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Sobre pentelhos brancos no saco, imprevistos domésticos custosos, panelas velhas e bichas loucas.

terça-feira, 26 de setembro de 2017




Embora mesmo agora, aos 41 anos, eu ainda não saiba me virar muito bem sozinho com a alimentação e as tarefas domésticas, pois sou filho único e cresci muito superprotegido, a minha vontade de ser independente e morar sozinho já bate forte no meu peito há alguns anos, como um alien querendo sair, rasgando meus órgãos e quebrando as costelas. Olho para os lados e vejo meus amigos e conhecidos, mais novos do que eu já vivendo quase que plenamente, resolvendo seus próprios assuntos e preocupando-se unicamente com sua própria vida, enquanto que eu, já com pentelhos brancos no saco (um charme peculiar, diga-se de passagem a quem interessar), vivo e trabalho não apenas para cuidar de minha vida, mas de minha tia e de certa forma, ainda de minha mãe, mesmo ela tendo optado por morar sozinha há alguns anos.

Tanto minha mãe quanto minha tia não são propriamente aposentadas, já que nunca contribuíram tempo suficiente pra isso. Ambas conseguiram o BPC ou “Benefício de Progressão Continuada”, uma contribuição do nosso honesto governo para pessoas de renda muito baixa. Esse benefício tem o valor de um salário mínimo, o qual todos sabemos bem, não ajuda muito, mas no caso delas e de muita gente é melhor do que nada. Mesmo assim, boa parte das despesas da casa acaba ficando por minha conta, além de alguns imprevistos, como quando roubaram meu hidrômetro e eu tive de desembolsar cem reais por um novo ou agora, quando precisamos lavar a caixa d’água e arrumar nossa descarga do banheiro, que ainda é daquelas de puxar a cordinha.

Na medida do possível divido as despesas com minha tia. Água, luz, gás de cozinha, a compra mensal do supermercado, e embora me seja cansativo não me martirizo mais por isso como antigamente. Cada pessoa tem um fardo diferente pra carregar e o meu é esse. As contas precisam ser pagas, a manutenção na casa precisa ser feita e nada disso se faz sozinho ou sai de graça, então, que seja. E embora me deprima um pouco ter de dispor de mais da metade do meu salário pra ajudar em casa, pois queria poder viajar, fazer planos, entre outras coisas, como muitos amigos meus conseguem, eu o faço sem reclamar, ao menos abertamente, pois um lado meu vê isso como uma obrigação de filho e sobrinho. Contudo o que me dói mais nisso é, algumas vezes, a ingratidão de ambas, mesmo eu tentando ajudar da maneira que posso.

Não sou uma pessoa que coloca a “mão na massa” para fazer algumas coisas do âmbito doméstico. Não conserto eletrodomésticos, não tenho dons de eletricista, encanador ou construtor civil. Se subo numa cadeira pra trocar a lâmpada já tenho tontura, mas pelo menos troco. Não gosto de carregar coisas pesadas e nem me sujar, e durante muito tempo já me culpei por isso, hoje não mais. Sou da opinião de que cada pessoa é como é, podendo mudar sim, mas temos cada um sua personalidade e gostamos ou desgostamos de coisas distintas, temos predisposição pra umas coisas, pra outras não. Tenho um amigo que trabalhou desde pequeno como pedreiro, não tenho capacidade física ou, sejamos francos, vontade de fazer metade das coisas que ele consegue fazer, mas não me culpo por isso. Se eu puder, prefiro pagar para que alguém disposto e acima de tudo capacitado, faça o serviço por mim.

Recentemente tive uma discussão com a minha tia e ela jogou na minha cara que eu não faço nada pra ajudar em casa, não colaboro, que é ela quem precisa pensar em tudo e solucionar os problemas domésticos. Eu trabalho de segunda à sexta-feira, das 8h às 19h e as vezes até às 22h, dependendo das minhas demandas na universidade. Ganho pouco mais de mil e duzentos reais, o que não é pouco mas também não é muito, com essa crise que temos no país, todos sabemos bem. E metade desse valor vai pras despesas da casa como disse, em contas, supermercado, imprevistos domésticos, essa é a minha forma de ajudar, trabalhando, recebendo meu salário e contribuindo em casa da forma que posso. Obvio que tento fazer sobrar um dinheirinho pra mim, pois eu mereço. Depois de adulto e de que comecei a trabalhar, nunca cobrei nada das duas, nunca pedi uma calça jeans ou tênis da moda, uma camisa transada ou um Playstation. Trabalhando, compro as coisas que preciso pra mim com o meu dinheiro.

