dão coragem para me impor contra esse tipo de ser "humano", de conceitos arcaicos, idéias retrógradas e crenças deturpadas. Posso ser uma pessoa pacata, preferir ser discreto em minha sexualidade, posso optar por não me manifestar demais sobre o assunto, mas em casos como esse é impossível se manter passivo, não há como não externar palavras de revolta e indignação, não há como não partir em defesas de pessoas, de vítimas inocentes de outras criaturas que se julgam humanas, que se julgam corretas e cristãs. Vou morrer (e espero morrer de velhice) me perguntando o que é que incomoda e causa tanta indignação no fato de o que eu decido fazer com o meu cu se o cu é meu e qual é a dificuldade das outras pessoas em cuidarem do seu próprio. Goste você ou não, seja você um racista ou "homofóbico com orgulho", você é obrigado a conviver com isso, seus filhos e seus netos serão obrigados a conviverem com isso, considere você isso natural, moralmente correto ou não. E se você, diante de casos como esse do menino Peterson, consegue não se revoltar, pior, se você é uma dessas pessoas que tem a coragem, diante do que houve com essa criança, de olhar para a sua família e dizer "um gay a menos no mundo", meu amigo, é você quem está ocupando um espaço indevido nesse planeta.    

EDUARDO MONTANARI
Virginiano, bauruense, estudante de Design, ilustrador e web designer. Amante de cinema, quadrinhos, boa música e outras nerdices. Sonhando com o namorado ideal.



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