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Sobre um cansaço contínuo, gatos, pulgas, abelhas e o medo de morrer sozinho.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016


Creio que seja assim como todo mundo, na verdade, falando de um modo mesquinho, eu espero que seja assim com todo mundo, mas o fato é que existem alguns períodos na vida da gente, as chamadas “fazes ruins”, quando parece que os problemas custam a dar uma pausa, você acaba de tapar um buraco mal e porcamente e de repente surgem outros três. Quando você se dá conta, percebe que está correndo tanto para tentar resolver tudo que seu corpo e sua mente não estão conseguindo descansar, causando uma sensação de cansaço quase ininterrupta. Você passa boa parte do seu tempo “ligado no 220V”, como dizem e mesmo tentando, parece que seu cérebro não quer parar de trabalhar.
Tenho me sentido assim nos últimos tempos e estou com medo. Uma sensação leve de pânico, leve, mas ainda assim pânico. Um cansaço tanto físico quanto espiritual, uma sensação de estar lutando contra uma forte correnteza que teima em me arrastar. os motivos são vários, um monte de pequenos problemas do cotidiano que, como eu disse, teimam em aparecer, alguns um pouco complicados e todos eles juntos acabam se tornando motivo de uma grande fadiga.

Recentemente perdi um dos meus bichinhos de estimação, minha gata Samanta Fellipo. Sem mais nem menos ela parou de comer, emagreceu muito, perdeu as forças e foi definhando aos poucos. Pra minha tia e eu, que sempre adoramos nossos bichinhos, assistir a uma coisa dessas sem poder fazer muita coisa para ajudar drenou nossas forças. De minha parte eu senti dobrado, pois não apenas sofri pela minha gatinha, mas também por ver minha tia visivelmente deprimida pelo que estava acontecendo.
Não temos dinheiro para pagar um veterinário, mas quando ela piorou muito não tivemos opção. Por sorte eu recebi um pouco a mais de graças a um trabalho que fiz por fora e decidimos chamar ajuda, mas infelizmente foi tarde demais. No dia da visita do veterinário ela já estava indo embora, sem forças pra mais nada. A única opção oferecida pelo doutor foi sacrifica-la e poupa-la de mais sofrimento. De acordo com ele, os dentes muito sujos e problemas na gengiva provocaram danos ao rim da coitadinha. Nesse dia eu não estava em casa, pois trabalho, mas minha mãe e minha tia estavam e de acordo com o que me contaram, foi algo bem triste. Minha mãe acompanhou a eutanásia enquanto minha tia chorava no quarto. Foi algo extremamente desgastante, deixando a minha tia e a mim doentes. Minha mãe, bem, minha mãe sente as coisas a sua maneira. As vezes tenho quase certeza de que ela não ama ninguém.

Depois disso, penso em cuidar melhor da minha outra gatinha, Mel Lisboa. Ela está bem de um modo geral, mas já faz um bom tempo que está perdendo os pelos da bundinha, pois de tanto caminhar numa casa velha do vizinho, se encheu de pulgas e contraiu uma reação alérgica. Um gato de bunda pelada é algo chato de se ver, além do fato da coitadinha ficar se coçando dia e noite sem parar. Depois da morte da Samanta e de ver o estado que minha tia ficou, não pensei duas vezes, comprei um dos anti-pulgas mais caros do mercado. Não me arrependo disso, nem por um minuto, mas nem por isso a situação deixa de me cansar. Se for ver, paguei R$ 80,00 para o veterinário matar uma de minhas gatas, paguei pra matarem meu bichinho. Depois, mais R$ 60,00 no anti-pulgas. Por sorte parece que o remédio resolveu, de acordo com minha tia as pulgas estão morrendo e é questão de tempo até os pelos da Mel crescerem novamente. Um esforço válido, um dinheiro bem gasto, mas uma situação cansativa.

Quando tudo parecia bem, no começo da semana minha tia me liga no trabalho para avisar que foi atacada por um pequeno enxame de abelhas. Despreocupada, ela acabou deixando que elas formassem um cacho no quintal, em uma de nossas árvores, achando que não ofereciam perigo. Fiquei receoso, mas como disse, durante a semana quase não fico em casa e não me sobra tempo pra resolver problemas desse tipo, então confiei em minha tia, mas no final das contas o cacho ficou muito grande e a situação fugiu do controle.
Por sorte até onde eu sei, nenhum de nós dois é alérgico e as picadas apenas causaram inchaço, mas depois do ocorrido ela começou a ligar para os bombeiros, que sumariamente se recusavam a ajudar, praticamente sugerindo que minha tia mesmo queimasse o cacho. Fora de questão. Sei que, depois de vários dias de insistência os bombeiros vieram. Cheguei em casa do trabalho na terça-feira e eles estavam lá no fundo do quintal queimando tudo. Eu e minha tia nos trancamos em casa até eles terminarem.
Problema resolvido, mas nem por isso deixou de me abater bastante, pela minha tia, toda picada e pelos bombeiros, que se recusaram tanto a nos ajudar.

Não tenho conseguido relaxar. tenho medo de morrer ou de que pessoas próximas a mim, que eu amo, morram. Tento afastar esses pensamentos, mas eles acabam vindo automaticamente. Tenho vontade de pegar uma furadeira elétrica e perfurar meu cérebro. É uma sensação de pânico muito ruim, vocês não sabem o quanto.
A cereja do bolo foi, no dia seguinte ao episódio das abelhas, chegar em casa do trabalho e saber pela minha tia que minha mãe precisou ir ao pronto-socorro, pois passou bastante mal e pediu para que uma de minhas tias e o marido a levassem. Teve tonturas e ânsia de vômito. O médico disse que é labirintite. Ela foi medicada, tomou soro, pegou um remédio receitado pelo médico e está passando bem. Liguei pra ela hoje, só pra ter de ouvir que ela não precisa que eu me preocupe com ela. É estranho uma pessoa dizer que te ama, que ama os outros, mas ser tão soberba.
Até onde sei ela está bem, mas eu não. Estou abatido, cansado, me sentindo mal, sem forças e bastante sozinho, sentindo muita falta de afeto, companhia, uma conversa, enfim, de amigos com os quais eu possa de fato contar. Me sinto empurrando uma pedra pesada morro acima, sozinho. Às vezes tenho vontade de solta-la e deixar que role por cima de mim.

Muito medo de morrer sozinho. Eu não quero isso pra mim.




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