Ainda assim, quando brigamos, vez ou outra sou obrigado a ouvir o quanto não ajudo de fato em casa. Mesmo eu me oferecendo para comprar o que é preciso, pagar alguns concertos necessários, do ponto de vista de minha tia isso não é ajudar. Pelo que pude perceber, o “ajudar” no ponto de vista dela seria eu mesmo subir na casa, lavar a caixa d’água, consertar o encanamento, bater um cimento, mas não, ao invés disso eu prefiro descansar nos finais de semana, passear, sendo que eu poderia usar esse tempo para resolver todos os problemas domésticos pendentes eu mesmo, o que economizaria tempo, dinheiro e dor de cabeça. De minha parte não pretendo faze-lo e não me sinto culpado por isso, como já disse. Há quem faça melhor do que eu e se posso pagar por isso, mesmo que me aperte um pouco, não vejo problemas.

Tenho tentado ser mais proativo na cozinha e esse tem sido outro motivo de diversas discussões. Um dia me verei sozinho no mundo e acho importante que aprenda a fazer algumas coisas. O problema é que, na minha opinião temos pouca coisa na nossa cozinha, as panelas são velhas, pequenas e amassadas, nos faltam alguns utensílios, coisas que facilitariam a vida na cozinha, pelo menos a minha. O problema é que para ela, tudo está muito bem obrigado. Ela alega que consegue se virar muito bem com as coisas que temos, as poucas e ruins panelas, a mesa pequena, enfim Tudo o que eu sugiro ou penso em comprar ela discorda, pois diz que é desnecessário, já que quem cozinha é ela e pra ela, o que temos está de bom tamanho. De fato não entendo suas prioridades, pra alguém que reclama tanto da vida doméstica, tudo o que proponho para gerar algum tipo de melhoria é desnecessário. Se quero comprar novas panelas, desnecessário, se quero mandar trocar a borracha da geladeira que está fraca, desnecessário. Se quero comprar uma máquina de lavar pra que ela se esforce menos lavando as roupas dela e as minhas, desnecessário. Enfim.

Conversando com alguns amigos fui aconselhado a fazer as coisas por mim e não por ela. Se quero panelas novas, vou e compro, se quero colocar uma tela em meu portão, consertar a porta da geladeira, pago e mando fazer, evitando assim atritos desnecessários, pois de fato não entendo, ela já tem 65 anos e eu compreendo isso, não estou pedindo que ela mesma faça nenhuma dessas coisas. Minha forma de ajudar é oferecendo os meios, muitos deles financeiros, para que essas coisas possam ser feitas. Como eu trabalho a semana toda não tenho tempo para resolver esses assuntos, só o que espero dela é que faça o que precisa ser feito, procurando quem precisar procurar e me mande a conta, mas ainda assim, do ponto de vista dela, não ajudo em nada. E se ergo a voz durante uma discussão, sou um “bicha louca”.
Entrei em contato com o tio de um amigo e pedi que, por favor vá em casa prestar o serviço de limpeza da caixa d’água e conserto da descarga, logicamente sendo pago por isso, seja quanto for. Espero sinceramente que ele vá. Outras questões vou vendo com o tempo, como a porta da geladeira e a grade no portão. De mais a mais, meus finais de semana são meus, que é quando eu posso sair e espairecer um pouco. Não acho justo ser julgado por isso.





2 Divagações

  1. Gostei! isso faça por você sempre! a vida é curta ... e não podemos passar por ela sem panelas novas ;)

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    1. Refletindo sobre a opinião de minha tia, lembrei-me da canção do saudoso cantor Elvis Presley, que diz: "I do not care if she's old. Old pot is what makes good food."

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