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Sobre a culpa que sinto por sentir necessidade de alguém.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Noutro dia fui passear com um amigo com o qual amo conversar, pois podemos falar sobre quase tudo abertamente e eu comentei sobre o quanto, vez ou outra, me sinto culpado por sentir necessidade das pessoas, de uma companhia, afinal eu tenho plena consciência de que uma pessoa carente demais acaba se tornando chata. Sei disso pois falo por experiência própria. Quando mais novo, eu era extremamente dependente dos amigos que fazia e com o tempo as pessoas acabavam cansadas disso, por não conseguirem corresponder a imensa expectativa que eu depositava nelas. Como resultado elas se afastavam. Algumas vezes simplesmente sumiam sem dar explicação, “me davam um gelo”, como dizem, noutras demonstravam seu descontentamento para comigo e depois cortavam relações, o que obviamente me destruía cada vez que acontecia, afinal eu não conseguia entender o porque delas não conseguirem me dar amor exclusivo e incondicional. Na minha cabeça isso não era pedir muito. Hoje ainda sinto muita necessidade de aproximação, mas desenvolvi uma espécie de escudo protetor, tenho medo. Não mais cobro tanta reciprocidade das pessoas como cobrava antes, o que não significa que, de vez em quando, eu ainda tenha fortes “crises de abstinência”, quase como um viciado que fica sem suas drogas.

Quando eu cursava o colégio técnico, uma pessoa me criticou dizendo que eu tirava notas baixas porque ao invés de estudar nos finais de semana e feriados, ficava chamando as pessoas pra sair, querendo companhia, que eu dependia demais das pessoas e por isso não focava nos meus estudos ou em outras coisas importantes. Apesar de não discordar totalmente quando paro ainda hoje para me lembrar, a forma como ele me disse isso, o tom que ele usou, irônico, como se fosse melhor do que eu por estudar mais, por não ser carente, me magoou bastante. Sim, eu era bastante carente, sim, eu não gostava muito de estudar e tinha muita necessidade de companhia, me sentia solitário, mas também era a época na qual minha mãe fez várias tentativas de suicídio e mais do que nunca eu precisava de alguém com quem pudesse desabafar. O que eu não tinha. Seja como for, desde então eu sempre me sinto estranho, culpado, quando sinto necessidade de amigos, de companhia, sinto como se estivesse forçando o outro a fazer algo que ele não tem vontade de fazer, pedindo por uma companhia que em verdade sente pena de mim, pois me considera chato e pegajoso. Por mais que eu saiba que tenho alguns bons amigos que realmente gostam de mim, independente dos meus defeitos, ainda assim me sinto inseguro em relação à eles. Tenho confiança, mas uma parte de mim, marcada pelas rejeições de passado, espera pelo dia em que talvez eles se cansem do meu jeito de ser e me abandonem.

Por mais que me sinta extremamente feliz hoje, quando consigo uma companhia para sair, ver um filme, comer um lanche ou conversar, me tornei “travado”. Converso muito bem, falo até demais diga-se de passagem, mas não consigo de fato externar o quanto estar ali, com aquela pessoa, naquele momento está me fazendo bem. Acabei ficando com medo de que, ao demonstrar o quanto estar com aquela pessoa é importante pra mim, ela se assuste, me ache exagerado, grudento ou que eu estou depositando nela expectativas demais, como fazia até há poucos anos atrás. Até tento agradecer pela companhia, dizer o quanto estou gostando, mas do meu ponto de vista acaba soando meio bobo. Sinto que, ao fazer isso, não estou demonstrando gratidão, mas apenas mostrando para a pessoa o quanto sou carente, necessitado. Sempre sinto que não estou agradando, mas tomando o tempo dela, incomodando de alguma forma.
Sei que deveria dar mais mérito aos meus amigos, confiar mais neles, acreditar quando eles dizem que gostam de estar comigo. Na verdade eu acredito, tenho plena certeza de que eles não permanecem comigo apenas por piedade. O problema é a sensação que não consigo abandonar, o problema não são eles, sou eu e minha completa inadequação com as coisas e as pessoas.




2 Divagações

  1. Não deveria ser gratificante saber o quanto a nossa companhia é apreciada?
    Não tenha medo de falar o que você pensa... isso pode tornar uma relação superficial. Os amigos (que valem a pena!) gostarão de você do jeitinho que você é, tenho certeza.

    Beijão.
    Blog: *** Caos ***

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    1. Sim, concordo com você. Apesar de ter todos esses sentimentos de insegurança, procuro mostrar aos meus amigos que os aprecio muito. Nem sempre tenho coragem ou ânimo para lhes dizer isso com todas as letras, mas acredito que eles consigam perceber. Os verdadeiros amigos acredito que consigam. :)

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